Façamos a travessia
O cárcere fora construído em pedra nua, nos
arredores de Jerusalém. Nele, os soldados O aprisionaram.
Ela passara a noite nas proximidades, aguardando o desenrolar dos
trágicos acontecimentos.
Na madrugada sem
fim, lembrou-se das palavras ouvidas, em casa de Simão, após banhar os pés do
Mestre com suas lágrimas: Mulher, porque muito amaste, todos os teus
pecados foram perdoados.
O alvorecer dirimiu suas recordações, com a movimentação inusitada dos
legionários.
Depois, ela O viu ser conduzido ao palácio do procurador romano, Pôncio
Pilatos, onde o julgamento se consumou, arbitrário e sem nexo algum. Para o
Rabi, foi destinada a morte na cruz.
Quando o pesado madeiro assentou-se nas costas laceradas de Jesus, uma
dor aguda tomou o coração de Maria, a arrependida de Magdala.
Ela, junto de Maria de Nazaré, O acompanhou ao longo da distância que
separa a cidade de Jerusalém do Gólgota, o monte da crucificação.
Seguiam-nO ainda, João, o discípulo mais jovem, algumas mulheres e
transeuntes curiosos.
Mas, em Sua lenta agonia, Ele marchava só. E Maria Madalena pôs-se a
refletir:
Há menos de uma
semana, recebido com alegria por inúmeras pessoas que lançavam flores e palmas
em Seu caminho, o Mestre entrara pela porta principal de Jerusalém.
Os homens retiravam
seus mantos e os estendiam no chão, à guisa de tapetes para que Jesus passasse.
As mães mostravam seus filhos para que Ele os abençoasse.
As vozes se erguiam
cantando hosanas ao Filho de Davi.
Onde estavam essas
pessoas agora? Onde estavam Pedro, Thiago, André, Filipe? Onde estavam os
amigos?
Onde estavam os
cegos aos quais Ele restaurara a visão? Os surdos para os quais Ele devolvera a
audição dos sons da natureza? Os endemoniados que Ele libertara da loucura?
Acompanhando os dolorosos passos de Jesus, Maria teve uma súbita
compreensão:
Ao entrar em
Jerusalém, não fora Ele quem pisara nas flores, nas palmas, nos mantos
estendidos. Fora o animal no qual Ele estava montado naquela ocasião.
Ela compreendeu que, naquele instante, Jesus revelava-se verdadeira
ponte entre a criatura humana, ainda imperfeita, e o Criador, Pai de todos nós.
Com lágrimas lhe
umedecendo os olhos, lembrou-se das palavras dEle, que nunca antes lhe haviam
soado tão significativas e reveladoras: Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida. Ninguém vai ao Pai, senão por mim.
* * *
Por um instante, silenciemos nossas emoções e pensamentos. Voltemos os
olhos a Jesus.
Sintamos as Suas mãos envolvendo as nossas. Como Bom Pastor, Ele nos
chama pelo nome.
Guiados pelas pegadas que Ele registrou em nossos caminhos, tornemos
seguros os nossos passos. Realizemos o esforço para iniciar o abandono do
egoísmo, do orgulho, da vaidade, da arrogância, da avareza.
Envoltos pela luz do Mestre, que nosso caminhar nos conduza ao amor, ao
perdão, à caridade, à gentileza, à fraternidade, à fé.
Jesus é a ponte, o caminho e o guia. Tenhamos coragem! Façamos a
travessia da nossa pobre condição humana para a angelitude!
Redação do Momento
Espírita.
Em 21.4.2018.
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