O LIVRO
CÉU E O INFERNO.
DA PROIBIÇÃO DE EVOCAR OS MORTOS.
A
Igreja de modo algum nega a realidade das manifestações. Ao contrário, como
vimos nas citações precedentes, admite-as totalmente, atribuindo-as à exclusiva
intervenção dos demônios. É debalde invocar os Evangelhos como fazem alguns
para justificar a sua interdição, visto que os Evangelhos nada dizem a esse
respeito. O supremo argumento que prevalece é a proibição de Moisés. A seguir
damos os termos nos quais se refere ao assunto a mesma pastoral que citamos nos
capítulos precedentes: “Não é permitido entreter relações com eles (os
Espíritos), seja imediatamente, seja por intermédio dos que os evocam e
interrogam. A lei mosaica punia com a morte essas práticas detestáveis, usadas
entre os gentios. Não procureis os mágicos, diz o Levítico, nem procureis saber
coisa alguma dos adivinhos, de maneira a vos contaminardes por meio deles.”
“Morra
de morte o ser humano em quem houver Espírito pitônico; sejam apedrejados e
sobre eles recaia seu sangue.”
“O Deuteronômio diz: — Nunca exista entre vós
quem consulte adivinhos, quem observe sonhos e agouros, quem use de malefícios,
sortilégios, encantamentos, ou consultem os que têm o Espírito pitônico e se
dão a práticas de adivinhação interrogando os mortos. O Senhor abomina todas
essas coisas e destruirá, na vossa entrada, as nações que cometem tais crimes.”
É útil,
para melhor compreensão do verdadeiro sentido das palavras de Moisés,
reproduzir por completo o texto um tanto abreviado na citação antecedente.
Ei-lo: “Não vos desvieis do vosso Deus para procurar mágicos; não consulteis os
adivinhos, e receai que vos contamineis dirigindo-vos a eles. Eu sou o Senhor vosso
Deus.” (Levítico) “O ser humano que tiver Espírito pitônico, ou de adivinho,
morra de morte. Serão apedrejados, e o seu sangue recairá sobre eles.” (Levítico)
“Quando houverdes entrado na terra que o Senhor vosso Deus vos há de dar,
guardai-vos; tomai cuidado em não imitar as abominações de tais povos; e entre
vós ninguém haja que pretenda purificar filho ou filha passando-os pelo fogo;
que use de malefícios, sortilégios e encantamentos; que consulte os que têm o
Espírito de Píton e se propõem adivinhar, interrogando os mortos para saber a
verdade. O Senhor abomina todas essas coisas e exterminará todos esses povos, à
vossa entrada, por causa dos crimes que têm cometido.” (Deuteronômio).
Se a lei de Moisés deve ser tão rigorosamente
observada neste ponto, força é que o seja igualmente em todos os outros. Por
que seria ela boa no tocante às evocações e má em outras de suas partes? É
preciso ser consequente. Desde que se reconhece que a lei mosaica não está mais
de acordo com a nossa época e costumes em dados casos, a mesma razão procede
para a proibição de que tratamos. Ademais, é preciso expender os motivos que
justificavam essa proibição e que hoje se anularam completamente. O legislador
hebreu queria que o seu povo abandonasse todos os costumes adquiridos no Egito,
onde as evocações estavam em uso e facilitavam abusos, como se infere destas
palavras de Isaías: “O Espírito do Egito se aniquilará de si mesmo e eu
precipitarei seu conselho; eles consultarão seus ídolos, seus adivinhos, seus
pítons e seus mágicos.” Os israelitas não deviam contratar alianças com as
nações estrangeiras, e sabido era que naquelas nações que iam combater
encontrariam as mesmas práticas. Moisés devia, pois, por política, inspirar aos
hebreus aversão a todos os costumes que pudessem ter semelhanças e pontos de
contato com o inimigo. Para justificar essa aversão, preciso era que
apresentasse tais práticas como reprovadas pelo próprio Deus, e daí estas
palavras: Primeira Parte – “O Senhor abomina todas essas coisas e destruirá, na
vossa chegada, as nações que cometem tais crimes.”
A proibição
de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se originava nos
sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um
recurso para adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo
charlatanismo e pela superstição. Essas práticas, ao que parece, também eram
objeto de negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não conseguiu
desentranhá-las dos costumes populares. As seguintes palavras do profeta
justificam o acerto: “Quando vos disserem: — Consultai os mágicos e adivinhos
que balbuciam encantamentos, respondei: — Não consulta cada povo ao seu Deus? E
aos mortos se fala do que compete aos vivos?” (Isaías) “Sou eu quem aponta a
falsidade dos prodígios mágicos; quem enlouquece os que se propõem adivinhar,
quem transtorna o espírito dos sábios e confunde a sua ciência vã.”
“Que esses
adivinhos, que estudam o céu, contemplam os astros e contam os meses para fazer
predições, dizendo revelar-vos o futuro, venham agora salvar-vos. — Eles
tornaram-se como a palha, e o fogo os devorou; não poderão livrar suas almas do
fogo ardente; não restarão das chamas que despedirem nem carvões que possam
aquecer, nem fogo ao qual se possam sentar. — Eis ao que ficarão reduzidas
todas essas coisas das quais vos tendes ocupado com tanto afinco: os
comerciantes que convosco negociavam desde a infância foram-se, cada qual para
seu lado, sem que um só deles se encontre que vos tire os vossos males.” Neste
capítulo, Isaías dirige-se aos babilônios sob a figura alegórica “da virgem
filha de Babilônia, filha de caldeus”. Diz ele que os adivinhos não impedirão a ruína
da monarquia. No seguinte capítulo dirige-se diretamente aos israelitas. “Vinde
aqui vós outros, filhos de uma agoureira, raça dum ser humano adúltero e de uma
prostituída. — De quem rides vós? Contra quem abristes a boca e mostrastes
ferinas línguas? Não sois vós filhos perversos de bastarda raça — vós que
procurais conforto em vossos deuses debaixo de todas as frontes, sacrificando-lhes
os tenros filhinhos nas torrentes, sob os rochedos sobranceiros? Depositastes a
vossa confiança nas pedras da torrente, espalhastes e bebestes licores em sua
honra, oferecestes sacrifícios. Depois disso como não se acender a minha
indignação?” Da proibição de evocar os
mortos. Estas palavras são inequívocas e provam claramente que nesse tempo as
evocações tinham por fim a adivinhação, ao mesmo tempo que constituíam
comércio, associadas às práticas da magia e do sortilégio, acompanhadas até de
sacrifícios humanos. Moisés tinha razão, portanto, proibindo tais coisas e
afirmando que Deus as abominava. Essas práticas supersticiosas perpetuaram-se
até a Idade Média, mas hoje a razão predomina ao mesmo tempo em que o
Espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente moral, consolador e religioso das
relações de além-túmulo. Uma vez, porém, que os espíritas não sacrificam
criancinhas nem fazem libações para honrar deuses; uma vez que não interrogam
astros, mortos e áugures para adivinhar a verdade sabiamente velada aos seres humanos
uma vez que repudiam qualquer transação com a faculdade de comunicar com os
Espíritos; uma vez que os não move a curiosidade nem a cupidez, mas um
sentimento de piedade, um desejo de instruir-se e melhorar-se, aliviando as
almas sofredoras; uma vez que assim é, porque o é — a proibição de Moisés não
lhes pode ser extensiva. Se os que clamam injustamente contra os espíritas se
aprofundassem mais no sentido das palavras bíblicas, reconheceriam que nada
existe de análogo, nos princípios do Espiritismo, com o que se passava entre os
hebreus. A verdade é que o Espiritismo condena tudo que motivou a interdição de
Moisés, mas os seus adversários, no afã de encontrar argumentos com que rebatam
as novas ideias, nem se apercebem que tais argumentos são negativos, por serem
completamente falsos. A lei civil contemporânea pune todos os abusos que Moisés
tinha em vista reprimir. Contudo, se ele pronunciou a pena última contra os
delinquentes, é porque lhe faleciam meios brandos para governar um povo tão
indisciplinado. Esta pena, ademais, era muito prodigalizada na legislação
mosaica, pois não havia muito onde escolher nos meios de repressão. Sem prisões
nem casas de correção no deserto, Moisés não podia graduar a penalidade como se
faz em nossos dias, além de que o seu povo não era de natureza a atemorizar-se
com penas puramente disciplinares. Carecem, portanto de razão os que se apoiam
na severidade do castigo para provar o grau de culpabilidade da evocação dos
mortos. Conviria, por consideração à lei de Moisés, manter a pena capital em
todos os casos nos quais. Primeira Parte, ele a prescrevia? Por que, então,
reviver com tanta insistência este artigo, silenciando ao mesmo tempo o
princípio do capítulo que proíbe aos sacerdotes a posse de bens terrenos e
partilhar de qualquer herança, porque o Senhor é a sua própria herança? (Deuteronômio).
Há duas partes distintas na lei de Moisés: a
Lei de Deus propriamente dita, promulgada sobre o Sinai, e a lei civil ou
disciplinar, apropriada aos costumes e caráter do povo. Uma dessas leis é
invariável, ao passo que a outra se modifica com o tempo, e a ninguém ocorre
que possamos ser governados pelos mesmos meios por que o eram os judeus no
deserto e tampouco que os capitulares de Carlos Magno se moldem à França do
século XIX. Quem pensaria hoje, por exemplo, em reviver este artigo da lei
mosaica: “Se um boi escornar um ser humano, que disso morram, seja o boi
apedrejado e ninguém coma de sua carne, mas o dono do boi será julgado inocente?”
(Êxodo) Este artigo, que nos parece tão absurdo, não tinha, no entanto, outro
objetivo que o de punir o boi e inocentar o dono, equivalendo simplesmente à
confiscação do animal, causa do acidente, para obrigar o proprietário a maior
vigilância. A perda do boi era a punição que devia ser bem sensível para um
povo de pastores, a ponto de dispensar outra qualquer; entretanto, essa perda a
ninguém aproveitava, por ser proibido comer a carne. Outros artigos prescrevem
o caso em que o proprietário é responsável. Tudo tinha sua razão de ser na
legislação de Moisés, uma vez que tudo ela previa em detalhes, mas a forma, bem
como o fundo, adaptavam-se às circunstâncias ocasionais. Se Moisés voltasse em
nossos dias para legislar sobre uma nação civilizada, decerto não lhe daria um
código igual ao dos hebreus.
A esta objeção opõem a afirmativa de que todas
as leis de Moisés foram ditadas em nome de Deus, assim como as do Sinai, mas,
julgando- -as todas de fonte divina, por que ao decálogo limitam os
mandamentos? Qual a razão de ser da diferença? Pois não é certo que se todas
essas leis emanam de Deus devem todas ser igualmente obrigatórias? E por que
não conservaram a circuncisão, à qual Jesus se submeteu e não aboliu? Ah! Esquecem
que, para dar autoridade às suas leis, todos os legisladores antigos lhes
atribuíam uma origem divina. Pois bem: Moisés, mais que nenhum outro, tinha
necessidade desse recurso, atento o caráter do seu Da proibição de evocar os
mortos povo; e se, a despeito disso, ele teve dificuldade em se fazer obedecer,
que não sucederia se as leis fossem promulgadas em seu próprio nome! Não veio
Jesus modificar a lei mosaica, fazendo da sua lei o código dos cristãos? Não
disse Ele: “Vós sabeis o que foi dito aos antigos, tal e tal coisa, e Eu vos
digo tal outra coisa?” Entretanto Jesus não proscreveu, antes sancionou a lei
do Sinai, da qual toda a sua doutrina moral é um desdobramento. Ora, Jesus
nunca aludiu em parte alguma à proibição de evocar os mortos, quando este era
um assunto bastante grave para ser omitido nas suas prédicas, mormente tendo
Ele tratado de outros assuntos secundários.
Finalmente convém saber se a Igreja coloca a
lei mosaica acima da evangélica, ou por outra, se é mais judia que cristã.
Convém também notar que, de todas as religiões, precisamente a judia é que faz
menos oposição ao Espiritismo, porquanto não invoca a lei de Moisés contrária
às relações com os mortos, como fazem as seitas cristãs.
Mas temos ainda outra contradição: Se Moisés
proibiu evocar os mortos, é que estes podiam vir, pois do contrário inútil fora
à proibição. Ora, se os mortos podiam vir naqueles tempos, também o podem hoje;
e se são Espíritos de mortos os que vêm, não são exclusivamente demônios.
Ademais, Moisés de modo algum fala nesses últimos. É duplo, portanto, o motivo
pelo qual não se pode aceitar logicamente a autoridade de Moisés na espécie, a
saber: primeiro, porque a sua lei não rege o Cristianismo; e, segundo, porque é
imprópria aos costumes da nossa época. Suponhamos, então, que essa lei tem a
plenitude da autoridade por alguns outorgada, e ainda assim ela não poderá,
como vimos, aplicar-se ao Espiritismo. É verdade que a proibição de Moisés
abrange a interrogação dos mortos, porém de modo secundário, como acessória às
práticas da feitiçaria. O próprio vocábulo interrogação, junto aos de adivinho
e agoureiro, prova que entre os hebreus as evocações eram um meio de adivinhar;
entretanto, os espíritas só evocam mortos para receber sábios conselhos e obter
alívio em favor dos que sofrem, nunca para conseguir revelações ilícitas.
Certo, se os hebreus usassem das comunicações como fazem os espíritas, longe de
as proibir, Moisés acoroçoá-las-ia, porque o seu povo só teria que lucrar. Primeira
Parte – Capítulo XI. É certo que alguns críticos jucundos ou mal-intencionados
têm descrito as reuniões espíritas como assembleias de nigromantes ou
feiticeiros, e os médiuns como astrólogos e ciganos, isto porque talvez
quaisquer charlatães tenham afeiçoado tais nomes às suas práticas, que o
Espiritismo não pode, aliás, aprovar. Em compensação, há também muita gente que
faz justiça e testemunha o caráter essencialmente moral e grave das reuniões
sérias. Além disso, a Doutrina, escrita em livros ao alcance de todo o mundo,
protesta bem alto contra os abusos, para que a calúnia recaia sobre quem a
merece.
A evocação, dizem, é uma falta de consideração
para com os mortos, cujas cinzas devem ser respeitadas. Mas quem é que diz tal?
São os antagonistas de dois campos opostos, isto é, os incrédulos, que nas
almas não creem, e os crédulos que pretendem que só os demônios, e não as almas
podem vir. Quando a evocação é feita com recolhimento e religiosamente; quando
os Espíritos são chamados, não por curiosidade, mas por um sentimento de
afeição e simpatia, com desejo sincero de instrução e progresso, não vemos nada
de irreverente em apelar-se para as pessoas depois de mortas, como se fizera
com os vivos. Há, contudo, uma outra resposta peremptória a essa objeção, e é
que os Espíritos se apresentam espontaneamente, sem constrangimento, muitas
vezes mesmo sem que sejam chamados. Eles também dão testemunho da satisfação
que experimentam por comunicar-se com os seres humanos, e queixam-se às vezes
do esquecimento em que os deixam. Se os Espíritos se perturbassem ou se
agastassem com os nossos chamados, certo o diriam e não retornariam; porém,
nessas evocações, livres como são, se manifestam, é porque lhes convém.
Ainda uma outra razão é alegada: As almas
permanecem na morada que a Justiça divina lhes designa — o que equivale dizer
no Céu ou no inferno. Assim, as que estão no inferno, de lá não podem sair,
posto que para tanto a mais ampla liberdade seja outorgada aos demônios. As do
Céu, inteiramente entregues à sua beatitude, estão muito superiores aos mortais
para deles se ocuparem, e são bastante felizes para não voltarem a esta terra
de misérias, no interesse de parentes e amigos que aqui deixassem. Então essas
almas podem ser comparadas aos nababos que dos pobres desviam a vista com receio
de perturbar a digestão? Da proibição de evocar os mortos. Mas se assim fora
essas almas se mostrariam pouco dignas da suprema bem-aventurança,
transformando-se em padrão de egoísmo! Restam ainda as almas do purgatório,
porém, estas, sofredoras como devem ser, antes que doutra coisa, devem cuidar
da sua salvação. Deste modo, não podendo nem umas nem outras almas corresponder
ao nosso apelo, somente o demônio se apresenta em seu lugar. Então é o caso de
dizer: se as almas não podem vir, não há de que recear pela perturbação do seu
repouso.
Mas aqui reponta uma outra dificuldade. Se as
almas bem-aventuradas não podem deixar a mansão gloriosa para socorrer os
mortais, por que invoca a Igreja a assistência dos santos que devem fruir ainda
maior soma de beatitude? Por que aconselha invocá-los em casos de moléstia, de
aflição, de flagelos? Por que razão e segundo essa mesma Igreja os santos e a
própria Virgem aparecem aos seres humanos e fazem milagres? Estes deixam o Céu
para baixar a Terra; entretanto os que estão menos elevados não o podem fazer!
Que os céticos neguem a manifestação das almas
vá isto que nelas não acreditam, mas o que se torna estranhável é ver
encarniçar-se contra os meios de provar a sua existência, esforçando-se por
demonstrar a impossibilidade desses meios, aqueles mesmos cujas crenças
repousam na existência e no futuro das almas! Parece que seria mais natural
acolherem como benefício da Providência os meios de confundir os céticos com
provas irrecusáveis, pois que são os negadores da própria religião. Os que têm
interesse na existência da alma deploram constantemente a avalancha da
incredulidade que invade, dizimando-o, o rebanho de fiéis: entretanto, quando
se lhes apresenta o meio mais poderoso de combatê-la, eles recusam-no com tanta
ou mais obstinação que os próprios incrédulos. Depois, quando as provas avultam
de modo a não deixar dúvidas, eis que procuram como recurso de supremo
argumento a interdição do assunto, buscando, para justificá-la, um artigo da
lei mosaica do qual ninguém cogitara, emprestando-lhe, à força, um sentido e
aplicação inexistentes. E tão felizes se julgam com a descoberta, que não
percebem que esse artigo é ainda uma justificativa da Doutrina Espírita. Todas
as razões alegadas para condenar as relações com os Espíritos não resistem a um
exame sério. Pelo ardor com que se combate nesse sentido é fácil deduzir o
grande interesse ligado ao assunto. Daí a Primeira Parte – Capítulo XI. Insistência.
Vendo esta cruzada de todos os cultos contra as manifestações, dir-se-ia que
delas se atemorizam. O verdadeiro motivo poderia bem ser o receio de que os
Espíritos muito esclarecidos viessem instruir os seres humano sobre pontos que
se pretende obscurecer, dando-lhes conhecimento, ao mesmo tempo, e certeza de
um outro mundo, a par das verdadeiras condições para nele serem felizes ou
desgraçados. A razão deve ser a mesma por que se diz à criança: “Não vá lá, que
há lobisomens.” Aos seres humanos: “Não chameis os Espíritos: São o diabo.” Não
importa, porém: impedem os seres humanos de os evocar, mas não poderão
impedi-los de vir aos seres para levantar a lâmpada de sob o alqueire. O culto
que estiver com a verdade absoluta nada terá que temer da luz, pois a luz faz
brilhar a verdade e o demônio nada pode contra esta. Repelir as comunicações de
além-túmulo é repudiar o meio mais poderoso de instruir-se, já pela iniciação
nos conhecimentos da vida futura, já pelos exemplos que tais comunicações nos
fornecem. A experiência nos ensina, além disso, o bem que podemos fazer, desviando
do mal os Espíritos imperfeitos, ajudando os que sofrem a desprenderem-se da
matéria e a se aperfeiçoarem. Interdizer as comunicações é, portanto, privar as
almas sofredoras da assistência que lhes podemos e devemos dispensar. As
seguintes palavras de um Espírito resumem admiravelmente as consequências da
evocação, quando praticada com fim caritativo: “Todo Espírito sofredor e
desolado vos contará a causa da sua queda, os desvarios que o perderam.
Esperanças, combates e terrores; remorsos, desesperos e dores, tudo vos dirá,
mostrando Deus justamente irritado a punir o culpado com toda a severidade. Ao
ouvi-lo, dois sentimentos vos acometerão: o da compaixão e o do temor!
compaixão por ele, temor por vós mesmos. E se o seguirdes nos seus queixumes,
vereis então que Deus jamais o perde de vista, esperando o pecador arrependido
e estendendo-lhe os braços logo que procure regenerar-se. Do culpado vereis,
enfim, os progressos benéficos para os quais tereis a felicidade e a glória de
contribuir, com a solicitude e o carinho do cirurgião acompanhando a
cicatrização da ferida que pensa diariamente.” (Bordeaux, 1861.)
O LIVRO CÉU E O INFERNO.
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