CAPÍTULO XXIV. NÃO POR ACANDEIA
DEBAIXO DO ALQUEIRE.
OS SÃOS NÃO PRECISAM DE MÉDICO.
Mais uma vez São
Mateus no capítulo IX, versículo 10 e 12, comenta que aconteceu que, estando
Jesus assentado à mesa numa casa, eis que, vindo muitos publicanos e pecadores,
se assentaram a comer com Ele e com os seus discípulos. E vendo isto os
fariseus, diziam aos seus discípulos: Por que come o vosso mestre com os publicanos
e pecadores? E ouvindo isto, Jesus lhes respondeu: Os sãos não têm necessidade
de médico, mas sim os enfermos.
Pois é, Jesus costumeiramente dirigia-se,
sobretudo aos pobres e aos deserdados, porque são eles os que mais necessitam
de consolação; e aos cegos humildes e de boa fé, porque eles pedem que lhes
abram os olhos; e não os orgulhosos, que creem possuir toda a luz e não
precisar de nada.
Estas palavras,
como tantas outras, podem ser aplicadas ao Espiritismo, que às vezes admira-se
de que a mediunidade seja concedida a pessoas indignas, e por isso mesmo capazes
de a empregarem mal. Isto porque geralmente, costuma-se dizer, que uma
faculdade tão preciosa deveria ser atributo exclusivo de pessoas de maior
merecimento.
Mas digamos antes
de tudo, que a mediunidade é inerente a uma disposição orgânica, de qualquer
homem pode ser dotado, como a de ver, ouvir e falar. Portanto não há nenhuma de
que o homem, em consequência do seu livre arbítrio, não possa abusar. E, se
Deus não tivesse concedido a palavra, por exemplo, senão aos que são incapazes
de dizer coisas más, haveria mais mudos do que falantes. Deus outorgou as
faculdades ao homem, dando-lhe a liberdade de usá-las como quiser, mas pune
sempre aqueles que delas fazem mau uso.
Se o poder de
comunicar-se com os Espíritos só fosse dado aos mais dignos, qual aquele que
ousaria pretendê-lo? E onde estaria o limite da dignidade e da indignidade? A
mediunidade é dada sem distinção, a fim de que os Espíritos possam levar a luz
a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre ao rico: aos
virtuosos, para os fortalecer no bem, e aos viciosos, para os corrigir. Estes
últimos não são os doentes que precisam de médico?
Por que Deus que
não quer a morte do pecador, o privaria do socorro de poder tirá-lo da lama? Os
Bons Espíritos vêm assim em seu auxílio e seus conselhos, que ele recebe
diretamente, são de natureza a impressioná-lo mais vivamente, do que se os
recebesse de maneira indireta. Deus, na sua bondade, poupa-lhe a pena de ir procurar
a luz à distância, e lhe mete nas mãos. Não será ele bem mais culpado, se não
atentar para ela? Poderia escusar-se com a sua ignorância, quando ele mesmo
escreveu, viu com os próprios olhos, ouviu com os seus ouvidos e pronunciou com
sua própria boca a sua condenação? Se ele não aproveitar, então será punido com
a perda ou a perversão da sua faculdade, de que os maus Espíritos se
apoderarão, para o obsedar e enganar, sem prejuízo das aflições comuns com que
Deus castiga os servos indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e o
egoísmo.
A mediunidade não
implica necessariamente as relações habituais com os Espíritos superiores. É
simplesmente uma aptidão, para servir de instrumento, mais ou menos dócil, aos
Espíritos em geral. O bom médium não é, portanto, aquele que tem facilidade de
comunicação, mas o que é simpático aos Bons Espíritos e só por eles é
assistido. É neste sentido, unicamente, que a excelência das qualidades morais
é de importância absoluta para a mediunidade.
Bibliografia: O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Mensagem lida e divulgada pelo Médium Getulio Pacheco Quadrado.
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