LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO
VI.
FLAGELOS DESTRUIDORES.
Deus
permite que a natureza castigue a Humanidade com flagelos destruidores dentro
das suas leis, para fazê-la avançar mais depressa. Isto não quer dizer que a destruição é
necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que adquirem em
cada nova existência um novo grau de perfeição. Flagelo dito pelo ser
humano são coisas do ponto de vista pessoal dos seres humanos que assim o
chamam, por causa dos prejuízos que os causam; mas esses transtornos
são frequentemente necessários para fazer com que as coisas cheguem mais
prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que
necessitaria de muitos séculos.
Deus pode
empregar para melhorar a Humanidade, outros meios que não os flagelos
destruidores, e diariamente os emprega, pois deu a cada um os meios de progredir
pelo conhecimento do bem e do mal. E o ser humano que não os aproveita;
então, é necessário castigá-lo em seu orgulho e fazê-lo sentir a própria
fraqueza.
Se nesses flagelos
o ser humano de bem sucumbi como os perversos, é que durante a vida, o
ser humano se relaciona tudo a seu corpo, mas, após a morte pensa de
outra maneira. Como já foi dito, a vida do corpo é um quase nada; um
século no mundo material, sendo um relâmpago na
Eternidade. Os sofrimentos que duram alguns meses ou dias, nada são.
Apenas um ensinamento que servirá no futuro. Os Espíritos que preexistem
e sobrevivem a tudo, eis o mundo real. São eles os filhos de
Deus e o objeto de sua solicitude. Os corpos não são mais que disfarces
sob os quais aparecem no mundo. Nas grandes calamidades que dizimam os seres
humanos, eles são como um exército que, durante a guerra, vê os seus
uniformes estragados, rotos ou perdidos. O general tem mais cuidado com os
soldados do que com as vestes.
As vítimas
desses flagelos, apesar disso, não são vítimas, se considerássemos a vida no que ela
é, e quanto é insignificante em relação ao infinito, menos importância lhe
daria. Essas vítimas terão noutra existência uma larga compensação para os
seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem lamentar.
Comentário de Kardec: Quer a morte se verifique por um flagelo
ou por uma causa ordinária, não se pode escapar a ela quando soa a hora da
partida: a única diferença é que no primeiro caso parte um grande número ao
mesmo tempo.
Se pudéssemos
elevar-nos pelo pensamento de maneira a abranger toda a Humanidade numa visão
única, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades
passageiras no destino do mundo.
Esses flagelos destruidores têm utilidade do
ponto de vista físico, malgrado os males que ocasionam, porque eles modificam
algumas vezes o estado de uma região; mas o bem que deles resulta só
é geralmente sentido pelas gerações futuras.
Os flagelos são provas que
proporcionam ao ser humano a ocasião de exercitar a inteligência, de
mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a vontade de Deus. Ao
mesmo tempo em que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação,
de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo
egoísmo.
E dado ao
ser humano conjurar os flagelos que o afligem em parte, mas não como geralmente se
pensa. Muitos flagelos são as consequências de sua própria imprevidência.
Á medida que ele adquire conhecimentos e experiências, pode conjurá-los, quer
dizer, preveni-los, se souber pesquisar lhes as causas. Mas entre os males que
afligem a Humanidade, há os que são de natureza geral e pertencem aos
desígnios da Providência. Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior
proporção, a parte que lhe cabe, não lhe sendo possível opor nada mais que
a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males são geralmente
agravados pela indolência do ser humano.
Comentário de Kardec: Entre os flagelos destruidores, naturais e
independentes do ser humano, devem ser colocados em primeira linha a peste, a
fome, as inundações, as intempéries fatais à produção da terra. Mas o ser
humano não achou na Ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da
agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições
higiênicas, os meios de neutralizar ou pelo menos de atenuar tantos desastres.
Algumas regiões antigamente devastadas por terríveis flagelos não estão hoje
resguardadas? Que não fará o ser humano, portanto, pelo seu bem-estar material,
quando souber aproveitar todos os recursos da sua inteligência e quando, ao
cuidado da sua preservação pessoal, souber aliar o sentimento de uma verdadeira
caridade para com os semelhantes?
Esta resposta coloca de maneira bem clara o problema dos “saltos” da
Natureza, de que tratamos em nota anterior. “O salto qualitativo” a que se
refere à dialética marxista, e que para alguns contradiz a ordem evolutiva da
doutrina espírita, é exatamente essa espécie de “transtornos” que apressam o
desenvolvimento. Como se vê, o Espiritismo reconhece a existência e a
necessidade desses “transtornos”, mas integrados no processo geral da evolução,
não os admitindo como quebra desse processo.
BIBLIOGRAFIA: O LIVRO
DOS ESPÍRITOS.
DIVULGADO PELO MÉDIUM
GETULIO PACHECO QUADRADO.
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