QUARTA PARTE DA VIDA DE JOSÉ E
MARIA. DITADA PELO MESTRE JESUS.
Aflição de Maria
Quando meu pai disse essas palavras,
eu não pude conter as lágrimas e pus-me a chorar, vendo como a morte vinha
apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as palavras cheias de
amargura que saíam da sua boca.
Naquele momento, meus queridos
irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que haveria de sofrer pela vida
de todo mundo. Então Maria, minha querida mãe, cujo nome é doce para todos os
que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu coração inundado na amargura:
– Ai de mim, filho querido! Está à
morte o bom e abençoado ancião José, teu pai querido e adorado?
Eu lhe respondi:
– Minha mãe querida, quem entre o
humanos ver-se-á livre da necessidade de ter de encarar a morte? Esta é dona de
toda a humanidade, mãe bendita! E mesmo tu hás de morrer como todos os outros
homens. Nem tua morte nem a de meu pai José, porém, podem chamar-se
propriamente morte, mas vida eterna ininterrupta. Também eu hei de passar por
este transe por causa da carne mortal com a qual estou revestido. Agora, mãe
querida, levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para que possas
ver o lugar que o aguarda lá no alto.
As Dores de José
Levantou-se, entrou no local onde ele
se encontrava e pôde apreciar os sinais evidentes da morte que já se refletiam
nele. Eu, meus queridos, postei-me em sua cabeceira e minha mãe aos seus pés.
Ele fixava seus olhos no meu rosto, sem poder sequer dirigir-me uma palavra, já
que a morte apoderava-se dele pouco a pouco.
Elevou, então, seu olhar até o alto e
deixou escapar um forte gemido. Eu segurei suas mãos e seus pés durante um
longo tempo e ele me olhava, suplicando-me que não o abandonasse nas mãos dos
seus inimigos.
Eu coloquei minha mão sobre seu peito
e notei que sua alma já havia subido até a sua garganta para deixar seu corpo,
mas ainda não havia chegado o momento supremo da morte. Caso contrário, não
teria podido aguentar mais.
Não obstante, as lágrimas, a comoção
e o abatimento que sempre a precedem já faziam presentes.
A Agonia
Quando minha mãe querida viu-me
apalpar o seu corpo, quis ela, de sua parte apalpar, os pés e notou que o
alento havia fugido juntamente com o calor.
Dirigiu-se a mim e disse-me
ingenuamente:
– Obrigada, filho querido, pois desde
o momento em que puseste tua mão sobre seu corpo, a febre o abandonou. Vê, seus
membros estão frios como o gelo.
Eu chamei os seus filhos e filhas e
lhes disse:
– Falai agora com o vosso pai, que
este é o momento de fazê-lo, antes que sua boca deixe de falar e seu corpo
fique hirto.
Seus filhos e filhas falaram com ele,
mas sua vida estava minada por aquela doença mortal que provocaria sua saída
deste mundo. Então, Lísia, filha de José, levantou-se para dizer aos seus
irmãos:
– Juro, queridos irmãos, que esta é a
mesma doença que derrubou a nossa mãe e que não voltou a aparecer por aqui até
agora. O mesmo acontece com o nosso pai José, para que não voltemos a vê-lo
senão na eternidade.
Então os filhos de José irromperam em
lamentos. Maria, minha mãe, e eu, de nossa parte, unimo-nos ao seu pranto, pois,
efetivamente, já havia chegado a hora da morte.
A Morte Chega
Pus-me a olhar para o sul e vi a
morte dirigir-se a nossa casa. Vinha seguida de Amenti, que é seu satélite, e
do Diabo, a quem acompanhava uma multidão de esbirros vestidos de fogo, cujas
bocas vomitavam fumaça e enxofre.
Ao levantar os olhos, meu pai
deparou-se com aquele cortejo que o olhava com rosto colérico e raivoso, do
mesmo modo que costuma olhar todas as almas que saem do corpo, particularmente
aquelas que são pecadoras e que considera como propriedade sua.
Diante da visão desse espetáculo, os
olhos do bom velho anuviaram-se de lágrimas. Foi neste momento em que meu pai
exalou sua alma com um grande suspiro, enquanto procurava encontrar um lugar
onde se esconder e salvar-se. Quando observei o suspiro de meu pai, provocado
pela visão daquelas forças até então desconhecidas para ele, levantei-me
rapidamente e expulsei o Diabo e todo seu cortejo. Eles fugiram envergonhados e
confusos.
Ninguém entre os presentes, nem mesmo
minha própria mãe Maria, apercebeu-se da presença daqueles terríveis esquadrões
que saem à caça de almas humanas.
Quando a morte percebeu que eu havia
expulsado e mandado embora as potestades infernais, para que não pudessem
espalhar armadilhas, encheu-se de pavor. Levantei-me apressadamente e dirigi
esta oração a meu Pai, o Deus de toda misericórdia:
Oração de Jesus
– Meu Pai misericordioso, Pai da
Verdade, olho que vê e ouvido que ouve, escuta-me, que eu sou teu filho
querido! Peço-te por meu pai José, a obra de vossas mãos. Envia-me um grande
corpo de anjos, juntamente com Michael, o administrador dos bens, e com Gabriel,
o bom mensageiro da luz, para que acompanhem a alma de meu pai José até que se
tenha livrado do sétimo Aeon tenebroso, de forma que não se veja forçado a
empreender esses caminhos infernais, terríveis para o viajante por estarem
infestados de gênios malignos e saqueadores e por ter de atravessar esse lugar
espantoso por onde corre um rio de fogo igual às ondas do mar. Sede, além
disso, piedoso para com a alma de meu pai José, quando ela vier repousar em
vossas mãos, pois é este o momento em que mais necessita da tua misericórdia.
Eu vos digo, veneráveis irmãos e
abençoados apóstolos, que todo homem que, chegando a discernir entre o bem e o
mal, tenha consumido seu tempo seguindo a fascinação dos seus olhos, quando
chegue a hora de sua morte e tenha de libertar o passo para comparecer diante
do tribunal terrível e fazer sua própria defesa, ver-se-á necessitado da
piedade de meu bom Pai.
Continuemos, porém, relatando o
desenlace de meu pai, o abençoado ancião.
José Expira
Quando eu disse amém, Maria, minha
mãe, respondeu na língua falada pelos habitantes do céu. No mesmo instante
Michael, Gabriel e anjos, em coro, vindos do céu, voaram sobre o corpo de meu
pai José.
Em seguida, intensificaram-se os
lamentos próprios da morte e soube, então, que havia chegado o momento
desolador. Sofria meu pai dores parecidas com as de uma mulher no parto,
enquanto que a febre o castigava da mesma maneira que um forte furacão ou um
imenso fogo devasta um espesso bosque.
A morte, cheia de medo, não ousava
lançar-se sobre o corpo de meu pai para separá-lo da alma, pois seu olhar havia
dado comigo, que estava sentado a sua cabeceira, com as mãos sobre suas
têmporas.
Quando me apercebi de que a morte tinha medo de entrar por minha causa,
levantei-me, dirigi meus passos até o lado de fora da porta e encontrei-a só e
amedrontada, em atitude de espera.
Eu lhe disse:
– Ó tu, que vens do Meio-dia, entra
rapidamente e cumpre o que ordenou-te meu Pai. Porém, guarda José como a menina
dos teus olhos, posto que é meu pai segundo a carne e compartilhou a dor
comigo, durante os anos da minha infância, quanto teve de fugir de um lado para
outro por causa das maquinações de Herodes e ensinou-me como costumam fazer os
pais para o proveito dos seus filhos.
Então Abbadon entrou, tomou a alma de meu pai José e separou-a do corpo no
mesmo instante em que o sol fazia sua aparição no horizonte, no dia 26 do mês
de Epep, em paz.
A vida de meu pai compreendeu cento e
onze anos. Michael e Gabriel pegaram cada qual em um extremo de um pano de seda
e nele depositaram a alma de meu querido pai José depois de tê-la beijado
reverentemente.
Enquanto isso, nenhum dos que
rodeavam José havia percebido a sua morte, nem sequer minha mãe Maria. Eu
confiei a alma do meu querido pai José a Michael e Gabriel, para que a
guardassem contra os raptores que saqueiam pelo caminho e encarreguei os
espíritos incorpóreos de continuarem cantando canções até que, finalmente,
depositaram-no junto a meu Pai no céu.
Luto na Casa de José
Inclinei-me sobre o corpo inerte de
meu pai. Cerrei seus olhos, fechei sua boca e levantei-me para contemplá-lo.
Depois disse à Virgem:
– Ó Maria, minha mãe, onde estão os
objetos de artesanato feitos por ele desde sua infância até hoje? Neste momento
todos eles passaram, como se ele não tivesse sequer vindo a este mundo.
Quando seus filhos e filhas ouviram-me dizer isto a Maria, minha mãe virginal,
perguntaram-me com vozes fortes e lamentos:
– Será que nosso pai morreu sem que
nós nos apercebêssemos?
Eu lhes disse:
– Efetivamente, morreu, mas sua morte
não é morte, porém vida eterna. Grandes coisas esperam nosso querido pai José.
Desde o momento em que sua alma sai do seu corpo, desapareceu para ele toda
espécie de dor. Ele se pôs a caminho do reino eterno. Deixou atrás de si o peso
da carne, com todo este mundo de dor e de preocupações, e foi para o lugar de
repouso que tem meu Pai nesses céus que nunca serão destruídos.
Ao dizer a meus irmãos que o nosso
pai José, o abençoado ancião, havia finalmente morrido, eles se levantaram,
rasgaram suas vestes e o choraram durante um longo tempo.
Luto em Nazaré
Quando os habitantes de Nazaré e de
toda a Galiléia inteiraram-se da triste nova, acudiram em massa ao lugar onde
nos encontrávamos. De acordo com a lei dos judeus, passaram todo o dia dando
sinais de luto até que chegou a nona hora.
Despedi, então todos, derramei água
sobre o corpo de meu pai José, ungi-o com bálsamo e dirigi ao meu Pai amado,
que está nos céus, uma oração celestial que havia escrito com meus próprios
dedos, antes de encarnar-me nas entranhas da Virgem Maria.
Ao dizer amém, veio uma multidão de
anjos. Mandei que dois deles estendessem um manto para depositar nele o corpo
de meu pai José para que o amortalhassem.
Bênção de Jesus
Pus minhas mãos sobre o seu corpo e
disse:
– Não serás vítima da fetidez da
morte. Que teus ouvidos não sofram corrupção. Que não emane podridão de teu
corpo. Que não se perca na terra a tua mortalha nem a tua carne, mas que fiquem
intactas aderidas ao teu corpo até o dia do convite dos dois mil anos. Que não
envelheçam, querido pai, esses cabelos que tantas vezes acariciei com minhas
mãos. E que a boa sorte esteja contigo. Aquele que se preocupar em levar uma
oferenda ao teu santuário no dia de tua comemoração, eu o abençoarei com
afluxos de dons celestiais. Assim mesmo, a todo aquele que der pão a um pobre
em teu nome, não permitirei que se veja agoniado pela necessidade de quaisquer
bens deste mundo, durante todos os dias de sua vida.
Conceder-te-ei que possas convidar ao
banquete dos mil anos a todos aqueles que no dia de tua comemoração ponham um
copo de vinho na mão de um forasteiro, de uma viúva ou de um órfão. Hei de
dar-te de presente, enquanto vivam neste mundo, a todos os que se dediquem a escrever
o livro da tua saída deste mundo e a consignar todas as palavras que hoje
saíram de minha boca.
Quando abandonarem este mundo, farei
com que desapareça o livro no qual estão escritos seus pecados e que não sofram
nenhum tormento, além da inevitável morte e do rio de fogo que está diante do
meu Pai, para purificar toda a espécie de almas. Se acontecer que um pobre, não
podendo fazer nada do que foi dito, ponha o nome de José em um de seus filhos
em tua honra, farei com que naquela casa não entre a fome nem a peste, pois o
teu nome habita ali de verdade.
MENSAGEM DIVULGADA
PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.