Março de 2023 Número 1664 Ano
Como o espiritismo nos apresenta a felicidade
Por Alessandro
Viana Vieira de Paula
O desejo de ser
feliz é inerente à criatura humana e o Espiritismo auxilia nessa busca, na
concretização desse objetivo, porque suas diretrizes morais permitirão a exata
compreensão do que é a verdadeira felicidade e quais são os meios eficazes de
atingirmos esse estado da alma.
O nobre
Codificador, Allan Kardec, escreveu um notável artigo na Revista Espírita1,
com o título O Espiritismo em 1860, onde afirma que as ideias
espíritas progridem e auxiliam o indivíduo a compreender o futuro, não um
futuro de desgraça ou de felicidade advinda de privilégios, mas um futuro
racional, decorrente das nossas ações e escolhas feitas na atual reencarnação,
afastando, dessa forma, a incerteza sobre o futuro, e a incerteza, diz ele, é
sempre um tormento, portanto, um obstáculo à felicidade.
Sem essa visão
correta do futuro e das leis divinas, Allan Kardec afirma que a pessoa não terá
motivação para ver o bem do próximo, não terá resistência para enfrentar as
privações e no afã de ser feliz, desejará gozar, ter o que os outros possuem,
se preocupar apenas em ter, tonando-se ávido, invejoso e egoísta, e não se
tornará verdadeiramente feliz, porque o presente lhe parecerá curto.
E conclui1: Repetimos
que a principal fonte do progresso das ideias espíritas está na satisfação que
proporcionam aos que se aprofundam, e que nelas veem algo mais do que fútil
passatempo. Ora, como antes de tudo todos querem a felicidade, não é de admirar
se liguem a uma ideia que torna feliz. (…)
(…) O Espiritismo
progrediu principalmente desde que melhor compreendido em sua essência íntima,
desde que se viu o seu alcance, pois toca na corda mais sensível do homem: a de
sua felicidade, mesmo neste mundo. (…)
Assim sendo,
percebemos que o Espiritismo, na sua missão de iluminar consciências e destruir
o materialismo, tem ajudado a criatura humana a entender e a construir a
própria felicidade.
É notável buscarmos
o tópico Felicidade e infelicidade relativas2, em O
Livro dos Espíritos, e constatarmos que as elucidações dos benfeitores
espirituais se mantêm atuais, parecendo que foram escritas nesses dias, porque,
infelizmente, as mazelas e os equívocos morais de grande parte das criaturas
humanas continuam no mesmo patamar.
Ainda no aludido
livro3, Allan Kardec pretende obter da espiritualidade superior a
gradação de felicidade possível na Terra, obtendo como resposta que a
felicidade absoluta, completa é impossível, pois ainda vivemos num mundo de
provas e expiações, mas depende do homem a suavização de seus males e o
ser tão feliz quanto possível na Terra. E praticando a lei de
Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão
grande quanto o comporte a sua existência grosseira.
O confrade Raul
Teixeira, com a sua pedagogia incomparável, nos ajuda a entender essa questão
da felicidade relativa, afirmando que4 (…) é óbvio que na
Terra jamais encontramos uma pessoa que usufrua de felicidade total.
Encontramos alguém
que tem muito dinheiro, mas não tem saúde. Outros que têm muita saúde, mas não
tem dinheiro. Encontramos quem mora bem, mas carrega problemas familiares
tremendos; alguém que mora no gueto, na favela, mas a família é irmanada, é
unida.
Todavia, é possível
ser feliz dentro dos padrões relativos da Terra, seja na concretização dos
sonhos materiais, desde que honestos e equilibrados, seja na conquista do
brilho da alma, que surge com a melhoria dos nossos sentimentos.
Nas questões
materiais, não será errado buscar a melhoria de nosso padrão intelectual,
financeiro e social, conforme assevera Raul Teixeira4, mas de
entender que a busca principal, a felicidade mais ampla não estará nas coisas
materiais, imediatas, mas nas questões do sentimento, onde buscaremos
desenvolver amizades, cuidar da família, ajudar o próximo, tratar nossos
conflitos íntimos etc.
No atual estágio da
tecnologia, se não equilibramos nossos apetites materiais estaremos sempre
infelizes, porque sempre haverá algo novo e mais moderno. Muitas vezes, nem
sequer desfrutamos do que temos e conquistamos, porque já estamos ambicionando
o produto novo que foi lançado.
Vejamos a lucidez
dos benfeitores espirituais5, quando Allan Kardec pergunta se a
civilização, ao criar novas necessidades, gera novas aflições, obtendo a
seguinte resposta:
Os males deste
mundo estão na razão das necessidades factícias que vos criais. A muitos
desenganos se poupa nesta vida aquele que sabe restringir seus desejos e olha
sem inveja para o que esteja acima de si. O que menos necessidades tem, esse o
mais rico.
De fato, saber
limitar os desejos e ver sem cobiça o que o outro possui é um dos segredos para
se buscar a felicidade na Terra, porque saberemos definir o que é necessário e
o que é supérfluo para as nossas vidas.
Aliás, é importante
saber, para ser feliz, olhar para aqueles que têm menos do que nós e são
felizes, demonstrando que podemos ser felizes com o que temos, deixando de lado
os caprichos ridículos que criamos, conforme asseveram os benfeitores
espirituais6. Dessa forma, vamos entendendo que a felicidade decorre
das escolhas que vamos fazendo durante a nossa vida, sobretudo aquelas
relacionadas ao sentimento, porque à medida que vamos vivenciando o amor
estaremos cada vez mais ampliando o nosso estado de felicidade, que fará com
que o cérebro libere, naturalmente, os neurotransmissores específicos
(dopamina, serotonina, endorfina e ocitocina) para que possamos, em nível
biológico, sentir esse estado emocional.
A questão 9227,
por sua vez, sintetiza a medida exata da felicidade comum a todos os homens,
pontuando que para a vida material será a posse do necessário, e para a vida
moral será a consciência tranquila e a fé no futuro.
Não podemos deixar
de registrar que no item fé no futuro, o Espiritismo nos oferta em
abundância a esperança na vida futura, porque somos Espíritos imortais em
processo de aprendizagem na Terra, de forma que todos os males são passageiros
e levaremos para a outra vida as nossas conquistas intelecto-morais, geradoras
da nossa felicidade.
Encerramos este
artigo com a lúcida ponderação de Raul Teixeira4: Podemos
ser felizes, na Terra, sem esperar a felicidade no reino dos céus, depois da
morte, porque aprendemos que a felicidade maior não é propriamente aquela que
apenas nós vivenciamos, mas aquela que experienciamos, doando-nos aos outros.
Tudo quanto doamos
é o que verdadeiramente nos pertence; o que tentamos guardar, reter, armazenar,
é o que perdemos.
Por isso, podemos
ser felizes, neste mundo, usufruindo as coisas materiais e servindo a Deus
acima de tudo.
Bibliografia:
1.KARDEC, Allan. O
Espiritismo em 1860. Revista Espírita, São Paulo, EDICEL, jan.
1860.
2.__________. O
livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1974. pt. 4, cap. I.
3.Op. cit.
pt. 4, cap. 1, q. 920 e 921.
4.TEIXEIRA, J.
Raul. Vida e valores: v. 2. Curitiba: FEP, 2017. pt. 6, cap.
26.
5.KARDEC,
ALLAN. O livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1974.
pt. 4, q. 926.
6.Op. cit. pt.
4, cap. I, q. 923.
7.Op. cit. pt.
4, cap. I, q. 922.
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