quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

AS TAREFAS ESPÍRITAS E O ISOLAMENTO SOCIAL.

 


As tarefas espíritas e o isolamento social.

Alessandro Viana Vieira de Paula

Vivemos, na atualidade, um grande desafio gerado pelo covid-19, que impôs à sociedade a necessidade de isolamento social, permanecendo em pleno funcionamento apenas as atividades consideradas essenciais, tais como, farmácias, mercados etc.

O Espiritismo nos elucida que estamos enfrentando um grande flagelo destruidor, em plena transição planetária, cujo objetivo maior é fazer a humanidade progredir mais depressa, conforme responderam os benfeitores espirituais à indagação lúcida de Allan Kardec (questão nº 737 de O Livro dos Espíritos).

Naturalmente, são inúmeras as preciosas lições que podemos extrair de uma pandemia (individual e coletiva; material e moral etc.), mas desejamos abordar aquelas relacionadas à suspensão das atividades religiosas por conta do fechamento das Casas Espíritas.

Conquanto muitos de nós não desejássemos fechar a Casa Espírita, convém anotar que essa medida decorreu do cumprimento de normas municipais e/ou estaduais, cabendo ao espírita cumprir e respeitar essas normativas que visam atender as medidas de proteção na área da saúde, com o escopo de conter o crescimento de contágio do covid-19 e os respectivos óbitos.

Em relação aos grupos de estudo, notamos que muitos dirigentes, após perceberem que seria prolongado o período de isolamento social nos templos religiosos, reativaram os estudos na modalidade virtual, havendo diversas ferramentas tecnológicas à disposição, possibilitando a continuidade das reflexões em torno das temáticas espíritas, que tão bem fazem ao nosso coração e à nossa mente, fortalecendo-nos para o enfrentamento saudável da quarentena.

No que se refere às reuniões mediúnicas, percebemos que há um desafio adicional, ante a impossibilidade de se realizar as atividades práticas da mediunidade, ou seja, o intercâmbio com os espíritos, todavia, os médiuns podem se reunir de forma virtual para estudar o Espiritismo.

Aliás, encontraremos na Revista Espírita de fevereiro de 1861 uma excelente sugestão de Allan Kardec (artigo “Escassez de Médiuns”), que pode ser aplicada nesses tempos de isolamento social.

O nobre Codificador trata da questão da suspensão da reunião mediúnica em decorrência da falta de médiuns, de forma que ele sugere quatro atividades para o grupo mediúnico, a saber: 1) Reler e comentar as antigas comunicações, cujo estudo aprofundado fará ressaltar melhor seu valor; 2) Contar fatos de que se tem conhecimento, discuti-los, comentá-los, explicá-los pelas leis da Ciência Espírita; 3) Ler, comentar e desenvolver cada artigo de “O livro dos Espíritos” e de “O Livro dos Médiuns”, bem como todas as outras obras sobre o Espiritismo (lembro que em 1861 só havia essas duas obras do pentateuco de Kardec); 4) Discutir os vários sistemas sobre interpretação dos fenômenos espíritas (naquela época havia intensa discussão nessa área, havendo, inclusive, aqueles que negavam a ação dos espíritos na produção dos fenômenos).

Esses quatro itens são notáveis alternativas para os grupos mediúnicos se manterem unidos e estudando, o que facilitará, oportunamente, o retorno das atividades de intercâmbio com os espíritos.

Anote-se, ainda, que para os médiuns há duas lições importantes a serem analisadas, uma vez que alguns ainda conservam a ideia equivocada de que estão no grupo mediúnico apenas para socorrer os espíritos sofredores e que são os

componentes mais importantes da reunião (orgulho), porque sem as suas presenças não haveria o citado socorro.

A primeira lição para os médiuns que mantêm esses conceitos equivocados é que a reunião mediúnica também serve para o seu aprendizado intelecto-moral, porque o bom médium estará atento às lições trazidas pelos espíritos superiores e aprenderá com os relatos dos espíritos em sofrimento.

A segunda lição para combater o orgulho consiste no ensinamento que o médium é apenas um instrumento, e que o atendimento aos espíritos sofridos e obsessores podem ocorrer sem o seu concurso. Aliás, antes de haver Casas Espíritas como ocorriam esses socorros? Nesta época de quarentena estão suspensos os atendimentos dos espíritos infelizes?

Claro que os atendimentos ocorriam antes do surgimento do Espiritismo e ocorrem nesta época de quarentena, haja vista que os espíritos nobres mudam as suas estruturas vibratórias, tornando seus períspiritos mais densos, de tal sorte ficam visíveis aos espíritos a serem atendidos, orientando-os e acolhendo-os diretamente.

Sabemos que em relação aos grupos de estudo e mediúnico é bem provável que não se consiga a adesão de todos os componentes, por diversos fatores, inclusive por falta de equipamento viável para o encontro virtual, mas isso não deverá obstar a iniciativa ou a manutenção desses estudos on-line.

Quanto às preleções públicas, notamos que diversas Casas Espíritas estão oferecendo palestras e evangelhos on-line, assim como vemos muitos palestrantes espíritas usando as redes sociais para divulgarem a mensagem do Espiritismo, merecendo, todas essas práticas, a nossa gratidão e o incentivo para que permaneçam enquanto perdurar a pandemia, e, quem sabe, mesmo após o isolamento social, vejamos o crescimento dessas modalidades de tarefas espíritas.

As atividades de atendimento fraterno da Casa Espírita também sofreram os impactos da quarentena, mas é uma tarefa vital nesses tempos por conta das variadas aflições e sofrimentos que atingem muitas pessoas, podendo o núcleo espírita criar alternativas, sempre respeitando as normas vigentes, por exemplo, manter o atendimento por ligações telefônicas ou contato on-line.

Outro ponto que gostaria de destacar, diz respeito aos aprendizados e às reflexões que o próprio espírita deve fazer diante do distanciamento das atividades da Casa Espírita e do convívio com os respectivos confrades e confreiras.

É comum sermos envolvidos pela rotina e isso abrange as tarefas espíritas, de forma que alguns, com o passar do tempo, continuam indo às atividades espíritas mais por obrigação e não extraem todos os benefícios morais e espirituais que essas atividades podem gerar em sua vida.

Quando estão engessados pela rotina, realizam a tarefa no “piloto automático” (estudo, mediunidade, passe, atendimento fraterno ou assistencial etc.), portanto, sem estabelecer uma sintonia mais refinada e intensa com a espiritualidade superior, e, por consequência, podem ser dominados pelo cansaço físico, pela desmotivação e pela perda da alegria na realização da tarefa, podendo culminar, mais adiante, no abandono dos compromissos espíritas.

Devemos, portanto, nestes tempos de isolamento, avaliar a grandeza e a honra de podermos trabalhar na vinha do Senhor, esforçando-nos para que sempre esteja presente em nós, nas abençoadas tarefas espiritas, a gratidão, a alegria de servir e a afetividade equilibrada e amorosa na convivência pessoal com os demais trabalhadores.

Cabe, ainda, ao espírita, no isolamento social, o dever de se manter ativo nas leituras doutrinárias e naquelas de boa qualidade, realizar o evangelho no lar, buscar o lenitivo da prece e investir ou intensificar o processo de autoconhecimento, procurando sempre a sua melhoria espiritual.

Dessa forma, estes tempos atuais de pandemia devem nos trazer excelentes materiais de reflexão e crescimento, e, particularmente nas atividades das Casas Espíritas, que possamos cada vez mais perceber a importância dessas tarefas em nossas vidas, procurando, ainda, ofertar o nosso melhor para que elas se realizem com os propósitos estabelecidos pela Espiritualidade superior.

Reflitamos acerca da advertência de Jesus, o modelo e guia, que nos alertou: “Dá conta de tua administração” (Lucas 16:2 – Parábola do Administrador Infiel).

Alessandro Viana Vieira de Paula

  • Juiz de Direito
  • Dirigente do Centro Espírita Allan Kardec, de Itapetininga/SP.
  • Participante do programa radiofônico espírita O Terceiro Milênio, na mesma cidade.
  • Membro da ABRAME (Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas)

 

 

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