Análise do Estatuto do Idoso
O Estatuto do Idoso, como é conhecida a
Lei 10.741/2003, completou 15 anos em outubro de 2018. E não obstante o
objetivo de assegurar direitos, ganha cada vez mais relevância no ordenamento jurídico brasileiro. Afinal,
a população idosa do país cresce cada vez mais.
Entre 2012 e 2017, por exemplo, cresceu
18%. E ultrapassou, desse modo, a casa dos 30 milhões em 2017, conforme dados
do IBGE, em contraste aos 15 milhões em 2003,
quando foi promulgado o estatuto.
O envelhecimento é uma característica
humana. Como assegura o art. 8º da Lei 10.741/2003, é um direito
personalíssimo. Não obstante, sua proteção é um direito social. Dessa forma, é
obrigação tanto da sociedade, de modo, geral, garantir a efetivação desse direito
de forma digna. Mas também é uma obrigação do Estado a efetivação de políticas
que contribuam para a garantia desses direitos aos idosos.
Apresentam-se, então, os principais
pontos do Estatuto do Idoso.
O que é o Estatuto
do Idoso
Instituído pela Lei 10.741 em outubro
de 2003, o Estatuto do Idoso visa a garantia dos direitos assegurados às
pessoas com idade igual ou superior a 60 anos (art. 1º). Aborda, assim,
questões familiares, de saúde, discriminação e violência contra o idoso. E resguarda-o,
desse modo.
O estatuto busca, assim, a persecução
de princípios e direitos fundamentais à
vida humana. Entre eles, visa, principalmente, garantia da dignidade humana, princípio
consubstanciado na Constituição Federal em seu art. 1º, inciso III. E,
consequentemente, assegurar a existência digna acerca da qual dispõe o art.
170, CF. Afinal, como dispõe o art. 2º do Estatuto do Idoso:
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de
que trata esta Lei, assegurando-se lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e
seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de
liberdade e dignidade.
A legislação, ainda, institui o deve da
família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público de assegurar tais
direitos ao idoso. Dessa maneira, torna-se uma prioridade social, conforme o
art. 3º da Lei 10.741/2003, a efetivação do:
·
Direito à vida;
·
Direito à alimentação;
·
Direito à educação;
·
Direito à cultura;
·
Direito ao esporte;
·
Direito ao lazer;
·
Direito ao trabalho;
·
Direito à cidadania;
·
Direito à liberdade;
·
Direito à dignidade;
·
Direito ao respeito;
·
Direito à convivência familiar e
comunitária.
Direito de
prioridade do idoso
Como vislumbrado, o caput do
art. 3º do Estatuto do Idoso apresenta uma série de direitos que devem ser
assegurados, prioritariamente, às pessoas com mais de 60 anos. Seu parágrafo
1º, então, apresenta o conteúdo dessa garantia. Deves ser prioritários ao
idoso, portanto:
1.
O atendimento preferencial
imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de
serviços à população;
2.
a preferência na formulação e na
execução de políticas sociais públicas específicas;
3.
a destinação privilegiada de recursos
públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso;
4.
a viabilização de formas alternativas
de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações;
5.
a priorização do atendimento do idoso
por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que
não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;
6.
a capacitação e reciclagem dos recursos
humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos
idosos;
7.
o estabelecimento de mecanismos que
favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos
biopsicossociais de envelhecimento;
8.
a garantia de acesso à rede de serviços
de saúde, como o SUS, por exemplo e de assistência social locais.
9.
a prioridade no recebimento da restituição
do Imposto de Renda.
Ainda, é preciso ressaltar que, entre
os idosos, possuem prioridade aqueles com mais de 80 anos.
Crimes contra os
idosos
Entre as medidas previstas pela Lei
10.741/2003 na busca da efetivação dos direitos dos maiores de 60 anos,
encontra-se a previsão de sanções àqueles que pratiquem condutas que obstruam
os preceitos contidos no estatuto.
De acordo com o art. 95 do Estatuto do
Idoso, os crimes previstos na legislação ensejam ação penal pública
incondicionada. Ou seja, que independem de representação da vítima ou de seu
representante. Isto se justifica em face do dever, da sociedade e do Estado, na
garantia de um direito fundamental, sobretudo em face da vulnerabilidade do indivíduo.
Artigo 98 do
Estatuto do Idoso
Entre os dispositivos da seção
correspondente, destaca-se o artigo 98 do Estatuto do Idoso. Segue, assim, sua
redação:
Art. 98. Abandonar o idoso em
hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou
não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3
(três) anos e multa.
O recolhimento de idosos em
instituições, como hospitais e entidades de longa permanência, ainda é uma
prática comum na sociedade. No entanto, não deve implicar em um abandono destes
nos estabelecimentos. Do contrário, configura a negligência vedada já no art.
4ª da Lei 10.741/2003.
Dessa maneira, aquele que incorrer
nessa conduta, deixando de promover as necessidades básicas do idoso (não
somente de alimentos e garantia da saúde, por exemplo, mas também de zelo e
promoção da convivência familiar e social), quando obrigado por lei ou mandado,
poderá ser punido com pena de detenção de 6 meses a 3 anos, além de multa.
Artigo 99 do
Estatuto do Idoso
O art. 99 do Estatuto do Idoso, por sua
vez, trata não do abandono, mas de uma exposição do idoso a perigo à sua
integridade e saúde, física ou psíquica. Ou seja, dos abuso físico e do abuso
psicológico contra o idoso.
Assim, incorre na conduta do artigo 99
da Lei 10.741/2003, aquele que submeter o idoso a condições desumanas ou
degradantes ou privá-lo de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado
por lei a fazê-lo. Do mesmo modo, incorrerá no delito aquele que sujeitar o
idoso a trabalho excessivo ou inadequado, independentemente da obrigação legal
que tenha para com o indivíduo.
A pena geral do caput do
artigo 99 do Estatuto do Idoso é de 2 meses a 1 ano de detenção, além de pena
de multa. Contudo, os parágrafos seguintes dispõem acerca dos agravantes:
·
De acordo com o parágrafo 1º do art. 99
da Lei 10.741/2003, portanto, quando, do fato, resultar lesão corporal de
natureza grave, a pena aumentará para pena de reclusão (e não mais de detenção,
o implica na possibilidade de admissão de regime inicial fechado) de 1 a 4
anos;
·
de acordo com o parágrafo 2º, por fim,
se dos fatos resultar a morte do indivíduo, a pena aumentará para pena de
reclusão de 4 a 12 anos.
Artigo 102 do
Estatuto do Idoso
O art. 102 do Estatuto do Idoso, então,
trata da apropriação ou desvio de bens do idoso. Portanto, do abuso financeiro.
Assim, incorre no delito, aquele que se apropria, desvia ou dá aplicação
diversa da de sua finalidade:
·
Bens;
·
proventos;
·
pensão; ou
·
outro rendimento do idoso.
O autor do fato estará, desse modo,
sujeito a pena de reclusão de 1 a 4 anos, além da pena de multa.
Artigo 104 do
Estatuto do Idoso
De igual modo, estará sujeito a sanções
o indivíduo que retiver o cartão magnético de conta bancária do idoso relativa
a benefícios, provento ou pensão. Mas também aquele que retiver qualquer outro
documento como o intuito de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida.
Segundo o art. 104 do Estatuto do
Idoso, portanto, será aplicada, nesse caso, pena de detenção de 6 meses a 2
anos, além da pena de multa.
Crimes previsto no
Estatuto do Idoso na Jurisprudência do STJ
Acerca do art. 99 da Lei 10.741/2003, o
Superior Tribunal de Justiça assim decidiu:
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. ART. 99 DA LEI N.
10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO). REGIME SEMIABERTO. SUBSTITUIÇÃO.
REGIME MAIS GRAVOSO FIXADO COM BASE NA GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO.
POSSIBILIDADE.
10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO). REGIME SEMIABERTO. SUBSTITUIÇÃO.
REGIME MAIS GRAVOSO FIXADO COM BASE NA GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO.
POSSIBILIDADE.
1.
Fixada a pena-base no mínimo legal, é
vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão
da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito (enunciado
n. 440 da Súmula do STJ) e, no mesmo sentido, os enunciados n. 718 e 719 da
Súmula do STF.
2.
O Tribunal a quo […] utilizou de
fundamentação idônea, não podendo ser considerada genérica ou ilegal, visto que
baseada nas circunstâncias fáticas da prática delitiva, consistente no fato do
delito ter sido praticado contra a própria genitora, de idade avançada, que
veio a falecer no curso do processo, demonstrando a especificidade da situação
e a gravidade concreta do delito, que desborda das comumente verificadas para o
crime do art. 99 do Estatuto do Idoso […].
3.
Agravo regimental não provido.
(STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp
1747466/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 02/10/2018,
publicado em 11/10/2018)
Prioridade na
tramitação de processos
Enfim, conforme o artigo 71 do Estatuto
do Idoso:
Art. 71. É assegurada prioridade na
tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências
judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
O requerimento de prioridade deverá ser
realizado no próprio processo, mediante prova de idade. Ainda, é essencial
destacar que a prioridade se estende para além da morte do beneficiado. Ou
seja, mesmo diante do seu falecimento e a sucessão no processo, este segue
prioritário.
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