Relacionamentos
É-nos possível
viver sem o afeto das outras pessoas? Existe uma fonte de realização profunda?
O que é necessário para que o amor possa existir e se manifestar? Por que
existem pessoas que excluem de sua vida parentes, amigos e até filhos?
Diferença significa divergência? Somos influenciados pelos relacionamentos que
instituímos?
Como nota
explicativa da questão 938, de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
registrou:
“A Natureza deu ao
homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores prazeres que lhe
seja concedido sobre a Terra é o de reencontrar corações que simpatizam com o
seu.” [1]
Em nossa essência,
existe instalada a necessidade de afeto, e não suportamos viver sem isso!
Precisamos nos sentir amados, respeitados e de algo palpável que nos faça
lembrar que o amor existe. Igualmente necessitamos das manifestações de
carinho, de calor humano, de atenção, de cuidados.
Nossas buscas de
felicidade poderão percorrer vários caminhos, mas todas elas serão frustradas
se não descobrirmos que só existe uma única fonte de realização profunda: o
amor. É ele que nos permite alcançar a absoluta satisfação de nossa verdadeira
natureza. Nesse sentido, o Espírito Joanna de Ângelis enfatiza:
O ser humano necessita do calor
afetivo de outrem, mediante cuja conquista amplia o seu campo de emotividade
superior, desenvolvendo sentimentos que dormem e são aquecidos pelo
relacionamento mútuo, que enseja amadurecimento e amor. Concomitantemente,
espraia-se esse desejo de manter contato com as expressões mais variadas da
vida, nas quais haure alegria e renovação de objetivos, por ampliar a
capacidade de amar e de experienciar novas realizações.
O fluxo da vida humana se manifesta
através dos relacionamentos das criaturas umas com as outras, contribuindo para
uma melhor e mais eficiente convivência social. Nas expressões mais primárias
do comportamento, o instinto gregário aproxima os seres, a fim de os preservar
mediante a união de energia que permutam, mesmo que sem se darem conta.
O desafio do relacionamento é um
gigantesco convite ao amor, a fim de alcançar a plenitude existencial. [2]
Torna-se incompleto
discursar sobre o amor, se não abordarmos sobre o que é necessário para que ele
possa existir e se manifestar: os relacionamentos, a convivência.
Ainda segundo O
Livro dos Espíritos, na questão 766, os Espíritos Superiores afirmam
que “Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus não deu inutilmente
ao homem a palavra e todas as suas faculdades necessárias à vida de relação”.
[1]
O ser humano não
existe como ser isolado no tempo e no espaço; ele é o produto das interações
que estabelece com os demais. Somos, portanto, profundamente influenciados
pelos relacionamentos que instituímos, necessitando deles para nos tornarmos
seres completos e saudáveis.
Mas, conviver não
significa, necessariamente, conhecer o que se passa no mundo íntimo das
pessoas. O ditado popular “perto dos olhos, mas longe do coração” demonstra
que, nem sempre, estar próximo denota reciprocidade de sentimentos, de
interesses, de pontos de vista.
Todo relacionamento
humano é uma via de mão dupla que se estabelece, sobretudo, pelo prazer e
compensações emocionais que proporciona aos envolvidos; e ele não morre por si
mesmo. E muitas relações definham, lentamente, porque as pessoas não
compreendem o quanto ou que tipo de manutenção, tempo, trabalho e cuidados elas
requerem. É também uma entidade viva, um processo dinâmico e em constante
mudança, que precisa ser cultivado através da superação dos conflitos que,
naturalmente, surgem; e, dependendo do nível de experiência, da habilidade de
ajustamento e das próprias necessidades, cada pessoa irá responder de maneira
diferente a esse desafio.
O ser humano de forma alguma pode
viver sem os relacionamentos que lhe constituem fatores básicos para o
enfrentamento dos desafios e o desenvolvimento dos valores que lhe jazem
interiormente de forma embrionária. [3]
Estando nós, como
espíritos imortais, regidos pela Lei de Sociedade [1], necessitamos dos
contatos interpessoais, porque são eles oportunidades excepcionais de
desenvolvimento interior. Neles é que revelamos nossas verdadeiras
características e é através deles que temos a possibilidade de vencer o
egoísmo, a raiva, a desconfiança, o medo, aprendendo mais sobre a generosidade,
a tolerância e o perdão. Esse é o imprescindível trabalho interior que amplia o
discernimento sobre o bem e o mal, que permite o encontro com a paz e a
felicidade, bem como contribui para o progresso espiritual.
Kardec, na questão
768, de O Livro dos Espíritos, explica:
Nenhum homem tem as faculdades
completas. Pela união social, eles se completam uns pelos outros para assegurar
seu bem estar e progredir. Por isso, tendo necessidade uns dos outros, são
feitos para viver em sociedade e não isolados. [1]
Tal progresso
trata-se de um processo individual e coletivo, ao mesmo tempo. Individual,
porque é a criatura que institui sua própria trajetória evolutiva; porém,
coletivo, porque necessitamos das outras pessoas tanto quanto elas precisam de
nós. O desenvolvimento e a realização de uma pessoa em determinado aspecto da
vida, certamente, complementa o déficit de outra, e vice versa.
****
Na obra O
despertar do espírito, temos a seguinte fábula:
Numa já remota era glacial, os porcos
espinhos sentiram-se ameaçados de destruição pelo intenso frio que reinava por
toda parte. Por instinto, uniram-se e conseguiram sobreviver em razão do calor
que irradiavam. Não obstante, pelo fato de estarem muito próximos, uns dos
outros, passaram a ferir-se mutuamente, provocando reações inesperadas, quais o
afastamento de alguns deles. Como consequência da decisão, todos aqueles que se
encontravam distantes passaram a morrer por falta de calor. Os sobreviventes,
percebendo o que acontecia, reaproximaram-se, agora porém, conhecedores dos
cuidados que deveriam manter, a fim de não se magoarem reciprocamente. Graças a
essa conclusão feliz, sobreviveram à terrível calamidade...
O espírito de
Ângelis comenta:
Trata-se de excelente lição para uma
feliz convivência, um produtivo relacionamento, respeitando-se sempre os
valores daquele a quem se busca, sua privacidade, seus sentimentos, suas
conquistas e prejuízos, que fazem parte da sua realidade pessoal. [4]
Os relacionamentos de qualquer
natureza dependem sempre do nível de consciência daqueles que estão envolvidos.
Havendo maturidade psicológica e compreensão de respeito pelo outro, facilmente
se aprofundam os sentimentos, mantendo-se admirável comunhão de interesses e
afinidades, que mais se intensificam, à medida que as circunstâncias permitem o
entrosamento da convivência. [5]
Segurança, alegria
e sucesso na vida estão diretamente associados à capacidade de nos
relacionarmos uns com os outros, porém, com maturidade psicológica e
comprometimento com o bem-estar geral. Essas são as posturas das criaturas que
demonstram espírito de conciliação, flexibilidade no comportamento e
discernimento para, adequadamente, compreenderem as particularidades de cada
indivíduo.
Entretanto, em
nosso proceder diário, constatamos o quanto a falta de habilidade e
conhecimento restringe a vivência da harmonia. Alguns de nossos bons momentos
são destruídos pela crítica, pela censura e competição, pelos julgamentos rígidos,
limitando consideravelmente nossos intercâmbios interpessoais.
Não existem duas
pessoas rigorosamente iguais. Cada indivíduo possui um modo bastante específico
de ser e de pensar, de se expressar e de manifestar seus sentimentos e
afetividade. Porém, o que ocorre na grande maioria das relações é que, se as
opiniões são divergentes, por exemplo, cada um tenta impor seu ponto de vista,
fazendo com que o diálogo acabe em discussão.
Quantas são as
pessoas que excluem, de sua vida, parentes, amigos e até filhos, por não
tolerarem as contrariedades e as diferenças. Entretanto, cada um de nós possui
qualidades únicas, que podem enriquecer nossas interações! Os relacionamentos
mais consistentes são justamente aqueles que se alicerçam na premissa de que
diferença não significa divergência.
Entre os seres
humanos é que surgem os grandes desafios psicológicos, aqueles que decorrem do
nível de consciência individual, do seu desenvolvimento de sentimentos, do
estágio de maturidade em que cada qual se encontra.
Por essa razão, é
indispensável que sejam criadas emoções que facultem união, intercâmbio, a fim
de serem atingidos os objetivos básicos da existência corporal, que são as
expressões da lídima fraternidade.
Nessa busca
saudável de comunhão com os semelhantes, a alegria se irradia em forma de
otimismo e esperança, que são fundamentais à existência equilibrada.
Todo ser humano é
portador de força criadora que se desenvolve através do relacionamento com o
outro da mesma espécie. Para o êxito do cometimento, torna-se fundamental o
autodescobrimento, a fim de serem identificados o lado negativo que faz parte
da personalidade, a face escura desse poder natural, evitando que predominem
nas relações que sejam estabelecidas. Enquanto forem ignorados esses ângulos
ainda deficientes e perturbadores, os desentendimentos entre aqueles que se
buscam, fazem-se predominantes ao invés das identificações que os devem unir,
porque cada qual pretende impor-se sobre o outro, olvidando que nessa atividade
de relacionamento não há valor que se sobreponha ou que se submeta, mas que
todos se encontram no mesmo patamar de interesse e de significação
estabelecendo linhas de perfeito respeito recíproco.
O bom
relacionamento é aquele que resulta do contato que inspira, que emula e que
proporciona bem estar, sem conteúdos temerosos ou repulsivos, geradores de
ansiedade e de mal estar.
Cada pessoa tem
algo a oferecer para o grupo social no qual se movimenta, e esse contributo é
importante para o conjunto, que o não pode prescindir. Qualquer imposição que
decorra do capricho egóico de algum dos membros, torna-se fator de impedimento
para a saudável formação da sociedade. É por isso que os dominadores, os poderosos,
aqueles que se impõem, tornam-se temidos, mas nunca amados.
(...) Desse
modo, o indivíduo que admite a própria fragilidade, a sua humanidade, e
compreende a necessidade da presença de outrem para avançar, está preparado
para a convivência social, para um relacionamento eficaz. Enquanto nele
predominem a presunção e a exclusiva autossatisfação, defrontará muitas
dificuldades para se harmonizar na sociedade, porque não pode vencer a ambição
mórbida da autoprojeção.
(...) Um
relacionamento psicologicamente maduro é sempre sustentado pela lealdade de
convivência, na qual os propósitos que vinculam os indivíduos entre si são
discutidos com naturalidade e sentimento de aprendizagem de novos recursos para
o bom desempenho social.
Sendo cada pessoa
um elo da imensa corrente que deve reunir todos os homens e mulheres, o
ajustamento emocional ao grupo é indispensável, contribuindo para o
fortalecimento da estrutura comportamental de todos.
(...) A sociedade
equilibrada deve funcionar como um orquestra afinada executando especial obra
sinfônica, na qual predomina a harmonia dos movimentos e das notas musicais sob
a regência feliz do ideal que proporciona alegria e paz.
Para que isso seja
logrado, o amor desempenha um papel especial: o de conseguir superar as
dificuldades naturais da fase inicial da identificação, quando todos ainda não
se conhecem e mantêm o compreensível receio de suscetibilização de um em
relação ao outro, ou de não poderem corresponder ao que de cada qual é
esperado.
O amor, em qualquer
situação, produz enzimas psíquicas que contribuem eficientemente em favor do
metabolismo social, produzindo o quimismo necessário à renovação de todas as
suas células e do organismo total como efeito inevitável. [6]
Silvia Helena
Visnadi Pessenda
MENSAGEM DIVULGADA
PELO MÉDIUM GETULIO PACHEO QUADRADO.
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