CAPÍTULO III. HÁ MUITAS MORADAS
NA CASA DE MEU PAI.
MUNDOS SUPERIORES E INFERIORES.
A classificação dos mundos inferiores
e superiores são baseados nos que se acham abaixo ou acima deles, dentro da
escala progressiva.
Pegando-se o nosso planeta como ponto de comparação, podemos fazer uma ideia do
estado de como é um mundo inferior, pressupondo que seus habitantes dentro de
um grau evolutivo dos povos selvagens e das nações bárbaras que ainda se
encontram em nosso planeta, como restos do seu estado primitivo.
Nos mundos mais atrasados, os seres humanos
são por certo modos rudimentares. Possuem a forma humana, mas sem nenhuma
beleza; seus instintos são temperados por nenhum sentimento de delicadeza ou
benevolência, nem pelas noções do justo e do injusto; a força bruta é sua única
lei. Não tem indústrias, e nem invenções, onde dedicam suas vidas à conquista
de alimentos. Mais mesmo assim, Deus não abandona nenhuma de suas criaturas. No
fundo tenebroso dessas inteligências encontra-se, latente, a vaga intuição de
um Ser Supremo, mais ou menos desenvolvido. Aonde esse instinto vem a ser suficiente
para que uns se tornem superiores aos outros, preparando-se para a eclosão de
uma vida mais plena. Porque eles não são criaturas degradadas, mas crianças que
crescem.
Entre
esses graus inferiores e mais elevados, há inumeráveis graus de espíritos, e
entre os Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, é
difícil reconhecer os que animaram os seres primitivos, da mesma maneira que,
no ser humano adulto é difícil reconhecer o antigo embrião.
Já nos mundos que atingiram um grau superior de evolução, as condições da
vida moral e material são muito diferentes das que encontramos em nosso planeta.
A forma dos corpos é sempre, como por toda parte, a humana, mas embelezada,
aperfeiçoada, e, sobretudo purificada. O corpo nada tem da materialidade
terrena, e não está por isso mesmo sujeito às necessidades, às doenças e às
deteriorações decorrentes do predomínio da matéria. Os sentidos mais sutis têm
percepções que a grosseria dos nossos órgãos sufoca. A leveza específica dos
corpos torna a locomoção rápida e fácil. Em vez de se arrastarem penosamente
sobre o solo, eles deslizam, por assim dizer, pela superfície ou pelo ar, pelo
esforço apenas da vontade, à maneira das representações de anjos ou dos manes
dos antigos nos Campos Elíseos. Os seres conservam à vontade os traços de suas
existências passadas, e aparecem aos amigos em suas formas conhecidas, mas
iluminadas por uma luz divina, transfiguradas pelas impressões interiores, que
são sempre elevadas. Em vez de rostos pálidos, arruinados pelos sofrimentos e
as paixões, a inteligência e a vida esplendem, com esse brilho que os pintores
traduziram pela auréola dos santos.
A
pouca resistência que a matéria oferece aos Espíritos já bastante adiantados,
facilita o desenvolvimento dos corpos e abrevia ou quase anula o período de
infância. A vida é isenta de cuidados e angústias, é proporcionalmente muito
mais longa que a da Terra. Em princípio, a longevidade é proporcional ao grau
de adiantamento dos mundos. A morte não tem nenhum dos horrores da
decomposição, e longe de ser motivo de pavor, é considerada como uma
transformação feliz, pois não existem dúvidas quanto ao futuro. Durante a vida,
não estando à alma encerrada numa matéria compacta, irradia e goza de uma
lucidez que a deixa num estado quase permanente de emancipação, permitindo a
livre transmissão do pensamento.
Nos mundos felizes,
a relação de povo para povo, sempre é amigáveis, jamais são perturbadas pelas
ambições de dominação e pelas guerras que lhes são consequentes. Não existem
senhores nem escravos, nem privilegiados de nascimentos. Só a superioridade
moral e intelectual determina as diferentes condições e confere a supremacia. A
autoridade é sempre respeitada, porque decorre unicamente do mérito e se exerce
sempre com justiça. O ser não procura elevar-se sobre o seu semelhante,
mas sobre si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é atingir a classe
dos Espíritos puros, e esse desejo incessante não constitui um tormento, mas
uma nobre ambição, que o faz estudar com ardor para igualá-los. Todos os
sentimentos ternos e elevados da natureza humana apresentam-se engrandecidos e
purificados. Os ódios, as mesquinharias dos ciúmes, as baixas cobiças da
inveja, são ali desconhecidos. Um sentimento de amor e fraternidade une a todos
os seres e os mais fortes ajudam os mais fracos. Suas posses são
correspondentes às possibilidades de aquisição de suas inteligências, mas
ninguém sofre a falta do necessário, porque ninguém ali se encontra em
expiação. Em uma palavra, o mal não existe.
No
nosso mundo, temos a necessidade do mal para sentir o bem, da noite para
admirar a luz, da doença para apreciar a saúde. Lá, esses contrastes não são
necessários. A eterna luz, a eterna bondade, a paz eterna da alma, proporcionam
uma alegria eterna, que nem as angústias da vida material, nem os contatos dos
maus, que ali não tem acesso, poderiam perturbar. Eis o que o Espírito humano
só dificilmente compreende. Ele foi engenhoso para pintar os tormentos do
inferno, mas jamais pôde representar as alegrias do céu. E isso por quê?
Porque, sendo inferior, só tem experimentado penas e misérias, e não pode
entrever as claridades celestes. Ele não pode falar daquilo que não conhece.
Mas, à medida que se eleva e se purifica, o seu horizonte se alarga e ele
compreende o bem que está à sua frente, como compreendeu o mal que deixou para
trás.
Esses mundos afortunados, entretanto, não são mundos privilegiados.
Porque Deus não usa de parcialidade para nenhum, de seus filhos. A todos os
mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem até lá. Fez que todos
partissem do mesmo ponto, e não dota a uns mais do que os outros. Os primeiros
lugares são acessíveis a todos: cabe-lhes conquistá-los pelo trabalho,
atingi-los o mais cedo possível, ou abandonar-se durante séculos e séculos no
meio da escória humana.
Bibliografia:
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Mensagem lida e interpretada pelo médium
Getulio Pacheco Quadrado.
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