A sabedoria de envelhecer
Ele é um homem com mais de oitenta
anos. Forte, daqueles bons italianos.
Um exemplo de saber envelhecer. Ele
já se deu conta, há muito tempo, que o vigor da juventude o deixou.
Mas, isso não quer dizer que se
acomodou. Faz tudo o que o corpo ainda lhe permite.
Até há pouco tempo, dirigia seu carro
e, em determinadas épocas, tomava da esposa, dizia Inté para
os filhos e netos e saía a viajar.
De cada vez, um local diferente.
Vamos conhecer tal
lugar? - Perguntava para a esposa, cuja idade beira a dele.
Quer dizer, perguntava por perguntar,
porque a senhora, também disposta, sempre concordava.
Fecham o apartamento e lá se vão para
uma estância, uma estação de águas, um hotel fazenda.
Há pouco, completaram suas bodas de
ouro e os filhos promoveram uma grande festa.
Ele compareceu no mais belo e
alinhado terno, bigodes aparados, cabelo branco bem penteado e a seriedade,
disfarçando a emoção.
Ela, num lindo vestido longo, azul
turquesa, encantando os olhos dele, como se fossem os anos primeiros de
convivência.
Recentemente, amigos de ideal
espírita decidiram por prestar-lhe homenagem, pelos anos de dedicação à causa.
Pelo seu pioneirismo, alçando a bandeira da Doutrina Espírita em terras onde
apenas despontava, tímida.
De imediato, sua memória e sua ética
foram ativadas.
Por que eu? Antes
de mim, houve quem fizesse muito mais do que eu. E melhor.
E recordou do amigo, por cujas mãos
conheceu a Doutrina Espírita. E esteve presente para a entrega da homenagem.
Naturalmente, ele também foi homenageado.
Emocionado, agradeceu, dizendo não
merecer porque, dizia, da Doutrina Espírita recebera o melhor. Ele era,
portanto, um devedor.
E, incentivou à juventude, aos atuais
trabalhadores a continuarem no bendito labor da divulgação, espalhando luzes, aclarando
mentes e corações.
Comoveu a todos.
Simples, embora detentor de
considerável patrimônio e posses, abraça com vigor os amigos.
Faz questão de um bom papo, embora a
dificuldade, por vezes, para ouvir. Mas, ele ajusta o seu aparelho para a
surdez e participa.
Não tem vergonha de tornar a
perguntar, quando não entende.
Sábio, não fala se não tem certeza de
ter bem entendido a pergunta.
Sabe calar-se quando muitos falam ao
mesmo tempo, dificultando-lhe a captação das palavras.
Ainda guarda um ar de maroto, por
vezes, mostrando que o viço infantil não morreu em sua intimidade.
Assim, outro dia, em pleno café da
manhã com amigos, quando todos já haviam terminado a refeição e se entretinham
à mesa, conversando, ele tomou de uma faca e a introduziu no pote de doce de
leite.
Trouxe-a com a ponta carregada do
precioso doce. Olhou para a esposa, exatamente como criança que sabe que, o que
vai fazer está errado, e lambeu-a, com prazer.
Todos riram. Ele também. Havia
acabado de fazer uma peraltice bem própria de criança.
Mas, afinal, quando envelhecemos com
sabedoria, somos assim.
Maduros no agir, jovens no pensar,
crianças para o prazer de viver intensamente cada dia.
* * *
Pessoas frívolas, que somente
valorizam o exterior, temem envelhecer.
Pessoas ponderadas envelhecem
sorrindo. Sabem que o vigor da juventude é passageiro e aproveitam a madureza
dos anos para semear sabedoria e colher venturas.
Venturas por ter educado filhos para
o bem e para o amor.
Por ter cultivado o afeto no
matrimônio. Por ter construído amizades sólidas, independentes de idade, raça,
cor, nível social.
Aprendamos com quem sabe envelhecer!
Redação do Momento
Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita v. 13
e no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP.
Em 12.1.2021
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO
QUADRADO.
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