As tarefas espíritas e o isolamento social.
Alessandro Viana Vieira de Paula
Vivemos, na atualidade, um grande desafio gerado pelo covid-19, que
impôs à sociedade a necessidade de isolamento social, permanecendo em pleno
funcionamento apenas as atividades consideradas essenciais, tais como,
farmácias, mercados etc.
O Espiritismo nos elucida que estamos enfrentando um grande flagelo
destruidor, em plena transição planetária, cujo objetivo maior é fazer a
humanidade progredir mais depressa, conforme responderam os benfeitores
espirituais à indagação lúcida de Allan Kardec (questão nº 737 de O Livro dos
Espíritos).
Naturalmente, são inúmeras as preciosas lições que podemos extrair de
uma pandemia (individual e coletiva; material e moral etc.), mas desejamos abordar
aquelas relacionadas à suspensão das atividades religiosas por conta do
fechamento das Casas Espíritas.
Conquanto muitos de nós não desejássemos fechar a Casa Espírita, convém
anotar que essa medida decorreu do cumprimento de normas municipais e/ou estaduais,
cabendo ao espírita cumprir e respeitar essas normativas que visam atender as
medidas de proteção na área da saúde, com o escopo de conter o crescimento de
contágio do covid-19 e os respectivos óbitos.
Em relação aos grupos de estudo, notamos que muitos dirigentes, após
perceberem que seria prolongado o período de isolamento social nos templos
religiosos, reativaram os estudos na modalidade virtual, havendo diversas
ferramentas tecnológicas à disposição, possibilitando a continuidade das
reflexões em torno das temáticas espíritas, que tão bem fazem ao nosso coração
e à nossa mente, fortalecendo-nos para o enfrentamento saudável da quarentena.
No que se refere às reuniões mediúnicas, percebemos que há um desafio
adicional, ante a impossibilidade de se realizar as atividades práticas da
mediunidade, ou seja, o intercâmbio com os espíritos, todavia, os médiuns podem
se reunir de forma virtual para estudar o Espiritismo.
Aliás, encontraremos na Revista Espírita de fevereiro de 1861 uma
excelente sugestão de Allan Kardec (artigo “Escassez de Médiuns”), que pode ser
aplicada nesses tempos de isolamento social.
O nobre Codificador trata da questão da suspensão da reunião mediúnica
em decorrência da falta de médiuns, de forma que ele sugere quatro atividades
para o grupo mediúnico, a saber: 1) Reler e comentar as antigas comunicações,
cujo estudo aprofundado fará ressaltar melhor seu valor; 2) Contar fatos de que
se tem conhecimento, discuti-los, comentá-los, explicá-los pelas leis da
Ciência Espírita; 3) Ler, comentar e desenvolver cada artigo de “O livro dos
Espíritos” e de “O Livro dos Médiuns”, bem como todas as outras obras sobre o
Espiritismo (lembro que em 1861 só havia essas duas obras do pentateuco de
Kardec); 4) Discutir os vários sistemas sobre interpretação dos fenômenos
espíritas (naquela época havia intensa discussão nessa área, havendo,
inclusive, aqueles que negavam a ação dos espíritos na produção dos fenômenos).
Esses quatro itens são notáveis alternativas para os grupos mediúnicos
se manterem unidos e estudando, o que facilitará, oportunamente, o retorno das
atividades de intercâmbio com os espíritos.
Anote-se, ainda, que para os médiuns há duas lições importantes a serem
analisadas, uma vez que alguns ainda conservam a ideia equivocada de que estão
no grupo mediúnico apenas para socorrer os espíritos sofredores e que são os
componentes mais importantes da reunião (orgulho), porque sem as suas
presenças não haveria o citado socorro.
A primeira lição para os médiuns que mantêm esses conceitos equivocados
é que a reunião mediúnica também serve para o seu aprendizado intelecto-moral,
porque o bom médium estará atento às lições trazidas pelos espíritos superiores
e aprenderá com os relatos dos espíritos em sofrimento.
A segunda lição para combater o orgulho consiste no ensinamento que o
médium é apenas um instrumento, e que o atendimento aos espíritos sofridos e
obsessores podem ocorrer sem o seu concurso. Aliás, antes de haver Casas
Espíritas como ocorriam esses socorros? Nesta época de quarentena estão
suspensos os atendimentos dos espíritos infelizes?
Claro que os atendimentos ocorriam antes do surgimento do Espiritismo e
ocorrem nesta época de quarentena, haja vista que os espíritos nobres mudam as
suas estruturas vibratórias, tornando seus períspiritos mais densos, de tal
sorte ficam visíveis aos espíritos a serem atendidos, orientando-os e
acolhendo-os diretamente.
Sabemos que em relação aos grupos de estudo e mediúnico é bem provável
que não se consiga a adesão de todos os componentes, por diversos fatores,
inclusive por falta de equipamento viável para o encontro virtual, mas isso não
deverá obstar a iniciativa ou a manutenção desses estudos on-line.
Quanto às preleções públicas, notamos que diversas Casas Espíritas estão
oferecendo palestras e evangelhos on-line, assim como vemos muitos palestrantes
espíritas usando as redes sociais para divulgarem a mensagem do Espiritismo,
merecendo, todas essas práticas, a nossa gratidão e o incentivo para que
permaneçam enquanto perdurar a pandemia, e, quem sabe, mesmo após o isolamento
social, vejamos o crescimento dessas modalidades de tarefas espíritas.
As atividades de atendimento fraterno da Casa Espírita também sofreram
os impactos da quarentena, mas é uma tarefa vital nesses tempos por conta das
variadas aflições e sofrimentos que atingem muitas pessoas, podendo o núcleo
espírita criar alternativas, sempre respeitando as normas vigentes, por
exemplo, manter o atendimento por ligações telefônicas ou contato on-line.
Outro ponto que gostaria de destacar, diz respeito aos aprendizados e às
reflexões que o próprio espírita deve fazer diante do distanciamento das
atividades da Casa Espírita e do convívio com os respectivos confrades e
confreiras.
É comum sermos envolvidos pela rotina e isso abrange as tarefas
espíritas, de forma que alguns, com o passar do tempo, continuam indo às
atividades espíritas mais por obrigação e não extraem todos os benefícios
morais e espirituais que essas atividades podem gerar em sua vida.
Quando estão engessados pela rotina, realizam a tarefa no “piloto
automático” (estudo, mediunidade, passe, atendimento fraterno ou assistencial
etc.), portanto, sem estabelecer uma sintonia mais refinada e intensa com a
espiritualidade superior, e, por consequência, podem ser dominados pelo cansaço
físico, pela desmotivação e pela perda da alegria na realização da tarefa,
podendo culminar, mais adiante, no abandono dos compromissos espíritas.
Devemos, portanto, nestes tempos de isolamento, avaliar a grandeza e a
honra de podermos trabalhar na vinha do Senhor, esforçando-nos para que sempre
esteja presente em nós, nas abençoadas tarefas espiritas, a gratidão, a alegria
de servir e a afetividade equilibrada e amorosa na convivência pessoal com os
demais trabalhadores.
Cabe, ainda, ao espírita, no isolamento social, o dever de se manter
ativo nas leituras doutrinárias e naquelas de boa qualidade, realizar o
evangelho no lar, buscar o lenitivo da prece e investir ou intensificar o
processo de autoconhecimento, procurando sempre a sua melhoria espiritual.
Dessa forma, estes tempos atuais de pandemia devem nos trazer excelentes
materiais de reflexão e crescimento, e, particularmente nas atividades das
Casas Espíritas, que possamos cada vez mais perceber a importância dessas
tarefas em nossas vidas, procurando, ainda, ofertar o nosso melhor para que
elas se realizem com os propósitos estabelecidos pela Espiritualidade superior.
Reflitamos acerca da advertência de Jesus, o modelo e guia, que nos
alertou: “Dá conta de tua administração” (Lucas 16:2 – Parábola do
Administrador Infiel).
Alessandro
Viana Vieira de Paula
- Juiz
de Direito
- Dirigente
do Centro Espírita Allan Kardec, de Itapetininga/SP.
- Participante
do programa radiofônico espírita O Terceiro Milênio, na mesma cidade.
- Membro
da ABRAME (Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas)
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