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ESPIRITISMO E
ESPIRITUALISMO: QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS?
Por Flávia Zanforlim
Muitas pessoas entendem que Espiritismo e Espiritualismo tratam da mesma
coisa, porém, apesar de haver uma relação entre eles, cada um tem um
significado específico.
Atento a essa questão, já em O Livro dos Espíritos, primeira obra da
codificação espírita, Allan Kardec explica o porquê de não ter usado os termos
spiritualisme (espiritualismo) e spiritualiste (espiritualista) para conceituar
a Doutrina Espírita e seus adeptos, criando, então, os novos vocábulos
Espiritismo e espírita ou espiritista.
Kardec explica no primeiro texto da introdução do livro que “para as coisas
novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de
linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos
próprios vocábulos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm
uma significação bem definida”.
O Espiritualismo implica em grupo maior que o Espiritismo, pois abarca todas as
considerações e ideias que divergem do materialismo e que, portanto, consideram
a existência de algo além da matéria. Assim, ao mesmo tempo, o espiritualismo é
para o Espiritismo apenas uma de suas inúmeras características.
Muitas Doutrinas diferentes da espírita compreendem a existência de vida
espiritual, porém, cada uma é composta e delineada por diversas outras
características que não necessariamente estão de acordo com as ideias
espíritas. Por exemplo, o Catolicismo defende a existência de Deus e de vida
além da morte, o que é o bastante para considerá-lo espiritualista, mas não crê
em comunicação com os espíritos e reencarnação, princípios fundamentais da
Doutrina Espírita.
É nesse sentido que Kardec explica na obra O que é o Espiritismo que “todas as
religiões são necessariamente fundadas sobre o espiritualismo. Aquele que crê
que em nós existe outra coisa, além da matéria, é espiritualista, o que não
implica a crença nos Espíritos e nas suas manifestações”.
Kardec fundamentou essa explicação a partir do significado atribuído à palavra
spiritualiste (espiritualista) no Dictionnaire de l’Académie française:
“SPIRITUALISTE. s. et adj. des 2 g. Celui ou celle dont la doctrine est opposée
au matérialisme.” Tradução: Espiritualista. subst. e adj. – Aquele cuja
doutrina se opõe ao materialismo.
Inclusive, para ser espiritualista não é preciso nem acreditar em espíritos,
basta defender que existe alguma substância que não seja material. Com esse
entendimento, pode-se concluir que o espiritualismo liga todas as religiões, e
no que se refere aos adeptos do Espiritismo, entende-se que todo espírita é
espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita.
O Moderno Espiritualismo
Nos países de língua inglesa, o termo espiritualismo (spiritualism) é usado
frequentemente como sinônimo de Espiritismo (spiritism), apesar de também terem
significados diferentes nesse idioma. Porém, como previu Kardec, usar a mesma
palavra para conceitos diferentes dificulta o entendimento. A obra A História
do Espiritualismo – De Swedenborg ao início do século XX (The History of
Spiritualism), de Arthur Conan Doyle, é prova disto. Ela foi traduzida
erroneamente para publicação em português com o título A História do
Espiritismo.
A obra de Doyle não tem foco na história do Espiritismo, mas sim na história do
Moderno Espiritualismo, que é uma doutrina desenvolvida no século XIX, com
marco nas experiências de Emanuel Swedenborg, baseando-se principalmente na
crença da comunicação entre espíritos encarnados e desencarnados. O Moderno
Espiritualismo tem bastante familiaridade com o Espiritismo, porém, tomou corpo
doutrinário diferenciado. Nos Estados Unidos, encontra-se a maior parte dos
adeptos dessa Doutrina. O maior número de pessoas se reúne no grupo da Lily
Dale Assembly. Mas ainda tem outra instituição que representa os grupos do
Moderno Espiritualismo, chamado de National Spiritualist Association of
Churches. Essa Doutrina tem os seguintes princípios: crença em Deus; Deus se
expressa através de toda a natureza; a verdadeira religião é viver em
obediência às leis da natureza; nunca morremos; comunicação com o mundo
espiritual; ser gentil, fazer o bem e os outros farão o mesmo; a infelicidade é
resultado nos nosso erros, mas seremos felizes se obedecermos as leis da vida;
cada dia é um novo começo; e profecia e cura são expressões de Deus.
Classificação de Zilles
O vocábulo espiritualista ganhou mais um conceito quando foi adotado para
denominar o grupo de religiões que tem entre seus elementos a comunicação com
espíritos, conforme classificação proposta pelo pesquisador Urbano Zilles na
sua obra Religiões: Crenças e Crendices, de 1997. Zilles divide as religiões do
mundo em seis grupos: Religiões Primitivas; Religiões Sapienciais; Religiões
Proféticas; Religiões Espiritualistas; Místicas Filosóficas; e Superstições.
Para o autor, as religiões espiritualistas são somente “aquelas que têm como
fonte a revelação dos espíritos”. E dentre as religiões deste grupo, o autor
inclui o Espiritismo e as religiões afro-brasileiras.
O que é Espiritismo?
Na obra O que é o Espiritismo, Allan Kardec apresenta uma explicação sucinta
sobre o Espiritismo: “O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de
observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas
relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia,
compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações. O
Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos
espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.”
O espírito Antonio Grimm, em comunicação na Sociedade Brasileira de Estudos
Espíritas (SBEE – com sede em Curitiba-PR), por meio do médium Mary Rodrigues
da Cruz, faz a seguinte releitura da explicação de Kardec: “O Espiritismo
procura, na vivência da ciência, fazer a verdade através da prova. Na
filosofia, procura mostrar, afirmar, reunir e expor o pensamento sobre a
evolução da vida à luz do conhecimento. Na concepção religiosa, faz vida
consciente, operando, mediante a história de vida de cada um, a força do
autoconhecimento, objetivando o alcance da identidade com o Creador.” (Antonio
Grimm. Do livro Cadernos de Psicofonia de 1994, editado pela SBEE)
Dessa forma, o Espiritismo compreende ciência, filosofia e religião. E a ótica
espírita é norteada pelos seguintes princípios: Deus, como causa inteligente,
justificando a concepção científica do Universo como espaço organizado por leis
que afetam proporcionalmente a todos; Jesus Cristo, como o padrão moral;
livre-arbítrio, como ferramenta do espírito humano de aprendizado e
autocontrole; comunicação, como capacidade de ação indestrutível que conecta
entre si todas as partes que compõem o Cosmos, sendo um caso particular a
mediunidade, que diz da comunicação entre espíritos encarnados e desencarnados;
e a reencarnação, que compreende os diferentes e contínuos estágios evolutivos
da relação espírito e matéria.
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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