Por aqueles que
amamos
Prefácio: Como é horrível a ideia do
nada! Como são dignos de lástima os que pensam que a voz do amigo que chora o
seu amigo se perde no vácuo, sem encontrar o menor sinal de resposta! Eles
jamais conheceram as afeições puras e santas. Como conhecer se pensam que tudo
morre com o corpo; que o gênio, depois de iluminar o mundo com a sua poderosa
inteligência, extingue-se como um sopro, no apagar de um simples jogo de forças
materiais; que do ser mais querido, como o pai, a mãe, um filho adorado, não
resta mais do que um punhado de poeira, que o vento inevitavelmente dispersará?
Como pode um homem sensível
indiferente a essa ideia? Como não o gela de horror a ideia de um aniquilamento
absoluto, e não o faz pelo menos desejar que assim não seja? Se até a razão não
foi suficiente para dissipar as suas dúvidas, eis que o Espiritismo o vem
fazer, através das provas materiais de sobrevivência que nos proporciona, e
consequentemente da existência dos seres de além túmulo. Justamente por isso,
essas provas são acolhidas por toda parte com satisfação. E a confiança
renasce, pois o homem sabe, de agora em diante, que a vida terrena é apenas uma
rápida passagem, que conduz a uma vida melhor. Seus trabalhos neste mundo não
ficam mais perdidos para ele, e as suas mais santas afeições não são rompidas
sem qualquer esperança.
Prece:
Acolhe favoravelmente, ó Deus de
bondade, a prece que vos dirijo pelo Espírito de N...! Faze-lhe
perceber as tuas luzes divinas, e facilita-lhe o caminho da felicidade eterna!
Permite que os Bons Espíritos levem até ele as minhas palavras e o meu
pensamento.
E tu, que eu tanto queria neste
mundo, ouve a minha voz que te chama para dar-te uma nova prova da minha
afeição! Deus permitiu que fosses libertado antes de mim, e eu não poderia
lamentá-lo sem demonstrar egoísmo, porque equivaleria a desejar que continuasse
sujeito às penas e aos sofrimentos da vida. Espero, pois, com resignação, o
momento da nossa união, nesse mundo mais feliz, a que chegaste antes de mim.
Bem sei que a nossa separação é
apenas momentânea, e que, por mais longa ela possa me parecer, sua duração se
esvai diante da eternidade de ventura que Deus promete aos seus eleitos. Que a
sua bondade me livre de fazer qualquer coisa que possa retardar esse instante
desejado, e que assim me poupe à dor de não te encontrar, ao sair do meu
cativeiro terreno.
Oh, como é doce e consoladora a
certeza de não haver, entre nós, mais do que um véu material, que te esconde ao
meu olhar; a certeza de podes estar aqui, ao meu lado, ver-me e ouvir-me como
outrora; de que não me esqueces, da mesma maneira como não te esqueço; de que
os nossos pensamentos se confundem incessantemente, e de que o teu me segue e
me ampara sempre!
Que a paz do Senhor esteja contigo!
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