Qual é a visão espírita sobre o papel dos avós na educação dos netos?
Por Maria da Graça
Britto de Azevedo
Como deve ser o
envolvimento dos avós na educação dos netos?
“Aprenda, no
exercício do respeito a seus filhos, a não conduzir seus netos pela rota das
suas concepções, sem que os pais concordem com elas. Por mais que admita que a
sua posição é correta, a sua vez de ser pai ou mãe e de imprimir a sua
orientação já passou.” Thereza de Brito (autora espiritual),
da obra "Vereda Familiar" (peça em nossa livraria) ,
pela psicografia de Raul Teixeira [4].
Prezados
avôs e avós,
Não nos melindremos
com a afirmação acima! Nosso orgulho e vaidade precisam ser combatidos e a
Humildade - virtude que, com o avançar de nossa idade terrena e espiritual, já
deveria ter sido conquistada por nós - deve nos conduzir, neste atual momento
de nossas existências.
Allan Kardec, na
questão 208 de O Livro dos Espíritos [1], afirma que todo
pai e toda mãe têm por missão a tarefa de criar e educar seus filhos. Salvo em
situações de quebra da estrutura familiar - por ausência dos genitores em
decorrência de morte, encarceramento, abandono, penúria, doenças incapacitantes
e outras questões similares - é
que avós, tios e demais familiares - ou, ainda, o Estado, por intermédio dos
tutores que designar - devem assumir a educação da criança que aporta na
família e na sociedade.
Segundo a Lei
Divina, o pai ou a mãe que delega a terceiros a responsabilidade pelos cuidados
permanentes devidos a um filho é considerado desertor de sua tarefa e, como
tal, sofrerá as consequências espirituais correspondentes. Santo
Agostinho, na obra “O Evangelho Segundo Espiritismo” [2], no
item 9 do Cap. XIV -, ressalta
que Deus perguntará a cada um: “Que fizestes do filho confiado à vossa guarda?
Se por culpa vossa ele se conservou atrasado, tereis como castigo, vê-lo entre
espíritos sofredores, quando de vós dependia que fosse ditoso."
Não podemos ser
pais e avós alienados ou acomodados. Caso
convivamos com situação semelhante em nosso contexto familiar, cumpramos nosso
dever: chamemos efetivamente à responsabilidade nosso ente amado, quantas vezes
forem necessárias; falemos incansavelmente sobre a importância da evangelização
na vida de todo Espírito, seja na idade que for, e sobre a necessidade da
presença de Jesus no lar.
Tenhamos
sempre em mente que somos pais dos pais de nossos netos! Nosso tempo de
semeadura passou. Se ontem semeamos em terrenos férteis, temos, hoje, a
felicidade de ver nossos filhos tomando a charrua e saindo a semear sementes de
boa qualidade, em novos terrenos. Se, no entanto, nos deparamos com terras
pouco produtivas ou improdutivas, não nos desesperemos, porque Deus é o Grande
Pai de todos nós. Confiemos!
É compreensível que
devotemos um amor “especial” a estes seres que preenchem nossos corações e
horas de alegria e que nos sintamos revigorados e felizes por estarmos com eles
a todo tempo. Mas nós não podemos tomar sobre nossos ombros deveres que não são
nossos!
Na
obra Constelação Familiar [3] ,
Joanna de Ângelis ressalta que a contribuição dos avós “não deve ir além da
condição de cooperadores quando solicitados de apoio e de carinho (...)
eximindo-se a grave postura de acobertar erros dos netos, de agir
equivocadamente em relação a eles, acreditando que a orientação dos genitores
está incorreta...”. Não abafemos psicologicamente nossos filhos, noras ou
genros, criando-lhes obstáculos ao exercício parental que lhes cabe realizar.
Eles também aprenderão, a seu turno, errando e acertando, assim como aconteceu
conosco.
Thereza de Brito,
em Vereda Familiar [4], alerta-nos que “o
desenvolvimento de uma personalidade sadia se faz a partir de modelos
referenciais.
Expor a criança ou o adolescente a duas referências antagônicas é prejudicial a
esse desenvolvimento. Guiada pelo princípio do prazer, ela
poderá se inclinar para o modelo que lhe faça menos exigências morais.”
Não
criemos, pois, conflitos de autoridade! Embora seja hábito comum, é um grande
equívoco querermos educar nossos netos usando moldes “do nosso tempo”. Com a
aceleração científica e tecnológica, hábitos e costumes também sofreram
mudanças, para pior e para melhor. Nossos filhos, noras ou genros não são
obrigados a acatar tudo o que dizemos e têm sim o direito de discordarem de uma
série de coisas que fazíamos ou que eram consideradas adequadas “antigamente”.
Contudo, não lhes devemos permitir a zombaria e a crítica mordaz em relação a
nós, porque, queiram ou não, devem-nos respeito.
Se quisermos
desfrutar do convívio salutar com quem muito amamos, devemos acolher a nova
família que se constituiu a partir de nós, abstendo-nos de intromissões em
assuntos que não nos competem.
Controlemos
nossos ímpetos e sejamos serenos em tudo. Que Jesus nos abençoe!
[1] KARDEC, Allan.
Questão 208 - Parte Segunda, Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos. In: O
Livro dos Espíritos (peça em nossa livraria).
[2] KARDEC, Allan.
CapítuloXIV - Honrai a vosso pai e a vossa mãe. In: O
Evangelho Segundo o Espiritismo (peça em nossa livraria).
[3] FRANCO, Divaldo.
Capítulo: A presença dos avós. In: Constelação
Familiar (peça em nossa livraria). Pelo Espírito
Joanna de Ângelis.
[4] TEIXEIRA, Raul. In:
Vereada Familiar (peça em nossa livraria). Pelo Espírito
Thereza de Brito.
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