Quadro familiar
Uma cena, como uma pintura,
desenha-se à nossa frente: um homem compenetrado, pai de família, estudando
para a fase final de seu doutorado.
No ambiente tranquilo, ouve-se alguns passos apressados e leves: era
Sarah, sua filhinha.
Papai, você quer
ver meu desenho? – Perguntou ela, com brilho nos olhos.
Sem olhar para ela, o pai respondeu, com calma:
Sarah, papai está
ocupado. Volte um pouco mais tarde, querida.
Dez minutos depois,
ela volta à biblioteca, dizendo: Papai me deixa mostrar o meu desenho?
Sarah, meu amor,
volte mais tarde. Isto que estou fazendo é importante. – Respondeu
ele.
Três minutos depois
ela entra novamente, fica a um palmo do nariz do pai e fala com todo poder que um
comandante de cinco anos de idade poderia conseguir: Você quer ver ou
não?
Não, eu não quero. – Retorquiu o
homem, sem pensar muito no que havia dito.
Com isso, ela zuniu para fora e o deixou só.
De alguma maneira, ele não estava tão satisfeito quanto pensou que
ficaria.
Sentiu-se como que puxado, e foi até a porta da frente.
Sarah! – Ele chamou.
– Você poderia entrar um minuto, por favor? Papai gostaria de ver o seu
desenho.
Ela entrou sem reclamações e se atirou em seu colo.
Era um grande quadro. No alto, com sua melhor letra, estava escrito:
Nossa família.
Explique-me o
quadro. – Pediu ele.
Com os pequeninos dedos de sua mão, ela descreveu:
Aqui é a mamãe (uma figura
de palito com cabelo longo, amarelo e ondulado); aqui sou eu, do lado
de mamãe; aqui é Katie (nosso cachorro); e aqui é
Missy (a pequenina irmã).
Adorei seu desenho,
querida. – Elogiou o pai, sorrindo. Vou pendurar na parede da sala de
jantar, e toda noite, quando eu voltar para casa, eu vou olhar para ele.
Ela sorriu, de orelha a orelha, e foi brincar.
Ele ficou intranquilo. Algo sobre o desenho de Sarah. Alguma coisa
estava faltando.
Foi até a porta da frente e voltou a chamar a filhinha.
Posso ver seu
desenho, outra vez?
Ela o apanhou rapidamente e, logo, estava no colo do pai, animada.
Foi, então, que ele fez uma pergunta, da qual não estava certo de que
gostaria de ouvir a resposta:
Querida... Tem a
mamãe, e Sarah, e Missy, e até Katie em seu desenho. Tem também sol, nossa casa
e muitos pássaros. Mas, Sarah, onde está seu papai?
Depressa, ela respondeu, nem sequer imaginando a lição que estava
prestes a dar a seu pai:
Você está na
biblioteca!
Com aquela declaração simples, Sarah fez parar o tempo para seu pai.
Erguendo-a, suavemente, ele a mandou de volta para brincar ao sol da primavera.
Algumas semanas se passaram, e ele tornou-se doutor.
Então, certa noite, ainda com o coração apertado, conversando com sua
esposa antes de dormir, fez-lhe a seguinte pergunta:
Bárbara... Eu quero
voltar para casa. Posso?
Vinte segundos de silêncio se seguiram. Parecia que ele havia prendido
seu fôlego por mais de uma hora.
Gary, disse a
esposa. – As meninas e eu o amamos muito. Nós o queremos em casa. Mas
você não esteve aqui! Eu me senti como pai e mãe por muito tempo!
Aquela era a
verdade clara, sem disfarce. – Pensou ele.
Sua vida tinha sido descontrolada, sua família estava em piloto
automático, e ele tinha uma longa estrada pela frente se a quisesse conquistar
novamente.
Agora, que a névoa havia se dissipado, ele estava disposto a tentar, e
esse passou a ser o objetivo mais importante de sua vida.
Redação do Momento Espírita, com base no texto
Quadro familiar, de Ronaldo José Lungatto.
Disponível no livro Momento Espírita, v.3, ed. FEP.
Em 27.2.201.
Quadro familiar, de Ronaldo José Lungatto.
Disponível no livro Momento Espírita, v.3, ed. FEP.
Em 27.2.201.
0 comentários:
Postar um comentário
ESTAMOS DISPOSIÇÃO DOS AMIGOS PARA ESCLARECER QUALQUER DÚVIDA.