O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO IX. PARAÍSO, INFERNO,
PURGATÓRIO, PARAÍSO PERDIDO.
Não existe
um lugar circunscrito no Universo como o ser humano diz, que está destinado às
penas e aos gozos dos Espíritos, isto de acordo com os seus méritos.
Pois é, as penas e os gozos são
inerentes ao grau de perfeição do Espírito, porém cada um traz em si mesmo,
o princípio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como os espíritos
estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a
uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais ou menos
felizes ou infelizes, segundo o grau de evolução do mundo que habitam.
De acordo com isso, o inferno e o
paraíso não existem como os seres humanos nos representam.
São mais do que
figuras: os Espíritos felizes e infelizes estão por toda
parte. Entretanto, como já foi dito, os Espíritos da mesma ordem se
reúnem por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.
Comentário de Kardec: A localização absoluta dos lugares de
penas e de recompensas só existe na imaginação dos seres humanos. Provém da sua
tendência de materializar e circunscrever as coisas cuja natureza
infinita não podem compreender.
Baseado
nisto tudo chegamos a conclusão que se deve entender por purgatório, um ser
representado pelas dores físicas e morais: é o tempo da expiação. É quase
sempre o que na Terra os seres humanos fazem o seu purgatório e que Deus
os faz expiar as suas faltas.
Comentário de Kardec: Aquilo que o ser humano
chama purgatório é também uma figura pela qual se deve entender, não
algum lugar determinado, mas o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em
expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos Espíritos
felizes. Operando-se essa purificação nas diversas encarnações, o purgatório
consiste nas provas da vida corpórea.
A explicação
que os Espíritos que revelam superioridade por sua linguagem tenham respondido
as pessoas bastante sérias, a respeito do inferno e do purgatório, e de acordo
com as ideias vulgarmente admitidas.
É que eles falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas
pessoas que os interrogam. Quando essas pessoas estão muito imbuídas de
certas ideias, eles não querem chocá-las muito rudemente, para não ferir
as suas convicções. Se um Espírito fosse dizer, sem precauções oratórias,
a um muçulmano, que Maomé não era um profeta, seria muito mal recebido.
Quanto aos Espíritos
que desejam instruir-nos, quando se pergunta sobre a sua situação eles
respondem, que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório.
É que quando eles são inferiores, não
estão completamente desmaterializados, e conservam uma parte de suas ideias
terrenas, e traduzem as suas impressões pelos termos que lhes são
familiares. Encontram-se num meio que não lhes permite sondar o futuro
senão de maneira deficiente. Essa é a causa por que em geral os Espíritos
errantes, ou recentemente libertados, falam como teriam feito se
estivessem na vida carnal. Inferno pode traduzir-se por uma vida de
provas extremamente penosas, com a incerteza de
melhora; purgatório, por uma vida também de provas, mas com a consciência
de um futuro melhor.
Quando se sofre de uma grande dor, o
ser humano diz que sofre como um danado? Não são mais que palavras, sempre
em sentido figurado.
Quanto o
que se deve entender por alma penada, é que é uma alma errante e sofredora, e incerta
do seu futuro, à qual podemos proporcionar um alívio que frequentemente
ela solicita ao vir comunicar-se conosco.
A palavra Céu, geralmente pensamos ser um lugar como
os Campos Elísios dos antigos, onde todos os bons Espíritos estão aglomerados
e confundidos, sem outra preocupação que a de gozar na eternidade uma
felicidade passiva. Pois não vem a ser, e sim o espaço universal; são os
planetas, as estrelas e todos os mundos superiores em que os Espíritos
gozam de todas as suas faculdades, sem as atribulações da vida material
nem as angústias inerentes à inferioridade.
O que se
entende o que alguns espíritos falam que habitam o quarto, o quinto céu etc. É que eles respondem de acordo com o linguajar
daqui do nosso planeta. Mais nos dá a impressão de muitos céus sobrepostos como
os andares de uma casa; mas para eles as palavras “quarto, quinto céu”
exprimem diferentes graus de purificação e por conseguinte de
felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se
ele está no inferno. Se for infeliz dirá que sim, porque para
ele inferno é sinônimo de sofrimento; mas ele sabe muito bem que
não se trata de uma fornalha. Um pagão nos responderia que estava
no Tártaro.
Comentário de Kardec: Acontece o mesmo com outras expressões
análogas, tais como as de cidade das flores, cidade dos eleitos, segunda ou
terceira esfera etc., que não são mais do que alegorias empregadas por certos
Espíritos seja como figuras, seja por ignorância da realidade das coisas e
mesmo das mais simples noções científicas.
Segundo a ideia
restrita que outrora se fazia dos lugares de penas e de recompensas, e
sobretudo de acordo com a opinião de que a Terra era o centro do Universo, que
o céu formava uma abóbada na qual havia uma região de estrelas, colocava-se
o céu no alto e o inferno em baixo. Daí as expressões: subir ao
céu, estar no mais alto do céus, ser precipitado no inferno. Hoje que a Ciência
demonstrou que a Terra não é mais do que um dos menores mundos entre tantos
milhões de outros, e sem importância especial; que traçou a história da sua
formação e descreveu a sua constituição, provando que o espaço é infinito, de
maneira que não há nem alto nem baixo no Universo, faz-se necessário renunciar
a colocar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares baixos. Quanto ao
purgatório, nenhum lugar lhe havia sido marcado. Estava reservado ao
Espiritismo dar sobre todas essas coisas a mais racional explicação, a mais
grandiosa e ao mesmo tempo a mais consoladora para a Humanidade. Assim, podemos
dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e o nosso paraíso e que
encontramos o nosso purgatório em nossa encarnação, em nossas vidas corpóreas
ou físicas.
Quanto as
palavras de Jesus “meu reino não é deste mundo”, devemos entender que Ele
queria dizer no sentido figurado o seguinte:
Ele queria dizer que não
reina senão sobre os corações puros e desinteressados. Ele está em todos
os lugares em que domine o amor do bem, mas os seres humanos, ávidos das
coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra, não estão com Ele.
Com referência se um dia o bem
reinará aqui na Terra, diremos que sim, desde quando, entre os Espíritos que a
vêm habitar, os bons superarem os maus. Então eles farão reinar o amor e a
justiça, que são a fonte do bem e da felicidade. É pelo progresso moral e
pela prática das leis de Deus que o ser humano atrairá para a Terra os
bons Espíritos e afastará os maus. Mas os maus só o deixarão quando o ser
humano tiver banido daqui o orgulho e o egoísmo.
A transformação da Humanidade foi
predita e está chegando a esse momento em que todos os seres humanos
progressistas estarão se apressando. Ela se realizará pela encarnação de
Espíritos melhores, que constituirão sobre a Terra uma nova geração. Então
os Espíritos dos maus, que a morte ceifa diariamente, e todos os que
tendem a deter a marcha das coisas serão excluídos, porque estariam
deslocados entre os seres humanos de bem, cuja felicidade os perturbariam. Irão
para mundos novos, menos adiantados, cumprir
missões penosas, nas quais poderão trabalhar pelo seu próprio
adiantamento ao mesmo tempo que trabalharão para o adiantamento de seus
irmãos ainda mais atrasados. Hoje se vê neste planeta Terra, transformada
a sublime figura do Paraíso Perdido. É no ser humano que veio à Terra
em condições semelhantes, trazendo em si os germes de suas paixões e os
traços de sua inferioridade primitiva, a figura não
menos sublime do pecado original? Considerado dessa maneira, o pecado
original se refere à natureza ainda imperfeita do ser humano, que só é responsável
por si mesmo e por suas próprias faltas, e não pelas dos seus pais.
Pois é, os Espíritos Bons conclamam que todos, seres humanos de fé e de
boa vontade, trabalhem, portanto, com zelo e com coragem na grande obra da
regeneração, porque colherão centuplicado o grão que tiverem semeado.
Infelizes dos que fecham os olhos à luz, pois preparam para si mesmos
longos séculos de trevas e de decepções. Infelizes dos que colocam todas
as suas alegrias nos bens deste mundo, porque sofrerão mais privações que
os gozos que tenham tido. Infelizes sobretudo dos egoístas, porque não
encontrarão ninguém para os ajudar a carregar o fardo das
suas misérias. (São Luís).
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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