quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

TERCEIRA PARTE DA VIDA DE JOSÉ E MARIA.

TERCEIRA PARTE  DA VIDA DE JOSÉ E MARIA,
Frente à Morte
Chegou, porém, para meu pai José, a hora de abandonar este mundo, que é a sorte de todo homem mortal.
Quando seu corpo adoeceu, veio um de Deus anjo anunciar-lhe:
– Tua morte dar-se-á neste ano.
Sentindo sua alma cheia de turbação, ele fez uma viagem até Jerusalém, entrou no templo do Senhor, humilhou-se diante do altar e orou desta maneira:
Oração de José
– Ó Deus, pai de toda misericórdia e Deus de toda carne, Senhor da minha alma, de meu corpo e do meu espírito! Se é que já se cumpriram todos os dias da vida que me deste neste mundo, rogo-te, Senhor Deus, que envies o Arcanjo Michael para que fique do meu lado, até que minha desditada alma saia do corpo sem dor nem turbação. Porque a morte é para todos causa de dor e turbação, quer se trate de um homem, de um animal doméstico ou selvagem, ou ainda de um verme ou um pássaro.
Em uma palavra, é muito dolorosa para todas as criaturas que vivem sob o céu e que alentam um sopro de espírito para suportar o transe de ver sua alma separada do corpo. Agora, meu Senhor, faz com que o teu anjo fique do lado da minha alma e do meu corpo e que esta recíproca separação se consuma sem dor.
Não permitas que aquele anjo que me foi dado no dia em que saí de teu seio volte seu rosto irado para mim ao longo deste caminho que empreendi até vós, mas sim que ele se mostre amável e pacífico.
Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a minha ida
até vós. Não consintas que minha alma caia em mãos do Cérbero e não me confundas em teu formidável tribunal.
Não permitas que as ondas deste rio de fogo, nas quais serão envolvidas todas as almas antes de ver a glória de teu rosto, voltem-se furiosas contra mim. Ó Deus, que julgais a todos na Verdade e na Justiça, oxalá tua misericórdia sirva-me agora de consolo, já que sois a fonte de todos os bens e a ti se deve toda a glória pela eternidade das eternidades! Amém.
Doença de José
Aconteceu que, ao voltar a sua residência habitual de Nazaré, viu-se atacado pela doença que havia de levá-lo ao túmulo. Esta se apresentou de forma mais alarmante do que em qualquer outra ocasião de sua vida, desde o dia em que nasceu.
Eis aqui, resumida, a vida de meu querido pai José: ao chegar aos quarenta anos, contraiu matrimônio, no qual viveu outros quarenta e nove.
Depois que sua mulher morreu, passou somente um ano. Minha mãe logo passou dois anos em sua casa, depois que os sacerdotes confiaram-na com estas palavras:
– Guarda-a até o tempo em que se celebre vosso matrimônio.
Ao começar o terceiro ano de sua permanência ali – tinha nessa época quinze anos de idade – trouxe-me ao mundo de um modo misterioso, que ninguém entre toda a criação pode conhecer, com exceção de mim, de meu Pai e do Espírito Santo, que formamos uma unidade.
O Início do Fim
A vida de meu pai José, o abençoado ancião, compreendeu cento e onze anos, conforme determinara meu bom Pai. O dia em que se separou do corpo foi no dia 26 do mês de Epep.
O ouro acentuado de sua carne começou a desfazer-se e a prata da sua inteligência e razão sofreu alterações. Esqueceu-se de comer e de beber e a destreza no desempenho de seu ofício passou a declinar.
Aconteceu que, ao amanhecer do dia 26 de Epep, enquanto estava em seu leito, foi tomado de uma grande agitação. Gemeu forte, bateu palmas três vezes e, fora de si, pôs-se a gritar dizendo:
Lamentos de José
– Ai, miserável de mim! Ai do dia em que minha mãe trouxe-me ao mundo! Ai do seio materno do qual recebi o germe da vida! Ai dos peitos que me amamentaram! Ai do regaço em que me reclinei! Ai das mãos que me sustentaram até o dia em que cresci e comecei a pecar! Ai de minha língua e de meus lábios que proferiram injúrias, enganos, infâmias e calúnias! Ai dos meus olhos, que viram o escândalo! Ai dos meus ouvidos que escutaram conversações frívolas! Ai das minhas mãos que subtraíram coisas que não lhes pertenciam!
Ai do meu estômago e do meu ventre que ambicionaram o que não era deles! Quando alguma coisa lhes era apresentada, devoravam-na com mais avidez do que poderia fazê-lo o próprio fogo! Ai dos meus pés que fizeram um mau serviço ao meu corpo, já que o levaram por maus caminhos! Ao do meu corpo todo que deixou a minha alma
reduzida a um deserto, afastando-a de Deus que a criou! Que farei agora? Não encontro saída em parte alguma! Em verdade é que pobres dos homens que são pecadores! Esta é a angústia que se apoderou de meu pai Jacob em sua agonia, a qual veio hoje a ter comigo, infeliz. Mas, ó Senhor, meu Deus, que és o mediador de minha alma e de meu corpo e de meu espírito, cumpre em mim a tua divina vontade.
Jesus Consola seu Pai
Quando terminou de dizer estas palavras, entrei no local onde ele se encontrava e, ao vê-lo agitado de corpo e de alma, disse-lhe:
– Salve José, meu querido pai, ancião bom e abençoado.
Ele respondeu ainda tomado por um medo mortal:
– Salve mil vezes, querido filho. Ao ouvir tua voz, minha alma recupera sua tranquilidade. Jesus, meu Senhor! Jesus, meu verdadeiro rei, meu salvador bom e misericordioso! Jesus, meu libertador! Jesus, meu guia! Jesus, meu protetor! Jescujabondaencontra-se tudo! Jesus, cujo nome é suave e forte na boca de todos! Jesus, olho que vê e ouvido que ouve verdadeiramente: escuta-me hoje, teu servidor, quando elevo meus rogos e verto meus lamentos diante de ti.
Em verdade tu és Deus. Tu és o Senhor, conforme tem-me repetido muitas vezes o anjo, sobretudo naquele dia em que suspeitas humanas se aninharam em meu coração, ao observar os sinais de gravidez da Virgem sem mácula e eu havia decidido abandoná-la. Mas, quando eu estava pensando nisto, um anjo apareceu-me em sonhos e me disse: José, filho de Davi, não tenhas receio em receber Maria como esposa, pois o que há de dar à luz é fruto do Espírito Santo. Não guardes suspeita alguma a respeito de sua gravidez. Ela trará ao mundo um filho e tu dar-lhe-ás o nome de Jesus.
Tu és Jesus Cristo, o salvador da minha alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes, teu servo e obra de tuas mãos.
Eu não sabia nem conhecia o mistério de teu maravilhoso nascimento e jamais havia de um homem e que uma virgem pudesse dar à luz sem romper o selo de sua virgindade. Ó, meu Senhor! Se não tivesse conhecido a lei desse mistério, não teria acreditado em ti, nem em teu santo nascimento, nem rendido honras a Maria, a Virgem, que te trouxe a este mundo. Recordo ainda aquele dia em que um menino morreu, por causa da mordida de uma serpente. Seus familiares vieram a ti, com intenção de entregar-te a Herodes.
Mas tua misericórdia alcançou a pobre vítima e devolveste-lhe a vida para dissipar aquela calúnia que te faziam, como causador da sua morte. Pelo que houve uma grande alegria na casa do defunto. Então eu te peguei pela orelha e disse-te: não sejas imprudente, meu filho. E tu me ameaçaste desta maneira: se não fosses meu pai, segundo a carne, dar-te-ia a entender que é isso o que acabas de fazer. Sim, pois, ó meu Senhor e Deus, esta é a razão pela qual vieste em tom de juízo e pela qual permitiste que recaíssem sobre mim estes terríveis presságios.
Suplico-te que não me coloques diante do teu tribunal para lutar comigo. Eis que eu sou teu servo e filho de tua escrava. Se houveres por bem romper meus grilhões, oferecer-te-ei um santo sacrifício, que não será outro senão a confissão da tua divina glória, de que tu és Jesus Cristo, filho verdadeiro de Deus e, por outro lado, filho verdadeiro do homem.
Aflição de Maria
Quando meu pai disse essas palavras, eu não pude conter as lágrimas e pus-me a chorar, vendo como a morte vinha apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as palavras cheias de amargura que saíam da sua boca.
Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao pensamento a morte na cruz que haveria de sofrer pela vida de todo mundo. Então Maria, minha querida mãe, cujo nome é doce para todos os que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu coração inundado na amargura:
– Ai de mim, filho querido! Está à morte o bom e abençoado ancião José, teu pai querido e adorado?
Eu lhe respondi:
– Minha mãe querida, quem entre o humanos ver-se-á livre da necessidade de ter de encarar a morte? Esta é dona de toda a humanidade, mãe bendita! E mesmo tu hás de morrer como todos os outros homens. Nem tua morte nem a de meu pai José, porém, podem chamar-se propriamente morte, mas vida eterna ininterrupta. Também eu hei de passar por este transe por causa da carne mortal com a qual estou revestido. Agora, mãe querida, levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para que possas ver o lugar que o aguarda lá no alto.
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.


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