Vivo experiências na casa espírita, que
me fazem pensar na tremenda necessidade do estudo do Evangelho, principalmente
das partes que tratam da humildade, vaidade, vigilância e soberba. Em virtude
disto, trago este texto para que reflitamos sobre nossa postura em nossas
abençoadas casas.
“Sabeis que os príncipes das nações
as dominam e que os grandes as tratam com império. - Assim não deve ser entre
vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; - e
aquele que quiser ser o primeiro entre vós seja vosso escravo; do mesmo modo
que o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida
pela redenção de muitos ”
Uma reflexão, para nós espíritas, se
faz necessária sobre um tema relevante e atual. Como deve ser a organização de
uma casa espírita? Se a legislação humana prescreve a necessidade de
estatuto social, cargos, funções, formação de um conselho e assembleias para as
deliberações da sociedade, o que prescreve a legislação divina?
Alguns acham que a casa espírita se
assemelha a uma empresa. Entendem que, para o seu bom funcionamento, apesar de
não possuir acionistas, não visar lucro, deve ter presidente, diretores,
gerentes, coordenadores, supervisores, e uma linha hierárquica bem definida,
com ordens sendo proferidas pelos cargos superiores e sendo obedecidas
plenamente pelos cargos inferiores ou subalternos. Pensam que assim, fica
preservada a harmonia da mesma, pela imposição de uma disciplina rígida e
inquestionável a ser respeitada á risca. Argumentam que sem isso, não se tem
trabalho de equipe.
Fica bem na fita aquele que fizer um
melhor marketing pessoal, aquele que vender melhor a sua imagem. Pode até ser
eleito presidente! Não importa se essa imagem é verdadeira ou não. O que
importa é que as pessoas se convençam que ele é “O Cara”.
Alguns acham que a casa espírita, por
ser uma associação de pessoas com ideal religioso, deve funcionar como a
maioria das instituições religiosas do planeta terra. Argumentam que assim deve
ser. Castas bem definidas de sacerdotes, noviços, líderes religiosos máximos,
crentes, adeptos, seguidores fiéis ou simplesmente simpatizantes, e
naturalmente com uma estrutura hierárquica mais rígida ainda. Com a disciplina
e obediência cegas beirando as raias da irracionalidade. Tudo para preservar,
acima de tudo e de todos, a instituição religiosa, sua hierarquia e sua
tradição.
Mas, como organizar uma casa espírita
atendendo a legislação divina? O que ela prescreve? O que os espíritos
superiores nos aconselham e ensinam sobre a sua organização?
Nosso querido Mestre Jesus alerta os
apóstolos “Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os grandes os
tratam com império. - Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que
quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; - e, aquele que quiser ser o
primeiro entre vós seja vosso escravo”.
Kardec esclarece outro sábio
ensinamento de Jesus "Será o maior no reino dos céus aquele que se
humilhar e se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma pretensão
alimentar à superioridade ou à infalibilidade.” E complementa mais adiante “Não
procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos
outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar
mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no
céu, se o merecerdes”.
Emmanuel no livro “Seara dos
Médiuns”, sabiamente apresenta ponderações sobre a organização do espiritismo e
nos ensinando:
”Todos estamos concordes em que a
Doutrina Espírita revive agora o Cristianismo puro; no entanto, há muita gente
que lhe estranha a organização, sem os chamados valores nobiliárquicos que
assinalam a maioria das instituições terrestres.
A força de se iludirem com a
idolatria, que sempre nos custa caro, muitos companheiros, menos vigilantes,
desejariam condecorar trabalhadores da Nova Revelação, criando galerias para o
relevo pessoal. E se pudessem determinar o rumo das coisas, no
consenso opinativo, decerto que há muito estaríamos mobilizando
doutrinadores-chefes e médiuns-titulares, com as nossas casas de serviço
perdendo tempo em mesuras e rapapés.”....
“.....Não existem, desse modo,
médiuns maiores ou médiuns menores, favorecendo, entre nós, a
constituição de prerrogativas e castas....”
“ ....Sustentar a ideia espírita,
indene de qualquer imaginária fidalguia para aqueles que a servem, é
dever para todos nós. ...”
No livro “Aconteceu na Casa Espírita”
Nora, a autora espiritual nos relata na psicografia de Emanuel Cristiano, em
seu Capítulo 05 a técnica de Júlio César, o líder dos obsessores. Ele oferece
favores e cargos aos obsessores, e estimula a vaidade da médium para que esta
acreditasse em sua superioridade perante os demais médiuns da casa espírita.
“.... Júlio Cesar acompanhou o
trabalho de Maria Souza (médium) durante várias semanas, fazendo com que casos
semelhantes a estes fossem repetidos(casos de cura); para isso oferecia cargos,
favores e retribuições aos obsessores, provocando nela a certeza de que
finalmente havia desenvolvido a faculdade de cura...”
Mais adiante no Capítulo - 08
“Cedendo á Tentação” após a infiltração dos obsessores no pensamento dos
trabalhadores da casa espírita. É relatada pelo espírito Nora a característica
da perturbação que se instalou:
“ .... Não faltavam, porém, os
invigilantes perturbando o serviço. Sequiosos por cargos, disputavam a organização
das entrevistas, quais representantes do orgulho em uma empresa do mundo.
Esqueceram que os candidatos a comandar o trabalho do bem devem, primeiramente,
se esforçar por comandarem a si mesmos....”
O nosso querido Francisco Cândido
Xavier, o maior exemplo de atuação de um verdadeiro espírita, serviu durante
diversos anos em um centro em Uberaba. Após quatorze anos de atividade a casa
espírita havia crescido, ocupando quase um quarteirão. Não havia mais espaço
para o servidor humilde de Jesus. Chico se afastou e fundou uma nova casa
espírita. Com estrutura menor, com menos participantes, mas com o amor e a
humildade que caracterizam os verdadeiros seguidores do Mestre Divino. De vez
em quando ele comentava:
“ .... Em casa que muito cresce o
amor desaparece......”
O que será que Chico constatou? Será
que a casa espírita havia perdido a pureza e simplicidade do início quando era
um pequeno núcleo de fraternidade e solidariedade? Será que o tamanho e a
estrutura da mesma induziam os colaboradores a posturas menos humildes, com
hierarquia, cargos, disputas de poder e vaidades pessoais?
O Professor Herculano Pires, que nas
palavras de Emmanuel, é “o metro que melhor mediu Kardec”, em seu Livro “O
Centro Espírita”, cap. III faz a seguinte ponderação sobre a organização de uma
casa espírita:
“ ....Mas, acima de tudo e antes de
tudo: humildade. Porque Espiritismo sem humildade é água poluída, cheia dos
germes da pretensão, da vaidade, do orgulho que atraem os espíritos inferiores.
Um presidente de Centro não é o Presidente da República e um doutrinador não é
um sábio. Pelo contrário, são criaturas necessitadas que estão aprendendo a
arte difícil de servir e não a de baixar decretos, dar ordens e humilhar os
outros em público. Sem humildade que gera e sustenta o amor ao próximo, nem o
estudo pode dar frutos....”
Relembrando um relevante ensinamento
de Emmanuel, no longuinguo ano de 1.937, em sua obra entitulada “Emmanuel”, no
capítulo XI - “Mensagens aos Médiuns”, na qual ele apresenta diversas ponderações
aos médiuns, para relembrar sobre o passado espiritual destes.
“ ....O seu pretérito, muitas vezes,
se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre,
são Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da
autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo
para se sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram das
sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude. São almas arrependidas que
procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam, reorganizando , com
sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de criminosas
arbitrariedades e de criminosa insânia...”
Reforçando este sábio conceito
ensinado por Emmanuel no livro “Aconteceu na Casa Espírita” a mesma afirmação.
Castro, o presidente do Centro Espírita sob ataque obsessivo, recebendo
instruções do dirigente espiritual, que lhe relembra a necessidade de
humildade e sacrifício em sua atuação, é informado que também já
participou, no passado das “hostes infernais”
“ ....E se queres saber, tu mesmo já
fizestes parte das “hostes infernais” ! Quem de nós, peregrinando pelos
caminhos da ignorância, não contribuímos para entravar o progresso?”
Mais adiante, na mesma obra
literária, após o arrependimento de seus atos, Júlio Cesar, o obsessor chefe, é
conduzido á nova reencarnação em família espírita, para reparar o mal
praticado. Com aproximadamente 50 anos de idade física, portador do dom da
mediunidade, assumirá a presidência da Casa Espírita que tanto ele perseguiu,
para tentar reparar o mal praticado.
Vale para todos nós, com raríssimas
exceções, um importante alerta. Quando faltar a humildade em nossa atuação,
lembremo-nos de que não somos seres angélicos repletos de virtudes que
assumimos, nesta encarnação, cargos importantes, devido á nossa elevação
espiritual. Somos sim, seres milenares envolvidos, em diversas encarnações, em
grandes faltas perante as Leis Divinas, aos quais, pela bondade infinita de
Deus, foram concedidos oportunidades de resgate e expiação dessas faltas,
atuando em funções transitórias de caráter religioso nas casas espíritas.
Por tudo que foi exposto acima, por
todas as ponderações de espíritos bondosos nas citações da literatura espírita,
neste artigo, creio que é de grande utilidade para todos nós, repensarmos o
centro espírita, e as nossas posturas e atuações nessas instituições.
Mensagem divulgada pelo médium Getulio Pacheco Quadrado.
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