O LIVRO DOS
ESPÍRITOS. CAPÍTULO XI
METEMPSICOSE.
Quanto à comunhão de origem dos seres vivos no
princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose, porque
são duas coisas que podem
ter a mesma origem e não se assemelharem em nada mais tarde. Quem
reconheceria a árvore, suas folhas, suas flores e seus frutos no germe
informe que se contém na semente de onde saíram. No momento em que o princípio
inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período
de humanidade, não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a
alma dos animais, como a árvore não é a semente. No ser humano, somente
existe do animal o corpo, as paixões que nascem da influencia do corpo e
os instintos de conservação inerente à matéria não se pode dizer,
portanto, que tal ser humano, é a encarnação do Espírito de tal animal, e.
por conseguinte a metempsicose, tal como a entendem, não é exata.
O Espírito que animou o
corpo de um ser humano jamais poderia encarnar-se num animal, porque isso seria retrogradar, e o Espírito
não retrograda. O rio não remonta à nascente. Por mais errônea que seja a ideia ligada à metempsicose, não seria
ela o resultado do sentimento intuitivo das diferentes existências do ser
humano.
Reconhecemos esse sentimento intuitivo nessa crença
como em muitas outras; mas, como a maior parte dessas ideias intuitivas, o ser
humano a desnaturou.
Comentário
de Kardec: A
metempsicose seria verdadeira se por ela se entendesse a progressão da alma de
um estado inferior para um superior, realizando os desenvolvimentos
que transformariam a sua natureza; mas é falso, no sentido de
transmigração direta do animal para o ser humano e vice-versa, o que implicaria
a ideia de uma retrogradação ou de fusão. Ora não podendo
realizar-se essa fusão entre seres corporais de duas espécies temos nisso um
indicio de que se encontram em graus não assimiláveis e que o mesmo deve
acontecer com os Espíritos que os animam. Se o mesmo Espírito pudesse animá-los
alternativamente, disso resultaria uma identidade de natureza que se traduziria
na possibilidade de reprodução material. A reencarnação ensinada pelos
Espíritos se funda, pelo contrário, sobre a marcha ascendente da natureza e
sobre a progressão do ser humano na sua própria espécie, o que não diminui em
nada a sua dignidade O que o rebaixa é o mau uso que faz das faculdades que
Deus lhe deu para o seu adiantamento. Como quer que seja à antiguidade e a
universalidade da doutrina da metempsicose e o número de seres humanos
eminentes que a professaram provai que o principio da reencarnação tem suas
raízes na própria natureza; esses são portanto argumentos antes a seu favor do
que contrários.
O ponto de partida do Espírito é uma
dessas questões que se ligam ao principio das coisas e estão nos segredos de
Deus. Não é dado ao ser humano conhecê-los de maneira absoluta e ele só pode
fazer, a seu respeito, meras suposições, construir sistemas mais ou menos
prováveis. Os próprios Espíritos estão longe de tudo conhecer e sobre o que não
conhecem podem ter também opiniões pessoais mais ou menos sensatas.
É assim que nem todos pensam da mesma
maneira a respeito das relações existentes entre o ser humano e os animais.
Segundo alguns, o Espírito não chega ao período humano senão depois de ter sido
elaborado e individualizado nos diferentes graus dos seres inferiores da
criação. Segundo outros, o Espírito do ser humano teria sempre pertencido à
raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses sistemas tem a
vantagem de dar uma finalidade ao futuro dos animais que constituiriam assim,
os primeiros anéis da cadeia dos seres pensantes; o segundo é mais conforme á
dignidade do ser humano e pode resumir-se da maneira que segue.
As diferentes espécies de animais não
procedem intelectualmente umas das outras, por via de
progressão; assim, o Espírito da ostra não se torna sucessivamente do peixe, da
ave, do quadrúpede e do quadrúmano; cada espécie é um
tipo absoluto, física e moralmente, e cada um dos seus indivíduos
tira da fonte universal a quantidade de princípio inteligente que lhe é
necessária, segundo a perfeição dos seus órgãos e a tarefa que deve desempenhar
nos fenômenos da Natureza, devolvendo-a a massa após a morte. Aqueles dos
mundos mais adiantados que o nosso são igualmente constituídos de raças
distintas, apropriadas ás necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento
dos seres humanos de que são auxiliares, mas não procedem absolutamente dos
terrestres, espiritualmente falando. Com o ser humano já não se dá o mesmo.
Do ponto de vista físico, o ser
humano constitui evidentemente um anel da cadeia dos seres vivos; mas do ponto
de vista moral há solução de continuidade entre o ser humano e o animal. O ser
humano possui, como sua particularidade, a alma ou Espírito, centelha divina
que lhe dá o senso moral e um alcance intelectual que os animais não possuem; é
o seu ser principal, preexistente e sobrevivente ao corpo, conservando a sua
individualidade. Qual é a origem do Espírito? Onde está o seu ponto de partida?
Forma-se ele do principio inteligente individualizado? Isso é um mistério que
seria inútil procurar e penetrar e sobre o qual, como dissemos, só podemos
construir sistemas.
O que é constante e ressalta ao mesmo
tempo do raciocínio e da experiência é a sobrevivência do Espírito, a
conservação de sua individualidade após a morte, sua faculdade de progredir,
seu estado feliz ou infeliz, proporcional ao seu adiantamento na senda do bem,
e todas as verdades morais que são a consequência desses principio. Quanto às
relações misteriosas existentes entre o ser humano e os animais, isso,
repetimos, está nos segredos de Deus, como muitas outras coisas cujo
conhecimento atual nada importa para o nosso adiantamento e sobre as
quais seria inútil nos determos.
Bibliografia: O Livro dos Espíritos.
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