O Bem e o Mal
Sérgio Biagi Gregório
1. INTRODUÇÃO
O que é o bem? E o mal? O mal é ausência do bem? Onde está a origem do
mal? Em Deus? Nos Homens? Utilizamos essas perguntas para a introdução deste
tema, que se subdividirá em: a origem do mal, as necessidades humanas e o bem
versus o mal.
2. CONCEITO
Bem – Designa, em geral, o acordo entre o que uma
coisa é com o que ela deve ser. É a atualização das virtualidades inscritas na
natureza do ser. Relaciona-se com perfeito e com perfectibilidade. Segundo o
Espiritismo, tudo o que está de acordo com a lei de Deus.
Mal – Para a moral, é o contrário de bem.
Aceita-se, também, como mal, tudo o que constitui obstáculo ou contradição à
perfeição que o homem é capaz de conceber, e, muitas vezes, de desejar.
Divide-se em: mal metafísico (imperfeição); mal físico
(sofrimento); mal moral ("pecado"). Segundo o Espiritismo,
tudo o que não está de acordo com a lei de Deus.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A questão das mudanças de nossas avaliações é um dos pontos centrais
para o entendimento do bem e do mal. Malinovsky, etnólogo polonês, estudando a
moral sexual dos selvagens australianos, chegou à conclusão de que tudo o que
entre nós é considerado válido e até santo, lá é considerado mal. Embora haja
uma moral objetiva, traçada pelas leis divinas, só captamos o que nossa visão
interior consegue abarcar. O valor das coisas está constantemente alterando-se,
principalmente devido à educação cultural dos diversos povos. O valor, por sua
vez, pode ser entendido como: valor moral (refere-se à ação); valor
estético (refere-se ao dever-ser); valor religioso (refere-se
ao sentimento de temor ou de confiança na divindade). Sendo assim, um fato pode
ser analisado, respectivamente, como proveniente de uma ação má, feia
ou "pecaminosa".
De acordo com a Doutrina Espírita, o problema do bem e do mal está
relacionado com as leis de Deus e o progresso alcançado pelo Espírito ao longo
de suas várias encarnações. É o que veremos a seguir.
4. ORIGEM DO BEM E DO MAL
4.1. O MAL NÃO PODE TER ORIGEM EM DEUS
Muitos pensam que Deus, que é o criador do mundo e de tudo o que existe,
também é o criador do mal. Para tanto, as religiões dogmáticas elaboraram uma
série de raciocínios sobre a demonologia, ou seja, o tratado sobre o
diabo. Baseando-nos nessas imagens, seríamos forçados a crer que existem dois
deuses, digladiando-se reciprocamente. A lógica e os ensinamentos espíritas
apontam-nos, porém, para a existência de um único Deus, que é a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas. Como um de seus atributos é ser infinitamente
bom, Ele não poderia conter a mais insignificante parcela do mal. Assim,
Dele não pode provir a origem do mal. Mas o mal existe e deve ter uma origem.
Onde estaria? (Kardec, 1975, cap. III)
4.2. A CAUSA DO MAL
O mal existe e tem uma causa. Há, porém, males físicos e morais. Há os
que não se pode evitar (flagelos) e os que se podem evitar (vícios.) Porém, os
males mais numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provêm
do seu orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, da sua cupidez, de seus
excessos em tudo. No que tange aos flagelos naturais, o homem recebeu a
inteligência e com ela consegue amenizar muito desses problemas.
No sentido moral, o mal só pode estar assentado numa determinação
humana, que se fundamenta no livre-arbítrio. Enquanto o livre-arbítrio não
existia, o homem não cometia o mal, porque não tinha responsabilidades pelas
suas ações. Conforme os amigos espirituais foram nos facultando tal liberdade,
tivemos que fazer escolhas e com isso errar e consequentemente praticar o mal.
4.3. O PRINCÍPIO DO BEM E DO MAL
O bem e o mal como princípios podem ser encontrados no livro da
natureza. O conhecimento deles requer experiência. Tomemos as figuras de Adão e
Eva. Eles comeram o fruto proibido, instigados pela serpente. Para conhecerem o
bem e o mal, tiveram de prová-los. Mas Adão pode ter pensado: não vou ligar
para isso, pois foram a serpente e a Eva que me tentaram. Porém, nesse momento,
Deus passa-lhe a noção de responsabilidade. A "consciência
moral" começa com a responsabilidade.
Quando começarmos a dar valor à moral, nosso progresso começa a se
fundamentar. O Espírito André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos,
psicografado por Francisco Cândido Xavier, traça-nos a trajetória do princípio
inteligente através dos vários reinos da natureza. O princípio inteligente é
conduzido pelos "Operários Espirituais". A repetição dos atos cria a
herança e o automatismo. Ao adentrar na fase hominal, ele adquire o pensamento
contínuo, o livre-arbítrio e a razão. Aos poucos esses operários espirituais
vão entregando o aprendizado ao livre-arbítrio, sob a própria responsabilidade.
5. NECESSIDADES HUMANAS
5.1. O QUE É UMA NECESSIDADE?
Necessidade é a consciência de que nos falta algo. Por que nos falta
algo? Porque a necessidade, sendo um estado de espírito e um atributo do homem
subjetivo, impõe ao homem este ou aquele desejo. As necessidades podem ser: a) prioritárias:
comer, beber, dormir etc.; b) secundárias: vestir-se bem, passear,
cinema etc.
Em termos espirituais, as necessidades vão se depurando conforme vamos
galgando novos degraus de evolução espiritual. Há, assim, muita sabedoria no
provérbio: "Deus, livra-me das minhas necessidades". Deveríamos
deixar de lado os apetites da carne e nos direcionarmos para os anseios do
Espírito.
5.2. VÍCIOS
Os vícios são as ações que tendem para mal. Allan Kardec diz: "Se o
homem se conformasse rigorosamente com as leis divinas, não há duvidar de que
se pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na Terra". O animal,
por exemplo, só come para preservar a sua vida; o homem, dotado de inteligência,
come mais com os olhos do que com a boca. O vício surge não pelo fato de
atender a necessidades, mas no excesso que com que se atende a necessidades. Há
um ditado que diz: "devemos comer para viver e não viver para comer".
Nesse sentido, a pessoa que se alimenta em demasia acaba se tornando glutão, o
que lhe impede de estar bem com o seu físico. O mesmo se diz daquele que se
excede nas bebidas alcoólicas, na sexualidade etc. É preciso, pois, relembrar
que todos sofreremos as consequências de nossas ações, quer sejam boas ou más.
(Kardec, 1975, cap. III)
5.3. DOR
A dor é teleológica e leva consigo um destino. É um alerta da natureza,
que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não
fosse a dor, sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo.
Por ela podemos saber o que fomos e, também, o que tencionamos ser. Ela é
sempre positiva; no sofrimento, estamos purgando algo ou preparando-nos para o
futuro. De acordo com Allan Kardec, "A dor é o aguilhão que impele o
Espírito para frente, na senda do progresso". Se o Espírito nada tivesse a
temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; ficaria inativo,
como entorpecido. Reportando-nos à alimentação, poder-se-ia dizer que ao
ingerirmos alimentos em excesso, teríamos um mal-estar físico, uma espécie de
sentinela do equilíbrio.
6. BEM VERSUS MAL
6.1. ESTENDER O BEM
"Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o
mal com o bem".
— Paulo. (Romanos, 12, 21)
O Espírito Emmanuel lembra-nos de que a natureza é pródiga em nos
oferecer exemplos vivos para a nossa mudança comportamental. Depois de um
temporal (mal), em que parece ter destruído a paisagem, novas forças
congregam-se para a obra de refazimento: "O sol envia luz sobre o lamaçal,
curando as chagas do chão, o vento acaricia o arvoredo e enxuga-lhe os ramos, o
cântico das aves substitui a voz do trovão... A árvore de frondes quebradas ou
feridas regenera-se, em silêncio, a fim de produzir novas flores e novos
frutos". Incita-nos, com isso, a aprender com a natureza, ou seja, mesmo
sofrendo os maiores dos males, deveríamos nos concentrar no bem, estendendo-o
ao infinito, porque o mal é passageiro e fruto da ignorância humana. (Xavier,
sdp, cap. 35)
6.2. DESERTOR DO BEM
Se soubéssemos, de antemão, o tributo de dor que a vida nos cobrará,
evitaríamos o homicídio, a calúnia, a ingratidão e o egoísmo. O mesmo sucede
com aquele que se esquiva do bem. O Espírito Emmanuel diz: "Se o desertor
do bem conseguisse enxergar as perigosas ciladas com que as trevas lhe furtarão
o contentamento de viver, deter-se-ia feliz, sob as algemas santificantes dos
mais pesados deveres". Lembremo-nos de que viemos a este mundo para
cumprir uma missão, um dever. Nesse sentido, a esposa de Heidegger dizia que
Deus tinha condenado o seu marido a ser filósofo. Para nós outros, que nos
compenetramos da necessidade de praticar o bem, poderíamos dizer que Deus nos
condenou a ser benevolente. (Xavier, sdp, cap. 38)
6.3. RESISTIR AO MAL
Jesus dizia que o joio deveria crescer junto com o trigo. Contudo, no
momento aprazado separaria um do outro. O trigo representa o bem; o joio, o
mal. Os dois devem crescer juntos, ou seja, não há dualismo entre um e outro,
pois o mal é sempre visualizado como a ausência do bem. Ele só surge quando o
bem não se fez presente. É como o ladrão que rouba. Ele só rouba porque não
houve antes uma prevenção.
Resistir ao mal significa suportar pacientemente a sua presença, mas sem
perder de vista o bem. Haverá tentações, desânimo, mal-entendidos e
incompreensões alheias. Nada disso deve tirar o ensejo de continuarmos firmes
em nossa jornada evolutiva, pois "a seu tempo ceifaremos se não houvermos
desfalecidos".
7. CONCLUSÃO
Não nos detenhamos apenas em praticar atos de caridade; sejamos também
caridosos. Auxiliemos o próximo, não por uma espécie de convenção social, mas
como um arroubo que parte do íntimo de nosso coração.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o
Espiritismo. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.XAVIER, F. C. Fonte Viva,
pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, [s.d.p.]
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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