O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO VIII.
RESSURREIÇÃO DA CARNE.
0 dogma da
ressurreição da carne é a consagração da reencarnação ensinada pelos Espíritos,
onde com essa expressão como tantas outras, que só parecem desarrazoadas aos
olhos de certas pessoas que a tomam ao pé da letra, e é por isso que são
levadas à incredulidade. Dai-lhe, porém, uma interpretação lógica, e esses
a que chamamos livres-pensadores, a admitirão sem dificuldade, precisamente
porque raciocinam. Não nos enganemos, esses livres-pensadores nada mais
procuram do que crer; eles têm, como os outros, mais talvez do que os
outros, ansiedade pelo futuro, mas não podem admitir o que é absurdo para
a Ciência. A doutrina da pluralidade das existências se conforma à justiça
de Deus; somente ela pode explicar o que sem ela é inexplicável. Como
queremos que esse princípio não estivesse na Religião?
Então a
Igreja, pelo dogma da ressurreição da carne, ensina a doutrina da reencarnação,
que ela é a consequência de muitas coisas que passaram despercebidas e que
não se tardará a compreender nesse sentido; dentro em pouco se reconhecerá
que o Espiritismo ressalta a cada passo do próprio texto das Escrituras
Sagradas. Os Espíritos não vêm, portanto, subverter a Religião, como
pretendem alguns, mas pelo contrário vêm confirmá-la, sancioná-la através
de provas irrecusáveis. E como é chegado o tempo de substituir a linguagem
figurada, falam sem alegorias, dando às coisas um sentido claro e preciso
que não possa ser objeto de nenhuma falsa interpretação. Eis porque dentro
de algum tempo teremos mais pessoas sinceramente religiosas e crentes do que as
tendes hoje. (São Luís.) (1).
Comentário de Kardec: A Ciência demonstra a impossibilidade da
ressurreição segundo a ideia vulgar. Se os despojos do corpo humano
permanecessem homogêneos, embora dispersados e reduzidos a pó, ainda se
conceberia a sua reunião em determinado tempo; mas as coisas não se passam
assim. O corpo é formado por elementos diversos: oxigênio, hidrogênio, azoto,
carbono etc. Pela decomposição, esses elementos se dispersam, mas vão servir à
formação de novos corpos, e isso de tal maneira que a mesma molécula, por
exemplo, de carbono, entrará na composição de muitos milhares de corpos
diferentes (não falamos senão dos corpos humanos, sem contar os dos animais).
Dessa maneira, um indivíduo pode ter em seu corpo moléculas que pertenceram aos
homens dos primeiros tempos. E essas mesmas moléculas orgânicas que absorveis
dos vossos alimentos provêm talvez do corpo de um indivíduo que conhecestes, e
assim por diante. Sendo a matéria de quantidade definida e suas transformações
em número indefinido como poderia cada um desses corpos reconstituir-se com
seus mesmos elementos? Há nisso uma impossibilidade material. Não se pode,
portanto, racionalmente admitir a ressurreição da carne, senão como um figura
simbolizando o fenômeno da reencarnação. E então nada há que choque a razão,
nada que esteja em contradição com os dados da Ciência.
É verdade que
segundo o dogma essa ressurreição não deve ocorrer senão no fim dos tempos,
enquanto segundo a doutrina espírita ocorre todos os dias. Mas não há também
nesse quadro do julgamento final uma grande e bela figura que oculta, sob o véu
da alegoria, uma dessas verdades imutáveis que os céticos não rejeitarão quando
forem conduzidas à verdadeira significação? Que se medite bem a teoria espírita
sobre o futuro das almas e sobre a sua sorte, em consequência das diferentes
provas que devem sofrer, e se verá que, com exceção da simultaneidade, o
julgamento em que são condenadas ou absolvidas não é uma ficção como pensam os
incrédulos. Consideremos ainda que ela é a consequência natural da pluralidade
dos mundos, hoje perfeitamente admitida, enquanto, segundo a doutrina do
julgamento final, a Terra é considerada como o único mundo habitado(2).
(1) Estas respostas de
São Luís confirmam a natureza religiosa do Espiritismo, ressaltada por Kardec
no item VIII da Conclusão, em que a Doutrina é apresentada
como desenvolvimento histórico do Cristianismo. Estranham alguns que o Espírito
use o título de santo, mas é evidente que o usa como
meio de identificação. Aliás, como ensina Kardec, os títulos terrenos nada
representam para os Espíritos superiores, podendo ser usados por eles
quando se fizer necessário, como neste caso. (N. do T.)
(2) A pluralidade dos
mundos habitados era admitida como possibilidade no tempo de Kardec, como o é
hoje, embora a Ciência não a admita como verdade comprovada. Flammarion
publicou uma grande obra a respeito, traduzida para o português: “A pluralidade dos
mundos habitados”, e no prefácio de “O desconhecido e os
problemas psíquicos”, declara com a sua autoridade de astrônomo: “A
imortalidade através das esferas siderais parece-me o complemento lógico da
Astronomia”. Os astrônomos atuais procuram obter provas a respeito. (N. do T.)
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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