O LIVRO DOS ESPÍRITOS,
CAPÍTULO VIII.LEMBRANÇAS DA EXISTÊNCIA CORPÓREA.
O Espírito
quando vive no lado espiritual, se lembra da sua existência corpórea, tendo vivido
muitas vezes como homem, e recorda-se do que foi. E é assegurado que por
vezes, ri-se de piedade de si mesmo.
Comentário de Kardec: Como o homem que, atingindo a idade da razão,
ri das suas loucuras da juventude ou das puerilidades da sua infância.
A lembrança
da existência corpórea não se apresenta ao Espírito de maneira completa e
inopinada, após a morte. Mas pouco a pouco, como alguma coisa que sai do nevoeiro, e à
medida que nela vai fixando a sua atenção.
O Espírito
se lembra detalhadamente de todos os acontecimentos de sua vida, abrangendo o
conjunto num golpe de vista retrospectivo. Inclusive lembra-se das
coisas na razão das consequências que acarretam para a sua situação de
Espírito. Mas compreende que há circunstâncias às quais ele não atribui
nenhuma importância, e que nem mesmo procura recordar.
Poderia lembrá-las,
se o quisesse, como os detalhes e dos incidentes mais minuciosos, sejam de
acontecimentos, sejam mesmo de seus pensamentos. Mas quando isso não tem
utilidade, ele não o faz.
Entrevê a
finalidade da vida terrestre com relação à vida futura, que a vê e
compreende muito melhor do que quando vivia no corpo. Compreende a
necessidade de purificação para chegar ao infinito, e sabe que a cada
existência se livra de algumas impurezas.
Da maneira da
vida passada que se desenrola na memória do Espírito, por um esforço da sua
imaginação ou como um quadro que ele tenha ante os olhos.
Onde todos os atos que
tenham interesse para a sua lembrança, são para ele como se estivessem
presentes; os outros ficam mais ou menos no fundo da memória, ou
completamente esquecidos. Quanto mais desmaterializado estiver, menos
importância atribui às coisas materiais. As vezes fazemos a evocação de um
Espírito que não sabíamos que era errante, e que acabou de deixar a Terra
e que não se lembra dos nomes das pessoas que amava, nem dos detalhes que para
nós parecem importantes: para eles pouco
lhe interessam e caem no esquecimento. Aquilo de que ele se lembra muito
bem são os fatos principais, que o ajudam a se melhorar.
O Espírito se lembra de todas as
existências que precederam a que acabou de deixar, como todo o seu passado
o qual se desenrola diante dele, como as etapas de um caminho que o viajante
percorreu. Mas como já foi dito, ele não se lembra de uma maneira absoluta
de todos os atos, recordando-os apenas na razão da influência que tenham
sobre o seu estado presente. Quanto às primeiras existências, as que se
podem considerar como a infância do Espírito, perdem-se no vago e desaparecem
na noite do esquecimento.
O Espírito considera
o corpo que acabou de deixar como uma veste imprópria, que o
incomodava e da qual se sente feliz por se ter desembaraçado.
O sentimento
que experimenta à vista do seu corpo em decomposição, é quase sempre o de
indiferença, como por uma coisa a que não dá mais importância.
Algumas
vezes no fim de um certo lapso de tempo, o Espírito reconhece os ossos ou
outras coisas que lhe tenham pertencido. O qual depende da maneira mais ou menos
elevada pela qual considere as coisas terrestres.
O respeito
que se tem pelas coisas materiais que os Espíritos deixaram, atrai a sua
atenção para esses objetos, e eles consideram esse respeito com prazer. Pois se sentem sempre felizes
de serem lembrados. As coisas que deles conservamos avivam em nós a sua
lembrança, mas é o pensamento o que o atrai para nós e não os objetos.
Os
Espíritos conservam a lembrança dos sofrimentos que suportaram durante sua
última existência corpórea, onde o faz melhor avaliar a felicidade
que podem desfrutar como Espíritos.
O homem que
foi feliz neste mundo lastima os gozos que perdeu ao deixar a Terra, onde
somente os Espíritos inferiores podem lastimar os gozos que correspondem à
impureza de sua natureza, e que eles expiam pelo sofrimento. Para os
Espíritos elevados, a felicidade eterna é mil vezes preferível
aos prazeres efêmeros da Terra.
Aquele que
iniciou grandes trabalhos com uma finalidade útil, e que os vê interrompidos
pela morte não lamenta tê-los deixado por acabar, porque vê que os outros estão
destinados a concluí-los. Ao contrário, trata de influenciar outros
Espíritos humanos a continuá-los. Seu objetivo na Terra, era o bem da
Humanidade; esse objetivo é o mesmo, no mundo dos Espíritos.
Aquele que
deixou trabalhos de arte ou de literatura, conserva pelas suas obras o amor que
tinha durante a vida, mas as vezes a reprova.
Dependendo
da sua elevação ou da missão que possa a ter cumprir, o Espírito se interessa
ainda pelos trabalhos que se fazem na Terra, isto pelo progresso das artes
e das ciências.
Aquilo que nos parece magnífico é frequentemente
bem pouca coisa para certos Espíritos, que o admiram como o sábio admira a
obra de um escolar. Eles examinam o que pode provar a elevação dos
Espíritos encarnados e seus progressos.
Os Espíritos
conservam, depois da morte, o amor a pátria, onde é o mesmo princípio: para os Espíritos
elevados, a pátria é o universo; na Terra, é aquela em que possuem maior
número de pessoas simpáticas.
Comentário de Kardec: A situação dos Espíritos e sua maneira de
ver as coisas variam ao infinito, na razão do grau de seu desenvolvimento moral
e intelectual. Os Espíritos de uma ordem elevada geralmente fazem, na Terra,
estações de curta duração. Tudo quanto aqui se faz é assaz mesquinho em comparação
com as grandezas do infinito; as coisas a que os homens atribuem a maior
importância são tão pueris aos seus olhos, que eles encontram poucos atrativos
neste mundo, a menos que tenham sido chamados a fim de concorrer para o
progresso da Humanidade. Os Espíritos de uma ordem intermédia passam mais frequentemente
por aqui. Embora considerem as coisas de maneira mais elevada do que durante a
encarnação. Os Espíritos vulgares são de alguma forma os que aqui permanecem,
constituindo a massa da população ambiente do mundo invisível. Conservam, com
pouca diferença, as mesmas ideias, os mesmos gostos e as mesmas tendências que
tinham no seu envoltório corporal. Intrometem-se nas nossas reuniões, nos
nossos negócios, nas nossas diversões, tomando parte mais ou menos ativa,
segundo o seu caráter. Não podendo satisfazer as suas paixões, gozam
com os que a elas se entregam, e as excitam nessas pessoas(1). Encontramos entre eles alguns mais
sérios, que veem e observam, para se instruir e aperfeiçoar.
As ideias
dos Espíritos se modificam na vida de espíritual, onde sofrem modificações muito
grandes, à medida que o Espírito se desmaterializa. Ele pode, às vezes,
permanecer muito tempo com as mesmas ideias, mas pouco a pouco a
influência da matéria diminui e ele vê as coisas mais
claramente. É então que procura os meios de se melhorar.
O Espírito que
já viveu a vida espírita antes da sua encarnação, o seu espanto, ao reentrar no
mundo dos Espíritos, se dá apenas no início pelo período da perturbação, a qual
se segue ao despertar. Mais tarde ele reconhece
perfeitamente o seu estado, à medida que lhe volta a lembrança do passado e
que se desfaz a impressão da vida terrestre.
(1) Obsessões para os
vícios, de que dão prova os tratamentos espíritas em Hospitais e nos Centros. O
grifo é nosso. (N. do T.)
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO
PACHECO QUADRADO.
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