A IDADE MAIS PRECIOSA DA NOSSA
VIDA.
Não pergunte qual é a idade mais importante da sua vida. A idade mais
importante é a que você tem agora. O momento mais decisivo é este preciso
instante. O dia mais pleno é o dia de hoje - e isso tem sido assim desde
sempre.
O instante presente contém em si os resultados de todos os aspectos do
passado e as sementes de todos os momentos futuros. O passado e o futuro
são infinitos, mas são influenciados pelo que ocorre agora.
Embora os fatos do passado não sejam alterados, o modo como eles são
percebidos é sempre diferente, à medida que vivemos novas
situações. Um estado de espírito otimista mostrará um passado feliz. Um
sentimento de raiva atrairá lembranças de rancores e conflitos. A
filosofia teosófica mostra que tudo que passou traz lições, e que
frequentemente os nossos sofrimentos são mais produtivos do que os momentos
agradáveis. Além disso, o mesmo e velho passado nos dá lições diferentes a cada
instante. À medida que enfrentamos desafios inéditos, enxergamos significados
novos em acontecimentos distantes no tempo.
Assim, o passado não é infinito apenas no sentido cronológico. Há um
número ilimitado de pontos de vista a partir do qual podemos olhar para ele, e
o mesmo ocorre em relação ao futuro. Para a alma imortal, uma vida é uma obra
de arte, e ela pode ser bem realizada desde o início até o seu
final. Do nascimento à velhice, uma vida passa por fases
muito diferentes, mas, internamente, ela forma uma unidade. Cada faixa
etária tem uma relação viva com todas as outras. Se tenho oitenta anos,
posso me reconhecer como continuação do garoto de oito anos que fui. Se
sou um adolescente de 17, possuo em mim o material que florescerá no
futuro cidadão experiente de setenta anos. Assim, seja qual for minha idade,
ela contém as heranças das idades anteriores e também as sementes que
germinarão, ou não, no futuro. O livre-arbítrio me permite eliminar pela
força da compreensão as sementes negativas herdadas do passado, enquanto faço
germinar pelo poder da sabedoria as sementes positivas.
Na verdade, portanto, todas as minhas idades estão presentes em
cada momento da minha vida. Posso dialogar com os meus “eus” de idades prévias,
e também com os “eus” de idades futuras. A vida é um mistério fascinante. Nossa
existência pessoal é como uma pequena casca de noz que
navega durante oitenta ou cem anos pela onda de vida física de um
planeta situado na periferia de uma galáxia menor. Essa galáxia, por sua
vez, navega em um mar eterno e infinito, para o qual um período de
alguns bilhões de anos é pouca coisa.
Embora a vida da casca de noz pessoal seja passageira,
a alma imortal reencarna sucessivamente, recebendo como instrumentos de
navegação novas cascas de nozes, até alcançar a perfeição
humana. Naturalmente, não lembramos das vidas anteriores. A lei universal
estabelece que – salvo exceções – nenhuma casca física
deve recordar, com sua mente cerebral ou seus cinco sentidos, das
experiências da casca anterior. Afinal, não é o corpo
físico nem o eu inferior que reencarnam, mas apenas a alma imortal. Só ela tem
direito a navegar no oceano do tempo eterno e do espaço
infinito. A alternativa que nos resta é elevar nossa consciência até
ela. Então compreenderemos a vida de fato.
A criação do mundo repete-se, em pequena escala, cada vez que uma
criança é concebida. Assim como a vida do planeta começou no mar, a vida de
cada um de nós começa no líquido amniótico do corpo da mãe. O feto refaz em
miniatura as etapas da vida na Terra. A criança nasce como um animal indefeso,
depois rasteja como um réptil, e mais tarde faz brincadeiras que recordam
inconscientemente etapas anteriores da história humana. A alma imortal se
aproxima aos poucos do seu corpo novo. A criança traz ao mundo uma pureza que é
resultado - segundo a filosofia esotérica - do longo banho abençoado que foi a
passagem da alma pelo Devachan, o “local divino”, o período de
descanso espiritual entre uma encarnação e outra. O Devachan dura normalmente
de mil a quatro mil anos. [2]
Segundo a teosofia original, uma vida humana se divide em
períodos setenários. A ciência informa que, a cada sete anos, se renovam
completamente as células do nosso corpo. O carma pessoal
também se reorganiza nesse prazo. Assim, as diferentes fases da vida têm suas
próprias lições. Embora a vida de cada um seja um processo único, há
algumas tendências gerais, válidas para todos, que facilitam a nossa
compreensão da vida como uma obra de arte.
Nos primeiros sete anos, o indivíduo aprende a lidar
com o mundo físico. Ele entra para a escola e passa pela alfabetização.
Até sete anos, a alma mortal se consolida como ponte e como síntese entre as
circunstâncias físicas e emocionais do nascimento, de um lado, e a
intenção, o carma e as potencialidades internas trazidas das vidas anteriores.
A casca psicológica do eu, feita de hábitos e tendências, começa a
se consolidar, mas ainda permanece aberta a muitas influências. Daí a
necessidade de proteção, de estabilidade, e de estímulos positivos que
despertem nela a autoconfiança e a percepção do seu próprio potencial interno
para o bem.
Nesta etapa também é muito frequente que tenhamos percepções
fundamentais sobre a meta da nossa vida. Então surge a primeira versão do
propósito de vida, cuja base é a experiência acumulada de encarnações anteriores.
O escritor Érico Veríssimo confessou, na idade madura, que o rumo da sua vida
foi determinado por decisões internas tomadas quando tinha quatro ou cinco anos
de idade.
Em qualquer etapa da vida, podemos recuperar e reforçar a essência
positiva da intenção profunda que emergiu na infância. A criança que
fomos estará presente em nosso mundo psicológico enquanto vivermos. É sempre
recomendável verificar se somos leais ao propósito glorioso que ela
definiu para nossa existência.
Entre os sete e os catorze anos cresce a nossa
identificação com o mundo externo e somos envolvidos por uma malha fina de
exigências sociais. O período culmina com a entrada na adolescência e o começo
de uma grande transição física e emocional em direção à vida adulta. A
alma imortal já não fala com tanta facilidade como antes com a casca externa,
que agora está preocupada em navegar em um mar agitado de pressões,
deveres e emoções.
É um dever dos adultos dar estabilidade emocional e estímulos
positivos a cada criança. Porém, algumas almas nascem em situações
tempestuosas. A poetisa brasileira Cecília Meireles, por exemplo, perdeu os
dois pais antes dos quatro anos de idade. Para evitar mais perdas, ela
fugiu do que é transitório e dedicou sua vida a assuntos imortais, usando a literatura
como refúgio e como instrumento.
Entre os 14 e os 21 anos alcançamos a maioridade.
Ocorrem agora as primeiras paixões, o primeiro emprego – talvez o primeiro
desemprego – e, muitas vezes, o casamento e filhos. Também há almas que
embarcam em sonhos mais amplos e aventuras impessoais como um ideal
revolucionário, a decisão de viajar pelo mundo, uma busca mística ou a
atividade literária. É nessa etapa que a pessoa faz suas revoluções pessoais e
se projeta para o futuro. É claro que nem sempre há uma grande dose de acerto
em tais tentativas. Mas, havendo boa intenção, os equívocos não serão graves.
Mais tarde virá a sabedoria da experiência.
Entre 21 e 28 anos de idade surge um poderoso impulso
profissional e, conforme a alma e as circunstâncias, espiritual. Aos 28 anos, o
indivíduo é plenamente adulto. A pessoa se estabelece na vida e contrai
compromissos que podem durar pelo resto da vida.
Dos 28 aos 35 anos, surge a fase madura da
vida. Astrologicamente, há um evento decisivo entre 28 e 30 anos.
O planeta Saturno completa uma volta no mapa astral e passa novamente pelo
local do céu em que ele estava no momento em que a pessoa nasceu. Saturno é o
mestre do tempo, do carma, dos limites e das estruturas. Sua lenta
passagem pelas casas do nosso mapa astrológico define os grandes temas das
diversas fases da nossa existência. A primeira volta de Saturno provoca
uma avaliação geral das ações feitas até o momento e, muitas vezes, há mudanças
radicais na vida. É como se a pessoa encontrasse seu rumo e seu destino. O que
houver de falso ou ilusório cai como um castelo de cartas, porque Saturno exige
situações bem definidas. Na lenda de Gautama Buda, o novo instrutor espiritual
da humanidade descobre aos 29 anos a existência do sofrimento e da morte. Ele abandona
imediatamente o mundo e se refugia na meditação. Assim, a partir dos 30 anos o
rumo geral está claro e a alma elimina grande parte das distrações que a
faziam perder tempo. Talvez não faltem obstáculos e crises. Mas surgem
possibilidades ilimitadas e se abre a fase das grandes realizações. Até
que ponto a vida já pode ser vista como um aprendizado espiritual e nada
mais? Cada um deve responder por si.
Dos 35 aos 42, o indivíduo percebe os limites do
seu corpo e sente os primeiros efeitos do envelhecimento físico. Ele ainda pode
ter muitos anos de vida ativa, mas para isso terá de manter hábitos
pessoais que fortaleçam a saúde. A chamada “crise dos 40 anos” força-o a
colocar a sabedoria acima da força. Ele identifica com mais clareza o que
pode e o que não pode realizar. Ele reduz as suas ambições externas,
aprende a atuar seletivamente e aproveita melhor as oportunidades. É mais
realista, e tem mais capacidade de concentração. O êxito, profissional e
social, se amplia. Para muitos, agora se aprofunda o despertar
espiritual, e o movimento teosófico surge como caminho para a plenitude e
a libertação interior.
Dos 42 aos 49 anos se completa a
transição para a meia-idade. Acentua-se a necessidade de usar mais
talento para compensar a perda da vitalidade física. As emoções estavelmente
negativas, que nunca foram recomendáveis, agora já não podem ser toleradas
porque passam a ter efeitos diretos sobre a saúde. Há um sentido maior de
urgência no viver. Ainda se tem saúde, ainda se pode recomeçar a vida, mas não
há mais tempo a perder. O final dessa fase traz uma grande tranquilidade a
algumas pessoas, quando percebem que já cumpriram certos deveres básicos na
vida. Essa percepção afasta o medo e dá tranquilidade para viver o
futuro. Em muitos casos os filhos foram criados e a situação econômica
está consolidada. A alma se volta para aproveitar melhor a vida. Ama mais
profundamente, dá menos atenção a formalidades e vai direto ao que
interessa. Pela posição de Saturno em trânsito, a partir dos 47 anos e
até os 54 há um período de novo ânimo e grande poder de iniciativa e
realização. É quase uma segunda adolescência. Os temas da juventude que ainda
não foram bem resolvidos podem ser retomados agora em um esforço profundo de
compensação.
Entre 49 e 56 anos de idade a alma já tem uma grande
quantidade de experiência de vida e ainda está no auge da capacidade de
trabalho. Embora seu corpo físico continue envelhecendo e requeira cautela
crescente no seu manejo, a verdade é que a capacidade de trabalho intelectual
está num patamar mais alto que o das faixas etárias anteriores. Ao mesmo tempo,
é cada dia mais importante cortar formas de desperdício da energia vital e
adequar a alimentação e outros hábitos pessoais para que haja menos desgaste da
saúde. É aconselhável ler, escutar música, meditar, refletir sobre a vida e
participar de trabalhos voluntários. A volta à simplicidade preparará uma
velhice feliz, fator importante para que a vida após a morte e as próximas
vidas sejam mais agradáveis. Os anos da velhice podem ser mais dourados que os
da juventude, e poucos velhos gostariam, de fato, de voltar à situação de
trinta ou quarenta atrás. Eles sabem que a sabedoria e a experiência adquiridas
são o seu bem mais precioso.
Entre 56 e 63 anos, ingressamos na idade madura. Os
efeitos da segunda volta de Saturno se dão entre os 57 e 60 anos, trazendo
novas possibilidades de grandes transformações. Há um exame cármico geral
e rigoroso e uma severa avaliação dos rumos da vida. É possível que ocorram
tempestades e mudanças estruturais. Se não houver necessidade de grandes
guinadas no rumo da vida, a renovação será interior e a alma avançará
produtivamente para a longa reta final que levara à culminação da existência
física. Do ponto de vista prático, estas são algumas das recomendações
mais cruciais a partir de agora:
Ter uma meta nobre de vida, e preservar a capacidade de aprender com
cada fato novo;
Buscar a sabedoria, agir moderadamente, e ajudar a Causa da evolução
humana;
Aproveitar o que cada momento traz de bom e de útil;
Dedicar uma boa parte do dia a pensar no que é eterno e infinito;
Caminhar todos os dias meditativamente, junto à natureza ou em local
tranquilo;
Evitar dívidas e outras situações econômicas complicadas;
Manter atividades produtivas, seja profissionalmente, seja como
voluntário;
Desarmar os conflitos emocionais e os rancores em cada relacionamento
pessoal e profissional;
Manter o humor leve, apreciar a beleza do céu, sorrir para a vida.
Esses itens são recomendáveis para qualquer tempo. Agora, no
entanto, eles ganham importância decisiva. Quando nosso corpo é velho e frágil,
é indispensável ter sabedoria interior e juventude de espírito. Porém há
um desafio nisso. Quanto mais idade temos, mais difícil é fazer mudanças. Por
isso é aconselhável aproveitar as fases da vida em que ainda somos
suficientemente maleáveis para educar a nós próprios e criar hábitos que levam
a uma existência fisicamente longa e espiritualmente correta.
Os períodos setenários que vão de 63 até 70 anos, e
77; e ainda 84, 91, 98 e 105 anos de idade, já não são épocas propícias para
inovações desnecessárias. No entanto, a atividade profissional e intelectual
vivida com serenidade é perfeitamente possível até muito além dos 80 anos.
Viver intensamente o presente é fundamental, mas evite dar importância
desnecessária a conflitos. A vida deve ser dedicada cada vez mais à paz
interior e aos estados contemplativos. Os assuntos humanos de curto prazo
precisam ser tratados com moderação, reconhecendo-se que são coisas de importância
passageira. A prioridade é a ampliação dos horizontes e a compreensão das
verdades eternas. Já podemos admirar os resultados da nossa vida, mas
ainda é possível ampliar o trabalho realizado, aumentando nossa capacidade de
amar e de fazer o bem.
Estamos livres de amarras: podemos viver cada dia com intensidade. Assim
avançamos harmoniosamente - talvez até além dos cem anos de idade. E quando
largarmos definitivamente o nosso velho corpo, iremos para o longo
e glorioso período de descanso entre duas vidas, que a filosofia esotérica
chama de Devachan. E ali teremos uma existência abençoada até que o ciclo
do renascimento comece outra vez.
Consciente da natureza cíclica da vida universal, Benjamin Franklin, o
bem-humorado pensador e líder político norte-americano, escreveu ainda jovem o
seguinte epitáfio para si mesmo:
“O corpo de Benjamin Franklin, impressor - como a capa de um velho
livro, com seu conteúdo gasto e já sem títulos dourados - aqui jaz na condição
de alimento para os vermes. Mas o trabalho não estará perdido, pois, segundo
ele acreditava, reaparecerá mais uma vez, em uma nova e elegante edição,
revista e corrigida pelo Autor.”
A vida é infinita, e só as formas são passageiras. Temos todos os
elementos para construir com eficácia a grande obra de arte que é nossa
existência atual. Não há conhecimento mais importante do que essa ciência de
viver.
A tranquilidade do estudante de filosofia esotérica surge do fato de que
ele conhece e compreende uma lei essencial: na natureza nada se perde nada se
cria tudo se transforma. Tudo se recicla. A cada final corresponde um descanso,
e também um novo começo. A cada plantio, uma colheita, e a colheita ocorrerá
segundo a Lei do Equilíbrio e da Justiça. O universo é simétrico: cada noite
tem uma única função, que é preparar o amanhecer.
A concepção realista de uma existência humana como um conjunto perfeito
do início ao final é algo que nos permite atuar com sabedoria nas diferentes
situações específicas. Deste modo fica mais fácil transformar cada dia da vida
em uma pequena, mas valiosa obra de arte.
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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