CAPÍTULO XXV. BUSCAI E
ACHAREIS. OLHAI AS AVES DO CÉU.
O Irmão São Mateus, no capítulo VI, V.
19, 20, 21, 25 a 34, comenta as palavras de Jesus naquela época: Não acumuleis tesouros
na Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões os desenterram
e roubam. Mas acumulai tesouros no céu, onde não os consomem, ou seja, a
ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não o desenterram nem roubam.
Porquanto
onde esta o seu tesouro ai também esta o seu coração. Eis porque vos digo: Não vos
inquieteis por saber onde achareis o que comer para sustento da sua vida, nem
da onde tirareis vestes para cobrir o seu corpo.
Olhai para as aves do céu, que não semeiam,
não ceifam, nada guardam em celeiros; mas vosso Pai celestial as sustenta.
Portanto não sois mais do que eles? E qual de vós, discorrendo, pode
acrescentar um côvado à sua estatura? E por que andais vós solícitos pelo
vestido? Considerai como crescem os lírios dos campos; eles não trabalham nem
fiam; digo-vos mais, que nem Salomão, em toda a sua glória, se cobriu jamais
como um destes. Pois se ao feno do campo, que hoje é e amanhã é lançado no
forno. Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos
aflijais, dizendo: Que comeremos ou que beberemos, ou com que nos cobriremos?
Porque os gentios é que se cansam por estas coisas. Porquanto vosso Pai sabe
que tendes necessidade de todas elas. Buscai primeiramente o Reino de Deus e a
sua justiça, e todas estas coisas se vos acrescentarão. E assim não andeis
inquietos pelo dia de amanhã. Porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu
cuidado; ao dia basta a sua própria aflição.
Comentando as palavras de Jesus ao
pé da letra, elas seriam a negação de toda a previdência e de todo o trabalho,
e consequentemente, de todo o progresso. Segundo esse princípio, o homem se
reduziria a um expectador passivo. Suas forças físicas e intelectuais não
seriam postas em atividade. Se essa tivesse sido a sua condição normal na
Terra, ele jamais sairia do estado primitivo, e se adotasse agora esse
princípio, não teria mais nada a fazer. É evidente que não poderia ter sido
esse o pensamento de Jesus, porque estaria em contradição com o que Ele já
dissera em outras ocasiões, como no tocante às leis da natureza. Deus criou o
homem sem roupas e sem casa, mas deu-lhe a inteligência para produzi-las.
Não
se pode ver nestas palavras, portanto, mais do que uma alegoria poética da
Providência, que jamais abandona os que nela confiam, mas com a condição de que
também se esforcem. É assim que, se nem sempre os socorre com ajuda material,
inspira-lhes os meios de saírem por si mesmos de suas dificuldades.
Deus
conhece as nossas necessidades, e a elas provê, conforme for necessário. Mas o
homem, insaciável nos seus desejos, nem sempre se contenta com o que tem. O
necessário não lhe basta, ele quer também o supérfluo. É então que a
Providência o entrega a si mesmo. Frequentemente ele se torna infeliz por sua
própria culpa, e por não haver atendido as advertências da voz da consciência,
e Deus o deixa sofrer as consequências, para que isso lhe sirva de lição no
futuro.
A
Terra produz o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os
homens souberem administrar a sua produção, segundo as leis de justiça,
caridade e amor ao próximo. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como
entre as províncias de um mesmo império, o que sobrar para um determinado
momento, suprirá a insuficiência momentânea de outro, e todos terão o
necessário. O rico, então, considerará a si mesmo como um homem que possui
grandes depósitos de sementes: se as distribuir, elas produzirão ao cêntuplo,
para ele e para os outros; mas, se as comer sozinho, se as desperdiçar e deixar
que se perca o excedente do que comeu, elas nada produzirão, e todos ficarão em
necessidade. Se as fechar no seu celeiro, os insetos as devorarão. Eis por que
Jesus ensinou: Não amontoeis tesouros na Terra, pois são perecíveis, mas
amontoai-os no céu, onde são eternos. Em outras palavras: não deis mais
importância aos bens materiais do que aos espirituais, e aprendei a sacrificar
os primeiros em favor dos segundos.
Não
é através de leis que se decretam a caridade e a fraternidade. Se elas não
estiverem no coração, o egoísmo as asfixiará sempre. Fazê-las ali penetrar, é a
tarefa do Espiritismo.
Bibliografia:
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Mensagem lida e divulgada pelo Médium
Getulio Pacheco Quadrado.
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