segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

AFEIÇÃO DOS ESPÍRITOS POR CERTAS PESSOAS.

 


                                                           O LIVRO DOS ESPÍRITOS.CAPITULO IX                                                          

AFEIÇÃO DOS ESPÍRITOS POR CERTAS PESSOAS

 

Os bons Espíritos simpatizam com os seres humanos de bem ou passíveis de se melhorarem. Já os Espíritos inferiores, com os viciosos ou que possam vir a sê-lo; daí sua afeição por causa da semelhança dos sentimentos.

A afeição verdadeira não tem nada de carnal; mas, quando um Espírito se liga a uma pessoa, nem sempre é só por afeição, pode haver lembranças das paixões humanas.

Os bons Espíritos fazem o bem tanto quanto lhes é possível e ficam felizes com todas as nossas alegrias. Afligem-se com os nossos males quando não os suportamos com resignação, porque nenhum resultado benéfico trazem para nós; somos, então, como o doente que rejeita o remédio amargo que deve curá-lo.

Os Espíritos se afligem mais por nós pelas causas morais que nos distanciam deles, do que as físicas que são passageiras.

Do nosso egoísmo e dureza de coração: daí deriva tudo. Eles se riem de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição e se alegram com aqueles que servem para abreviar vosso tempo de prova.

Os Espíritos não se prendem muito às infelicidades que afetam apenas nossas ideias mundanas, assim como fazemos com os desgostos infantis das crianças.

Os Espíritos que veem nas aflições da vida um meio de adiantamento para nós as consideram como a crise momentânea que deve salvar o doente. Compadecem-se com os nossos sofrimentos como nos compadecemos com os de um amigo. Mas, vendo as coisas como veem, de um ponto de vista mais justo, as apreciam de outro modo, e enquanto os bons estimulam nossa coragem no interesse de nosso futuro, os maus nos incitam ao desespero com o propósito de nos comprometer.

Os parentes e amigos, que nos precederam na vida espiritual, têm por nós mais simpatia do que os Espíritos estranhos e muitas vezes nos protegem como Espíritos, conforme tenham poder para tanto. São muitos sensíveis à afeição que nós lhes devotamos, mas esquecem aqueles que os esquecem.

Podendo se tornar Anjos de guarda; Espíritos protetores.

Há Espíritos que se ligam a um indivíduo em particular para protegê-lo. É é o que chamamos de bom Espírito ou bom gênio.

Devemos entender por anjo de guarda, o Espírito protetor de uma ordem elevada.

A missão do Espírito protetor, é a de um pai para com seus filhos: conduzir seu protegido ao bom caminho, ajudá-lo com seus conselhos, consolá-lo em suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.

O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde seu nascimento

até a morte e, muitas vezes, o segue após a morte na vida espiritual, e mesmo em muitas existências corporais, porque essas existências são somente fases bem curtas em relação à vida do Espírito.

A missão do Espírito protetor é obrigatória a velar por nós, se aceitou essa tarefa. Mas escolhe os seres que lhes são simpáticos. Para uns é um prazer; para outros, uma missão ou um dever.

Ao se ligar a uma pessoa o Espírito não renuncia a proteger outros indivíduos, mas não faz só isso, exclusivamente.

O Espírito protetor está inevitavelmente ligado à criatura confiada à sua guarda, mas pode ocorrer que alguns Espíritos tenham que deixar sua posição para realizar diversas missões, mas nesse caso são substituídos.

O Espírito protetor se afasta algumas vezes do seu protegido quando vê que seus conselhos são inúteis e a vontade de aceitar a influência dos Espíritos inferiores é mais forte. Mas não o abandona completamente e sempre se faz ouvir; é, porém, o ser humano quem fecha os ouvidos. O protetor volta logo que seja chamado.

Algumas doutrinas deveriam converter os mais incrédulos por seu encanto e por sua doçura, a pensar que se tem sempre perto de si seres superiores, sempre prontos para aconselhar, sustentar, ajudar a escalar a áspera montanha do bem. Que são amigos mais seguros e devotados que as mais íntimas ligações que possam ter na Terra. Que esses seres estão ao lado deles por ordem de Deus, que por amor os colocou perto de deles, cumprindo uma bela, embora difícil, missão. Que eles estarão em qualquer lugar onde estiverem estarão com eles: nas prisões, nos hospitais, nos lugares de devassidão, na solidão, nada os separa desses amigos que não podem ver, mas de quem a alma deles pode sentir os mais doces estímulos e ouvirem seus sábios conselhos.

Que deveriam conhecer melhor essa verdade! Que quantas vezes os ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes os salvaria dos maus Espíritos! Mas que no dia decisivo, esse anjo do bem os dirá: “Não te disse isso? E tu não o fizeste. Não te mostrei o abismo? E tu aí te precipitaste. Não te fiz ouvir na tua consciência a voz da verdade? E não seguiste os conselhos da mentira?” Ah! Interrogai os vossos anjos de guarda; estabelecei entre eles e vós essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes esconder nada, porque eles são os olhos de Deus e não podeis enganá-los. Sonhai com o futuro. Procurai avançar nessa vida e vossas provas serão mais curtas; vossas existências, mais felizes. Vamos, seres de coragem! Atirai para longe de vós de uma vez por todas os preconceitos e ideias retrógradas. Entrai no novo caminho que se abre diante de vós. Marchai! Marchai! Tendes guias, segui-os: o objetivo não pode vos faltar, porque esse objetivo é o próprio Deus.

Para os que pensam que é impossível para os Espíritos verdadeiramente elevados se sujeitarem a uma tarefa tão árdua e de todos os instantes, dirão: que influenciaram a alma deles estando a milhões e milhões de quilômetros. Que para eles o espaço não é nada e, embora vivendo em outro mundo, ossos Espíritos deles conservam sua ligação com o deles. Que eles podem usar de faculdades que não podem compreender, mas que fiquem certos de que Deus não lhes impôs uma tarefa acima das forças deles e não os abandonou sozinhos na Terra sem amigos e sem apoio. Que cada anjo de guarda tem seu protegido por quem velar, como um pai vela pelo seu filho. Que ficam felizes quando os veem no bom caminho, e que ficam tristes quando seus conselhos são desprezados.

Que não temam os cansarem com suas questões. E que ao contrário, que procurem estar sempre relacionados com eles, onde serão mais fortes e felizes.

Por último esclarecem, que estas comunicações de cada ser com seu Espírito familiar é que fazem de todos os seres médiuns, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e que se espalharão como um oceano sem limites para repelir a incredulidade e a ignorância. Seres instruídos, instruí os vossos irmãos; seres de talento, elevai vossos irmãos. Não sabeis que obra cumprireis assim: é a do Cristo, a que Deus vos conferiu. Por que Deus vos deu a inteligência e a ciência, senão para as repartir com vossos irmãos, para fazê-los adiantarem-se no caminho da alegria e da felicidade eterna?

São Luís, Santo Agostinho

 A doutrina dos anjos de guarda, velando sobre seus protegidos apesar da distância que separa os mundos, não tem nada que deva surpreender; é, ao contrário, grande e sublime. Não vemos na Terra um pai velar pelo seu filho, embora esteja afastado dele, ajudá-lo com seus conselhos por correspondência? O que haveria, então, de espantoso em que os Espíritos pudessem guiar aqueles que tomam sob sua proteção, de um mundo a outro, uma vez que para eles a distância que separa os mundos é menor do que aquela que, na Terra, separa os continentes? Eles não dispõem, por outro lado, do fluido universal, que liga todos os mundos e os torna solidários, veículo magnífico da transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o veículo da transmissão do som?

O Espírito que abandona seu protegido nunca fazem o mal; deixam que o façam os que tomam o seu lugar. Portanto se tivermos que acusar alguém que acusemos, então, a sorte pelas infelicidades que nos acontecem, quando a culpa é nossa.

O Espírito protetor nunca deixa seu protegido sob a dependência de um Espírito que poderia lhe querer o mal. É o ser humano por seu libre arbítrio que opta pelo negativo. E aí os maus Espíritos se unem para neutralizar a ação dos bons. Se o protegido quiser, receberá toda a força de seu bom Espírito. O bom Espírito encontra, em algum lugar, uma boa vontade para ajudar; aproveita-se disso enquanto espera retornar para junto do seu protegido.

Quando o Espírito protetor deixa seu protegido se transviar no caminho, não é por sua incapacidade na luta contra outros Espíritos maldosos.

Ele procura assistir seu protegido com seus conselhos, pelos bons pensamentos que lhe sugere, mas, infelizmente, nem sempre são escutados. Somente a fraqueza, a negligência ou orgulho do ser humano é que dão força aos maus Espíritos.

Há circunstâncias em que a presença do Espírito protetor não é necessária junto de seu protegido, dai sem que o abandone, ele pode lhe perder de vista.

Tem um momento em que o Espírito não tem mais necessidade de um anjo de guarda, isto quando atingiu um grau de poder conduzir-se a si mesmo, como chega o momento para o estudante em que não tem mais necessidade do mestre; mas isso não sucederá para nós aqui na Terra.

501 Por que a ação dos Espíritos sobre nossa existência é oculta e por que, quando nos protegem, não o fazem de um maneira ostensiva?

– Se contásseis com o seu apoio, não agiríeis por vós mesmos, e vosso Espírito não progrediria. Para progredir, vos é preciso experiência e, muitas vezes, é preciso adquiri-la à própria custa. É preciso que exerça suas forças; sem isso seria como uma criança a quem não se deixa caminhar sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regida de maneira a não impedir o vosso livre-arbítrio, visto que, se não tiverdes responsabilidade, não avançareis no caminho que deve conduzir a Deus. O homem, não vendo quem o ampara, confia em suas próprias forças; seu guia, entretanto, vela sobre ele e, de tempos em tempos, o adverte do perigo.

O Espírito protetor que consegue conduzir seu protegido no bom caminho tem um mérito que lhe é levado em conta para seu próprio adiantamento, ou para sua felicidade. É feliz quando vê seus esforços coroados de sucesso; triunfa como um mestre triunfa com o sucesso de seu discípulo.

Ele não é responsável se não tiver êxito, uma vez que fez o que dependia dele.

Ele sofre quando vê seu protegido seguir o mau caminho, apesar de seus conselhos, e sofre também com esses erros e o lastima; mas essa aflição não tem as angústias da paternidade terrestre, porque sabe que há remédio para o mal, e o que não é feito hoje se fará amanhã.

Quanto ao nome do nosso Espírito protetor ou anjo de guarda que queremos saber, a informação é que como queremos saber nomes se para nós inexistem. E que a suposição nossa é que entre os Espíritos só exista, aqueles que conhecemos.

E a orientação que para invoca-los, é que podemos darmos o nome que quisermos, assim como: de um Espírito Superior pelo qual temos simpatia ou veneração; nosso Espírito protetor atenderá ao chamado, porque todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem entre si.

Os Espíritos protetores que tomam nomes conhecidos, não são sempre, realmente os das pessoas que usaram esses nomes. Mas sim dos Espíritos que nos são simpáticos e que muitas vezes vêm ao nosso chamado. Se fizermos questão de nomes, então, tomemos um que inspire confiança.

Quando estivermos na vida espírita reconheceremos nosso Espírito protetor, que muitas vezes já o conhecíamos antes da nossa encarnação.

Os Espíritos protetores pertencem todos à classe dos Espíritos Superiores. Podendo-se encontrar entre os de classe intermediária. Um pai, por exemplo, pode tornar-se protetor de seu filho.

Mas a proteção supõe um certo grau de elevação e um poder ou uma virtude concedidos por Deus. O pai que protege seu filho pode, por sua vez, ser assistido por um Espírito mais elevado.

Os Espíritos que deixaram a Terra em boas condições podem sempre proteger os que amam e que lhes sobrevivem, porém dentro de um poder mais ou menos restrito; a posição em que se encontram não lhes dá toda a liberdade de ação.

Os seres no estado selvagem ou de inferioridade moral têm igualmente seus Espíritos protetores, onde cada um tem um Espírito que vela por ele, mas as missões são relativas ao seu objetivo. Não é dado a uma criança que começa a aprender a ler um professor de filosofia. O progresso do Espírito familiar segue de perto o do Espírito protegido. Tendo nós mesmos um Espírito Superior que vela por nós, e que podemos, também, nos tornar protetor de um Espírito inferior, e o progresso que o ajudarmos a fazer contribuirão para o nosso adiantamento. Deus não pede ao Espírito mais do que sua natureza comporta e o grau de elevação a que alcançou.

Um pai que vela por um filho reencarna, é mais difícil que ele venha a continuar velando por ele. Mas, de certa maneira, continua, a pedir, num momento de desprendimento a um Espírito simpático, que o assista nessa missão. Aliás, os Espíritos apenas aceitam missões que podem cumprir até o fim.

O Espírito encarnado, principalmente nos mundos em que a existência é material, está muito submetido ao seu corpo para poder ser inteiramente devotado a um outro Espírito e poder assisti-lo pessoalmente. Eis por que aqueles que não são suficientemente elevados são assistidos por Espíritos Superiores, de tal modo que, se um falta por uma causa qualquer, é substituído por outro.

Além do Espírito protetor, não haverá também um mau Espírito ligado a cada indivíduo com o fim de o expor ao mal e lhe fornecer ocasião de lutar entre o bem e o mal. Os maus Espíritos procuram desviá-lo do bom caminho quando encontram ocasião; mas quando um deles se liga a um indivíduo, o faz por si mesmo, porque espera ser escutado. Desse modo, há a luta entre o bom e o mau e vence aquele por quem o homem se deixa influenciar.

Cada ser sempre tem Espíritos simpáticos, mais ou menos elevados, que lhe dedicam afeição e se interessam por ele, como igualmente tem os que o assistem no mal.

Os Espíritos que nos são simpáticos podem agir em cumprimento de uma missão temporária, mas quase sempre são atraídos pela semelhança de pensamentos e de sentimentos, tanto para o bem quanto para o mal.

Diante disso o ser humano sempre encontra Espíritos que simpatizam com ele, qualquer que seja o seu caráter.

 Há muitas gradações na proteção e na simpatia dos Espíritos familiares, onde podemos dar os nomes que quisermos. O Espírito familiar é antes o amigo da casa.

 Das explicações acima e das observações feitas sobre a natureza dos Espíritos que se ligam ao ser humano pode-se deduzir o seguinte:

O Espírito protetor, anjo de guarda ou bom gênio tem por missão seguir o homem na vida e ajudá-lo a progredir. É sempre de natureza superior à do protegido.

Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por laços mais ou menos duráveis, para ajudá-las conforme seu poder, muitas vezes limitado. São bons, mas, às vezes, pouco avançados e mesmo um pouco levianos; ocupam-se voluntariamente dos detalhes da vida íntima e somente agem por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores.

Os Espíritos simpáticos se ligam a nós por afeições particulares e certa semelhança de gostos e de sentimentos tanto para o bem quanto para o mal. A duração de suas relações é quase sempre subordinada às circunstâncias.

O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso que se liga ao homem para desviá-lo do bem, mas age por sua própria iniciativa e não no cumprimento de uma missão. A constância da sua ação está em razão do acesso mais ou menos fácil que encontra. O ser humano tem a liberdade para escutar-lhe a voz ou rejeitá-la.

Quanto as pessoas que parecem se ligar a certos indivíduos para os levar fatalmente à perdição ou para guiá-los no bom caminho, é nos informado que:

Algumas pessoas exercem de fato sobre outras uma espécie de fascinação, que parece irresistível. Quando isso acontece para o mal, são maus Espíritos que se servem de outros igualmente maus para melhor poderem subjugar. A Providência permite que isso ocorra para pô-los à prova.

Nosso bom e mau gênio podem encarnar para nos acompanhar na vida de uma maneira mais direta. Porém, frequentemente encarregam dessa missão outros Espíritos encarnados que lhes são simpáticos.

Existem alguns Espíritos que se ligam aos membros de uma família em conjunto, e que são unidos pela afeição para protege-los, mas não acreditemos em Espíritos protetores do orgulho das raças.

Os Espíritos vão de preferência onde estão seus semelhantes; lá estão mais à vontade e mais certos de serem escutados. O ser humano atrai os Espíritos em razão de suas tendências, quer esteja só ou formando uma coletividade, como uma sociedade, uma cidade ou um povo. Há, portanto, sociedades, cidades e povos que são assistidos por Espíritos mais ou menos elevados, segundo o caráter e as paixões que os dominam. Os Espíritos imperfeitos se afastam daqueles que os repelem; resulta disso que o aperfeiçoamento moral de todas as coletividades, como o dos indivíduos, tende a afastar os maus Espíritos e atrair os bons, que estimulam e mantêm o sentimento do bem nas massas, como outros podem estimular as paixões grosseiras.

As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações, têm seus Espíritos protetores especiais, porque são de individualidades coletivas que marcham com um objetivo comum, e têm necessidade de uma direção superior.

Os Espíritos protetores das massas são de natureza relativa ao grau de adiantamento tanto de si, como dos indivíduos.

Existem certos Espíritos protetores especiais, que podem ajudar no progresso das artes ao proteger aqueles que os invocam quando os julgam dignos. Porém, não devemos acreditar que consigam fazer com que os indivíduos sejam aquilo que não são. Eles não fazem os cegos enxergarem, nem os surdos ouvirem.

 Os antigos fizeram desses Espíritos divindades especiais. As Musas eram a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como designavam sob o nome de Lares e Penates os Espíritos protetores da família. Modernamente, também, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os continentes têm seus patronos protetores, Espíritos Superiores, mas sob outros nomes.

Cada ser humano tem Espíritos que lhe são simpáticos, e resulta disso que, em todas as coletividades, a generalidade dos Espíritos simpáticos está em relação com a generalidade dos indivíduos; que os Espíritos de costumes e procedimentos estranhos são atraídos para essas coletividades pela identidade dos gostos e dos pensamentos; em uma palavra, que essas multidões de pessoas, assim como os indivíduos, são mais ou menos bem assistidos e influenciados conforme a natureza dos pensamentos dos que os compõem.

Entre os povos, as causas de atração dos Espíritos são os costumes, os hábitos, o caráter dominante e principalmente as leis, porque o caráter de uma nação se reflete em suas leis. Os homens que fazem reinar a justiça entre si combatem a influência dos maus Espíritos. Em toda parte onde as leis consagram injustiças, contrárias à humanidade, os bons Espíritos estão em minoria e a massa dos maus se reúne e mantém a nação sob o domínio das suas ideias e paralisa as boas influências parciais que ficam perdidas na multidão, como uma espiga isolada no meio dos espinheiros. Ao estudar os costumes dos povos ou de qualquer reunião de seres humanos, é fácil, portanto, fazer uma ideia da população oculta que se infiltra em seus pensamentos e em suas ações.

 

BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS

 

 

                                                                                             

 

 

 

Pressentimentos

522 O pressentimento é sempre um aviso do Espírito protetor?

– É o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos quer bem. Está também na intuição da escolha que se fez; é a voz do instinto. O Espírito, antes de encarnar, tem conhecimento das principais fases de sua existência, do gênero de provas por que terá de passar; quando estas têm um caráter marcante, conserva uma espécie de impressão em seu íntimo e essa impressão é a voz do instinto, que se revela quando o momento se aproxima como um pressentimento.

523 Os pressentimentos e a voz do instinto têm sempre alguma coisa de vago. Que devemos fazer quando ficamos na incerteza?

– Quando vos achardes na incerteza, na dúvida, invocai vosso Espírito protetor ou orai ao senhor de todos, a Deus, que enviará um de seus mensageiros, um de nós.

524 Os conselhos de nossos Espíritos protetores têm por objetivo unicamente a nossa conduta moral ou também o modo de proceder nas coisas da vida particular?

– Objetivam a tudo. Eles procuram vos fazer viver o melhor possível; porém, muitas vezes, fechais os ouvidos aos seus bons conselhos e sois infelizes por vossas faltas.

 Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos pela voz da consciência que fazem falar em nós; mas como nem sempre damos a isso a importância necessária, eles nos dão outros de maneira mais direta, servindo-se das pessoas que nos rodeiam. Que cada um examine as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos que nem sempre aceitou e que teriam poupado muitos desgostos se os houvesse escutado.

Influência dos Espíritos sobre os acontecimentos da vida

525 Os Espíritos exercem alguma influência sobre os acontecimentos da vida?

– Certamente, uma vez que vos aconselham.

525 a Eles exercem essa influência de outro modo, além dos pensamentos que sugerem, ou seja, têm uma ação direta sobre a realização das coisas?

– Sim, mas nunca agem fora das leis da natureza.

 Imaginamos erroneamente que a ação dos Espíritos deve se manifestar somente por fenômenos extraordinários. Desejaríamos que nos viessem ajudar por milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Mas não é assim; e porque sua intervenção nos é oculta, o que fazemos, embora com a sua cooperação, nos parece muito natural. Assim, por exemplo, provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão se reencontrar por acaso; inspirarão a alguém o pensamento de passar por determinado lugar; chamarão sua atenção sobre um certo ponto, se isso deve causar o resultado que tenham em vista obter, de tal modo que o homem, acreditando seguir somente um impulso próprio, conserva sempre seu livre-arbítrio.

526 Os Espíritos, tendo ação sobre a matéria, podem provocar alguns efeitos para realizar um acontecimento? Por exemplo, um homem deve morrer: ele sobe uma escada de madeira, a escada se quebra e o homem morre; são os Espíritos que fazem quebrar a escada para realizar o destino desse homem?

– É certo que os Espíritos têm ação sobre a matéria, mas para a realização das leis da natureza e não para as anular ao fazer surgir num certo momento um acontecimento inesperado e contrário a essas leis. No exemplo apresentado, a escada se quebra porque estava gasta e fraca ou não era suficientemente forte para suportar o peso do homem. Se por expiação esse homem tivesse que morrer assim, os Espíritos lhe inspirariam o pensamento de subir nessa escada, que, por ser velha, se quebraria com seu peso, e sua morte teria lugar por efeito natural, sem que fosse necessário fazer um milagre, isto é, anulando uma lei natural de fazer quebrar uma escada boa e forte.

527 Tomemos um outro exemplo em que o estado natural da matéria não seja importante. Um homem deve morrer fulminado por um raio; ele se refugia sob uma árvore, o raio brilha, explode e o mata. Os Espíritos puderam provocar o raio e dirigi-lo até ele?

– É ainda a mesma coisa. O raio atingiu a árvore nesse momento porque estava nas leis da natureza que fosse assim; não foi dirigido para a árvore porque o homem estava debaixo dela. Ao homem, sim, foi inspirado o pensamento de se refugiar debaixo da árvore em que o raio deveria cair, porém a árvore seria atingida, estivesse o homem debaixo dela ou não.

528 Um homem mal-intencionado dispara uma arma contra outro, a bala passa de raspão e não o atinge. Um Espírito benevolente pode tê-la desviado?

– Se o indivíduo não deve ser atingido, o Espírito benevolente lhe inspirará o pensamento de se desviar ou poderá dificultar a pontaria do seu inimigo de modo a fazê-lo enxergar mal. Mas a bala, uma vez disparada, segue a linha que deve percorrer.

529 O que se deve pensar das balas encantadas de algumas lendas que atingem fatalmente um alvo?

– Pura imaginação; o homem adora o maravilhoso e não se contenta com a maravilha da natureza.

529 a Os Espíritos que dirigem os acontecimentos da vida podem ser contrariados por Espíritos que queiram o contrário?

– O que Deus quer deve acontecer; se há um atraso ou um impedimento, é por Sua vontade.

530 Os Espíritos levianos e zombeteiros podem criar pequenos embaraços que atrapalham nossos projetos e confundir nossas previsões? Em uma palavra, são autores das chamadas pequenas misérias da vida humana?

– Eles se satisfazem em causar aborrecimentos que são provas para exercitar vossa paciência, mas se cansam quando não conseguem nada. Entretanto, não seria justo nem exato acusá-los de todas as vossas decepções, de que sois os primeiros responsáveis pela vossa leviandade. Acreditai, portanto, que, se a vossa baixela de louça se quebra, é antes pela vossa falta de jeito do que por culpa dos Espíritos.

530 a Os Espíritos que provocam essas inquietações agem por consequência de uma animosidade pessoal ou atacam o primeiro que chega, sem motivo determinado, unicamente por malícia?

– Ambos os casos. Algumas vezes, são inimigos que fazeis durante essa vida ou em uma outra, e que vos perseguem; outras vezes, não há motivos.

531 A maldade dos que nos fizeram mal na Terra se extingue com a morte?

– Muitas vezes sim, porque reconhecem sua injustiça e o mal que fizeram. Mas frequentemente continuam a vos perseguir com persistência, se estiver nos desígnios da Providência, para continuar a vos provar.

531 a Pode-se pôr um fim a isso? Como?

– Sim, se orar por eles e retribuir o mal com o bem, acabarão por compreender seus erros. Além disso, se vos colocardes acima de suas maquinações, eles cessarão, vendo que nada ganham com isso.

 A experiência demonstra que alguns Espíritos prosseguem sua vingança de uma existência a outra, e que assim expiam, cedo ou tarde, os males que se pode ter feito a alguém.

532 Os Espíritos têm o poder de afastar os males sobre algumas pessoas e de atrair para elas a prosperidade?

– Não completamente. Há males que estão nos desígnios da Providência, mas amenizam vossas dores ao vos dar a paciência e a resignação.

Deveis prestar atenção porque depende muitas vezes de vós afastar esses males ou pelo menos atenuá-los. Deus vos deu a inteligência para vos servirdes dela e é principalmente por meio dela que os Espíritos vêm vos ajudar ao sugerir pensamentos benéficos; mas apenas assistem àqueles que sabem ajudar-se a si mesmos. É o sentido destas palavras: “Procurai e encontrareis, batei e se vos abrirá”.

Sabei ainda: o que parece um mal nem sempre é. Frequentemente, do mal que vos aflige sairá um bem muito maior. É o que não compreendereis, enquanto pensardes somente no momento presente ou em vós mesmos.

533 Os Espíritos podem fazer obter a riqueza, se para isso são solicitados?

– Algumas vezes como prova, mas, frequentemente, recusam, como se recusa a uma criança a satisfação de um pedido absurdo.

533 a Quando atendem, são os bons ou os maus Espíritos que concedem esses favores?

– Ambos; isso depende da intenção. Na maioria das vezes são Espíritos que querem vos conduzir ao mal e que encontram um meio fácil de o conseguir nos prazeres que a riqueza proporciona.

534 Quando sentimos obstáculos fatais em oposição aos nossos projetos, seria pela influência de algum Espírito?

– Algumas vezes, são os Espíritos. Outras, na maioria delas, é que escolhestes mal a elaboração e execução do projeto. A posição e o caráter influem muito. Se insistis num caminho que não é o vosso, não é devido aos Espíritos: é que sois vosso próprio mau gênio.

535 Quando alguma coisa feliz nos acontece, é a nosso Espírito protetor que devemos agradecer?

– Agradecei a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois, aos bons Espíritos, que são seus agentes.

535 a O que acontece quando não agradecemos?

– O que acontece aos ingratos.

535 b Entretanto, há pessoas que não oram nem agradecem e para as quais tudo dá certo!

– Sim, mas é preciso ver o final. Pagarão bem caro essa felicidade passageira que não merecem, já que, quanto mais tiverem recebido, mais contas terão que prestar.

Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da natureza

536 Os grandes fenômenos da Natureza, aqueles que são considerados como uma perturbação dos elementos, são de causas imprevistas ou, ao contrário, são providenciais?

– Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus.

536 a Esses fenômenos sempre têm o homem como objetivo?

– Algumas vezes têm uma razão de ser direta para o homem. Entretanto, na maioria dos casos, têm por objetivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da natureza.

536 b Concebemos perfeitamente que a vontade de Deus seja a causa primária nisso como em todas as coisas, mas, como sabemos que os Espíritos têm uma ação sobre a matéria e que são os agentes da vontade de Deus, perguntamos: alguns dentre eles não exercem uma influência sobre os elementos para os agitar, acalmar ou dirigir?

– Mas é evidente que exercem e não pode ser de outro modo. Deus não exerce ação direta sobre a matéria; ele tem agentes devotados em todos os graus da escala dos mundos.

537 A mitologia dos antigos é inteiramente fundada sobre as ideias espíritas, com a diferença de que consideravam os Espíritos divindades. Representavam esses deuses ou Espíritos com atribuições especiais: assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir a vegetação, etc.; essa crença é totalmente destituída de fundamento?

– Ela é tão pouco destituída de fundamento que ainda está muito aquém da verdade.

537 a Pela mesma razão, poderia haver Espíritos vivendo no interior da Terra e dirigindo os fenômenos geológicos?

– Evidentemente esses Espíritos não habitam exatamente o interior da Terra, mas presidem e dirigem os fenômenos de acordo com suas atribuições. Um dia, tereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.

538 Os Espíritos que dirigem os fenômenos da natureza formam uma categoria especial no mundo espírita? São seres à parte ou Espíritos que estiveram encarnados como nós?

– Que estiveram ou que estarão.

538 a Esses Espíritos pertencem às ordens superiores ou inferiores da hierarquia espírita?

– Isso é conforme seja mais ou menos material ou inteligente o papel que desempenham. Uns comandam, outros executam. Aqueles que executam as coisas materiais são sempre de uma ordem inferior, entre os Espíritos como entre os homens.

539 Na produção de alguns fenômenos, as tempestades por exemplo, é um Espírito que age, ou se reúnem em massa?

– Em massas inumeráveis.

540 Os Espíritos que exercem ação sobre os fenômenos da natureza agem com conhecimento de causa, pelo seu livre-arbítrio, ou por um impulso instintivo ou irrefletido?

– Uns sim, outros não. Façamos uma comparação: imaginai essas imensidades de animais que pouco a pouco fazem sair do mar as ilhas e os arquipélagos, acreditais que não há nisso um objetivo providencial e que essa transformação da superfície do globo não seja necessária para a harmonia geral? Esses são apenas animais da última ordem que realizam essas coisas para proverem suas necessidades e sem desconfiarem que são os instrumentos de Deus. Pois bem! Do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados são úteis ao conjunto; enquanto ensaiam para a vida e antes de ter plena consciência de seus atos e seu livre-arbítrio, agem sobre alguns fenômenos dos quais são agentes inconscientes. Executam primeiro; mais tarde, quando sua inteligência estiver mais desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do mundo material; mais tarde ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. É assim que tudo serve, tudo se encaixa na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo que começou pelo átomo; admirável lei de harmonia da qual vosso Espírito limitado ainda não pode entender o conjunto.

Os Espíritos durante os combates

541 Durante uma batalha há Espíritos que assistem e sustentam cada lado?

– Sim, e que estimulam a coragem de ambos os lados.

 Os antigos representavam os deuses tomando partido por este ou aquele povo. Esses deuses eram simplesmente Espíritos representados sob figuras alegóricas.

542 Numa guerra, a justiça está sempre de um lado; como é que os Espíritos tomam partido por aquele que errou?

– Sabeis bem que há Espíritos que procuram apenas discórdia e destruição; para eles, guerra é guerra: a justiça da causa pouco os preocupa.

543 Alguns Espíritos podem influenciar o general na concepção dos seus planos de campanha?

– Sem dúvida nenhuma. Os Espíritos podem influenciar nesse sentido, como em todas as concepções.

544 Os maus Espíritos poderiam inspirar a um general um plano errôneo para levá-lo à derrota?

– Sim; mas ele não tem seu livre-arbítrio? Se seu julgamento não permite distinguir uma ideia justa de uma falsa, sofrerá as consequências disso, e faria melhor obedecer do que comandar.

545 O general pode, algumas vezes, ser guiado por uma espécie de segunda vista, uma vista intuitiva que lhe mostra antecipadamente o resultado de sua estratégia?

– É muitas vezes assim que ocorre com o homem de gênio. É o que ele chama inspiração e faz com que aja com uma espécie de certeza. Essa inspiração vem dos Espíritos que o dirigem e se servem das faculdades de que é dotado.

546 No tumulto do combate, o que acontece com os Espíritos que morrem? Ainda se interessam pela luta após a morte?

– Alguns se interessam; outros se afastam.

 Nos combates, acontece o que ocorre em todos os casos de morte violenta; no primeiro momento o Espírito fica surpreso e atordoado e não acredita estar morto, ainda pensa tomar parte na ação; é somente pouco a pouco que a realidade aparece.

547 Após a morte, os Espíritos que se combatiam enquanto vivos se reconhecem por inimigos e ainda lutam uns contra os outros?

– O Espírito nessas horas nunca está calmo; no primeiro momento ainda pode odiar seu inimigo e até mesmo persegui-lo, mas quando as ideias lhe retornam vê que seu ódio não tem mais objetivo; entretanto, ainda pode conservar traços dessas ideias mais ou menos fortes, conforme seu caráter.

547 a Percebe ainda o rumor da batalha?

– Sim, perfeitamente.

548 O Espírito que assiste com sangue-frio a um combate, como espectador, testemunha a separação da alma e do corpo. Como esse fenômeno se apresenta a ele?

– Há poucas mortes instantâneas. Quase sempre, o Espírito cujo corpo vem a ser mortalmente ferido não tem consciência disso no momento. Quando começa a reconhecer sua condição é que pode distinguir o Espírito a mover-se ao lado do cadáver; isso parece tão natural que a visão do corpo morto não lhe causa nenhum efeito desagradável. Como a essência da vida está toda concentrada no Espírito, só ele atrai a atenção; é com ele que conversa, ou a ele que se dirige.

Pactos

549 Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com maus Espíritos?

– Não, não há pactos. O que há é uma má natureza que simpatiza com os maus Espíritos. Por exemplo: quereis atormentar vosso vizinho e não sabeis como fazê-lo; então, chamais os Espíritos inferiores que, como vós, querem apenas o mal. E para vos ajudar querem também ser servidos nos seus maus propósitos. Mas não se segue daí que vosso vizinho não possa se livrar deles por meio de uma ação contrária e por sua vontade. Aquele que quer cometer uma má ação atrai, pelo simples fato de querer, os maus Espíritos para o auxiliar; então, fica obrigado a servi-los por sua vez, porque eles também têm necessidade dele para o mal que queiram fazer. É somente nisso que consiste o pacto.

 A dependência em que o homem se encontra, algumas vezes, em relação aos Espíritos inferiores provém de se entregar aos maus pensamentos que são sugeridos e não de quaisquer propostas aceitas de ambas as partes. O pacto em seu sentido comum ligado à essa palavra é uma alegoria que representa uma criatura de natureza má que simpatiza com os Espíritos maldosos.

550 Qual o sentido das lendas fantásticas em que os indivíduos teriam vendido sua alma a Satanás para obter favores?

– Todas as fábulas encerram um ensinamento e um sentido moral. O erro é tomá-las ao pé da letra. Essa é uma lenda que se pode explicar assim: aquele que chama em sua ajuda os Espíritos para obter os dons da riqueza ou qualquer outro favor rebela-se contra a Providência, renuncia à missão que recebeu e às provas por que precisa passar na Terra e sofrerá as consequências na vida futura. Isso não significa que sua alma esteja sempre condenada ao sofrimento. Mas, se em vez de se libertar da matéria, a ela se liga cada vez mais, o que foi para ele uma alegria na Terra não o será no mundo dos Espíritos até que tenha resgatado a sua falta por novas provas, talvez maiores e mais difíceis. Por seu apego aos prazeres materiais, coloca-se sob a dependência dos Espíritos impuros. Fica assim estabelecido entre ambos um pacto tácito que o conduz à perdição, mas que é sempre fácil de romper com a assistência dos bons Espíritos, se para isso tiver vontade firme.

Poder oculto. Talismãs. Feiticeiros

551 Pode um homem mau, com a ajuda de um mau Espírito que lhe é devotado, fazer o mal a seu próximo?

– Não. A Lei de Deus não o permite.

552 O que pensar da crença no poder que certas pessoas teriam de enfeitiçar?

– Algumas pessoas têm um poder magnético muito grande do qual podem fazer mau uso se seu próprio Espírito é mau e, nesse caso, podem ser ajudadas por outros maus Espíritos. Entretanto, não acrediteis nesse pretenso poder mágico que está apenas na imaginação das pessoas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da natureza. Os fatos que citam para comprovar o seu poder são fatos naturais mal observados e, principalmente, mal compreendidos.

553 Qual pode ser o efeito das fórmulas e práticas com que algumas pessoas pretendem dispor da cooperação dos Espíritos?

– É o efeito de torná-las ridículas se forem pessoas de boa-fé. Caso contrário, são patifes que merecem castigo. Todas as fórmulas são enganosas; não há nenhuma palavra sacramental, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porque eles são atraídos somente pelo pensamento e não pelas coisas materiais.

553 a Alguns Espíritos não têm, às vezes, ditado fórmulas cabalísticas?

– Sim, há Espíritos que indicam sinais, palavras esquisitas ou prescrevem alguns atos com a ajuda dos quais fazeis o que chamais de tramas secretas; mas ficais bem certos: são Espíritos que zombam e abusam de vossa credulidade.

554 Aquele que, errado ou certo, tem confiança no que chama virtude de um talismã, não pode por essa própria confiança atrair um Espírito, já que é o pensamento que age? O talismã não será apenas um sinal que ajuda a dirigir o pensamento?

– É verdade; mas a natureza do Espírito atraído depende da pureza da intenção e da elevação dos sentimentos; portanto, devemos crer que aquele que é tão simples para acreditar na virtude de um talismã não tenha um objetivo mais material do que moral. Além do mais, em todos os casos, isso indica uma inferioridade e fraqueza de ideias que o expõem aos Espíritos imperfeitos e zombeteiros.

555 Que sentido se deve dar à qualificação de feiticeiro?

– Aqueles que chamais feiticeiros são pessoas, quando de boa-fé, dotadas de algumas faculdades, como o poder magnético ou a dupla vista. Então, como fazem coisas que não compreendeis, acreditais que são dotados de um poder sobrenatural. Vossos sábios, frequentemente, têm passado por feiticeiros aos olhos das pessoas ignorantes.

 O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma multidão de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu uma infinidade de fábulas em que os fatos são exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências, que por assim dizer são apenas uma, mostrando a realidade das coisas e sua verdadeira causa, é a melhor defesa contra as ideias supersticiosas, porque mostra o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da natureza e o que é apenas uma crença ridícula.

556 Algumas pessoas têm verdadeiramente o dom de curar pelo simples toque?

– O poder magnético pode chegar a esse ponto quando se alia à pureza dos sentimentos e um ardente desejo de fazer o bem, porque os bons Espíritos vêm em sua ajuda, mas é preciso desconfiar da maneira como as coisas são contadas por pessoas muito crédulas ou entusiasmadas, sempre dispostas a ver o maravilhoso nas coisas mais simples e naturais. É preciso, também, desconfiar das narrações interesseiras das pessoas que exploram a credulidade em seu proveito.

Bênção e maldição

557 A bênção e a maldição podem atrair o bem e o mal sobre aqueles em quem são lançadas?

– Deus não escuta uma maldição injusta e aquele que a pronuncia é culpado a seus olhos. Como temos os dois opostos, o bem e o mal, ela pode ter uma influência momentânea, até mesmo sobre a matéria; mas essa influência ocorre apenas pela vontade de Deus e como acréscimo de prova para aquele que dela é objeto. Além disso, muitas vezes, se maldizem os maus e se abençoam os bons. A bênção e a maldição não podem nunca desviar a Providência do caminho da justiça e nunca atinge o maldito senão quando é mau. A sua proteção cobre apenas aquele que a merece.


1.        Convulsivo: a convulsão se caracteriza pela contração repentina e continuada dos músculos, com dores. Os que as sofrem podem perder momentaneamente a noção das coisas. É conhecida pelo nome de espasmo (N. E.).

2.        Lares e Penates: deuses domésticos entre os romanos e pagãos (N. E.).

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