sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O INFERNO PURGATÓRIO E O PARAÍZO.

 



O LIVRO DOS ESPÍRITOS. PARTE QUARTA. ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES. CAPÍTULO II. PENALIDADES E PRAZERES FUTUROS. PARAÍSO, INFERNO E PURGATÓRIO.

 

As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição do Espírito. Cada um traz em si mesmo o principio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais ou menos felizes ou infelizes segundo o grau de evolução do mundo que habitam.

O inferno e o paraíso não existem como os seres humanos os representam.

Não são mais do que figuras alegóricas. Os Espíritos felizes e infelizes estão por  toda parte. Entretanto, como já o foi dito também, os Espíritos da mesma ordem se reúnem por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.

A localização absoluta dos lugares de penas e de recompensas só existe na imaginação dos seres humanos. Provém da sua tendência de materializar e circunscrever as coisas cuja natureza infinita não podem compreender.

O que se deve entender por purgatório, são dores físicas e morais: é o tempo da expiação. É quase sempre na Terra que fazemos o nosso purgatório e que Deus nos faz expiar as nossas faltas.

Aquilo que o ser humano chama purgatório é também uma figura pela qual se deve entender, não algum lugar determinado, mas o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos Espíritos felizes. Operando-se essa purificação nas diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corpórea.

A explicação de que os Espíritos que revelam superioridade por sua linguagem tenham respondido a pessoas bastante sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de acordo com as ideias vulgarmente admitidas. É que eles falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando essas pessoas estão muito imbuídas de certas ideias, eles não querem chocá-las muito rudemente, para não ferir as suas convicções. Se um Espírito fosse dizer, sem precauções oratórias, a um muçulmano, que Maomé não era um profeta, seria muito mal recebido.

A explicação de que os Espíritos interrogados sobre a sua situação tenham respondido que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório, é.

Quando eles são inferiores e não estão completamente desmaterializados, conservam uma parte de suas ideias terrenas e traduzem as suas impressões pelos termos que lhes são familiares. Encontram-se num meio que não lhes permite sondar o futuro senão de maneira deficiente. Essa é a causa por que em geral os Espíritos errantes, ou recentemente libertados, falam como teriam feito se estivessem na vida carnal. Inferno pode traduzir-se por uma vida de provas extremamente penosas, com a incerteza de melhora; purgatório, por uma vida também de provas, mas com a consciência de um futuro melhor. Quando sofremos uma grande dor, não dizemos que sofremos como um danado. Não são mais que palavras, sempre em sentido figurado.

Alma penada é uma alma errante e sofredora, incerta do seu futuro, à qual podemos proporcionar um alívio que frequentemente ela solicita ao vir comunicar-se convosco.

A palavra Céu geralmente é pensamento do ser humano, ser que seja um lugar como os Campos Elísios dos antigos, onde todos os bons Espíritos estão aglomerados e confundidos, sem outra preocupação que a de gozar na eternidade uma felicidade passiva. Não. É o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores em que os Espíritos gozam de todas as suas faculdades, sem as atribulações da vida material nem as angústias inerentes à inferioridade.

Sobre o pronunciamento de alguns Espíritos que disseram habitar o quarto, o quinto céu etc., quer dizer que céu habitam, porque tendemos a ideia de muitos céus sobrepostos como os andares de uma casa; então eles respondem de acordo com a nossa linguagem. Mas para eles as palavras “quarto, quinto céu” exprimem diferentes graus de purificação e, por conseguinte de felicidade.  É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se ele está no inferno. Se for infeliz dirá que sim, porque para ele inferno é sinônimo de sofrimento; mas ele sabe muito bem que não se trata de uma fornalha. Um pagão nos responderia que estava no Tártaro.

Comentário de Kardec: Acontece o mesmo com outras expressões análogas, tais como as de cidade das flores, cidade dos eleitos, segunda ou terceira esfera etc., que não são mais do que alegorias empregadas por certos Espíritos seja como figuras, seja por ignorância da realidade das coisas e mesmo das mais simples noções científicas.

Segundo a ideia restrita que outrora se fazia dos lugares de penas e de recompensas, e, sobretudo de acordo com a opinião de que a Terra era o centro do Universo, que o céu formava uma abóbada na qual havia uma região de estrelas,  colocava-se o céu no alto e o inferno em baixo. Dai as expressões: subir ao céu, estar no mais alto dos céus, ser precipitado no inferno. Hoje que a Ciência demonstrou que a Terra não é mais do que um dos menores mundos entre tantos milhões de outros, e sem importância especial; que traçou a história da sua formação e descreveu a sua constituição, provando que o espaço é infinito, de maneira que não há nem alto nem baixo no Universo, faz-se necessário renunciar a colocar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares baixos. Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe havia sido marcado. Estava reservado ao Espiritismo dar sobre todas essas coisas a mais racional explicação, a mais grandiosa e ao mesmo tempo a mais consoladora para a Humanidade. Assim, podemos dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e o nosso paraíso e que encontramos o nosso purgatório em nossa encarnação, em nossas vidas corpóreas ou físicas.

A explicação das palavras do Cristo: “Meu reino não é deste mundo”, é que o Cristo falou em sentido figurado. Queria dizer que não reina senão sobre os corações puros e desinteressados. Ele está em todos os lugares em que domine o amor do bem, mas os seres humanos, ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra, não estão com ele.

O reino do bem poderá um dia realizar-se na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons superarem os maus. Então eles farão reinar o amor e a justiça, que são a fonte do bem e da felicidade. São pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus que o ser humano atrairá para a Terra os bons Espíritos e afastará os maus. Mas os maus só a deixarão quando o ser tiver banido daqui o orgulho e o egoísmo.

A transformação da Humanidade foi predita e chegamos a esse momento em que todos os seres humanos progressistas estão se apressando. Ela se realizará pela encarnação de Espíritos melhores, que constituirão sobre a Terra uma nova geração. Então os Espíritos dos maus, que a morte ceifa diariamente, e todos os que tendem a deter a marcha das coisas serão excluídos, porque estariam deslocados entre os seres de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, cumprir missões penosas, nas quais poderão trabalhar pelo seu próprio adiantamento ao mesmo tempo que trabalharão para o adiantamento de seus irmãos ainda mais atrasados.  E no ser humano que veio à Terra em condições semelhantes, trazendo em si os germes de suas paixões e os traços de sua inferioridade primitiva, a  figura não menos sublime do pecado original. Considerado dessa maneira, o pecado original se refere à natureza ainda imperfeita do ser que só é responsável por si mesmo e por suas próprias faltas, e não pelas dos seus pais.

Nós todos, seres de fé e de boa vontade, trabalhemos, portanto, com zelo e com coragem na grande obra da regeneração, porque colheremos centuplicado o grão que tivermos semeado. Infelizes dos que fecham os olhos à luz, pois preparam para si mesmos longos séculos de trevas e de decepções. Infelizes dos que colocam todas as suas alegrias nos bens deste mundo, porque sofrerão mais privações que os gozos que tenham tido. Infelizes, sobretudo dos egoístas, porque não encontrarão ninguém para ajudá-los a carregar o fardo das suas misérias.

 

BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.

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