segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS.

 


O LIVRO DOS ESPÍRITOS. LIVRO IV.CAPÍTULO I, FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS.

O ser humano não pode gozar na Terra uma felicidade completa, porque a vida lhe foi dada como prova ou expiação, mas dele depende abrandar os seus males e ser tão feliz, quanto se pode ser na Terra.

 Concebe-se que o ser humano possa ser feliz na Terra, quando a Humanidade estiver transformada, mas, enquanto isso não se verifica, pode cada um gozar de uma felicidade relativa. O ser humano é, na maioria das vezes, o artífice de sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele pode poupar-se a muitos males, e gozar de uma felicidade tão grande quanto o comporta a sua existência num plano grosseiro.

Comentário de Kardec: O homem bem compenetrado do seu destino futuro não vê na existência corpórea mais do que uma rápida passagem. É como uma parada momentânea numa hospedaria precária. Ele se consola facilmente de alguns aborrecimentos passageiros, numa viagem que deve conduzi-lo a uma situação tanto melhor quanto mais atenciosamente tenha feito os seus preparativos para ela.

É punido nesta vida pelas infrações que cometem às leis da existência corpórea, pelos próprios males decorrentes dessas infrações, e pelos próprios excessos Se remontarmos pouco a pouco à origem do que chamamos infelicidades terrenas, veremos a estas, na sua maioria, como a consequência de um primeiro desvio do caminho certo. Em virtude desse desvio inicial, entram num mau caminho e de consequência em consequência, caiem afinal na desgraça.

A felicidade terrena é relativa à posição de cada um; o que é suficiente para a felicidade de um faz a desgraça de outro. Há, entretanto, uma medida comum de felicidade para todos os seres.

Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral, a consciência pura e a fé no futuro.

Aquilo que seria supérfluo para um, se torna o necessário para outro, e vice-versa, segundo a posição. Isto de acordo com as ideias materiais, e preconceitos, a sua ambição e todos os seus caprichos ridículos, para os quais o futuro fará justiça quando tiverem a compreensão da verdade. Sem dúvida, aquele que tivesse uma renda de cinquenta mil libras e a visse reduzida a dez. mil, considerar-se-ia muito infeliz, por não poder continuar fazendo boa figura, mantendo o que chama a sua classe. Ter bons cavalos e lacaios, e satisfazer a todas as sus paixões etc. Julgaria faltar-lhe o necessário. Mas. Francamente, podemos considerar- uma lástima, quando ao lado deles há os que morrem de fome e de frio, sem um lugar para repousar a cabeça! O ser humano sensato, para ser feliz, olha para baixo e jamais para os que lhe estão acima, a não ser para elevar sua alma ao infinito.

Existem males que não dependem da maneira de agir e que ferem o ser mais justo. O meio de se preservar, é quando o atingido se resignar e sofrer sem queixa, se deseja progredir. Entretanto, encontra sempre uma consolação na sua própria consciência, que lhe dá a esperança de um futuro melhor, quando ele faz. o necessário para obtê-lo.

 Deus beneficia com os bens da fortuna certos homens que não parecem merecê-los, porque trata-se de um favor aos olhos daqueles que não enxergam além do presente; mas sabei, que a fortuna e uma prova geralmente mais perigosa que a miséria.

A civilização, criando novas necessidades, é a fonte de novas aflições, porque os males deste mundo estão na razão das necessidades artificiais que criam para eles mesmos. Aquele que sabe limitar os seus desejos, e ver sem cobiça o que esta fora das suas possibilidades, poupa-se a muitos aborrecimentos nesta vida. O mais rico é aquele que tem menos necessidades.

Os prazeres que a luz da inveja provoca em alguns, dos que parecem os felizes do mundo, é que não sabem por acaso, o que lhes está reservado. Se gozam senão para si mesmos, são egoístas e terão de sofrer o reverso. Devem sim lamentar, antes de invejá-los! Deus, às vezes, permite que o mau prospere, mas essa felicidade não é para se invejar, porque a pagará com lágrimas amargas. Se o justo é infeliz é porque passa por uma prova que lhe será levada em conta, desde que a saiba suportar com coragem. Lembremos das palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que sofrem, porque serão consolados”.

Grande verdade, é pela natureza especial das aptidões naturais, onde Deus indica evidentemente a vocação neste mundo de cada um, e muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza fazem os filhos se desviarem do caminho traçado pela natureza, comprometendo-lhes com isso a felicidade. Mas serão responsabilizados.’

Comentário de Kardec: O deslocamento de sua esfera intelectual é seguramente uma das causas mais frequentes de decepção. A inaptidão para a carreira abraçada é uma fonte inesgotável de reveses. Depois, o amor-próprio vem juntar-se a isso, impedindo o ser humano de recorrer a uma profissão mais humilde e lhe mostra o suicídio como o supremo remédio para escapar ao que ele julga uma humilhação. Se uma educação moral o tivesse preparado acima dos tolos preconceitos do orgulho, jamais ele seria apanhado desprevenido.

Existem pessoas que privadas de todos os recursos, mesmo quando reine a abundância em seu redor, não veem outra perspectiva de solução para o seu caso a não ser a morte.

O certo é que jamais devem ter a ideia de se deixar morrer de fome, pois sempre encontrariam meios de se alimentar, se o orgulho não se interpusesse entre a necessidade e o trabalho.  Frequentemente é dito que não há profissões humilhantes.

É evidente que sem os preconceitos sociais pelos quais se deixa dominar, o ser humano sempre encontrara um trabalho qualquer que não é o ofício de desonra; mas sim para os outros, e não para ele pode ajudar a viver, mesmo deslocado de sua posição.

 Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.

Comentário de Kardec: Com uma organização social previdente e sábia, o ser humano não pode sofrer necessidades, a não ser por sua culpa. Mas a própria culpa dele são frequentemente o resultado do meio em que ele vive. Quando o ser humano praticar a lei de Deus, disporá de uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e com isso mesmo ele será melhor.

Nas classes sociais sofredoras nenhuma é perfeitamente feliz, pois aquilo que se considera a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao pensamento, diremos que as classes a que chamam de sofredoras são mais numerosas, é porque a Terra é um lugar de expiação. Quando o ser humano a tiver transformado em morada do bem e dos bons espíritos, não mais será infeliz nesse mundo, que será para ele o paraíso terrestre.

Pela fraqueza dos bons no nosso mundo, os maus exercem geralmente maior influência sobre eles, é que os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Estes, quando quiserem, assumirão a preponderância.

Sendo o ser humano em geral, o artífice dos seus sofrimentos materiais, sê-lo-á também dos sofrimentos morais mais ainda, pois os sofrimentos materiais são às vezes, independentes da vontade, enquanto o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, enfim constituem torturas da alma.

Quanto a inveja e o ciúme! felizes os que não conhecem esses dois vermes vorazes. Com a inveja e o ciúme, não há calma, não há repouso possível.  Para aquele que sofrem desses males, os objetos da sua cobiça, do seu ódio e do seu despeito; se erguem diante dele como fantasmas que não o deixam em paz e o perseguem até no sono. O invejoso e o ciumento vivem num estado de febre contínua. É essa uma situação desejável? Não compreendem que, com essas paixões, os cria para si mesmo suplícios voluntários e que a Terra se transforma para ele num verdadeiro inferno?

Comentário de Kardec: Muitas expressões figuram energicamente os efeitos de algumas paixões. Diz-se: está inchado de orgulho, morrer de inveja, secar de ciúme ou de despeito, perder o apetite por ciúmes etc. esse quadro nos dá bem a verdade. Às vezes, o ciúme nem tem objeto determinado. Há pessoas que se mostram naturalmente ciumentas de todos os que se elevam, de todos os que saem da vulgaridade, mesmo quando não tenham no caso nenhum interesse direto, mas unicamente por não poderem atingir o mesmo plano. Tudo aquilo que parece acima do horizonte comum as ofusca, e, se formassem a maioria da sociedade, tudo desejariam rebaixar ao seu próprio nível. Temos nestes casos o ciúme aliado à mediocridade.

O ser humano é infeliz, geralmente, pela importância que liga às coisas deste mundo.  A vaidade, a ambição e a cupidez fracassadas o fazem infeliz. Se ele se elevar acima do círculo estreito da vida material, se elevar o seu pensamento ao infinito, que é o seu destino, as vicissitudes da Humanidade lhe parecerão mesquinhas e pueris, como as mágoas da criança que se aflige pela perda de um brinquedo que representava a sua felicidade suprema.

Aquele que só encontra a felicidade na satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros, é infeliz quando não os pode satisfazer, enquanto o que não se interessa pelo supérfluo se sente feliz com aquilo que para os outros constituiria infortúnio.

Referimo-nos aos seres civilizados porque o selvagem, tendo necessidades mais limitadas, não tem os mesmos motivos de cobiça e de angústias; sua maneira de ver as coisas é muito diferente. No estado de civilização, o ser pondera a sua infelicidade, a analisa, e por isso é mais afetado por ela, mas pode também ponderar e analisar os seus meios de consolação. Esta consolação ele a encontra no sentimento cristão, que lhe dá a esperança de um futuro melhor, e no Espiritismo, que lhe dá a certeza do futuro.

 


Consultar “A Gênese”, onde Kardec analisa os motivos do aparecimento do Espiritismo em meados do século dezenove, quando o mundo atingia um estado de adiantada civilização. O conhecimento da realidade espírita da vida só é possível, em sua plenitude, em mundos civilizados, da mesma maneira que no estado de civilização esse conhecimento é um imperativo do próprio progresso e um meio de acelera-lo. (Ver “A Gênese”, cap. I, itens 16 a 18 e particularmente o período final deste último.) (N. do T.)

MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.

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