PRECE PAI NOSSO
DIFERENTE VINDA DOS ESPÍRITOS.
Os Espíritos recomendaram que abríssemos esta coletânea com a Oração
Dominical, não somente como prece, mas também como símbolo. De todas as
preces, é a que eles consideram em primeiro lugar, seja porque nos vem do
próprio Jesus, seja porque ela pode substituir todas as outras, conforme a
intenção que se lhe atribua. É o mais perfeito modelo de concisão verdadeira
obra-prima de sublimidade, na sua simplicidade. Com efeito, sob a forma mais
reduzida, ela consegue resumir todos os deveres do homem para com Deus, para
consigo mesmo e para com o próximo. Encerra ainda uma profissão de fé, um ato
de adoração e submissão, o pedido das coisas necessárias à vida terrena e o
princípio da caridade. Dizê-la em intenção de alguém, é pedir para outro o que
desejamos para nós mesmos.
Entretanto, em razão mesmo da sua brevidade, o sentido profundo que
algumas das suas palavras encerram escapa à maioria. Isso porque geralmente a
proferem sem pensar no sentido de cada uma de suas frases. Proferem-na como uma
fórmula, cuja eficácia é proporcional ao número de vezes que for repetida. Esse
número é quase sempre cabalístico: o três, o sete ou
o nove, em virtude da antiga crença supersticiosa no poder dos
números, e do seu uso nas práticas de magia.
Para preencher o vazio que a concisão desta prece nos deixa ajuntamos a
cada uma de suas proposições, segundo o conselho e com a assistência dos Bons
Espíritos, um comentário que lhes esclarece o sentido e as aplicações. De
acordo comas circunstâncias e o tempo de que se disponha, pode-se, pois dizer a
Oração Dominical em sua forma simples ou desenvolvida.
Prece: I. Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso
nome!
Cremos em vós, Senhor, porque tudo nos revela o vosso poder e a vossa
bondade. A harmonia do Universo e a prova de uma sabedoria, de uma prudência, e
de previdência que ultrapassam todas as faculdades humanas. O nome de um Ser
soberanamente grande e sábio está inscrito em todas as obras da criação, desde
a relva humilde e do menor inseto, até os astros que movem no espaço. Por toda
parte, vemos a prova de uma solicitude paternal. Cego, pois, é aquele que não
vos glorifica nas vossas obras, orgulhoso aquele que não vos louva, e ingrato
àquele que não vos rende graças.
II. Venha a nós o vosso Reino!
Senhor, destes aos homens leis plenas de sabedoria, que os fariam
felizes, se eles as observassem. Com essas leis, poderiam estabelecer a paz e a
justiça, e poderiam ajudar-se mutuamente, em vez de mutuamente se prejudicarem,
como o fazem. O forte ampararia o fraco, em vez de esmagá-lo. Evitados seriam
os males que nascem dos abusos e dos excessos de toda espécie. Toda as misérias
deste mundo decorrem da violação das vossas leis, porque não há uma única
infração que não traga suas consequências fatais.
Destes ao animal o instinto que lhe traça os limites do necessário, e
ele naturalmente se conforma com isso. Mas ao homem, além do instinto, destes a
inteligência e a razão. E lhe destes ainda a liberdade de observar ou violar
aquelas das vossas leis que pessoalmente lhe concernem, ou seja, a faculdade de
escolher entre o bem e o mal, para que ele tenha o mérito e a responsabilidade
dos seus atos.
Ninguém pode pretextar ignorância das vossas leis, porque, na vossa
paternal providência, quisestes que elas fossem gravadas na consciência de cada
um, sem nenhuma distinção de cultos ou de nacionalidades. Assim, aqueles que as
violam, é porque vos desprezam.
Chegará o dia em que, segundo a vossa promessa, todos as praticarão.
Então a incredulidade terá desaparecido, todos vos reconhecerão como o Soberano
Senhor de todas as coisas, e primado de vossas leis estabelecerá o vosso Reino
na Terra.
Dignai-vos, Senhor, de apressar o seu advento, dando aos homens a luz
necessária para se conduzirem no caminho da verdade!
III. Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no céu!
Se a submissão é um dever do filho para com o pai, do inferior para como
superior, quanto maior não será a da criatura para com seu Criador! Fazer a
vossa vontade, Senhor, é observar as vossas leis e submeter-se sem lamentações
aos vossos desígnios divinos. O homem se tornará submisso, quando compreender
que Sois a fonte de toda a sabedoria, e que sem vós ele nada pode. Fará então a
vossa vontade na Terra, como os eleitos a fazem no céu.
IV. O pão nosso, de cada dia, dai-nos hoje!
Dai-nos o alimento necessário à manutenção das forças físicas, e dai-nos
também o alimento espiritual, para o desenvolvimento do nosso espírito.
O animal encontra a sua pastagem, mas o homem deve o seu alimento à sua
própria atividade e aos recursos da sua inteligência, porque o criastes livre.
Vós lhe dissestes: “Amassarás o teu pão com o suor do teu rosto”, e com
isso fizestes do trabalho uma obrigação, que o leva a exercitar a sua
inteligência na procura dos meios de prover às suas necessidades e atender ao
seu bem estar: uns pelo trabalho material, outros pelo trabalho intelectual.
Sem o trabalho, ele permaneceria estacionário e não poderia aspirar à
felicidade dos Espíritos Superiores.
Assistis ao homem de boa vontade, que em vós confia para o necessário,
mas não aquele que se compraz na ociosidade e gostaria de tudo obter sem
esforço, nem ao que busca o supérfluo.
Quantos há que sucumbem por sua própria culpa, pela sua incúria, pela
sua imprevidência ou pela sua ambição, por não terem querido contentar-se com
que lhes destes! São esses os artífices do próprio infortúnio, e não tem o
direito de queixar-se, pois são punidos naquilo mesmo em que pecaram. Mas mesmo
a eles não abandonais, porque Sois infinitamente misericordioso, e lhes
estendeis a mão providencial, desde que, como filho pródigo, retornem
sinceramente para vós.
Antes de nos lamentarmos de nossa sorte, perguntemos se ela é a nossa
própria obra; a cada desgraça que nos atinja, verifiquemos se não poderíamos
tê-la evitados; repitamos a nós mesmos que Deus nos deu a inteligência para
sairmos do atoleiro, e que de nós depende aplicá-la bem.
Desde que a lei do trabalho condiciona a vida do homem na Terra, dai-nos
a coragem e a força de cumpri-la; dai-nos também a prudência e a moderação, a
fim de não pormos a perder os seus frutos.
Dai-nos pois, Senhor, o pão nosso de cada dia, ou seja, os meios de
adquirir pelo trabalho as coisas necessárias, pois ninguém tem o direito de
reclamar o supérfluo.
Se estivemos impossibilitados de trabalhar, que confiemos na vossa
divina providência.
Se estiver nos Vossos desígnios provar-nos com as mais duras privações,
não obstante os nossos esforços, aceitamo-lo como uma justa expiação das faltas
que tivermos podido cometer nesta vida ou numa vida anterior, porque sabemos
que sois justo, e que não há penas imerecidas, pois jamais castigais sem causa.
Preservai-nos, ó Senhor, de conceber a inveja contra os que possuem
aquilo que não temos, ou mesmo contra os que dispõem do supérfluo, quando nos
falta o necessário. Perdoai-lhes, se esquecem à lei de caridade e de amor ao
próximo, que ensinastes.
Afastai ainda do nosso espírito a ideia de negar a vossa justiça, ao ver
a prosperidade do mal e a infelicidade que abate às vezes o homem de bem. Pois
já sabemos, graças às novas luzes que ainda nos destes, que a vossa justiça
sempre se cumpre e não faz exceção de ninguém; que a prosperidade material do
maldoso é tão efêmera como a sua existência corporal, acarretando-lhe terríveis
revezes, enquanto será eterno o júbilo daquele que sofre com resignação.
V. Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos que nos
devem. Perdoai-nos as ofensas como nós perdoamos aos que nos ofenderam.
Cada uma das nossas infrações às vossas leis, Senhor, é uma ofensa que
vos fazemos, e uma dívida contraída, que cedo ou tarde teremos de pagar.
Solicitamos à vossa infinita misericórdia a sua remissão, sob a promessa de
empregarmos os nossos esforços em não contrair outras.
Fizestes da caridade, para todos nós, uma lei expressa; mas a caridade
não consiste unicamente em assistirmos os nossos semelhantes nas suas
necessidades, pois consiste ainda no esquecimento e no perdão das ofensas. Com
que direito reclamaríamos a vossa indulgência, se faltamos com ela para aqueles
de que nos queixamos?
Dai-nos, Senhor, a força de sufocar em nosso íntimo todo ressentimento,
todo ódio e todo rancor. Fazei que a morte não nos surpreenda com
nenhum desejo de vingança no coração. Se vos aprouver retirar-nos hoje
mesmo deste mundo, fazei que possamos nos apresentar a vós inteiramente limpos
de animosidade, a exemplo do Cristo, cujas últimas
palavras foram em favor dos seus algozes.
As perseguições que os maus nos fazem sofrer são parte das nossas provas
terrenas; devemos aceitá-las sem murmurar, como todas as outras provas, sem
maldizer os que, com as suas perversidades, nos abrem o caminho da felicidade
eterna, pois vós nos dissestes, nas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que
sofrem pela justiça!”. Abençoemos, pois, a mão que nos fere e nos humilha,
porque as mortificações do corpo nos fortalecem a alma, e seremos levantados da
nossa humildade.
Bendito seja o vosso nome, Senhor, por nos haverdes ensinado que a nossa
sorte não está irrevogavelmente fixada após a morte; que encontraremos, em
outras existências, os meios de resgatar e reparar as nossas faltas passadas, e
de realizar numa nova vida aquilo que nesta não pudemos fazer, para o nosso
adiantamento.
Assim se explicam, enfim, todas as aparentes anomalias da vida: a luz é
lançada sobre o nosso passado e o nosso futuro, como um sinal resplendente da
vossa soberana justiça e da vossa infinita bondade.
VI. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Dai-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos maus Espíritos,
que tentarão desviar-nos da senda do bem, inspirando-nos maus pensamentos.
Mas nós somos, nós mesmos, Espíritos imperfeitos, encarnados na Terra
para expiar nossas faltas e nos melhorarmos. A causa do mal está em nós
próprios, e os maus Espíritos apenas se aproveitam de nossas tendências
viciosas, nas quais nos entretêm, para nos tentarem.
Cada imperfeição é uma porta aberta às suas influências, enquanto eles
são impotentes e renunciam a qualquer tentativa contra os seres perfeitos. Tudo
o que possamos fazer para afastá-los será inútil, se não lhes opusermos uma
vontade inquebrantável na prática do bem, com absoluta renúncia ao mal. É,
pois, contra nós mesmos que devemos dirigir os nossos esforços, e então os maus
Espíritos se afastarão naturalmente, porque o mal é o que os atrai.
Senhor, amparai-nos em nossa fraqueza, inspirai-nos, pela voz dos nossos
anjos guardiões e dos Bons Espíritos, à vontade de corrigirmos as nossas
imperfeições, a fim de fecharmos a nossa alma ao acesso dos Espíritos impuros.
O mal não é, portanto, vossa obra, Senhor, porque a fonte de todo o bem
não pode engenhar nenhum mal. Somos nós mesmos que o criamos, ao infringir as
vossas leis, e pelo mau uso que fazemos da liberdade que nos concedestes.
Quando os homens observarem as vossas leis, o mal desaparecerá da Terra, como
já desapareceu dos mundos mais adiantados.
Não existe para ninguém a fatalidade do mal, que só parece irresistível
para aqueles que nele se comprazem. Se tivermos vontade de fazê-lo, também
poderemos ter a de fazer o bem. E é por isso, ó Senhor, que solicitamos a vossa
assistência e a dos Bons Espíritos, para resistirmos à tentação.
VII. Assim seja!
Que vos apraza, Senhor, a realização dos nossos desejos! Inclinamo-nos,
porém, diante da vossa infinita sabedoria. Em todas as coisas que não nos é
dado compreender, que sejam feitas segundo a vossa santa vontade e não segundo
a nossa, porque vós só quereis o nosso bem, e sabeis melhor do que nós o que
nos convém.
Nós vos dirigimos esta prece, Senhor, por nós mesmos, mas também por
todas as criaturas sofredoras, encarnadas e desencarnadas, por nossos amigos e
por nossos inimigos, por todos os que reclamam a nossa assistência, e em
particular por N....
Suplicamos para todos a vossa misericórdia e a vossa benção.
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