Prece Pelos Obsedados
Prefácio – A
obsessão é a ação persistente de um mau Espírito sobre uma pessoa. Apresenta
características muito diversas, desde a simples influência de ordem moral, sem
sinais exteriores perceptíveis, até a completa perturbação do organismo e das
faculdades mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas. Na mediunidade
psicográfica, ou de escrever, revela-se pela obstinação de um Espírito em se
manifestar exclusivamente, sem permitir que outros o façam. Os maus Espíritos
pululam ao redor da Terra, em consequência da inferioridade moral dos seus
habitantes. Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos que a Humanidade suporta
neste mundo. A obsessão, como as doenças, e como todas as atribuições da vida,
deve ser considerada, pois, como uma prova ou uma expiação, e aceita nessa
condição.
Assim
como as doenças são o resultado das imperfeições físicas, que tornam o corpo
acessível às influências perniciosas do exterior, a obsessão é sempre o
resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um mau Espírito. A uma
causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral, é necessário opor
uma força moral. Para preservar das doenças, fortifica-se o corpo; para
garantir contra a obsessão, é necessário fortificar a alma. Disso resulta que o
obsedado precisa trabalhar pela sua própria melhoria, o que na maioria das
vezes é suficiente para o livrar do obsessor, sem socorrer-se de outras
pessoas. Esse socorro se torna necessário quando a obsessão degenera em
subjugação e em possessão, porque o paciente perde, por vezes, a sua vontade
própria e o seu livre arbítrio.
A
obsessão é quase sempre a ação vingativa de um Espírito, e na maioria das vezes
tem sua origem nas relações do obsedado com o obsessor, em existência
anterior. (Cap. X, nº 6; e XII, nº 5 e 6).
Nos
casos de obsessão grave, o obsedado está como envolvido e impregnado por um
fluído pernicioso, que neutraliza a ação dos fluídos salutares e os repele. É
necessário livrá-lo desse fluido.Mas um mal fluido não pode ser
repelido por outro da mesma espécie. Por uma ação semelhante a que o médium
curador exerce nos casos de doença, é preciso expulsar o fluido mau com a ajuda
de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um resgate. Essa é
a que podemos chamar de ação mecânica, mas não é suficiente. Faz-se também necessário,
e acima de tudo, agir sobre os ser inteligente, com o qual se deve
falar com autoridade, sendo que essa autoridade só é dada pela superioridade
moral. Quanto maior for esta, tanto maior será a autoridade.
E
ainda não é tudo, pois para assegurar a libertação, é preciso convencer o
Espírito perverso a renunciar aos seus maus intentos; despertar-lhe o
arrependimento e o desejo do bem, através de instruções habilmente dirigidas,
com a ajuda de evocações particulares, feitas no interesse da sua educação
moral. Então, pode-se ter a dupla satisfação de libertar um encarnado e
converter um Espírito imperfeito.
A
tarefa se torna mais fácil, quando o obsedado, compreendendo a sua situação,
oferece o concurso da sua vontade e das suas preces. Dá-se o contrário quando,
seduzido pelo Espírito embusteiro, ele se mantém iludido quanto às qualidades
da entidade que o domina, e se compraz nas suas mistificações, porque então, em
vez de ajudar, ele mesmo repele qualquer assistência. É o caso da fascinação,
sempre infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação. (Ver
Livro dos Médiuns, cap. XXIII) Em todos os casos de obsessão, a prece
é o mais poderoso auxiliar da ação contra o Espírito obsessor.
Meu Deus,
permiti aos Bons Espíritos livrem do Espírito malfazejo que se ligou a esta
pessoa. Se for uma vingança que ele pretende exercer, em consequência dos males
que lhe foi feito outrora, e sofre pela própria culpa. Possa o seu
arrependimento lhe fazer merecedor do vosso perdão e da sua liberdade! Mas,
seja qual for o motivo, suplico a vossa misericórdia para ele. Facilitando-lhe,
Senhor, a encaminhá-lo a melhores sentimentos.
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Dai-lhe a luz necessária para reconhecê-las; e
afastai, sobretudo o seu orgulho, que lhe torna cego para os seus defeitos.
Fazei, ó meu Deus, que este golpe desferido na sua vaidade lhe sirva de lição
para o futuro; e que ele (a) se fortaleça na decisão de se depurar pela prática
do bem, da caridade e da humildade, a fim de que possa opor, daqui por diante,
uma barreira ao ataque das más influências. Senhor dai-lhe a força de suportar
esta prova com paciência e resignação! Compreendo que, como todas as demais
provas, ela deve contribuir-lhe para o seu adiantamento.
Que assim seja senhor.
Prece (Pelo
obsedado) – Deus Todo-Poderoso, dai-lhe o
poder de livrar Espírito que o obseda. Se está nos vossos desígnios pôr um
fim a esta prova, concedei-me a graça de falar a esse Espírito com a necessária
autoridade. Bons Espíritos que me assistem, e vós, Anjo Guardião de Fulano,
dai-me o vosso concurso; ajudai-me a libertá-lo do fluido impuro que o
envolveu. Em nome de Deus Todo-Poderoso, conjuro o Espírito malfazejo que o
atormenta a se afastar.
Prece – (Pelo
Espírito obsessor) – Deus, infinitamente bom,
suplico a vossa misericórdia para o Espírito que obseda Fulano!
Fazei que ele perceba as divinas claridades, a fim de que reconheça a falsidade
do caminho que está seguindo. Bons Espíritos, ajudai-me a fazê-lo compreender
que ele tem tudo a perder na prática do mal, e tudo a ganhar na prática do bem!
Espírito
que vos comprazeis em atormentar Fulano ouvi-me, pois,
que vos falo em nome de Deus! Se quiserdes refletir, compreendereis que o mal
não pode levar ao bem, e que não podeis ser mais forte do que Deus e os Bons
Espíritos, que poderão preservar Fulano de qualquer atentado
de vossa parte. Se não o fizeram, foi porque ele tinha uma prova a sofrer. Mas
quando essa prova terminar, eles vos impedirão de agir sobre ele. O mal que lhe
tiverdes feito, em vez de prejudicá-lo, terá servido para o seu adiantamento,
tornando-o mais feliz. Assim, a vossa maldade terá sido em vão, mas tornará
fatalmente contra vós.
Deus,
que é Todo-Poderoso, e os Espíritos Superiores, seus servidores, que são mais
poderosos do que vós, podereis então por um fim a essa obsessão, quando
quiserem, e a vossa tenacidade se quebrará contra essa autoridade suprema. Mas,
por ser bom, quer Deus vos deixar o mérito de interrompê-la pela vossa própria
vontade. É uma concessão que vos faz, e se não a aproveitardes, tereis de
sofrer deploráveis consequências, pois, grandes castigos e duros sofrimentos
vos esperam. Sereis forçados a implorar a sua piedade e as preces da vossa
vítima, que já vos perdoou e ora por vós, o que é um grande mérito aos olhos de
Deus e apressará a sua libertação. Refleti, pois, enquanto é tempo, porque a
justiça de Deus pesará sobre vós, como sobre todos os outros Espíritos
rebeldes. Lembrai-vos de que o mal que fazeis neste momento terá forçosamente
um fim, enquanto que, se persistirdes no vosso endurecimento, os vossos
sofrimentos aumentarão sem cessar.
Quando
estivestes na Terra, não consideráveis estúpido, sacrificar um grande bem por
uma pequena e breve satisfação? Acontece o mesmo agora que sois
Espíritos. O que ganhais com o que estais fazendo? O triste prazer
de atormentar alguém, que nem sequer vos impede de ser infeliz, por mais que
afirmeis o contrário, e mais infeliz ainda vos fará no futuro!
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Ao
lado disso, vede o que perdeis: observai os Bons Espíritos que vos cercam e
dizei se a sua sorte não é preferível à vossa. A felicidade que desfrutam será
também vossa, quando o quiserdes. O que é necessário para tanto? Implorar a
Deus o seu auxílio, e fazer o bem em vez de fazer o mal. Bem sei que não podeis
transformar-vos de um momento para outro; mas Deus não quer o impossível; o que
deseja é apenas a boa vontade. Tentai, portanto, e nós vos ajudaremos. Fazei
que bem logo possamos dizer em vosso favor a prece pelos Espíritos em arrependimento,
(nº 73), e não mais vos classificar entre os maus Espíritos, enquanto esperamos
o momento de vos contar entre os bons. (Ver acima, o nº 75: Preces
pelos Espíritos endurecidos).
Observação – A
cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento.
Exige também tato e habilidade, para a condução ao bem de Espíritos quase
sempre muito perversos, endurecidos e astuciosos, pois que os há rebeldes até o
último grau. Na maioria dos casos, devemos guiar-nos pelas circunstâncias. Mas,
seja, qual for à natureza do Espírito, o certo é que nada se obtém pelo
constrangimento ou pela ameaça, pois toda a influência depende do ascendente
moral. Outra verdade, igualmente verificada pela experiência, e que a lógica
comprova, é a completa ineficácia de exorcismos, fórmulas, palavras
sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exteriores ou quaisquer símbolos
materiais.
A obsessão demasiado prolongada pode
ocasionar desordens patológicas, exigindo por vezes um tratamento simultâneo ou
consecutivo, seja magnético ou médico, para o restabelecimento do organismo. A
causa tendo sido afastada, ainda resta combater os efeitos. (Ver Livro
dos Médiuns, cap. XXIII, da obsessão; e a Revista Espírita, números de
fevereiro e março de 1864 e de abril de 1865: exemplos de curas de
obsessão).
DIVULGADO PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO
QUADRADO.
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