Nossos velhos
Vimo-lo mais de uma vez. Anda pelas ruas da cidade, empurrando um carrinho, desses próprios para recolher papéis.
Traz o corpo arcado sob o peso dos anos e, por vezes, não se sabe com exatidão se ele conduz o carrinho de papéis ou se este o puxa, de um lado a outro, estabelecendo a direção a seguir, tal a dificuldade que se observa naquele homem.
Os dias frios o surpreendem na rua e, ao final do dia, ele comparece ao mercadinho do bairro para comprar um pãozinho, um ovo, um pacote de fubá.
Quando sorri, aparecem seus poucos dentes amarelados e gastos. Necessitaria tanto de um dentista.
Nos dias de inverno, quando estende a mão um pouco enrolada em panos para disfarçar o frio, pode-se perceber a cor arroxeada dos que têm dificuldade de circulação sanguínea.
Os olhos não são ágeis e precisos como na juventude e ele calcula mal o tempo que leva para passar de um lado ao outro da rua, levando o seu carrinho cheio de caixas, papéis e jornais.
Mas seus ouvidos permanecem atentos e ele pode muito bem ouvir as buzinadas nervosas dos carros que passam conduzidos por motoristas apressados, que não se dão conta da sua dificuldade.
É um catador de papel. Velho e cansado. Olhando-o assim indefeso e buscando sobreviver com um pouco de dignidade, pois se orgulha em afirmar que ainda trabalha, apesar da sua idade, recordamos dos nossos velhos.
Os que desfrutamos da felicidade de ter os avós ao nosso lado, os guardamos com carinho no aconchego do lar, e nos preocupamos com suas refeições. Observando que eles já não se alimentam quanto deveriam, preparamos copos de suco, vitaminas, durante o dia.
Escolhemos ovos frescos e lhes servimos, quentes, batidos, junto a outros complementos vitamínicos a fim de que não enfraqueçam.
E se adoecem, para logo buscamos o médico, o medicamento, a internação, o que seja necessário.
São os nossos velhos, que recebem a nossa atenção e a nossa ternura, na forma de abraços e carícias nas cabeleiras brancas.
E esses outros, perdidos nas ruas da cidade? Que fazemos por eles?
É da Lei de caridade que o forte trabalhe pelo fraco, que o jovem auxilie o idoso. Quando este não tem família ou quem o socorra, é a sociedade que deve ampará-lo.
Como a sociedade somos todos nós, os cidadãos, voltemos nossas vistas para esses que vivem seus últimos anos em abandono e tomemos resoluções firmes.
Não aguardemos que o governo o faça. A solução pode demorar um pouco mais e a necessidade é urgente.
Que tal pensarmos em adotar um idoso? Não haverá necessidade de que o levemos para casa mas bem podemos verificar as condições do seu barraco e melhorá-lo.
Providenciar cobertas quentes, alimentação adequada, visitá-lo, fazer com que se sinta gente e gente importante outra vez.
* * *
O homem tem o direito de repousar na velhice.
A nada deve ser obrigado, além do que lhe permitam as suas forças.
É importante que o idoso se sinta útil, querido, amado.
Afinal, muitos dos seus amigos já partiram para a Espiritualidade, alguns dos filhos se encontram distantes cuidando da própria vida.
Se não lhe dermos um motivo para viver, para ser feliz, ele se tomará de tristeza, mergulhará em depressão e mais cedo, muito mais cedo partirá, tristonho e abatido.
Lembremos: todo velho um dia foi moço, produziu, contribuiu com a sociedade de alguma forma. Merecerá concluir seus dias na Terra em total e desconfortável abandono?
Redação do Momento Espírita, com pensamentos dos itens 685 e 685ª de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.
Em 21.10.2010.
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