O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO V.PENAS TEMPORAIS.
O Espírito
que expia as suas culpas numa nova existência, passa apenas por sofrimentos
materiais. Assim, não será exato dizer que após a morte a alma só tem
sofrimentos morais.
É bem verdade que, reencarnada, a
alma encontra nas tribulações da vida o seu sofrimento; mas apenas o corpo
sofre materialmente. Dizemos em geral que o morto já não sofre mais, mas
isso nem sempre é verdade. Como Espírito, não sofre mais dores físicas, mas,
segundo as faltas que tenha cometido, pode ter dores morais mais
cruciantes, e numa nova existência pode ser ainda mais infeliz. O mau rico
passará a esmolar e estará submetido a todas as privações da miséria; o
orgulhoso, a todas as humilhações; aquele que abusa de sua autoridade e
trata os seus subordinados com desprezo e dureza será forçado a obedecer a
um senhor mais duro do que ele tenha sido. Todas as penas e atribulações
da vida são expiações de faltas de outra existência, quando não se trata
de consequências das faltas da existência atual. Ao sairmos daqui compreenderemos
bem. O ser humano que se crê feliz na Terra porque pode satisfazer
suas paixões, e o que faz menos esforços para se melhorar. Em geral,
ele começa a expiar essa felicidade efêmera na própria vida que leva, mas
certamente a expiará numa outra existência tão material como essa.
As
vicissitudes da vida não são sempre a punição das faltas atuais. Já foi dito que:
são provas impostas por Deus ou escolhidas por ser mesmos quando no estado
de Espírito e antes da sua reencarnação, para expiar as faltas cometidas
numa outra existência. Porque jamais a infração das leis de Deus, e
sobretudo da lei de justiça, fica impune; se a punição não é feita nesta
vida, será necessariamente em outra. E por isso que aquele que é justo aos
seus olhos vê-se frequentemente atingido pelo seu passado.
A
reencarnação da alma num mundo menos grosseiro é a consequência de sua purificação. Porque,
à medida que os Espíritos se purificam, vão se encarnando em mundos mais e
mais perfeitos, até que se tenham despojado de toda matéria e lavado de
todas as manchas, para gozarem eternamente da felicidade dos Espíritos
puros no seio de Deus.
Comentário de Kardec: Nos mundos em que a existência é menos
material do que neste, as necessidades são menos grosseiras e todos os
sofrimentos físicos são menos vivos. Os seres humanos não mais conhecem as más
paixões que, nos mundos inferiores, os fazem inimigos uns dos outros. Não tendo
nenhum motivo de ódio ou de ciúme, vivem em paz porque praticam a lei de
justiça, amor e caridade. Não conhecem os aborrecimentos e os cuidados que
nascem da inveja, do orgulho e do egoísmo, e que constituem o tormento de nossa
existência terrena.
O Espírito
que progrediu na sua existência terrena pode às vezes reencarnar no mesmo mundo, se não pôde
cumprir a sua, ele mesmo pedir para completá-la numa nova existência. Mas
então não será mais para ele uma expiação.
O que
acontece com o ser humano que, sem praticar o mal, nada fez para se libertar da
influência da matéria, desde que não deu nenhum passo na direção da perfeição, deve recomeçar
uma existência semelhante a que deixou. Fica estacionário e é assim que
pode prolongar os sofrimentos de sua expiação.
Há pessoas
para as quais a vida flui numa serenidade perfeita; que, não tendo necessidade
de fazer qualquer coisa para si mesmas, estão livres de cuidados. Essa
existência feliz é uma prova de que nada têm a expiar de uma existência
anterior. Em geral essa serenidade não é mais do que aparente. Podem ter
escolhido essa existência, mas, quando a deixam, percebem que ela não os
ajudou a progredir; então, como os preguiçosos, lamentam o tempo perdido.
Devemos saber que o Espírito não pode adquirir conhecimento e se elevar
senão através da atividade; se ele adormece na despreocupação, não se
adianta. É semelhante àquele que, de acordo com os seus costumes, tem
necessidade de trabalhar e vai passear ou dormir para nada fazer. Devemos
saber também que cada qual terá de prestar contas da inatividade voluntária
durante a sua existência; essa inutilidade é sempre fatal à felicidade
futura. A soma da felicidade futura está na razão da soma do bem que
tiver feito; a da infelicidade, na razão do mal e dos infelizes que se
tenham feito.
Há
pessoas que, sem serem positivamente más, tornam infelizes em virtude de seu
caráter, todos os que as rodeiam. A consequência disso para elas, é que seguramente não são
boas e expiarão pela visão daqueles que se tornaram infelizes, cuja
presença constituirá para elas uma repreensão. Depois, numa outra
existência, sofrerão aquilo que fizeram sofrer.
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