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Visão Espírita do Idoso

Enviado em 15/02/2016 | Escrito por Leda Marques Bighetti

Visão Espírita do Idoso

Leda Marques Bighetti

de Ribeirão Preto, SP

·         As fases da vida física e o que cada uma representa para o Espírito.

·         O Idoso – quem é:

·         Como é visto

·         Como ele se vê

·         A família – cuidados – respeito – carinho – amor – ou abandono?

·         As formas de exteriorização desse abandono

·         Responsabilidade – repercussões

·         O entendimento espírita

“(…) É justo que os filhos cooperem com os pais, embora saibamos que os mais jovens de hoje serão os mais velhos de amanhã tanto quanto os maduros de agora, desempenharão, muito em breve o papel de jovens no futuro.

Tudo é sequência na Lei”. Emmanuel – Reformador, julho/76 – 22/4/51

“Antes de mais nada, é necessário esclarecer cada uma das gerações que se cruzam na mesma época reencarna tória sobre um princípio altamente funcional para o progresso das coletividades (povos e nações). As atuais posições e funções específicas das gerações de hoje já estiveram trocadas em vidas passadas. E ainda se inverterão em vidas futuras. A geração mais velha de hoje em função educadora foi a mais nova e educanda de ontem; e será a de amanhã.

Os papeis vão sendo invertidos no suceder das exigências, para permitir um intercâmbio salutar de experiências, de vivências e de conhecimento, de infusão recíproco de valores em ampla e necessária complementaridade.

Essa contingência está a apontar a todos o respeito mútuo, recíproca compreensão e liberdade a ser mantida entre os mais velhos e os jovens em comunicação produtiva”. Espiritismo e Educação, Ney Lobo – IX

As fases da vida física e o que cada uma representa para o Espírito

Dentro dos objetivos da Doutrina Espírita – a renovação moral – encarnação, isto é, uso de um corpo físico e o tempo que pode desfrutar dele, é altamente valorizado no entender espírita.

“A passagem dos espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, uma injustiça. Mas, a encarnação para todos os espíritos é um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso do livre-arbítrio. Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao contrário, usam mal a liberdade que Deus lhes concede retardam sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrarem, podem prolongar, indefinidamente, a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo”. 1

Desse modo é o homem:

“Um Espírito transeunte, reencarnado nesta Terra, peregrino imperfeito, em determinado grau educativo em romagem da perfectibilidade para perfeição que, pela Educação conquistada ou a conquistar em Reencarnações sucessivas e progressivas como ser Pluriexistencial atingirá o estado de Puro Espírito, isto é totalmente educado” 2

Entendida essa premissa o Espírito precisa de um corpo físico para desenvolver seu potencial perfectível, submetido ao ciclo da matéria que “nasce, cresce, desenvolve-se, mantém determinado equilíbrio, desagrega-se e morre, qual a função de cada uma? Há alguma coisa que seja superior, mais importante?

Recorde-se que na perfeição do Pai, não existe acaso, supérfluo, ou algo sem função específica. Desse modo, cada fase em que estagia o Espírito, tem ela uma função altamente qualificada em preparações contínuas e sequentes onde o aprendizado, as experiências, o processo educativo aí contido, vai ampliando o campo perceptivo e irradiador do Espírito.

De passagem, recorde-se que a infância etapa que vai desde o nascimento até a puberdade configura-se como tempo de transição de uma existência para outra; período de convalescença da árdua travessia da vida espiritual para a material, onde a primeira função3, é o repouso e as faculdades em latência encontrarão, no trabalho envidado pelos pais/responsáveis, os estímulos para que se manifestem. Nesse campo, interligado, junto, paralelo ao repouso/latência está a segunda função – a plasticidade, a maleabilidade”4 propiciadora do campo aberto para se reformar, mudar. O exemplo, o desvelo, o carinho, a firmeza, o empenho dos pais/responsáveis em trabalhar sem perder a dimensão de que está diante de um Espírito imortal, dá sentido e entendimento as várias situações com as quais se defrontarão.

Essa visão – Imortalidade – em nenhum momento pode ser esquecida – pois se ela referência o ser, com seu passado, aquisições, virtudes e problemas, também dá sentido a todos os cuidados e trabalhos visando o futuro.

A adolescência, puberdade, fase que adentra em tese, além um pouco dos vinte anos, caracteriza-se pela descoberta e afirmação do EU, onde períodos de egocentrismo, crises de irriquietude, irritabilidade, alternando-se com períodos calmos, ou de entusiasmo e depressão são frequentes. Produzem tormento interior, acrescido das dificuldades nas decisões, as desilusões, ou o contato com a realidade mais evidente, onde o Espírito não se sente ainda com estruturação de um Homem, mas também não se aceita mais como criança. Mendouse, pensador francês classifica essa fase como “estado de anarquia das tendências”.

Sob o enfoque da Imortalidade, tudo isso de um modo geral (pode haver exceções) tem razão de ser. Agora, o esquecimento do passado é total, a potencialidade está voltada para o futuro, mas esse Espírito é todo um aflorar de passado. A infância acenou-lhe com novas propostas, ideais. Nessa luta (quase sempre inconsciente) entre o que não mais quer se repetir, rescindir e o que almeja, sente ou deseja, o objetivo que é justamente a emancipação, quase sempre exterioriza-se através de conflitos a representar verdadeiro grito de socorro onde a atitude atuante dos pais/responsáveis – conversando, dialogando, refletindo juntos será de capital importância para a fisionomia espiritual desse futuro homem, totalmente diferente do que já fora em passado, da “criança” dessa existência, dos pais ou familiares.

No mesmo enfoque e importância esse Espírito imortal alcança, atinge (na tese de uma sequência lógica) a maturidade onde pressupõe-se o equilíbrio físico e emocional no vigor e a energia que esplendem. O Espírito se exteriorizaria aí em toda solidez, firmeza, precisão e desenvolvimento. A segurança, a justeza, a reflexão dão real colorido as propostas e decisões “Se realmente a idade madura é menos primaveril que a adolescência; se as flores decaíram do seu colorido e perfume, os frutos igualando-se aos frutos de uma árvore começam a aparecer na extremidade da alma pois é a idade madura, por excelência, o período da plenitude; é o rio que corre a toda força e espalha pela campina a riqueza e a fecundidade”. 5

A arte da vida, portanto, consistirá em justamente se entender porquês e funções, e se preparar para elas e nelas, qual trabalhador que após os serviços devidos se prepara para a colheita.

Essa fase madura onde “(…) o nascer do sol é logo de manhã, o poente é radioso e as noites sempre alumiadas maravilhosamente, suntuosamente por milhares de estrelas (…)6, o trabalho, a inspiração, o desprendimento e o amor preparam para a fase que se seguirá – a do envelhecimento da matéria.

Por que a do envelhecimento da matéria?

“(…) teu corpo é uma veste que se apodrece (…)”7

Mantidas as condições gerais de vida, isto é, ar, luz, calor, alimento, cuidados necessários, por que a energia vital que mantém a Vida se desagrega?

Gabriel Delanne8 representa essa resposta com a analogia de uma pedra lançada ao ar em sentido vertical. Impulsionada pela força dos músculos, a despeito da força centrípeta, eleva-se rapidamente até que as duas forças contrárias se equilibram. Depois, a atração predomina, a pedra cai e quando chega ao ponto de partida toda energia a ela comunicada terá desaparecido.

Pode-se fazer paralelo com o ser vivo – a energia potencial proveniente dos pais e que se encontra na célula original, transforma-se em energia natural à medida em que se organiza a matéria. De começo a ação é altamente enérgica – a assimilação ultrapassa a desassimilação – o indivíduo cresce (infância e juventude). A seguir vem o equilíbrio das perdas e ganhos – é a maturidade, a estabilidade da matéria. Cessado, rompido esse equilíbrio, os tecidos não mais convenientemente alimentados, esvai-se a força vital até a exaustão completa. Caracterizou-se a velhice dessa matéria até o sobrevir de extinção completa, no caso, na morte. A matéria agora desagregada retorna ao mundo inorgânico.

Essa matéria em desagregação influencia o Espírito?

Sem dúvida. Ela limita sua exteriorização, sua expansão, impõe-lhe ritmo diferente. Os instrumentos para a manifestação da alma estão limitados, e o Espírito não mais consegue dinamizar sua pujança.

Acredita-se que esse processo natural do envelhecimento da matéria apresente menos problemas ao Espírito quando se faz acompanhar desse conhecimento e do fruto das atitudes positivas e condutas corretas no dia-a-dia, desde a mocidade e que as funções biológicas e psicológicas são alteradas com maiores repercussões diante dos comportamentos sem disciplina em todos os setores.

Daí entender, compreender essa fase natural da existência e trabalhar nela para que o Espírito se mantenha ativo, lúcido, entusiasmado e permanentemente livre, embora limitado pela matéria que o restringe.

A História mostra que o envelhecimento da matéria não se processou em paralelo, para quem soube cultivar o Espírito ou em outras palavras, a idade cronológica não representou barreiras para Verdi, compositor italiano, que aos sessentas anos compõe “Aída”; com mais de setenta e quatro “Otelo” e aos oitenta e quatro completa três imorredouras páginas religiosas: “Ave Maria”, “Stabat Mater” e “Te Deum”. Picasso, o genial pintor espanhol aos noventa e um anos cria; Churchill septuagenário foi a alma da resistência na Segunda Grande Guerra e morre aos noventa e um anos em plena contribuição social. Que falar ainda de Einsten, Edison, Albert Schwtzer, Pasteur, Fleming, Adenahuer, Bertrand Russell espíritos altamente produtivos aos setenta, oitenta, noventa anos de idade física, que não se entregando a vida contemplativa permanecem vivos até hoje quando pelos efeitos de suas descobertas, invenções, ideais e ideais se mantiveram produtivos, interessados, interessantes e atuantes, apesar, do envelhecimento físico.

 

Bibliografia – Estudo I:

·         1 – KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IV – 25

·         2 – LOBO, Ney, Filosofia Espírita da Educação, vol. 1 – 1.° resumo da solução

·         3, 4 – KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos, q. 382 – 385

·         5, 6 – DENIS, Léon – O Grande Enigma, XV e seguintes

·         7 – KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos, q. 196a

·         8 – DELANNE, Gabriel – Evolução Anímica, cap. I

 

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