Revista Espírita, fevereiro de 1858
GRÁU DE EVOLUÇÃO DOS ESPÍRITOS.
Um ponto capital, na Doutrina Espírita, é o das diferenças que
existem, entre os Espíritos, sob o duplo intercâmbio intelectual e moral; seu
ensinamento, a esse respeito, jamais variou; mas, não é menos essencial saber
que não pertencem, perpetuamente, à mesma ordem, e que, consequentemente, essas
ordens não se constituem em espécies
distintas: são diferentes
graus de desenvolvimento. Os Espíritos seguem a marcha progressiva da Natureza;
os das ordens inferiores são ainda imperfeitos; alcançam os graus superiores
depois de estarem depurados; avançam na hierarquia à medida que adquirem as
qualidades, as experiências que lhes faltam. A criança, no berço, não se parece
ao que será na idade madura, e, todavia, é sempre o mesmo ser.
A classificação dos Espíritos está baseada no grau do seu
adiantamento, nas qualidades que adquiriram, e nas imperfeições das quais,
ainda, não se despojaram. Essa classificação, de resto, nada tem de absoluta;
cada categoria não apresenta um caráter distinto senão no seu conjunto; mas, de
um grau ao outro a transição é imperceptível, e, sobre os limites, a nuança se
apaga como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou, ainda, como
nos diferentes períodos da vida do homem. Pode-se, pois, formar um maior ou
menor número de classes segundo o ponto de vista sob o qual se considera a
questão. Ocorre aqui como em todos os sistemas de classificações científicas;
os sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou
menos cômodos para a inteligência, porém, quaisquer que sejam, não mudam nada
no fundo da ciência. Os Espíritos, interrogados sobre esse ponto, puderam,
pois, variar no número das categorias, sem que isso tivesse consequências
sérias. Serviu-se dessa aparente contradição, sem refletir que eles não ligam
nenhuma importância ao que é puramente convencional; para eles, o pensamento é
tudo; nos deixam a forma, a escolha das palavras, as classificações, em uma
palavra, os sistemas.
Acrescentemos, ainda, esta consideração de que não se deve,
jamais, perder de vista, que, entre os Espíritos, como entre os homens, há os
muito ignorantes, e que não seria demais se colocar em guarda contra a
tendência a crer que todos devem tudo saber porque são Espíritos. Toda
classificação exige método, análise e conhecimento profundo do assunto. Ora, no
mundo dos Espíritos, os que têm conhecimentos limitados são, como aqui os
ignorantes, inabilitados a abarcar um conjunto, a formular um sistema; aqueles
mesmo que disso são capazes, podem variar nos detalhes, segundo seu ponto de
vista, sobretudo quando uma divisão nada tem de absoluta. Linnée, Jussieu,
Tournefort, têm, cada um, o seu método, e a Botânica não mudou por isso; é que
não inventaram nem as plantas e nem os seus caracteres; observaram as analogias
segundo as quais "formaram os grupos ou classes. Foi assim que procedemos;
não inventamos nem os Espíritos e nem os seus caracteres; vimos e observamos,
julgamo-los por suas palavras e atos, depois foram classificados por
semelhanças; é o que cada um teria feito em nosso lugar.
Não podemos, entretanto, reivindicar a totalidade desse trabalho
como sendo obra nossa. Se o quadro, que damos em seguida, não foi textualmente
traçado pelos Espíritos, e se dele tivemos a iniciativa, todos os elementos dos
quais se compõe foram tomados dos seus ensinamentos; não nos restou mais do que
formular-lhe a disposição material.
Os Espíritos admitem, geralmente, três categorias principais ou
três grandes divisões. Na última, a que está na base da escala, estão os
Espíritos imperfeitos, que têm, ainda, todos ou quase todos os degraus a
percorrer; caracterizam-se pela predominância da matéria sobre o Espírito e
pela propensão ao mal. Os da segunda, caracterizam-se pela predominância do
Espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: são os bons Espíritos. A
primeira, enfim, compreende os Puros Espíritos, aqueles que alcançaram o
supremo grau de perfeição.
Essa divisão nos parece perfeitamente racional e nos apresenta
caracteres bem definidos; não nos restou mais do que fazer ressaltar, por um número
suficiente de subdivisões, as nuanças principais do conjunto; foi isso o que
fizemos com o concurso dos Espíritos, cujas instruções benevolentes jamais nos
faltaram.
Com a ajuda desse quadro, será fácil determinar a classe e o grau
de superioridade, ou inferioridade, dos Espíritos com os quais possamos entrar
em intercâmbio, e, consequentemente, o grau de confiança e de estima que
merecem. De outra parte, nos interessa pessoalmente, porque, como pertencemos,
por nossa alma, ao mundo espírita, no qual reentraremos deixando nosso
envoltório mortal, nos mostra o que nos resta a fazer para chegarmos à
perfeição e ao bem supremo. Faremos observar, todavia, que os Espíritos não
pertencem sempre, exclusivamente, a tal ou tal classe; seu progresso, não se cumprindo
senão gradualmente, e, frequentemente, mais num sentido do que num outro, podem
reunir os caracteres de várias categorias, o que é fácil de apreciar por sua
linguagem e por seus atos.
DIVULGADO PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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