CAPÍTULO VII. RETORNO A
VIDA CORPORAL.
por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires
DA INFÂNCIA
O Espírito
que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido quanto o de um adulto, podendo mesmo ser mais se ele mais
progrediu, pois são apenas os órgãos imperfeitos que o impedem de se
manifestar. Age de acordo com o instrumento de que se serve.
Enquanto criança, é natural que os
órfãos da inteligência não estando desenvolvidos, não podendo dar-lhe toda
a intuição de um adulto: sua inteligência com efeito, é bastante limitada,
até que a idade lhe amadureça a razão. A perturbação que acompanha a
encarnação não cessa de súbito com o nascimento, e só se dissipa com o
desenvolvimento dos órgãos.
Comentário
de Kardec: Uma
observação vem ao apoio desta resposta: é que os sonhos de uma criança não têm
o caráter dos sonhos de um adulto; seu objeto é quase sempre pueril, o que é um
indício da natureza das preocupações do Espírito.
Com a morte
do corpo físico da criança o Espírito retoma imediatamente o seu vigor
primitivo
pois que está desembaraçado do seu envoltório carnal: entretanto, ele não
retoma a sua lucidez, primitiva enquanto a separação não estiver completa, ou
seja, enquanto não desaparecer toda ligação entre o Espírito e o corpo.
O Espírito
encarnado não sofre durante a infância, com o constrangimento imposto pela
imperfeição dos seus órgãos, pois esse estado é uma necessidade
natural e corresponde aos desígnios da Providência. É um tempo de
repouso para o Espírito.
A utilidade
do Espírito passar pela infância quando reencarna é de se aperfeiçoar, pois o Espírito é
mais acessível durante esse tempo às impressões que recebe e que podem ajudar o
seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados
da sua educação.
Os
primeiros gritos da criança são de choro para excitar o interesse da mãe, e
provocar os cuidados necessários. Se ela só tivesse gritos de alegria
quando ainda não sabe falar, pouco se inquietariam com as suas
necessidades? Admirai, pois, em tudo, a sabedoria da Providência.
O motivo da
mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, é o de particularmente
ao sair da adolescência, e
o Espírito que retoma a sua natureza se mostra tal qual era. Não
conhecemos o mistério que as crianças ocultam em sua inocência; não
sabemos o que elas são, nem o que foram, nem o que serão; e no entanto as amais
e acariciais como se fossem uma parte de nós mesmos, de tal maneira que o
amor de uma mãe por seus filhos é reputado como o maior amor que um ser
possa ter por outros seres. De onde vêm essa doce afeição, essa
terna complacência que até mesmo os estranhos experimentam por uma
criança.
As crianças são os seres que Deus
envia a novas existências e, para que não possam acusá-lo de demasiada
severidade, dá-lhes todas as aparências de inocência. Mesmo numa criança
de natureza má, suas faltas são cobertas pela não-consciência dos atos.
Esta inocência não é uma superioridade real, em relação ao que elas eram
antes; não, é apenas a imagem do que elas deveriam ser, e se não o são, é
sobre elas somente que recai a culpa.
Mas não é somente por ela que Deus
lhe dá esse aspecto, é também sobretudo por seus pais, cujo amor é necessário à
fragilidade infantil. E esse amor seria extraordinariamente enfraquecido
pela presença de um caráter impertinente e acerbo, enquanto, supondo os
filhos bons e ternos, dão-lhes toda a afeição e os envolvem nos mais
delicados cuidados. Mas quando as crianças não mais necessitam dessa
proteção, dessa assistência que lhes foi dispensada durante quinze a vinte
anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez:
permanecem boas, se eram fundamentalmente boas, mas se irisam sempre de
matizes que estavam na primeira infância.
Vejamos que os caminhos de Deus são
sempre os melhores, e que, quando se tem o coração puro, é fácil
conceber-se a explicação a respeito.
Com efeito, ponderemos que o Espírito
da criança que nasce entre nós pode vir de um mundo em que tenha adquirido
hábitos inteiramente diferentes; como queremos que permanecesse no nosso
meio esse novo ser, que traz paixões tão diversas das que possuímos,
inclinações e gostos inteiramente opostos aos nossos; como queremos que se
incorporasse no vosso ambiente, senão como Deus quis, ou seja, depois de
haver passado pela preparação da infância? Nesta vêm confundir-se todos os
pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados
por essa multidão de mundos em que se desenvolvem as criaturas. E nós
mesmos, ao morrermos, estaremos numa espécie de infância, no meio de
novos irmãos, e na nossa nova existência não terrena ignoraremos os
hábitos, os costumes, as formas de relação desse mundo, novo para nós,
manejaremos com dificuldade uma língua que não estamos habituados a falar,
língua mais vivaz do que o é atualmente o nosso pensamento.
A infância tem ainda outra utilidade:
os Espíritos não ingressam na vida corpórea senão para se aperfeiçoarem,
para se melhorarem; a debilidade dos primeiros anos os torna flexíveis,
acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem fazê-los
progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas
más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada
pela qual terão de responder.
É assim que a infância é não
somente útil, necessária, indispensável mas ainda a consequência
natural das leis. Deus estabeleceu e que regem o Universo.
(1) Os pais e os professores espíritas devem ponderar
sobre este item e os que se lhe seguem. O Espiritismo vem abrir um novo
capítulo da psicologia infantil e da pedagogia, mostrando a importância da
educação da criança não apenas para esta vida mas para a sua própria evolução
espiritual.
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO
QUADRADO
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