Santíssima
Trindade e Espiritismo
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2.
Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Trindade como Tríade: 4.1. As
Tríades; 4.2. Tríades Druidicas; 4.3. Exemplos de Tríades dos Druidas. 5.
Santíssima Trindade: 5.1. Mistério de um só Deus em três pessoas; 5.2.
Dados da Fé e da Razão; 5.3. A Posição da Igreja. 6. Trindade sob a Ótica
Espírita: 6.1. Adaptação do Trimûrti; 6.2. A Complexidade dos Postulados
Religiosos; 6.3. Da Impossibilidade de Três em Um. 7. Conclusão. 8.
Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O que se entende por Trindade? Tríade e Trindade
são a mesma coisa? Como a Trindade apareceu no dogmatismo católico? Como
interpretar essa questão sob a ótica do espiritismo?
2. CONCEITO
Santíssimo. De santo, que é
essencialmente puro, perfeito. Extremamente santo.
Trindade. União de três
pessoas distintas num só Deus. Fig. Grupo de três pessoas ou coisas
semelhantes.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nas religiões, temos os mistérios, os dogmas, os
rituais e toda a gama de simbologia.
Os mistérios são úteis. Eles evitam que se ofereça
uma luz muita intensa ao neófito, àquele que procura uma religião pela primeira
vez. Conforme este for se inteirando do corpo doutrinário, muitos desses
mistérios vão sendo revelados.
Os dogmas não são tão úteis assim. Muitas vezes,
eles contrariam a razão e a lógica dos pensamentos. Mesmo assim, são
defendidos, emprestando-lhes um caráter sagrado, que não podem ser questionados.
O dogma da Santíssima Trindade é um desses casos
emblemáticos. A teologia faz um esforço tremendo para chegar a certa
compreensão das afirmações acerca do Deus único e da divindade do Pai, do Filho
e do Espírito Santo.
Para isso, faz uso de conceitos como hipóstase,
pessoa, essência, processão e relação.
4. TRINDADE COMO TRÍADE
4.1. AS TRÍADES
Conjunto de três pessoas ou
coisas; trindade; trilogia. A concepção de um Deus como unidade trina ou de
três pessoas divinas que, juntas, constituem uma unidade é encontrada na
maioria das religiões.
As tríades equivalem a
um triteísmo ou um monoteísmo trifórmico (p.ex. Trinamûrti) e de modo algum à
afirmação de que a natureza divina, única, é possuída por três pessoas
(concebidas como relações subsistentes iguais e distintas). (Enciclopédia
Luso-Brasileira de Cultura)
4.2. TRÍADES DRUIDICAS
Conforme as "Tríades" druídicas, há três
fases ou círculos de vida: no annoufn, ou círculo da necessidade, o
ser começa sob a forma mais simples; no Abred ele se desenvolve,
vida após vida, no seio da humanidade e adquire a consciência e o
livre-arbítrio; finalmente, no Gwynfyd, ele desfruta a plenitude da
existência e de todos os seus atributos, libertado das formas materiais e da
morte, ele evolui para a perfeição superior e atinge o círculo da
felicidade.
Síntese das tríades: passar do abismo Annoufn para as alturas sublimes
do Gwynfyd.
4.3. EXEMPLOS DE TRÍADES DOS DRUIDAS
I - Deus, verdade e ponto de liberdade;
II - Três coisas procedem de Deus: toda vida, todo bem e todo poder;
III - Deus é necessariamente três coisas: vida, ciência e poder;
IV - Três coisas Deus não pode deixar de ser: o que deve constituir, querer e
realizar o bem perfeito;
V - Três garantias do que Deus faz e fará: poder, sabedoria e amor infinito;
VI - Três fins principais da obra de Deus: diminuir o mal, reforçar o bem e
esclarecer toda a diferença;
VII - Três coisas Deus não pode deixar de conceder: vantajoso, necessário e
belo;
VIII - Três forças da existência: não poder ser de outro modo, não ser
necessariamente outra e não poder ser melhor pela concepção;
IX - Três coisas prevalecerão necessariamente: o supremo poder, a suprema
inteligência e o supremo amor de Deus;
X - As três grandezas de Deus: vida perfeita, ciência perfeita, poder
perfeito;
XI - Três causas originais dos seres vivos: amor, sabedoria e poder
divino. (Denis, cap.VII)
5. SANTÍSSIMA TRINDADE
5.1. MISTÉRIO DE UM SÓ DEUS EM TRÊS
PESSOAS
A palavra já é empregada com este sentido
exato por Teófilo de Antiloquia no fim do século II e por Tertuliano no princípio
do século III. Entre as verdades que a Igreja propõe para se crerem com base na
revelação, é profundamente misteriosa a da presença, no seio de Deus único, de
três pessoas distintas, mas iguais e consubstanciais. Embora apresente algumas
relações com as especulações filosóficas e religiosas anteriores ao
cristianismo, este mistério é produto de um princípio exclusivamente cristão.
Como escrevia S. Gregório de Nazianzo, o Antigo Testamento “manifestou
claramente o Pai e obscuramente o Filho”, ao passo que o Novo Testamento
“revelou o Filho e deu a entender a divindade do Espírito”. (Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)
5.2. DADOS DA FÉ E DA RAZÃO
Havia a necessidade de se estabelecer contato entre
fé e razão. Esses esforços logo produziram tendências contraditórias, que
conduziam à negação do mistério. Assim, a pretexto de manterem a distinção de
pessoas, alguns chegaram a considerá-las três seres separados. Como reação,
outros apegavam-se à “monarquia” divina, a ponto de considerarem o Pai, o Filho
e o Espírito Santo como nomes diferentes de um ser único. Daí os sistemas
chamados monarquianismo, patripassianismo, sabelianismo.
Para defenderem a Trindade, contra este erro, sem caírem no triteísmo, outros
adotaram o sistema de subordacionismo, que fazia do Filho e do
Espírito Santo dois seres mais ou menos inferiores ao Pai. (Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira)
5.3. A POSIÇÃO DA IGREJA
Para evitar essas contradições, a Igreja procede à
definição solene da fé, em que a Santíssima Trindade pode ser definida assim:
“mistério de três pessoas realmente distintas em uma só e a mesma substância,
natureza ou essência; ou mais brevemente: mistério de um só Deus em três
pessoas”. A segunda pessoa procede da primeira por verdadeira geração, a
terceira procede da primeira e da segunda como de um só princípio, por
espiração – segundo a linguagem teológica. A geração do Filho entende-se como
um ato eterno e imanente que comunica a este toda a sabedoria do Pai. O Espírito
Santo procede do Pai e do Filho, como da vontade divina, por modo de amor. “E
nesta Trindade não há anterior ou posterior, nada maior ou menor, mas todas as
três pessoas são entre si co-eternas e co-iguais... Igual a glória co-eterna a
Majestade”. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)
6. TRINDADE SOB A ÓTICA ESPÍRITA
6.1. ADAPTAÇÃO DO TRIMÛRTI
Para o Espírito Emmanuel, o dogma da Trindade é uma
adaptação da Trimúrti da antiguidade oriental, que reunia nas doutrinas do
bramanismo os três deuses – Brama, Vishnu e Siva.
José Herculano Pires, em Revisão do
Cristianismo, diz-nos que o mito da Trindade, provindo das grandes
religiões da Antiguidade, como exemplo, a trindade egípcia formada por Osíris,
Isis e Horus – deu ao cristianismo a possibilidade de incluir o Cristo na
Mitologia Cristã como segunda pessoa de Deus.
6.2. A COMPLEXIDADE DOS POSTULADOS
RELIGIOSOS
Na pergunta 264 de O Consolador, o
Espírito Emmanuel diz que: “A teologia, que se organizava sobre os antigos
princípios do politeísmo romano, necessitava apresentar um complexo de
enunciados religiosos, de modo a confundir os espíritos mais simples, mesmo
porque sabemos que se a Igreja foi, a princípio, depositária das tradições
cristãs, não tardou muito que o sacerdócio eliminasse as mais belas expressões
do profetismo, inumando o Evangelho sob um acervo de convenções religiosas, e
roubando às revelações primitivas a sua feição de simplicidade e de amor”.
6.3. DA IMPOSSIBILIDADE DE TRÊS EM UM
Em nota de rodapé da pergunta 264 de O
Consolador, o Padre Alta, em “O Cristianismo do Cristo e o de seus
Vigários”, diz-nos que a fórmula do catecismo – 3 pessoas em Deus – era
verdadeira em latim, onde o vocábulo persona significa forma,
aspecto, aparência. É falsa, porém, em francês ou em português, com acepção de
indivíduo.
Ainda: de acordo com os princípios
codificados por Allan Kardec, cada Espírito é único e individual, mantendo essa
individualidade após o desencarne.
7. CONCLUSÃO
Baseando-nos na codificação espírita, a
possibilidade de três pessoas em uma esvai-se, porque Deus é simplesmente a
causa primária de tudo o existe. Nem pessoa podemos dizer que Ele é.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
DENIS, L.. O Gênio Céltico e o Mundo
Invisível. Rio de Janeiro, CELD, 1995.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro,
Editorial Enciclopédia, s.d. p.
PIRES, J. H. Revisão do Cristianismo.
2. ed. São Paulo: Paidéia, 1983.
XAVIER, F. C. O Consolador, pelo
Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO
PACHECO QUADRADO. Janeiro: FEB, 1977
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