Milagre
Milagres acontecem?
Deus faz milagres? No que se assentam os fenômenos ditos “sobrenaturais”? Como
a doutrina espírita os explica? Jesus produzia milagres?
Quando um
determinado acontecimento nos provoca surpresa, como por exemplo, alguém passar
no vestibular sem ter estudado “nadinha”, podemos pensar ou mesmo dizer a essa
pessoa: “Que milagre!”
Com isso, temos que
o milagre diz respeito a um fato ou um acontecimento que nos provoca surpresa,
admiração e até certa dose de incredulidade, por tratar-se de algo
inusitado, ou extraordinário e incomum.
Mas, por influência
de certas concepções religiosas, o milagre representa a indicação de uma participação
divina na vida das pessoas e nos fenômenos da natureza. E, em razão desse
entendimento, o milagre também se refere a um ato ou acontecimento
inexplicável, caracterizado por uma alteração súbita e fora do comum das leis
da natureza, no qual Deus manifesta Seu poder.
O que dá grande
relevância aos milagres é, justamente, essa sua origem sobrenatural e a
impossibilidade de serem explicados.
Ponderando sobre a
atitude divina, Léon Denis (1846-1927), um dos principais continuadores do
Espiritismo após a morte de Allan Kardec, escreve:
O milagre é uma postergação das leis
eternas fixadas por Deus, obras que são da sua vontade, e seria pouco digno da
suprema Potência exorbitar da sua própria natureza e variar em seus decretos.
Deus faz milagres?
Em princípio, até poderia fazer, se verdadeiramente acreditarmos que para Ele
tudo é possível.
E por que faria, se
Ele mesmo criou leis perfeitas? O fato é que tudo o que é perfeito não carece
de modificação ou de aperfeiçoamento, pois tudo nele já está previsto e
providenciado, sem nada a corrigir nem improvisar!
No entanto, a
explicação espírita para os milagres defende que, na maneira de agir de Deus,
não existe o regime de exceção e de privilégios, nem de exclusão ou de
derrogação de Suas leis. E esse ensino encontra-se, principalmente, na
obra A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, em
seu capítulo. XIII, denominado “Caracteres dos milagres”.
Nele, Allan Kardec
leciona que os milagres desaparecem na proporção exata do avanço do
conhecimento científico dos processos da natureza:
Foram fecundos em milagres os séculos
de ignorância, porque se considerava sobrenatural tudo aquilo cuja causa não se
conhecia. À proporção que a Ciência revelou novas leis, o círculo do
maravilhoso se foi restringindo; mas, como a Ciência ainda não explorara todo o
vasto campo da Natureza, larga parte dele ficou reservada para o maravilhoso.
(...) O Espiritismo, pois, vem, a seu
turno, fazer o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis e
explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis.
Esses fenômenos, é certo, se prendem
à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo material.
Antigamente, havia
muitas coisas consideradas como maravilhosas ou sobrenaturais. Algumas delas
nem eram fatos reais, mas apenas crendices ou superstições sem fundamento.
Os indivíduos, de
então, não tinham condições de dar uma explicação racional para os fenômenos
estranhos que aconteciam. Por falta de uma explicação lógica, chamaram-nos de
milagres. Assim, em termos religiosos, o milagre passou a ser entendido como
algo que não deve ser questionado, bastando apenas acreditar nele por meio da
fé.
Felizmente, a
crença no maravilhoso ou no sobrenatural vem diminuindo, graças ao progresso da
ciência e da tecnologia, que tem cada vez mais revelado e explicado as leis que
regem o mundo material.
Desse modo, não
podemos menosprezar a importância da contribuição da Doutrina Espírita que, ao
revelar a existência dos espíritos e como agem sobre os fluidos e sobre a
matéria, tem explicado muitos fenômenos como sendo o efeito dessa causa
espiritual.
E os espíritos nada
mais são do que a alma dos homens que já viveram na Terra, e que continuam com
sua vida, porém no mundo espiritual.
Sobre essa vida dos
espíritos, Kardec ainda diz:
Sua existência, portanto, é tão
natural depois, como durante a encarnação; está submetido às leis que regem o
princípio espiritual, como o corpo o está às que regem o princípio material;
mas, como estes dois princípios têm necessária afinidade, como reagem
incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o
movimento e a harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a
materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão natural uma quanto a outra,
não sendo, pois, a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem das coisas.
Para os que negam a
existência dos espíritos – ou do princípio espiritual –, tudo o que existe no
Universo se restringe à matéria.
Assim, os fenômenos
que tenham por base a ação dessa espiritualidade serão, inevitavelmente,
classificados como sobrenaturais. E, em virtude de eles se caracterizarem por
forças ainda desconhecidas da natureza e, por causa disso, não poderem ser
comprovados através dos habituais métodos da ciência oficial, também poderão
ser taxados de afeitos à fantasia, imaginação, ilusão ou alucinação.
A ciência espírita
existe para demonstrar como funcionam as leis que regem os fenômenos do campo
material em conjunto com o campo espiritual, mas sem se utilizar de métodos
absolutamente idênticos ao da ciência oficial. E isso porque os fenômenos
espíritas, na grande maioria das vezes, se caracterizam pela espontaneidade, o
que requer procedimentos bastante particulares.
No mesmo capítulo,
ao se referir às mesas girantes, Allan Kardec tece algumas considerações, que,
por analogia, poderão ser aplicadas ao entendimento das manifestações espíritas
em geral:
Antes de se conhecerem as
propriedades da eletricidade, os fenômenos elétricos passavam por prodígios para
certa gente; desde que se tornou conhecida a causa, desapareceu o maravilhoso.
O mesmo ocorre com os fenômenos espíritas.
(...) Entretanto, dir-se-á, admitis
que um Espírito pode levantar uma mesa e mantê-la no espaço sem ponto de apoio;
não está aí uma derrogação da lei da gravidade? — Sim, da lei conhecida.
Conhecem-se, porém, todas as leis? Antes que se houvesse experimentado a força
ascensional de alguns gases, quem diria que uma pesada máquina, transportando
muitos homens, poderia triunfar da força de atração? Ao vulgo, isso não
pareceria maravilhoso, diabólico? Aquele que se houvera proposto, há um século,
a transmitir uma mensagem a 500 léguas e receber a resposta dentro de alguns
minutos, teria passado por louco; se o fizesse, teriam acreditado estar o diabo
às suas ordens, porquanto, então, só o diabo era capaz de andar tão depressa.
Hoje, no entanto, não só se reconhece
possível o fato, como ele parece naturalíssimo. Por que, pois, um fluido
desconhecido careceria da propriedade de contrabalançar, em dadas
circunstâncias, o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso
do balão? É, efetivamente, o que sucede, no caso de que se trata.
O Espiritismo
sempre se envolverá com explicações lógicas para o entendimento dos fenômenos
conhecidos como sobrenaturais. Daí, a importância de seus adeptos estarem
sempre atentos aos progressos da ciência, acompanhar tudo o que está
acontecendo, para que o desenvolvimento de sua fé tenha como alicerce a razão,
porque somente esta nos permite o real e profundo entendimento de todas as
coisas.
Para a doutrina
espírita, a fé – essa confiança quanto à realidade espiritual, essa convicção
de que o poder e sabedoria de Deus se manifestam através de leis imutáveis,
porém amorosas – tem de ser esclarecida e bem fundamentada.
E somente através
dessa crença esclarecida que conseguiremos perseverar no bem, por entendermos
que este é o mais satisfatório caminho para todos; que persistiremos em nosso
esforço evolutivo, na certeza de que sempre alcançaremos resultados
compensadores, agora ou depois, aqui ou na espiritualidade.
Enfim, uma fé que
nos permita melhor compreender os sofrimentos, superar as inevitáveis
dificuldades da jornada terra, bem como transformar situações a partir da própria
mudança interior.
Therezinha
Oliveira, ao abordar sobre “os milagres que o Espiritismo faz”, nos ensina:
O Espiritismo coloca ao nosso alcance
muitos recursos espirituais com os quais se torna possível acionarmos certas
leis naturais e produzirmos alguns fenômenos que ajudem ao próximo e a nós
mesmos.
Mas quem procurar o Espiritismo
somente para obter cura imediata de seus males físicos e espirituais, ou
resolver de pronto seus problemas materiais, poderá ficar decepcionado.
Porque somente se realiza o que
estiver dentro das leis divinas. E o Espiritismo não tem por finalidade
principal a realização de fenômenos, mas, sim, o progresso moral da humanidade.
O maior milagre que o Espiritismo faz
não é tirar problemas e dores do nosso caminho. É explicar-nos o porquê das
coisas e ensinar-nos: como podemos melhorar a nós mesmos para gerarmos efeitos
felizes; como prevenir e resolver problemas espirituais, desde que empreguemos
vontade e esforço no sentido do bem; ou ainda, como suportar aquilo que, por
ora, não pode ser mudado porque serve de expiação ou de prova.
E os milagres que
Jesus realizou? Sim, porque as páginas do Evangelho são repletas de sonhos,
visões, curas, aparições, possessões e outros fenômenos inexplicados. Qual a
explicação?
De fato, Jesus fez
apenas uma amostragem das realizações espirituais possíveis.
À época de Jesus, os milagres foram
feitos para despertar as almas para a crença em Deus e nos espíritos, e eles
abririam brechas nos corações a fim de o Evangelho penetrar.
O Cristo, pela sua
natureza superior, é um espírito que, por suas virtudes, encontra-se em nível
intelectual, moral e espiritual muitíssimo acima da humanidade terrestre.
Para finalizar,
ainda Allan Kardec, sobre Jesus:
Pelos imensos resultados que
produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas
missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para
cumprimento de seus desígnios.
MENSAGEM
DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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