O idoso na família espírita.
A Doutrina Espírita é a doutrina que fortalece e
amplia o nosso entendimento acerca do amor ao próximo ensinado e
vivenciado pelo Mestre Jesus. Possibilita-nos a compreensão de que somos todos
Espíritos em processo evolutivo, com conquistas morais e espirituais
alcançadas, mas com muito mais a desenvolver, apresentando-nos ainda na
infância espiritual de nossa vida maior. Através desse entendimento, podemos
perceber mais facilmente nosso próximo como um irmão de caminhada, que tem
tantas virtudes quanto defeitos, assim como nós os possuímos e que precisa de
auxílio e compreensão, como também necessitamos.
Encontramos na família o grande laboratório
caracterizado pela vivência cotidiana com irmãos nossos das mais diversas
características e em várias posições de parentesco, como pais, filhos, irmãos,
tios, avós, entre outros. Nesse precioso laboratório, temos o ensejo de
vivenciar experiências valiosas para o exercício do verdadeiro amor fraternal
pregado por Jesus, em consonância com a Lei Maior, que é, justamente, a Lei do
Amor.
No ambiente familiar encontramos os pais aprendendo
a dedicar-se ao próximo, na figura dos filhos queridos e necessitados dos seus
cuidados para darem os primeiros passos na sua jornada reencarna tória;
encontramos irmãos no aprendizado do respeito, da divisão, do cuidado; primos
compartilhando das descobertas e dos desafios próprios da juventude
desafiadora; encontramos ainda aqueles mais velhos nesta experiência
existencial no papel de pais, avós, tios, em mais avançada idade, que chamamos
idosos e aos quais dedicamos uma atenção mais profunda nos parágrafos
seguintes.
O idoso merece e necessita atenção e cuidados
especiais pela fase de vida em que se encontra. Após uma existência de
trabalho, dedicação ao cuidado de filhos, sobrinhos, entre muitas venturas e
desventuras experiência das, encontra agora o esgotamento das forças físicas e,
na grande maioria das vezes, também o esgotamento de possibilidades de
realização profissional e social.
André Trigueiro aborda a questão, tratando dos
fatores de risco de suicídio, entre os quais o grupo dos idosos apresenta
elevado índice, afirmando que:
O envelhecimento impõe a necessidade de saber lidar
com as perdas. Do ponto de vista físico, vem a perda progressiva da saúde, da
musculatura, da memória, da audição e visão, e das melhores condições de
navegabilidade em um corpo que vai inspirando cada vez mais cuidados. (…)
No âmbito social, os efeitos do envelhecimento são
múltiplos. Aposentados perdem o contato com os colegas de trabalho (…). Amigos
(ou cônjuges) de muitos anos ou se afastam ou vão desencarnando e a experiência
da solidão – muito comum nesta fase da vida – requer atenção das pessoas
próximas e algum movimento no sentido contrário, evitando-se o isolamento. 1
Observados estes fatores das inúmeras perdas que
vivencia o idoso, a família espírita na qual ele se encontre, tem, além do dever,
a grande oportunidade de retribuir o amor e a dedicação recebidos dele durante
toda a sua vida. Oportunidade de acolhê-lo, não como um fardo a ser arduamente
carregado, mas como uma joia delicada e frágil que Jesus nos coloca nas mãos
para que auxiliemos que os últimos lampejos de seu brilho sejam os mais belos
da existência corporal. Fazer com que ele se sinta, apesar de todas as suas
limitações, alguém importante e útil, respeitado e valorizado dentro de seu
lar.
Kardec2 orienta que possamos lhe dar os
mimos de seu agrado, o mais confortável cômodo da casa, a alimentação favorita.
Oportunidade bendita de exercitar a gratidão, retribuindo todos os cuidados que
ele possa nos ter dispensado durante sua existência e, caso não tenha sido
dessa forma, de exercitar o amor verdadeiro que dá sem esperar nada em troca.
Oportunidade de irmos nos despindo do egoísmo devastador, que nos aprisiona na
busca da satisfação de nossos desejos e prazeres, abrindo mão de nós mesmos em
favor desse nosso próximo necessitado de cuidados, nessa delicada fase da vida.
Lembramos ainda a recomendação em O Livro dos
Espíritos3 de que tem o homem o direito de repousar na velhice,
sendo que o forte deve trabalhar para o fraco, suprindo as suas
necessidades, tal qual pode ocorrer na idade avançada em que o idoso não tem
condições de trabalho e, por isso mesmo, devem garantir seu sustento e cuidado
a família e ou a sociedade.
Essa é também oportunidade valiosa de ensinar às
nossas crianças e aos nossos jovens o respeito àqueles que trilharam caminhos
que eles ainda irão desbravar, aprendendo com a sua experiência, com a sua
história, com suas conquistas e com seus equívocos.
Cuidar e conviver com o idoso é mais uma
manifestação da bondade Divina, ensejando-nos construir a ventura de nossos
dias vindouros através da prática da caridade e do amor ao próximo,
conforme nos exorta o Mestre Jesus e nos acrescenta o mestre lionês Allan
Kardec, afirmando que Fora da caridade não há salvação.
Bibliografia:
1 TRIGUEIRO, André. Viver é a melhor opção: a
prevenção do suicídio no Brasil e no mundo. São Bernardo do Campo: Correio
Fraterno, 2017. cap. 4.
2 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. Brasília: FEB, 2013. cap. XIV, item 3.
- ______.
O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 2013. pt. 3, cap. III, item
685e 685a.
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