“Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face,
em todas as épocas da humanidade.”
A CONCEPÇÃO DE MARIA SEGUNDO O ESPIRITISMO
A história da mãe
de Cristo, para muitos, é cercada de mistérios desde o período que antecede seu
próprio nascimento no plano físico.
Maria de Nazaré é
certamente uma das figuras mais emblemáticas e importantes da era cristã, não
somente por receber a missão de trazer ao mundo Jesus, mas também, pela forma
com a qual conduziu o Mestre, sempre demonstrando amor, fé e sabedoria, mesmo
durante o calvário de seu filho.
Boa parte dos
cristãos enxergam Maria como uma santidade, outros, apenas a mulher que trouxe
ao mundo o Messias, em comum, há no mínimo um grande respeito pela
personalidade mariana. Através de diversas manifestações de fé e religiosidade
pelo mundo, Maria recebeu diferentes nomes, e é lembrada de diversas formas,
tornando-a um grande vulto do cristianismo.
A História de Maria
Segundo os
registros contidos no Protoevangelho de Tiago[1],
Maria era filha de Joaquim, um judeu de posses que vivia na região de Nazaré, o
qual sempre oferecia doações aos pobres e oferendas aos templos. Tiago narra que
em certa feita, um sacerdote chamado Ruben proibiu Joaquim de realizar doações,
pois o mesmo não havia gerado nenhum rebento em Israel, o que contrariava as
leis judaicas. Joaquim diante das circunstâncias, caiu em profunda tristeza e
decidiu jejuar por 40 dias e 40 noites em uma montanha deserta, dizendo a si
mesmo: "Não voltarei ao lar nem pra comer ou beber, até que o senhor venha
visitar-me. As minhas orações me servirão de bebida e comida aqui no
deserto". Enquanto isso, em sua casa, Ana chorava a ausência do marido,
dividida entre a dúvida da viuvez e a culpa da esterilidade. Até que um dia, em
meio a suas súplicas, Ana recebe a visita de um "anjo" que disse-lhe:
"Ana, Ana, o senhor ouviu as tuas preces. Eis que conceberás e darás a luz
a um filho. E o fruto do teu ventre será conhecido em todo mundo". No
mesmo dia, Joaquim ainda sobre a montanha, avista dois mensageiros de Deus que
lhe dirigiram a palavra: "Joaquim, o senhor ouviu tuas preces, desces
daqui e vai a Ana, tua mulher, porque ela conceberá em seu ventre". Desta
forma, Joaquim retornou ao lar e pouco tempo depois, Ana engravidou e deu a luz
a uma menina a qual recebeu o nome de Maria.
Ao completar 3
anos, Maria é levada por seus pais ao templo judaico e lá permanece sob a
tutela dos sacerdotes até os 12 anos, idade em que deveria ser retirada do
templo, antes do período de sua menarca[2].
O problema é que, nessa época, Maria já havia se tornado órfã. Foi então
que os sacerdotes reuniram os viúvos da região e através da orientação de um
"anjo", escolheram José para recebê-la.
Segundo o apócrifo
atribuído a Tiago, José era um homem idoso, portanto, bem mais velho que Maria.
Seu dever era proteger a jovem, que era considerada pelos representantes do
judaísmo uma enviada de Deus, portanto, a mesma permaneceu intocada.
A Concepção da
Virgem Segundo a Tradição
Imagem Ilustrativa |
O maior mistério
atribuído a Maria, pelo menos para os mais religiosos, indubitavelmente é o que
diz respeito a concepção virginal. Os evangelhos canônicos de Lucas e Mateus,
contam que Maria manteve-se virgem e que Jesus fora concebido pelo
"Espírito Santo", ou seja, a fecundação de Maria aconteceu de forma "milagrosa",
sem a participação de um pai natural.
De acordo com as
escrituras sagradas, Maria recebeu a visita do anjo Gabriel, o qual anunciou à
jovem sua concepção através da intervenção do "Espírito Santo". A
partir de então, Maria fora acolhida por sua prima Isabel, mãe de João Batista,
pois José tivera que se ausentar por um período para trabalhar. Ao retornar, o
marido de Maria se deparou com a mesma, já no sexto mês de GRAVIDEZ, não acreditando
na fidelidade da virgem. Então, José é visitado por uma entidade
angelical que lhe esclarece a situação. Depois deste evento, a mãe de Jesus
segue tranquilamente sua gestação até o nascimento do enviado de Deus, que
ocorreu através de um parto fisiológico, conforme a história que todos
conhecem.
A Concepção de
Maria Segundo o Espiritismo
O Espiritismo é uma
ciência de observação e ao mesmo tempo uma doutrina filosófica de consequências
religiosas, que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos e de suas
relações com a vida material. Além disto, a Doutrina Espírita nos convida a
desenvolver uma fé raciocinada, analisando os fatos de forma coerente, buscando
compreender a razão daquilo que acreditamos. Allan Kardec defende que a religião
deve caminhar em consonância com a ciência, de modo que a primeira não ignore a
última e vice versa. E é baseado nesses princípios que analisaremos a questão
proposta neste artigo.
Para algumas
religiões, a concepção de Maria é tida como um milagre, através da ação do
"Espírito Santo". Este fato, explicaria uma fecundação assexuada. Já
segundo a Doutrina Espírita, não existem milagres, todos os acontecimentos
fazem parte da Lei Natural, criada por Deus em sua infinita perfeição, desta forma,
não há a necessidade de o Criador realizar milagres para provar sua
grandiosidade. A questão dos milagres para o espiritismo é elucidada em "A
Gênese", no tópico, "Faz Deus milagres?":
"Não sendo
necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se produz
fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo como são,
perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há
fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os conhecimentos
necessários. "
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O fato de Jesus ter
sido gerado de forma milagrosa, contraria as vias normais de reprodução, e para
o espiritismo esta é uma questão relevante, uma vez que a reprodução humana faz
parte das Leis Naturais de Deus.
A doutrina
codificada por Allan Kardec não nega a participação do "Espírito
Santo" na concepção de Jesus, até porque sua reencarnação foi minimamente
planejada pela espiritualidade superior (aqui entra a participação do
"Espírito Santo"), entretanto, a fecundação de Maria se deu por vias
normais, através de relação sexual entre ela e José, como acontece entre todos
os casais.
Mas então, como
surgiu o mito da virgindade de Maria?
Acredita-se que a
igreja tenha disseminado essa tese, afim de diminuir a promiscuidade entre as
pessoas. A prática sexual naquela época, era permitida apenas com o intuito de
procriação, isso para não provocar a extinção da raça humana. Quanto menor
fosse a relação sexual entre os casais, menor seriam os seus pecados.
Jesus com o passar
do tempo tornou-se uma figura mitológica e, como sendo um Deus, não poderia ter
nascido do pecado original cometido por Adão e Eva. Apesar dessas
considerações, o Novo Testamento utiliza o termo "O Filho do Homem"
88 vezes. Esse termo refere-se a Jesus como um ser humano, e como tal, seu
nascimento só poderia ter acontecido de forma natural.
Nas epístolas de
Paulo, que são os registros mais antigos contidos na bíblia, não há evidências
da virgindade de Maria, o apóstolo refere-se a ela apenas como a mãe de Jesus.
Os evangelhos bíblicos reforçam ainda que Maria e José tiveram outros filhos,
não podendo persistir a virgindade de Maria:
"Não é este o filho do
carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José Simão e
Judas?"
(Mateus 13, 55)
A grande diferença
em tudo isso é que o espiritismo não interpreta o ato sexual como um pecado. O
que torna o sexo imoral, é como as pessoas o praticam. Não devemos viver para a
pratica sexual, mas o sexo é importante para gerar a vida, sendo um mecanismo
natural do ser humano.
A Visão do
Espiritismo sobre Maria
É certo que Maria
faz parte de um grupo de espíritos evoluídos que vieram para preparar a chegada
de Jesus. É um espírito tão puro, que recebeu a missão nobre de conduzir o
governador da Terra, modelo e guia da humanidade.
Maria é sinônimo de
amor, prova disto foi a sua resignação ao presenciar o sofrimento de seu filho,
em nome da salvação da humanidade. E é por isso que este espírito desperta
tanta simpatia e admiração entre as pessoas. Há quem acredite que, pedir a intercessão
de Maria é o método mais eficaz de se chegar a Jesus, pois um filho não negaria
o pedido de uma mãe.
Na literatura
espírita, encontramos vários registros sobre Maria na espiritualidade. O livro
Memórias de um Suicida, descreve as atividades da Legião dos Servos de Maria,
um grupo de espíritos especializados no resgate de suicidas nas zonas
inferiores, após o socorro dos réprobos, os mesmos são encaminhados ao Hospital
Maria de Nazaré. Esta instituição é dirigida pela mãe de Jesus. Camilo Cândido
Botelho, autor espiritual desta obra, relata que a tarefa de cuidar de
espíritos suicidas não poderia ser desempenhada por outro espírito a não ser
Maria, por ela ser a referência de amor e dedicação fraternal.
Além disso,
milhares de fiéis pelo mundo todo, dedicam sua fé e devoção a Maria, em virtude
disso, existem espíritos abnegados que trabalham em seu nome, recebendo os
pedidos e as orações e auxiliando aqueles que sofrem.
É importante
ressaltar que a Doutrina Espírita alimenta um profundo respeito a qualquer
forma de convicção religiosa, mesmo posicionando-se de forma diferente. E
sabemos que Maria é um espírito de luz e trabalha ao lado de Jesus em benefício
da humanidade.
[1] Este apócrifo
também conhecido como "Livro de Tiago" ou, ainda, "A Natividade
de Maria", tem sua autoria e data atualmente tida como desconhecida,
embora o autor se identifique como Tiago. Muitos estudiosos consideram o seu
texto muito remoto, anterior mesmo aos Evangelhos Canônicos ou até a base
deles.
Os Pais da Igreja, Orígenes, Clemente, Pedro de Alexandria, São Justino
e São Epifânio citam este evangelho com muita frequência.
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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