domingo, 16 de junho de 2024

A VELHICE.

 


A velhice

Que os velhos sejam sóbrios, respeitáveis, sensatos, fortes na fé, na caridade e na perseverança. Paulo. Tito, 2:2 (Bíblia de Jerusalém)

Marta Antunes Moura

O número de pessoas idosas vem aumentado significativamente nas duas últimas décadas, no Brasil e fora do país. O relatório nacional sobre envelhecimento da população brasileira — documento elaborado pelo Ministério das Relações Exteriores e representantes oficiais dos estados e da sociedade civil — indica que os brasileiros com idade acima de 60 anos que representava, em 1940, 4% da população, passou para 9% no ano 2000.  Além disso, tem aumentado o número de pessoas com idade acima de 80 anos que totalizava 166 mil, em 1940, e quase 1,8 milhões em 2000 (representando 12,6% da população idosa e 1% da população total). O prestigioso U.S. Bureau of Census informa que cerca de três milhões de americanos têm atualmente 85 anos de idade ou mais. É o segmento da população dos Estados Unidos que revela maiores taxas de crescimento, abrangendo o surpreendente valor de 274% entre 1960 e 1994, período no qual a população idosa duplicou e a população total cresceu somente 45%.  E vejam: esses são dados do início do século! A situação, hoje, ampliou.

Divaldo Pereira Franco entende que a “questão da idade é mais psicológica do que real. Certamente [afirma], do ponto de vista fisiológico, o organismo, à medida que o tempo avança, tende a diminuir a sua flexibilidade, o seu equilíbrio, a harmonia das funções. Entretanto, preservadas suas atividades pelo trabalho e equilíbrio emocional, logra manter-se sem maiores danos. É possível conservar a memória ativa, adquirir novos conhecimentos e realizar abençoadas experiências.”1 Essas palavras do dedicado médium brasileiro guardam sintonia com os atuais estudos de gerontologia que apontam o trabalho ou atividade laboral como elemento de equilíbrio físico e psíquico dos idosos, desde que cause satisfação e que possa ser exercida de acordo com possibilidades de cada um.

Ante tais concepções, com a aprovação do Estatuto do Idoso em 1.º de janeiro de 2004, o poder público e privado vem desenvolvendo projetos, programas e ações com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos idosos, inclusive com o desenvolvimento de programas de profissionalização voltados para maiores de 60 anos. Foram criados estímulos para que as empresas privadas admitam trabalhadores idosos (artigo 28).

Importa destacar, porém, que os programas sociais não se restringem a designar, pura e simplesmente, uma atividade qualquer ao idoso, para que ele se “distraia”, “ocupe” ou “movimente-se”. Ao contrário, os projetos e programas sérios, inclusive os desenvolvidos nas instituições espíritas, visam favorecer o real envolvimento da pessoa nas atividades. Assim, é importante também destacar estas ideias de Emmanuel quanto ao assunto:

Hoje, porém, sabemos que a lei do trabalho é roteiro da justa emancipação. Sem ela o mundo mental dorme estanque.
 […]
Não vale, contudo, agir por agir.
As regiões infernais vibram repletas de movimento.
Além do trabalho-obrigação que nos remunera de pronto, é necessário nos atenhamos ao prazer de servir.
Nas contingências naturais do desenvolvimento terrestre, o espírito encarnado é compelido ao esforço incessante, para o sustento do corpo físico.
[…]
Cativo, embora, às injunções do plano de obscura matéria em que transitoriamente respira, pode, porém, desde a Terra, fruir a ventura do serviço voluntário aos semelhantes todo aquele que descerre o espelho da própria alma aos reflexos da Esfera Divina.
trabalho-ação transforma o ambiente.
trabalho-serviço transforma o homem.”2

Por preconceito ou desinformação, há quem confunda a fragilidade física dos idosos com desequilíbrio psíquico. Uma coisa não guarda relação com a outra. Em países atentos à essa realidade, inclusive no Brasil, já existem programas sérios, governamentais e não-governamentais, destinados à promoção, valorização e preservação da saúde física e mental dos mais velhos: “No Japão, a idade avançada é símbolo de status. […] Na comemoração do sexagésimo aniversário de um homem, ele veste colete vermelho que simboliza o renascimento para uma fase avançada da vida. […].”3

Felizmente, uma nova mentalidade está surgindo em nível mundial, com propostas inovadoras e humanitárias de combate ao preconceito ou à discriminação de pessoas idosas. 4 Vemos assim que, a despeito do aumento significativo do número dos lares e organizações destinados ao abrigo idosos, a mentalidade vigente distancia, cada vez mais, da antiga e triste constatação de serem locais para “depósito de idosos” . Neste sentido, o Espiritismo orienta-nos que o equilíbrio espiritual se obtém pelo conhecimento aliado à prática da caridade. Qualquer um de nós, independentemente da idade ou saúde, temos condições de fazer o bem, preservando, assim, o próprio equilíbrio. O modelo a seguir, ainda segundo Emmanuel, é simples:

E, inspirados na lição do Senhor, os vanguardeiros do bem substituem os vales da imundície pelos hospitais confortáveis; combatem vícios multimilenários, com orfanatos e creches; instalam escolas, onde a cultura jazia confiada a escravos; criam institutos de socorro e previdência, onde a sociedade mantinha a mendicância para os mais fracos. E a caridade, como gênio cristão na Terra, continua crescendo com os séculos, através da bondade de um Francisco de Assis, da dedicação de um Vicente de Paulo, da benemerência de um Rockfeller ou da fraternidade do companheiro anônimo da via pública, salientando, valorosa e sublime, que o Espírito do Cristo prossegue agindo conosco e por nós. 4

Considerando que o Centro Espírita é escola de formação espiritual e moral, um núcleo de estudo e de fraternidade, de oração e trabalho, deve, nesse contexto, desenvolver ações de atendimento aos idosos, amparando-os na velhice. São, pois, atuais estas orientações transmitidas por Jesus a Simão Pedro, registradas por Humberto de Campos:

— Simão — disse o Mestre com desvelado carinho — poderíamos acaso perguntar a idade do nosso Pai? E se fôssemos contar o tempo, na ampulheta das inquietações humanas, quem seria o mais velho de todos nós? A vida, na sua expressão terrestre, é como uma árvore grandiosa. A infância é a sua ramagem verdejante. A mocidade se constitui de suas flores perfumadas e formosas. A velhice é fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que morrem depois do primeiro beijo do sol, e flores que caem ao primeiro sopro da primavera. O fruto, porém, é sempre uma bênção do Todo-Poderoso. A ramagem é uma esperança; a flor uma promessa; o fruto é realização. Só Ele contém o doce mistério da vida, cuja fonte se perde no infinito da Divindade!5

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

1.        FRANCO, Divaldo P. Laços de família. Por autores diversos. Org. Antônio César Perri de Carvalho. São Paulo: USE, 1994, p.53.

2.        XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 19. ed. Brasília: FEB, 2013. Cap. 7, p. 31-32.

3.        PAPALIA, Diane E. e OLDS, Sally W. Desenvolvimento humano. Traduzido por Daniel Bueno. 7.ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Cap. 16, p. 492.

4.        XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. Brasília: FEB, 2012. Cap. 16, p.73.

5.        _____. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 37. ed. Brasília: FEB, 2013. Cap. 9, p.60-61.

6.        MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.

 

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