O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO IV. ENCARNAÇÃO NOS DIFERENTES MUNDOS.
Nossas
diferentes existências corpóreas não se passam todas na Terra, mas sim em diferentes mundos. As deste globo não são as
primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição.
A cada nova
existência corpórea a alma pode reviver muitas vezes num mesmo globo, se não
estiver bastante adiantada para passar a um mundo superior.
Podemos
então reaparecer muitas vezes na Terra.
Podemos
voltar a ela depois de ter vivido em outros mundos, podemos ter já vivido
noutros mundos bem como na Terra.
Não é uma
necessidade reviver na Terra.
Mas, se não progredirmos, podemos ir
para outro mundo que não seja melhor, e que pode mesmo ser pior.
Não há vantagem
em voltar a viver na Terra.
— Nenhuma vantagem particular, a
não ser que se venha em missão, pois então se progride, como em qualquer outro
mundo.
Não seria
melhor continuar como Espírito porque estacionaríamos, e o que queremos é
avançar para Deus.
Os
Espíritos, depois de se haverem encarnado em outros mundos, podem encarnar-se
neste, sem jamais terem passado por aqui como nós em outros globos. Todos os
mundos são solidários; o que não se faz num, pode-se fazer noutro.
Assim, existem
homens que estão na Terra pela primeira vez, e em diversos graus.
Não
teríamos nenhuma utilidade se reconhecer, por um sinal qualquer, quando um
Espírito se encontra pela primeira vez na Terra.
Para chegar
à perfeição e à felicidade suprema, que é o objetivo final de todos os homens,
o Espírito não deve passar pela série de todos os mundos que
existem no Universo, porque há muitos mundos que se encontram no mesmo grau e onde os
Espíritos nada aprenderiam de novo.
Nos é explicado
a pluralidade de nossa existência num mesmo globo, e em posições
bastante diferentes, que serão outras tantas ocasiões de adquirir experiência.
Os
Espíritos podem renascer corporalmente num mundo relativamente inferior àquele
em que já viveram, quando têm uma missão a cumprir, para ajudar o progresso; e então
aceitam com alegria as tribulações dessa existência porque lhes fornecem um
meio de se adiantarem.
Isso não
pode também acontecer como expiação, e Deus não pode enviar os Espíritos
rebeldes a mundo inferiores, por que os Espíritos podem permanecer
estacionários, mas nunca retrogradas; sua punição, pois, é a de não avançar e
ter recomeçar as existências mal empregadas, no meio que convém à sua natureza.
Os que devem
recomeçar a mesma existência, são os que faliram em sua missão ou em
suas provas.
Os seres
que habitam cada mundo não estão todos no mesmo grau de perfeição.
É como na Terra: há os que estão mais
ou menos adiantados.
Ao passar
deste mundo para outro, o Espírito conserva a inteligência que tinha aqui, pois a
inteligência nunca se perde. Mas ele pode não dispor dos mesmos meios para
manifestá-la. Isso depende da sua superioridade e do estado do corpo que
adquirir.
Os seres
que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos, porque é
necessário que o Espírito se revista de matéria para agir sobre ela; mas esse
envoltório é mais ou menos material, segundo o grau de pureza a que chegaram os
Espíritos, e é isso que determina as diferenças entre os mundos que temos de
percorrer. Porque há muitas moradas na casa de nosso Pai, e muitos graus,
portanto. Alguns o sabem e têm consciência disso aqui na Terra, mas outros anda
sabem.
— Nós, Espíritos, não podemos
responder senão na medida do Nosso grau de evolução. Quer dizer que não devemos
revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em condições de
compreendê-las, e elas os perturbariam.
Comentário de Kardec: À medida que o Espírito se purifica,
o corpo que o reveste, aproxima-se igualmente da natureza espírita. A matéria
se torna menos densa, ele já não se arrasta penosamente pelo solo, suas
necessidades físicas são menos grosseiras, os seres vivos não têm mais necessidade
de se destruírem para se alimentar. O Espírito é mais livre e tem, para as
coisas distanciadas, percepções que desconhecemos: vê pelos olhos do corpo
aquilo que só vemos pelo pensamento.
A purificação dos
Espíritos reflete-se na perfeição moral dos seres em que estão encarnados. As
paixões animais se enfraquecem, o egoísmo dá lugar ao sentimento fraternal. É
assim que, nos mundos superiores ao nosso, as guerras são desconhecidas, os
ódios e as discórdias não têm motivo, porque ninguém pensa em prejudicar o seu
semelhante. A intuição do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência
isenta de remorsos fazem que a morte não lhes cause nenhuma apreensão: eles a
recebem sem medo e como uma simples transformação.
A duração da vida,
nos diferentes mundos, parece proporcional ao seu grau de superioridade física
e moral, e isso é perfeitamente racional. Quanto menos material é o corpo, está
menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam, quanto mais puro é o
Espírito, menos sujeito às paixões que o enfraquecem. Este é ainda um auxílio
da providência, que deseja, assim, abreviar os sofrimentos.
Passando de
um mundo para outro, o Espírito passa pela infância por que toda parte
é uma transição necessária, mas não é sempre tão ingênua como entre nós.
Nem sempre o
Espírito pode escolher o novo mundo em que vai habitar; mas pode pedir e
obter o que deseja, se o merecer. Porque os mundos só são acessíveis aos
Espíritos de acordo com o grau de sua elevação.
Se o
Espírito nada pede, o que determina o mundo onde irá reencarnar é o seu grau de
elevação.
O estado
físico e moral dos seres vivos não é perpetuamente o mesmo em cada globo, por
que os mundos também estão submetidos à lei do progresso.
Todos começaram como o nosso, por um estado inferior, e a Terra mesma
sofrerá uma transformação semelhante, tornando-se um paraíso terrestre,
quando os homens se fizerem bons.
Comentário de Kardec: É assim que as raças que hoje povoam a
Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais e mais
perfeitos. Essas raças transformadas sucederão à atual, como esta sucedeu a
outras que eram mais grosseiras.
Há mundos
em que o Espírito, deixando de viver num corpo material, só tem por envoltório
o períspirito, e esse envoltório torna-se de tal maneira etéreo que para nós
é como se não existisse; eis então o estado dos Espíritos puros.
Parece resultar daí que não existe uma
demarcação precisa entre o estado das últimas encarnações e o do Espírito puro.
A diferença se dilui pouco a pouco e se torna insensível, como a
noite se dilui ante as primeiras claridades do dia.
A
substância do períspirito não é a mesma em todos os globos; é mais eterizada
em uns do que em outros. Ao passar de um para outro mundo, o Espírito se
reveste da matéria própria de cada um, com mais rapidez, que o relâmpago.
Os Espíritos puros habitam
determinados mundos, mas não estão confinados a eles como os homens à
Terra; eles podem, melhor que os outros, estar em toda parte(1).
(1) De todos os globos
que constituem o nosso sistema planetário, segundo os Espíritos, a Terra
é daqueles cujos habitantes são menos adiantados, física e
moralmente: Marte lhe seria ainda inferior e Júpiter muito
superior em todos os sentidos. O Sol não seria um mundo
habitado por seres corpóreos, mas um lugar de encontro de Espíritos superiores,
que de lá irradiam seu pensamento para outros mundos, que dirigem por
intermédio de Espíritos menos elevados, com os quais se comunicam por meio do
fluido universal. Como constituição física, o Sol seria um foco de
eletricidade. Todos os sóis, ao que parece, estariam nas mesmas condições.
O volume e o afastamento do Sol não
tem nenhuma relação necessária com o grau de desenvolvimento dos mundos, pois
parece que Vênus está mais adiantado que a Terra e Saturno menos que Júpiter
Muitos Espíritos que animaram pessoas conhecidas na Terra disseram estar
reencarnados em Júpiter, um dos mundos mais próximos da perfeição, e é de
admirar que num globo tão adiantado se encontrem homens que a opinião terrena
não considerava tão elevados. Isto, porém, nada tem de surpreendente, se
considerarmos que certos Espíritos que habitam aquele planeta podiam ter sido
enviados à Terra, em cumprimento de uma missão que, aos nossos olhos, não os colocaria
no primeiro plano; em segundo lugar, entre a sua existência terrena e a de
Júpiter, podiam ter tido outras, intermediárias, nas quais se tivessem
melhorado; em terceiro lugar, naquele mundo, como no nosso, há diferentes graus
de desenvolvimento, e entre esses graus pode haver a distância que separa entre
nós o selvagem do homem civilizado. Assim, o fato de habitarem Júpiter, não se
segue que estejam no nível dos seres mais evoluídos, da mesma maneira que uma
pessoa não está no nível de um sábio do Instituto, pela simples razão de morar
em Paris.
As condições de longevidade não são,
por toda parte, as mesmas da Terra, não sendo possível a comparação de idades.
Uma pessoa, falecida há alguns anos, quando evocada, disse haver encarnado,
seis meses antes, num mundo cujo nome é desconhecido. Interpelada sobre a idade
que tinha nesse mundo, respondeu: “Não posso calcular, porque não contamos o
tempo como vós; além disso, o nosso meio de vida não é o mesmo;
desenvolvemo-nos muito mais rapidamente; tanto assim que há apenas seis dos
vossos meses nele me encontro, e posso dizer que, quando à inteligência, tenho
trinta anos de idade terrena.”
Muitas respostas semelhantes foram
dadas por outros Espíritos e nada há nisso de inverossímil. Não vemos na Terra
tantos animais adquirirem em poucos meses um desenvolvimento normal? Porque não
poderia dar-se o mesmo com o homem, em outras esferas? Notemos, por outro lado,
que o desenvolvimento alcançado pelo homem na Terra, na idade de trinta anos,
talvez não seja mais que uma espécie de infância comparado ao que ele deve
atingir. É preciso ter uma visão bem curta para nos considerarmos os protótipos
da criação, e seria rebaixar a Divindade, acreditar que, além de nós, ele nada
mais poderia criar.
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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