sexta-feira, 9 de junho de 2023

O SONO E OS SONHOS.

 


O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO VIII.

 O SONO E OS SONHOS.

O Espírito encarnado não permanece voluntariamente no envoltório corporal.

É como perguntar se o prisioneiro está satisfeito sob as chaves. O Espírito encarnado aspira incessantemente à libertação, e quanto mais grosseiro é o envoltório, mais deseja ver-se desembaraçado.

Durante o sono, a alma não repousa como o corpo.

O Espírito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo não necessita do Espírito. Então, ele percorre o espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.

Podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono

pelos sonhos. Devemos saber que, quando o corpo repousa, o Espírito dispõe de mais faculdades que no estado de vigília. Tem a lembrança do passado e, às vezes, a previsão do futuro; adquire mais poder e pode entrar em comunicação com os outros espíritos, seja deste mundo, seja de outro.

Frequentemente dizemos: “Tive um sonho bizarro, um sonho horrível, mas que não tem nenhuma verossimilhança”. Enganamo-nos. É quase sempre uma lembrança de lugares e de coisas que vimos ou que veremos numa outra existência ou em outra ocasião. O corpo estando adormecido, o Espírito trata de quebrar as suas cadeias para investigar no passado ou no futuro.

Pobres seres humanos que somos, que conhecemos tão pouco dos mais ordinários fenômenos da vida! Acreditamos sermos muito sábios, e as coisas mais vulgares nos embaraçam. A esta pergunta de todas as crianças: “O que é que fazemos quando dormimos; o que são os sonhos?”, ficamos sem resposta.

O sono liberta parcialmente a alma do corpo. Quando o ser humano dorme, momentaneamente se encontra no estado em que estará de maneira permanente após a morte. Os Espíritos que logo se desprendem da matéria, ao morrerem, tiveram sonhos inteligentes. Esses Espíritos, quando dormem, procuram a sociedade dos que lhes são superiores: viajam, conversam e se instruem com eles; trabalham mesmo em obras que encontram concluídas, ao morrer. Destes fatos devemos aprender, uma vez mais, a não ter medo da morte, pois morremos todos os dias, segundo a expressão de um santo Espírito. Isto para os Espíritos elevados; pois a massa dos seres humanos que com a morte, devem permanecer longas horas nessa perturbação, nessa incerteza de que lhes têm falado, vão seja a mundos inferiores à Terra, onde antigas afeições os chamam, seja à procura de prazeres talvez ainda mais baixos do que possuíam aqui; vão beber doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais nocivas do que as que professavam entre nós. E o que engendra a simpatia na Terra não é outra coisa senão o fato de nos sentirmos, ao acordar, ligados pelo coração àqueles com quem acabamos de passar oito ou nove horas de felicidade ou de prazer. O que explica também as antipatias invencíveis é que sentimos, no fundo do coração, que essas pessoas têm uma consciência diversa da nossa, porque as conhecemos sem jamais as ter visto. E ainda o que explica a indiferença, pois não procuramos fazer novos amigos, quando sabemos ter os que nos amam e nos querem. Numa palavra: o sono influi mais do que pensamos, sobre a nossa vida.

Por efeito do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos, e é isso o que faz que os Espíritos superiores consintam, sem muita repulsa, em encarnar-se entre nós. Deus quis que durante o seu contato com o vício pudessem eles retemperar-se na fonte do bem, para não falirem, eles que vinham instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu para o contato com os seus amigos do céu; é o recreio após o trabalho, enquanto esperam o grande livramento, a libertação final que deve restituí-los ao seu verdadeiro meio.

O sonho é a lembrança do que o nosso Espírito viu durante o sono; mas observemos que nem sempre sonhamos, porque nem sempre nos lembramos daquilo que vimos ou de tudo o que vimos. Isso porque não temos a nossa alma em todo o nosso desenvolvimento; frequentemente não nos resta mais do que a lembrança da perturbação que acompanha a nossa partida e a nossa volta, a que se junta a lembrança do que fizemos ou do que nos preocupa no estado de vigília. Sem isto, como podemos explicar esses sonhos absurdos a que estamos sujeitos, tanto os mais sábios quanto os mais simples? Os maus Espíritos também se servem dos sonhos, para atormentar as almas fracas e pusilânimes.

De resto, veremos dentro em pouco desenvolver-se uma outra espécie de sonhos; uma espécie tão antiga como a que conhecemos, mas que ignoramos. O sonho de Joana, o sonho de Jacó, o sonho dos profetas judeus e de alguns indivíduos indianos: esse sonho é a lembrança da alma inteiramente liberta do corpo, a recordação dessa segunda vida de que há pouco nos foi falado.

Procuremos distinguir bem essas duas espécies de sonhos, entre aqueles de que nos lembramos; sem isso, cairíamos em contradições e em erros que seriam funestos para a nossa fé.

Comentário de Kardec: Os sonhos são o produto da emancipação da alma, que se torna mais independente pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida, que se estende aos lugares os mais distantes ou que jamais se viu, e algumas vezes mesmo a outros mundos. Daí também a lembrança que retraça na memória os acontecimentos verificados na existência presente ou nas existências anteriores. A extravagância das imagens referentes ao que se passa ou se passou em mundos desconhecidos entremeadas de coisas do mundo atual formam esses conjuntos bizarros e confusos que parecem não ter senso nem nexo.

A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas decorrentes da lembrança incompleta do que nos apareceu no sonho. Tal como um relato ao qual se tivessem truncado frases ou partes de frases ao acaso: os fragmentos restantes sendo reunidos, perderiam toda significação racionai.

Nem sempre não nos recordamos dos sonhos, porque o Espírito no sono, ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja neste ou em outros mundos. Mas como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo.

Devemos pensar da significação atribuída aos sonhos, que eles são verdadeiros no sentido de apresentarem imagens reais para o Espírito, mas que, frequentemente, não têm relação com o que se passa na vida corpórea. Muitas vezes são uma recordação. Podem ser, enfim, algumas vezes, um pressentimento do futuro, se Deus o permite, ou a visão do que se passa no momento em outro lugar a que a alma se transporta. Temos numerosos exemplos de pessoas que aparecem em sonhos para advertir parentes e amigos do que lhes está acontecendo, que são aparições senão da alma ou do Espírito dessas pessoas que se comunicam com a nossa. Quando adquirimos a certeza de que aquilo que vimos realmente aconteceu, não é isso uma prova de que a imaginação nada tem com o fato, sobretudo se o ocorrido absolutamente não estava no nosso pensamento durante a vigília.

Frequentemente vemos em sonhos coisas que parecem pressentimentos e que não se cumprem, porque podem cumprir-se para o Espírito, e não se cumprem para o corpo.  Quer dizer que o Espírito vê aquilo que deseja, porque vai procurá-lo. Não se deve esquecer que, durante o sono, a alma está sempre mais ou menos sob a influência da matéria, e por conseguinte não se afasta jamais completamente das ideias terrenas. Disso resulta que as preocupações da vigília podem dar, àquilo que se vê, a aparência do que se deseja ou do que se teme. A isso é que realmente se pode chamar um efeito da imaginação. Quando se está fortemente preocupado com uma ideia, liga-se a ela tudo o que se vê.

Quando vemos em sonho pessoas vivas que conhecemos, perfeitamente praticarem atos em que absolutamente não pensam, não é isso um efeito de pura imaginação em que absolutamente não pensam? Como podemos saber, se seus Espíritos podem vir visitar o nosso, como o nosso pode visitar os deles, e nem sempre sabemos o que pensam. Além disso frequentemente aplicamos a pessoas que conhecemos, e segundo os nossos desejos, aquilo que se passou ou se passa em outras existências.

Não é estritamente necessário que o sono se complete, para que haja a emancipação do Espírito. O Espírito recobra a sua liberdade quando os sentidos se entorpecem; ele aproveita para se emancipar todos os instantes de descanso que o corpo lhe oferece. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, e quanto mais fraco estiver o corpo, mais o Espírito estará livre.

Comentário de Kardec: É assim que o cochilar, ou um simples entorpecimento dos sentidos, apresenta muitas vezes as mesmas imagens do sonho.

Parece-nos, às vezes, ouvir cm nosso íntimo palavras pronunciadas distintamente e que não têm nenhuma relação com o que nos preocupa, sobretudo quando os sentidos começam a se entorpecer. É, às vezes, o fraco eco de um Espírito que deseja comunicar-se conosco.

Muitas vezes num estado que ainda não é o de cochilo, quando temos os olhos ainda fechados, vemos imagens distintas, figuras das quais apanhamos os pormenores mais minuciosos, seria um efeito de visão ou de imaginação?

Diríamos que entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar a sua cadeia: ele se transporta e vê, e se o sono fosse completo, isso seria um sonho.

Às vezes, durante o sono ou do cochilo, ideias que parecem muito boas e que, apesar dos esforços que fazemos para recordá-las se apagam da memória, são do resultado da liberdade do Espírito, que se emancipa e goza nesse momento dais mais amplas faculdades.

Essas ideias geralmente pertencem algumas vezes, mais ao mundo dos Espíritos que. ao mundo corpóreo, mas o mais frequente é que se o corpo as esquece. O Espírito as lembra, e a ideia volta no momento necessário, como uma inspiração do momento.

O Espírito encarnado, nos momentos em que se desprende da matéria e age como Espírito, muitas vezes pressente a época da sua morte, e às vezes tem dela uma consciência bastante clara, o que lhe dá, no estado de vigília, a sua intuição. É por isso que algumas pessoas preveem às vezes, a própria morte com grande exatidão.

A atividade do Espírito, durante o repouso ou o sono do corpo, pode se fatigar a este, porque o Espírito está ligado ao corpo como o balão cativo ao poste. Ora, da mesma maneira que as sacudidas do balão abalam o poste, a atividade do Espírito reage sobre o corpo, e pode produzir-lhe fadiga.

 

BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS.

0 comentários:

Postar um comentário

ESTAMOS DISPOSIÇÃO DOS AMIGOS PARA ESCLARECER QUALQUER DÚVIDA.