quinta-feira, 20 de junho de 2024

O LIVRO O CÉU E O INFERNO.CAPÍTULO VI. ARGUMENTOS A FAVOR DAS PENAS ETERNAS.


LIVRO O CÉU E O INFERNO.CAPÍTULO VI.DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS.

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ARGUMENTOS A FAVOR DAS PENAS ETERNAS

“É doutrina admitida pelos homens que a gravidade da ofensa é proporcionada à qualidade do ofendido, O atentado à pessoa de um soberano, sendo considerado mais grave do que o cometido com qualquer súdito, é por isso mesmo, mais severamente punido. Sendo Deus muito mais que um soberano, pois que é Infinito, deve ser infinita a ofensa cometida contra Ele, como infinito o respectivo castigo, isto é, eterno.”

Refutação: Toda refutação é um raciocínio que deve ter ponto de partida, uma base em que se apoiem deve ter premissa enfim. Tomemos essas premissas aos próprios atributos de Deus: único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições.

É impossível conceber Deus de outra maneira, visto como, sem a infinita perfeição, poder-se-ia conceber outro ser que Lhe fosse superior, Para que seja Único acima de todos os seres, torna-se mister que ninguém possa excedê-Lo, ou sequer igualá-Lo em qualquer coisa, Logo, é necessário que seja Infinito em tudo.

Sendo infinitos os atributos de Deus, não são eles suscetíveis nem de aumento nem diminuição, sem o que não seriam infinitos nem Deus tampouco perfeito. Se se tirasse a menor parcela de um só dos Seus atributos, não haveria mais Deus, por isso que poderia existir um ser mais perfeito.

O infinito de uma qualidade exclui a possibilidade de existência de outra qualidade contrária que pudesse diminui-la ou anulá-la. Um ser infinitamente bom não pode ter a menor parcela de maldade, nem o ser infinitamente mau pode ter a menor parcela de bondade. Assim também um objeto não seria de um negro absoluto com o mais leve matiz de branco e ao contrário. Estabelecido este ponto de partida, oporemos aos argumentos supracitados os seguintes:

Se o homem pudesse ser infinito no mal, sê-lo-ia igualmente no bem, igualando-se então a Deus, Mas se o homem fosse infinito no bem, não praticaria o mal, pois o bem absoluto é a exclusão de todo o mal.

Admitindo-se que uma ofensa temporária à Divindade pudesse ser infinita, Deus, vingando-se por um castigo infinito, seria logo infinitamente vingativo; e sendo Deus infinitamente vingativo, não pode ser infinitamente bom e misericordioso, porque um destes atributos exclui o outro, Se não for infinitamente bom, não é perfeito; não sendo perfeito, deixa de ser Deus.

Se Deus é inexorável para o culpado que se arrepende, não é misericordioso; se não é misericordioso, deixa de ser infinitamente bom. Por que daria Deus aos homens uma lei de perdão, se Ele próprio não perdoasse? Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus inimigos e lhes retribui o mal com o bem seria melhor que Deus, surdo ao arrependimento dos que O ofendem, negando-lhes pela eternidade o mais ligeiro carinho.

Achando-se em toda parte e tudo vendo, Deus deve ver também as torturas dos condenados; se se conserva insensível aos gemidos por toda a eternidade, será eternamente impiedoso; ora, sem piedade não há bondade infinita.

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Se por uma falta passageira, resultante sempre da natureza imperfeita do homem e muitas vezes do ambiente em que se vive, a alma pode ser castigada eternamente sem esperança de clemência ou de perdão, não há proporção entre a falta e o castigo – não há justiça. Reconciliando-se com Deus, arrependendo-se e pedindo para reparar o mal praticado, o culpado deve subsistir para o bem, para os bons sentimentos. Se o castigo é irrevogável, esta subsistência para o bem não frutifica e um bem não considerado significa injustiça. Entre os homens o condenado que se corrige tem por comutada e às vezes mesmo perdoada a sua pena; e assim haveria mais equidade na justiça humana que na divina.

Se a pena é irrevogável, inútil será o arrependimento, e o culpado, nada tendo a esperar da própria correção, persiste no mal, de modo que Deus não só o condena a sofrer perpetuamente, mas ainda a permanecer no mal pela eternidade. Nisso não há nem bondade nem justiça.

Uma vez que Deus pode conferir a graça ao pecador arrependido e tirá-lo do inferno, deixam de existir penas eternas, ficando revogado o juízo dos homens.

“A recompensa conferida dos bons, sendo eterna, deve ter por corolário a eterna punição. Justo é proporcionar a punição à recompensa.”

Refutação: Deus criou as almas para torná-las felizes ou desgraçadas?

Evidentemente a felicidade da criatura deve ser o objetivo do Criador, ou Ele não seria bom. Ela atinge a felicidade pelo próprio mérito, que, adquirido, não mais o perde. O contrário seria a sua degeneração, A felicidade eterna é, pois, o resultado da sua imortalidade.

Antes, porém, de chegar à perfeição, tem lutas a sustentar, combates a travar com as más paixões. Não tendo sido criada perfeita, mas suscetível de o ser, a fim de que tenha o mérito de suas obras, a alma pode cair em faltas que são consequências da sua natural fraqueza. Se por esta fraqueza fosse eternamente punida, era caso de perguntar por que Deus não a criou mais forte.

A punição é antes uma advertência do mal já praticado, devendo ter por fim reconduzi-la ao bom caminho. Se a pena fosse irremissível, o desejo de melhorar seria supérfluo; nem o fim da criação seria alcançado, porquanto haveria seres predestinados à felicidade ou à desgraça. Se uma alma se arrepende, pode regenerar-se e podendo regenerar-se pode aspirar à felicidade.

Seria Deus justo se lhe recusasse os respectivos meios?

Sendo o bem o fim supremo da Criação, a felicidade, que é o seu prêmio, deve ser eterna; e o castigo, como meio de alcançá-la, temporário. A noção mais comezinha da justiça humana prescreve que se não pode castigar perpetuamente quem mostra desejos de praticar o bem.

“O temor das penas é um freio; anulado este freio, o home por nada temer se entregaria a toda espécie de excessos.”

Refutação: Este raciocínio procederia se a temporalidade das penas importasse de fato na supressão de toda sanção penal.

A felicidade ou infelicidade futura é decorrência rigorosa da justiça de Deus, pois a identidade de condições para o bom e para o mau seria a negação dessa justiça.

Porém, por não ser eterno, nem por isso o castigo deixa de ser menos penível e tanto maior será o temor quanto maior for a convicção, que, por sua vez, tanto mais profunda será, quanto mais racional for a procedência do castigo. Uma penalidade, em que se não crê, não pode ser um freio e a eternidade das penas está neste caso.

A crença nas penas eternas, já o afirmamos, teve a sua utilidade, a sua razão de ser em determinada época; hoje não somente deixa de impressionar os ânimos, mas até produz descrentes, Antes de a preconizar como necessidade, seria mister demonstrar a sua realidade, Seria preciso além disso inferir a sua eficácia relativamente aos que a preconizam e se esforçam por demonstrá-la.

Desgraçadamente, entre esses, muitos provam pelos atos que nada temem das penas eternas.

Assim, impotente para reprimir os próprios profitentes, que império poderá exercer nos descrentes e refratários?

BIBLIOGRAFIA. LIVRO CÉU E O INFERNO. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.


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