O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
CAPÍTULO III. METEMPSICOSE.
A comunhão
de origem dos seres vivos no princípio inteligente não é a consagração da
doutrina da metempsicose, porque duas coisas podem ter a mesma origem e não se
assemelharem em nada mais tarde. Quem reconheceria a árvore, suas folhas,
suas flores e seus frutos no germe informe que se contém na semente de
onde saíram? No momento em que o princípio inteligente atinge
o grau necessário para ser Espírito e entrar no período de humanidade, não
tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais,
como a árvore não é a semente. No homem, somente existe do animal o corpo,
as paixões que nascem da influência do corpo e os instintos de conservação
inerente à matéria Não se pode dizer, portanto, que tal homem, é a
encarnação do Espírito de tal animal, e. por conseguinte a metempsicose,
tal como a entendem, não é exata.
O Espírito
que animou o corpo de um homem não poderia encarnar-se num animal, porque isso seria retrogradar,
e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à nascente.
Quanto a
ideia por mais errônea que seja, de que ela esteja ligada à metempsicose, pergunta-se
não seria ela o resultado do sentimento intuitivo das diferentes existências do
homem?
—O Espíritos nos respondem que
reconhecem esse sentimento intuitivo nessa crença como em muitas outras;
mas, como a maior parte dessas ideias intuitivas, o homem os desnaturou.
Comentário de Kardec: A metempsicose seria verdadeira se por ela
se entendesse a progressão da alma de um estado inferior para um superior,
realizando os desenvolvimentos que transformariam a sua natureza;
mas é falsa, no sentido de transmigração direta do animal para o homem e
vice-versa, o que implicaria a ideia de uma retrogradação ou de fusão
Ora não podendo realizar-se essa fusão entre seres corporais de duas
espécies temos nisso um indicio de que se encontram em graus não assimiláveis e
que o mesmo deve acontecer com os espíritos que os animam. Se o mesmo Espírito
pudesse animá-los alternativamente, disso resultaria uma identidade de natureza
que se traduziria na possibilidade de reprodução material. A reencarnação
ensinada pelos Espíritos se funda, pelo contrário, sobre a marcha ascendente da
Natureza e sobre a progressão do homem na sua própria espécie, o que não
diminui em nada a sua dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que faz das
faculdades que Deus lhe deu para o seu adiantamento. Como quer que seja a
antiguidade e a universalidade da doutrina da metempsicose e o número de homens
eminentes que a professaram provai que o princípio da reencarnação tem suas
raízes na própria Natureza; esses são portanto argumentos antes a seu favor do
que contrários.
O ponto de partida
do Espírito é uma dessas questões que se ligam ao princípio das coisas e estão
nos segredos de Deus. Não é dado ao homem conhecê-los de maneira absoluta e ele
só pode fazer, a seu respeito, meras suposições, construir sistemas mais ou menos
prováveis. Os próprios Espíritos estão longe de tudo conhecer e sobre o que não
conhecem podem ter também opiniões pessoais mais ou menos sensatas.
É assim que nem
todos pensam da mesma maneira a respeito das relações existentes entre o homem
e os animais. Segundo alguns, o Espírito não chega ao período humano senão
depois de ter sido elaborado e individualizado nos diferentes graus dos seres
inferiores da criação. Segundo outros, o Espírito do homem teria sempre
pertencido à raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses
sistemas tem a vantagem de dar uma finalidade ao futuro dos animais que
constituiriam assim, os primeiros anéis da cadeia dos seres pensantes; o
segundo é mais conforme a dignidade do homem e pode resumir-se da maneira que
segue.
As diferentes
espécies de animais não procedem intelectualmente umas
das outras, por via de progressão; assim, o Espírito da ostra não se
torna sucessivamente do peixe, da ave, do quadrúpede e do quadrúmano; cada
espécie é um tipo absoluto, física e moralmente, e cada um dos seus
indivíduos tira da fonte universal a quantidade de princípio inteligente que
lhe é necessária, segundo a perfeição dos seus órgãos e a tarefa que deve
desempenhar nos fenômenos da Natureza, devolvendo-a à massa após a morte.
Aqueles dos mundos mais adiantados que o nosso são igualmente constituídos de
raças distintas, apropriadas ás necessidades desses mundos e ao grau de
adiantamento dos homens de que são auxiliares, mas não procedem absolutamente
dos terrestres, espiritualmente falando. Com o homem já não se dá o mesmo.
Do ponto de vista
físico, o homem constitui evidentemente um anel da cadeia dos seres vivos; mas
do ponto de vista moral há solução de continuidade entre o homem e o animal. O
homem possui, como sua particularidade, a alma ou Espírito, centelha divina que
lhe dá o senso moral e um alcance intelectual que os animais não possuem; é o
seu ser principal, preexistente e sobrevivente ao corpo, conservando a sua
individualidade. Então pergunta-se: Qual é a origem do Espírito? Onde está o
seu ponto de partida? A princípio os Espíritos nos informam, que formaram-se do
princípio inteligente individualizado. Mas isso vem a ser um mistério que seria
inútil procurar e penetrar e sobre o qual, como dissemos, só podemos construir
sistemas.
O que é constante e
ressalta ao mesmo tempo do raciocínio e da experiência é a sobrevivência do
Espírito, a conservação de sua individualidade após a morte, sua faculdade de
progredir, seu estado feliz ou infeliz, proporcional ao seu adiantamento na
senda do bem, e todas as verdades morais que são a consequência desse princípio.
Quanto às relações misteriosas existentes entre o homem e os animais, isso,
repetimos, está nos segredos de Deus, como muitas outras coisas cujo
conhecimento atual nada importa para o nosso adiantamento e sobre as
quais seria inútil nos determos(1)
(1)“O Livro dos Espírito!;” contém em si toda a doutrina,
mas nem todos os princípios do Espiritismo estão nele suficientemente
desenvolvidos. A codificação é progressiva. Vemos o aspecto cientifico
desenvolver-se em “O Livro dos Médiuns” e em “A Gênese”;
o aspecto religioso em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e
“O Céu e o Inferno”. Para esclarecimento dessa questão da
origem do homem, o leitor deve consultar o capítulo VI de “A Gênese”, parte
referente à “Criação Universal” (comunicação de Galileu,
recebida por Flammarion e integrada por Kardec na codificação), o capítulo
X, “Gênese Orgânica”, especialmente no número 26 e seguintes,
referentes ao “Homem Corpóreo”, e o capítulo XI, “Gênese
Espiritual”. Aconselhável também a leitura de “A Evolução
Anímica”, de Gabriel Delanne, obra subsidiária da codificação.
Em “Depois da Morte”, de Léon Denis, o capítulo XI da parte
segunda intitulado “A Pluralidade das Existências”. Nota-se
ainda a concordância dos ensinos acima, sobre o problema da metempsicose, com a
constante afirmação dos Espíritos, neste livro, de que:” Tudo se encadeia na
Natureza”. (N. do T.)
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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