UM
ESPÍRITO PROTETOR
Paris, 1863
A
fé é o sentimento inato, no homem, da sua destinação. É a consciência das
prodigiosas faculdades que traz em germe no íntimo, a princípio em estado
latente, mas que ele deve fazer germinar e crescer, através da sua vontade
ativa.
Até
o presente, a fé só foi compreendida no seu sentido religioso, porque o Cristo
a revelou como poderosa alavanca, e porque nele só viram um chefe de religião.
Mas o Cristo, que realizou verdadeiros milagres, mostrou, por esses mesmos
milagres, quanto pode o homem que tem fé, ou seja, que tem a vontade de
querer e a certeza de que essa vontade pode realizar-se a si mesma. Os
apóstolos, com o seu exemplo, também não fizeram milagres? Ora, o que eram
esses milagres, senão os efeitos naturais de uma causa desconhecida dos homens
de então, mas hoje em grande parte explicada e que será completamente
compreendida pelo estudo do Espiritismo e do magnetismo?
A
fé é humana ou divina, segundo a aplicação que o homem der às suas faculdades,
em relação às necessidades terrenas ou às suas aspirações celestes e futuras. O
homem de gênio, que persegue a realização de um grande empreendimento, triunfa
se tem fé, porque sente em si mesmo que pode e deve triunfar, e essa certeza
íntima lhe dá uma extraordinária força. O homem de bem que, crendo no seu
futuro celeste, quer preencher a sua vida com nobres e belas ações, tira da sua
fé, da certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda nesse
caso se realizam os milagres da caridade, do sacrifício e da abnegação. Por
fim, não há más inclinações que, com a fé, não possam ser vencidas.
O
magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé, quando posta em ação. É
pela fé que ele cura e produz esses fenômenos estranhos que, antigamente, foram
qualificados de milagres.
Eu vos repito: a fé é humana
e divina. Se todas as criaturas encarnadas estivessem suficientemente
persuadidas da força que trazem consigo, e se quisessem pôr a sua vontade a
serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que até hoje chamais de
prodígios, e que é simplesmente senão um desenvolvimento das faculdades
humanas.
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