TERCEIRA PARTE DA VIDA DE JOSÉ E MARIA,
Frente à Morte
Chegou, porém, para
meu pai José, a hora de abandonar este mundo, que é a sorte de todo homem
mortal.
Quando seu corpo
adoeceu, veio um de Deus anjo anunciar-lhe:
– Tua morte
dar-se-á neste ano.
Sentindo sua alma
cheia de turbação, ele fez uma viagem até Jerusalém, entrou no templo do
Senhor, humilhou-se diante do altar e orou desta maneira:
Oração de José
– Ó Deus, pai de
toda misericórdia e Deus de toda carne, Senhor da minha alma, de meu corpo e do
meu espírito! Se é que já se cumpriram todos os dias da vida que me deste neste
mundo, rogo-te, Senhor Deus, que envies o Arcanjo Michael para que fique do meu
lado, até que minha desditada alma saia do corpo sem dor nem turbação. Porque a
morte é para todos causa de dor e turbação, quer se trate de um homem, de um
animal doméstico ou selvagem, ou ainda de um verme ou um pássaro.
Em uma palavra, é
muito dolorosa para todas as criaturas que vivem sob o céu e que alentam um
sopro de espírito para suportar o transe de ver sua alma separada do corpo.
Agora, meu Senhor, faz com que o teu anjo fique do lado da minha alma e do meu
corpo e que esta recíproca separação se consuma sem dor.
Não permitas que
aquele anjo que me foi dado no dia em que saí de teu seio volte seu rosto irado
para mim ao longo deste caminho que empreendi até vós, mas sim que ele se
mostre amável e pacífico.
Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a minha ida
Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a minha ida
até vós. Não consintas que minha alma
caia em mãos do Cérbero e não me confundas em teu formidável tribunal.
Não permitas que as
ondas deste rio de fogo, nas quais serão envolvidas todas as almas antes de ver
a glória de teu rosto, voltem-se furiosas contra mim. Ó Deus, que julgais a
todos na Verdade e na Justiça, oxalá tua misericórdia sirva-me agora de
consolo, já que sois a fonte de todos os bens e a ti se deve toda a glória pela
eternidade das eternidades! Amém.
Doença de José
Aconteceu que, ao voltar
a sua residência habitual de Nazaré, viu-se atacado pela doença que havia de
levá-lo ao túmulo. Esta se apresentou de forma mais alarmante do que em
qualquer outra ocasião de sua vida, desde o dia em que nasceu.
Eis aqui, resumida,
a vida de meu querido pai José: ao chegar aos quarenta anos, contraiu
matrimônio, no qual viveu outros quarenta e nove.
Depois que sua
mulher morreu, passou somente um ano. Minha mãe logo passou dois anos em sua
casa, depois que os sacerdotes confiaram-na com estas palavras:
– Guarda-a até o
tempo em que se celebre vosso matrimônio.
Ao começar o
terceiro ano de sua permanência ali – tinha nessa época quinze anos de idade –
trouxe-me ao mundo de um modo misterioso, que ninguém entre toda a criação pode
conhecer, com exceção de mim, de meu Pai e do Espírito Santo, que formamos uma
unidade.
O Início do Fim
A vida de meu pai
José, o abençoado ancião, compreendeu cento e onze anos, conforme determinara
meu bom Pai. O dia em que se separou do corpo foi no dia 26 do mês de Epep.
O ouro acentuado de
sua carne começou a desfazer-se e a prata da sua inteligência e razão sofreu
alterações. Esqueceu-se de comer e de beber e a destreza no desempenho de seu
ofício passou a declinar.
Aconteceu que, ao amanhecer do dia 26
de Epep, enquanto estava em seu leito, foi tomado de uma grande agitação. Gemeu
forte, bateu palmas três vezes e, fora de si, pôs-se a gritar dizendo:
Lamentos de José
– Ai, miserável de
mim! Ai do dia em que minha mãe trouxe-me ao mundo! Ai do seio materno do qual
recebi o germe da vida! Ai dos peitos que me amamentaram! Ai do regaço em que
me reclinei! Ai das mãos que me sustentaram até o dia em que cresci e comecei a
pecar! Ai de minha língua e de meus lábios que proferiram injúrias, enganos,
infâmias e calúnias! Ai dos meus olhos, que viram o escândalo! Ai dos meus
ouvidos que escutaram conversações frívolas! Ai das minhas mãos que subtraíram
coisas que não lhes pertenciam!
Ai do meu estômago
e do meu ventre que ambicionaram o que não era deles! Quando alguma coisa lhes
era apresentada, devoravam-na com mais avidez do que poderia fazê-lo o próprio
fogo! Ai dos meus pés que fizeram um mau serviço ao meu corpo, já que o levaram
por maus caminhos! Ao do meu corpo todo que deixou a minha alma
reduzida a um deserto, afastando-a de
Deus que a criou! Que farei agora? Não encontro saída em parte alguma! Em
verdade é que pobres dos homens que são pecadores! Esta é a angústia que se
apoderou de meu pai Jacob em sua agonia, a qual veio hoje a ter comigo,
infeliz. Mas, ó Senhor, meu Deus, que és o mediador de minha alma e de meu
corpo e de meu espírito, cumpre em mim a tua divina vontade.
Jesus Consola seu Pai
Quando terminou de
dizer estas palavras, entrei no local onde ele se encontrava e, ao vê-lo
agitado de corpo e de alma, disse-lhe:
– Salve José, meu
querido pai, ancião bom e abençoado.
Ele respondeu ainda
tomado por um medo mortal:
– Salve mil vezes,
querido filho. Ao ouvir tua voz, minha alma recupera sua tranquilidade. Jesus,
meu Senhor! Jesus, meu verdadeiro rei, meu salvador bom e misericordioso!
Jesus, meu libertador! Jesus, meu guia! Jesus, meu protetor! Jescujabondaencontra-se
tudo! Jesus, cujo nome é suave e forte na boca de todos! Jesus, olho que vê e
ouvido que ouve verdadeiramente: escuta-me hoje, teu servidor, quando elevo
meus rogos e verto meus lamentos diante de ti.
Em verdade tu és
Deus. Tu és o Senhor, conforme tem-me repetido muitas vezes o anjo, sobretudo
naquele dia em que suspeitas humanas se aninharam em meu coração, ao observar
os sinais de gravidez da Virgem sem mácula e eu havia decidido abandoná-la.
Mas, quando eu estava pensando nisto, um anjo apareceu-me em sonhos e me disse:
José, filho de Davi, não tenhas receio em receber Maria como esposa, pois o que
há de dar à luz é fruto do Espírito Santo. Não guardes suspeita alguma a
respeito de sua gravidez. Ela trará ao mundo um filho e tu dar-lhe-ás o nome de
Jesus.
Tu és Jesus Cristo,
o salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes, teu
servo e obra de tuas mãos.
Eu não sabia nem
conhecia o mistério de teu maravilhoso nascimento e jamais havia de um homem e
que uma virgem pudesse dar à luz sem romper o selo de sua virgindade. Ó, meu
Senhor! Se não tivesse conhecido a lei desse mistério, não teria acreditado em
ti, nem em teu santo nascimento, nem rendido honras a Maria, a Virgem, que te
trouxe a este mundo. Recordo ainda aquele dia em que um menino morreu, por
causa da mordida de uma serpente. Seus familiares vieram a ti, com intenção de
entregar-te a Herodes.
Mas tua
misericórdia alcançou a pobre vítima e devolveste-lhe a vida para dissipar
aquela calúnia que te faziam, como causador da sua morte. Pelo que houve uma
grande alegria na casa do defunto. Então eu te peguei pela orelha e disse-te:
não sejas imprudente, meu filho. E tu me ameaçaste desta maneira: se não fosses
meu pai, segundo a carne, dar-te-ia a entender que é isso o que acabas de
fazer. Sim, pois, ó meu Senhor e Deus, esta é a razão pela qual vieste em tom
de juízo e pela qual permitiste que recaíssem sobre mim estes terríveis
presságios.
Suplico-te que não
me coloques diante do teu tribunal para lutar comigo. Eis que eu sou teu servo
e filho de tua escrava. Se houveres por bem romper meus grilhões, oferecer-te-ei
um santo sacrifício, que não será outro senão a confissão da tua divina glória,
de que tu és Jesus Cristo, filho verdadeiro de Deus e, por outro lado, filho
verdadeiro do homem.
Aflição de Maria
Quando meu pai
disse essas palavras, eu não pude conter as lágrimas e pus-me a chorar, vendo
como a morte vinha apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as
palavras cheias de amargura que saíam da sua boca.
Naquele momento,
meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que haveria de
sofrer pela vida de todo mundo. Então Maria, minha querida mãe, cujo nome é
doce para todos os que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu coração
inundado na amargura:
– Ai de mim, filho
querido! Está à morte o bom e abençoado ancião José, teu pai querido e adorado?
Eu lhe respondi:
– Minha mãe
querida, quem entre o humanos ver-se-á livre da necessidade de ter de encarar a
morte? Esta é dona de toda a humanidade, mãe bendita! E mesmo tu hás de morrer
como todos os outros homens. Nem tua morte nem a de meu pai José, porém, podem
chamar-se propriamente morte, mas vida eterna ininterrupta. Também eu hei de
passar por este transe por causa da carne mortal com a qual estou revestido.
Agora, mãe querida, levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para
que possas ver o lugar que o aguarda lá no alto.
MENSAGEM DIVULGADA
PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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