O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO X.
DAS OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS
ESPÍRITOS.
Os Espíritos cuidam de outra coisa além do nosso
melhoramento Espiritual, pois concorrem para
a harmonia do Universo, executando a vontade de Deus, do qual são os
ministros. A vida Espírita é uma ocupação contínua, mas nada tem de penosa
como a da Terra, pois não está sujeita à fadiga corpórea nem às angústias
da necessidade.
Já os
Espíritos inferiores e imperfeitos desempenham também um papel no Universo,
onde todos têm deveres a cumprir no
universo.
Vale
dizer que todos temos de habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de
todas as coisas, presidindo sucessivamente às funções concernentes a todos os
planos do Universo. Mas, como se diz no Eclesiastes, há um tempo para cada
coisa. Assim, este cumpre hoje o seu destino neste mundo, aquele o
cumprirá ou já cumpriu em outro tempo, sobre a Terra, na água, no ar etc.
Todos
devem percorrer os diferentes graus da escala, para se aperfeiçoarem.
Deus, que é justo, não poderia ter dado a uns a ciência sem trabalho,
enquanto outros só a adquirem de maneira penosa.
Comentário de Kardec: Da mesma maneira, entre os seres humanos,
ninguém chega ao supremo grau de habilidade numa arte qualquer, sem ter
adquirido os conhecimentos necessários na prática das funções mais ínfimas
dessa arte.
Os Espíritos da ordem mais elevada, nada mais tendo
a adquirir, não se entregam a um repouso absoluto, pois se entregam a outras
ocupações. A eterna ociosidade seria um
suplício eterno.
A natureza de suas ocupações, primeiramente recebem diretamente as ordens de Deus, e as
transmitem por todo o Universo e velam pela sua execução.
As ocupações dos Espíritos são incessantes, pois o pensamento deles está sempre em
atividade, pois eles vivem pelo pensamento. Mas é necessário não equiparar
as ocupações dos Espíritos com as ocupações materiais dos seres humanos. Sua
própria atividade é um gozo, pela consciência que eles têm de ser úteis.
Os
Espíritos inferiores têm ocupações apropriadas à sua natureza. Jamais
confiaríamos ao trabalhador braçal e ao ignorante os trabalhos de um ser culto.
Entre os Espíritos há os que são ociosos ou que não
se ocupem de alguma coisa útil. Mas
esse estado é temporário e subordinado ao desenvolvimento de sua inteligência.
Certamente que entre os seres humanos, existem aqueles que vivem apenas para
si; mas essa ociosidade lhes pesa e, cedo ou tarde, o desejo de progredir
lhes faz sentir a necessidade de atividade, e são então felizes de poderem
tornar-se úteis. Falamos de Espíritos que atingiram o ponto necessário
para terem consciência de si mesmo e de seu livre-arbítrio. Porque, em sua
origem, eles são como crianças recém-nascidas que agem mais por instinto
do que por uma vontade determinada.
Os Espíritos examinam os nossos trabalhos de arte e
se interessam por eles, pois examinam
o que pode provar a elevação dos Espíritos e seu progresso.
Quanto ao Espírito que teve uma especialidade na
Terra, como um pintor, um arquiteto. Por certo do outro lado da vida ele
se interessa de preferência pelos trabalhos que constituíram o objeto de sua
predileção durante a vida terrena.
Por exemplo: Se for
bom, se interessará por eles na proporção que lhe permitam ajudar a
elevação das almas a Deus.
Agora
devemos admitir que um Espírito que praticou uma arte na existência em
que o conhecemos, pode ter praticado outra em outra existência, porque
é necessário que tudo saiba para tornar-se perfeito. Assim, segundo o seu
grau de adiantamento, pode ser que nenhuma delas constitua uma especialidade para
ele. E isso é o que entendemos o que os Bons Espíritos dizem que tudo se
confunde num objetivo geral. Pedem inclusive que notemos ainda isto: o que
é sublime para nós no nosso mundo atrasado, não passa de infantilidade,
comparado com o que há nos mundos mais avançados. Como queríamos que os
Espíritos que habitam esses mundos, onde existem artes desconhecidas para
nós, admiremos o que, para eles, não é mais que um trabalho escolar. Eles
examinam aquilo que pode provar o progresso.
Assim deve ser para os Espíritos bastante
adiantados. Para os menos adiantados é
diferente. Seu ponto de vista é mais limitado, e podem admirar aquilo
mesmo que admiremos.
Os Espíritos se imiscuem algumas vezes em nossas
ocupações e em nossos prazeres, onde os
Espíritos vulgares estão incessantemente ao nosso redor e tomam parte, às
vezes bastante ativa naquilo que fazemos, segundo a nossa natureza. E é
bom que o façam, para impulsionar os seres humanos nos diferentes caminhos
da vida, excitar ou moderar as suas paixões.
Comentário de Kardec: Os Espíritos se ocupam das coisas deste mundo
na razão da sua elevação ou da sua inferioridade. Os Espíritos superiores têm,
sem dúvida, a faculdade de considerá-las nos seus mínimos aspectos, mas não o
fazem senão na medida em que isso seja útil ao progresso. Os Espíritos
inferiores somente ligam a essas coisas uma importância relativa ás lembranças
que ainda estão presentes em sua memória, e às ideias materiais que ainda não
foram extintas.
Os Espíritos que têm missões a cumprir cumprem-nas
em estado errante ou encarnado, podendo fazê-lo
num e noutro estado. Para certos Espíritos errantes essa é uma grande
ocupação.
As missões de que podem ser encarregados os Espíritos errantes são tão
variadas que seria impossível descrevê-las; existindo aquela que não poderíamos
compreender.
Comentário de Kardec: As missões dos Espíritos bons têm
sempre o bem por objeto. Seja como Espírito, seja como seres humanos, são
encarregados de ajudar o progresso da humanidade, dos povos, ou dos indivíduos
num circulo de ideias mais ou menos largo, mais ou menos especial, de preparar
as vias para certos acontecimentos, e de velar pela realização de certas
coisas. Alguns têm missões mais restritas e de certa maneira pessoais ou
inteiramente locais, como de assistir aos doentes, os agonizantes, os aflitos,
de velar pelos que estão sob a sua proteção de guias, de dirigi-los
pelos seus conselhos ou pelos bons pensamentos que lhes surgem. Pode se dizer
que há tantos gêneros de missões quantas as espécies de interesses a
resguardar, seja no mundo físico ou no mundo moral. O Espírito se adianta
segundo a maneira por que desempenha a sua tarefa.
0s Espíritos não compreendem sempre os desígnios que estão encarregados
de executar. Há os que
são instrumentos cegos, mas outros sabem muito bem com que objetivo agem.
No cumprimento de missões dos Espíritos, a importância delas está em relação com a capacidade
e a oração do Espírito. O estafeta que leva um despacho cumpre também
uma missão, que não é a do general.
Quanto à missão de um Espírito que lhe é imposta, ele a pede
e alegra-se de obtê-la. A mesma missão pode ser
pedida por muitos Espíritos, pois há sempre muitos candidatos, mas nem todos são
aceitos.
A missão dos Espíritos encarnados é instruir
os seres humanos, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições por
meios diretos e materiais. Mas as missões são mais ou menos gerais
e importantes. Aquele que cultiva a terra cumpre uma missão, como
aquele que governa ou aquele que instrui. Tudo se encadeia na
Natureza; ao mesmo tempo em que o Espírito se depura pela
encarnação, também concorre por essa forma para o cumprimento dos
desígnios da Providencia. Cada um tem a sua missão neste mundo, porque
cada um pode ser útil em algum sentido.
A missão de pessoas voluntariamente inúteis na Terra é de
pobres seres que devemos lamentar, porque expiarão cruelmente sua
inutilidade voluntária. Seu castigo começa frequentemente
desde este mundo, pelo tédio e o desgosto da vida.
Do direito de escolha, o por que preferiram uma vida
que em nada lhes poderia aproveitar, é porque juntos aos Espíritos há também os preguiçosos que recuam diante
de má vida de trabalho. Deus os deixa fazer; pois compreenderão mais tarde
e à sua própria custa os inconvenientes de sua inutilidade e serão os
primeiros a pedir para reparar o tempo perdido. Talvez, também, tenham
escolhido uma vida mais útil, mas uma vez em ação a recusaram, deixando-se
arrastar pelas sugestões dos Espíritos que os incitavam à ociosidade.
Dentro das ocupações comuns que nos parecem antes
deveres que missões propriamente ditas, podemos reconhecer que um ser humano
tem uma missão real na Terra pelas
grandes coisas que ele realiza, pelo progresso que faz os seus semelhantes
realizarem.
Os seres humanos que têm uma missão importante que são
predestinados a ela, as vezes antes do nascimento e têm conhecimento
disso. Mas, na maioria das vezes, o ignoram.
Só têm um vago objetivo ao virem para a Terra; sua missão se desenha após
o nascimento e segundo as circunstâncias. Deus os impulsiona pela via em
que devem cumprir os seus desígnios.
Quando um ser humano faz uma coisa útil não é sempre
em virtude de uma missão anterior e predestinada. Ele é frequentemente o instrumento de que um
Espírito se serve para fazer executar alguma coisa que considera útil. Por
exemplo, um Espírito julga que seria bom escrever um livro que ele
escreveria se estivesse encarnado; procura o escritor mais apto a
compreender o seu pensamento e a executá-lo; dá-lhe então a ideia e o
dirige na execução. Assim, este homem não veio a Terra com a missão de
fazer a obra. Acontece o mesmo com alguns trabalhos de arte e com as
descobertas. Deve-se dizer ainda que durante o sono do corpo, o Espírito
encarnado se comunica diretamente com o Espírito errante, e que se
entendem sobre a execução.
O Espírito pode falir na sua missão por sua culpa, se não for um Espírito superior.
As consequências para ele é que terá de reiniciar a tarefa; está nisso a punição.
Depois sofrerá as consequências do mal que tenha causado.
Quanto à confiança que Deus pode confiar uma missão
importante e de interesse geral a um Espírito que poderia falir, é que Deus não sabe se o seu general será vitorioso ou
vencido. Ele sabe dos seus planos, mas
que irão abandonar a obra em meio do trabalho não.
O Espírito que encarna para cumprir uma missão não
tem as mesmas apreensões daquele que o faz como prova, porque ele tem
experiência.
Os seres humanos que são os faróis do gênero humano,
que se esclarecem que tem certamente uma missão, há os que se enganam e que, ao
lado de grandes verdades, difundem grandes erros, devemos considerar como falseada por eles. Eles estão abaixo da
tarefa que empreenderam. É necessário, entretanto tomar em conta as circunstâncias;
os gênios devem falar segundo o tempo, e um ensino que parece errôneo ou pueril
para uma época avançada poderia ser suficiente para o seu século.
A paternidade é, sem
contradita, uma missão. E ao mesmo tempo um dever muito grande, que implica,
mais do que o ser humano pensa, sua responsabilidade para o futuro. Deus põe a
criança sob a tutela dos pais para que estes a dirijam no caminho do bem. E
lhes facilitou a tarefa dando à criança uma organização débil e delicada, que a
torna acessível a todas as impressões. Mas há os que mais se ocupam
de endireitar as árvores do pomar do que fazê-las carregar de bons frutos, do
que endireitar o caráter do filho. Se este sucumbir por sua culpa, terão de
sofrer a pena, e os sofrimentos da criança na vida futura recairão sobre eles,
porque não fizeram o que lhes competia para o seu adiantamento nas vias do bem.
Mas se uma criança se transviar, apesar dos cuidados
dos pais, estes não são responsáveis. Mas
quanto mais as disposições da criança são más, mais a tarefa é
pesada e maior será o mérito se conseguirem desviá-la do mau caminho.
Se uma criança se torna um bom adulto, apesar da
negligência ou dos maus exemplos dos pais, estes se beneficiam com isso, porque
Deus é justo.
A natureza da missão do conquistador, que só tem em
vista satisfazer a sua ambição e para atingir o alvo não recua diante de
nenhuma calamidade. Deus as vezes deixa que isto aconteça
muitas vezes, para fazer avançar mais rapidamente um povo.
Aquele que é instrumento dessas calamidades
passageiras é alheio ao bem que delas pode resultar, se propondo um alvo pessoal;
o aproveitamento desse bem será dado a cada um
a recompensa segundo as suas obras, o bem que desejou fazer e a orientação
de suas intuições.
Comentário de Kardec: Os Espíritos encarnados têm ocupações
inerentes à sua existência corporal. No estado errante ou de desmaterialização
suas ocupações são proporcionais ao seu grau de adiantamento.
Uns percorrem os mundos, instruindo-se e
preparando-se para uma nova encarnação.
Outros, mais avançados, ocupam-se do progresso
dirigindo os acontecimentos e sugerindo pensamentos favoráveis; assistem aos seres
de gênio que concorreram para o adiantamento da Humanidade.
Outros se encarnam com uma missão de progresso.
Outros tomam à sua tutela indivíduos, famílias,
aglomerações humanas, cidades e povos dos quais se tornam anjos da guarda,
gênios protetores e Espíritos familiares.
Outros, enfim, presidem aos fenômenos da Natureza,
dos quais são os agentes
diretos.
Os Espíritos comuns se imiscuem nas ocupações e
divertimentos dos seres humanos.
Os Espíritos impuros ou imperfeitos esperam, nos
seus sofrimentos e angústias, o momento em que praza a Deus conceder-lhes os
meios de se adiantarem. Se fizerem o mal é pelo despeito de ainda não poderem
gozar do bem.
Estas
anotações de Kardec dão-nos a visão de conjunto das funções dos Espíritos na natureza,
e justificam a sua afirmação de que os Espíritos são uma das forças naturais do
Universo. As doutrinas espiritualistas que acusam o Espiritismo de não
reconhecer a existência de classes de Espíritos não humanos desconhecem este
quadro. O Espiritismo é monista e considera toda a evolução espiritual como um
processo único que se define na Humanidade, mas reconhece as fases pré-humanas
dessa evolução. Como vemos acima, os Espíritos estão em toda parte e exercem
universalmente a sua ação inteligente.
Bibliografia: O Livro dos Espíritos.
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