sexta-feira, 21 de junho de 2024

O LIVRO O CÉU E O INFERNO.CAPITULO IV.O INFERNO. O INFERNO CRISTÃO IMITADO DO INFERNO PAGÃO. OS LIMBOS.

 

O LIVRO O CÉU E O INFERNO.CAPÍTULO IV.O INFERNO.

O inferno cristão imitado do inferno pagão.


OS LIMBOS



3. — O inferno pagão, descrito e dramatizado pelos poetas, foi o modelo mais grandioso do gênero, e perpetuou-se no seio dos cristãos, onde, por sua vez, houve poetas e cantores. 2 Comparando-os, encontram-se neles — salvo os nomes e variantes de detalhe — numerosas analogias; ambos têm o fogo material por base de tormentos, como símbolo dos sofrimentos mais atrozes. 3 Mas, coisa singular! os cristãos exageraram em muitos pontos o inferno dos pagãos. Se estes tinham o tonel das Danaides, a roda de Íxion, o rochedo de Sísifo, eram estes suplícios individuais; 4 os cristãos, ao contrário, têm para todos, sem distinção, as caldeiras ferventes cujos tampos os anjos levantam para ver as contorções dos supliciados; n e Deus, sem piedade, ouve-lhes os gemidos por toda a eternidade. 5 Jamais os pagãos descreveram os habitantes dos Campos Elíseos deleitando a vista nos suplícios do Tártaron



4. — Os cristãos têm, como os pagãos, o seu rei dos infernos — Satã — com a diferença, porém, de que Plutão se limitava a governar o sombrio império, que lhe coubera em partilha, sem ser mau; 2 retinha em seus domínios os que haviam praticado o mal, porque essa era a sua missão, mas não induzia os homens ao pecado para desfrutar, tripudiar dos seus sofrimentos. 3 Satã, no entanto, recruta vítimas por toda parte e regozija-se ao atormentá-las com uma legião de demônios armados de forcados a revolve-las no fogo. 4 Já se tem discutido seriamente sobre a natureza desse fogo que queima mas não consome as vítimas; n tem-se mesmo perguntado se seria um fogo de betume. 5 O inferno cristão nada cede, pois, ao inferno pagão.



5. — As mesmas considerações que, entre os antigos, tinham feito localizar o reino da felicidade, fizeram circunscrever igualmente o lugar dos suplícios. 2 Tendo-se colocado o primeiro nas regiões superiores, era natural reservar ao segundo os lugares inferiores, isto é, o centro da Terra, para onde se acreditava servirem de entradas certas cavidades sombrias, de aspecto terrível. 3 Os cristãos também colocaram ali, por muito tempo, a habitação dos condenados. A este respeito, frisemos ainda outra analogia.

4 O inferno dos pagãos continha de um lado os Campos Elíseos e do outro o Tártaro; o Olimpo, morada dos deuses e dos homens divinizados, ficava nas regiões superiores. 5 Segundo a letra do Evangelho, Jesus desceu aos infernos, isto é, aos lugares baixos para deles tirar as almas dos justos que lhe aguardavam a vinda. 6 Os infernos não eram, portanto, um lugar unicamente de suplício: estavam, tal como para os pagãos, nos lugares baixos. 7 A morada dos anjos, assim como o Olimpo, era nos lugares elevados; colocaram-na para além do céu estelar, que se reputava limitado.



6. — Esta mistura de ideias cristãs e pagãs nada tem de surpreendente. Jesus não podia de um só golpe destruir inveteradas crenças, faltando aos homens conhecimentos necessários para conceber a infinidade do Espaço e o número infinito dos mundos; a Terra para eles era o centro do Universo; não lhe conheciam a forma nem a estrutura internas; tudo se limitava ao seu ponto de vista: as noções do futuro não podiam ir além dos seus conhecimentos. 2 Jesus encontrava-se, pois, na impossibilidade de os iniciar no verdadeiro estado das coisas; mas não querendo, por outro lado, com sua autoridade, sancionar prejuízos aceitos, absteve-se de os retificar, deixando ao tempo essa missão. 3 Ele limitou-se a falar vagamente da vida bem-aventurada, dos castigos reservados aos culpados, sem referir-se jamais nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais, que constituíram para os cristãos um artigo de fé.

4 Eis aí como as ideias do inferno pagão se perpetuaram até aos nossos dias. E foi preciso a difusão das modernas luzes, o desenvolvimento geral da inteligência humana para se lhe fazer justiça. 5 Como, porém, nada de positivo houvesse substituído as ideias recebidas, ao longo período de uma crença cega sucedeu, transitoriamente, o período de incredulidade a que vem pôr termo a Nova Revelação. 6 Era preciso demolir para reconstruir, visto como é mais fácil insinuar ideias justas aos que em nada creem, sentindo que algo lhes falta, do que faze-lo aos que possuem uma ideia robusta, ainda que absurda.



7. — Localizados o Céu e o inferno, as seitas cristãs foram levadas a não admitir para as almas senão duas situações extremas: a felicidade perfeita e o sofrimento absoluto. 2 O purgatório é apenas uma posição intermediária e passageira, ao sair da qual as almas passam, sem transição, à mansão dos justos. 3 Outra não pode ser a hipótese, dada a crença na sorte definitiva da alma após a morte. 4 Se não há mais de duas habitações, a dos eleitos e a dos condenados, não se podem admitir muitos graus em cada uma sem admitir a possibilidade de os franquear e, conseguintemente, o progresso. 5 Ora, se há progresso, não há sorte definitiva, e se há sorte definitiva, não há progresso. 6 Jesus resolveu a questão quando disse:  ( † ) — “Há muitas moradas na casa de meu Pai.” n



Os limbos.



8. — É verdade que a Igreja admite uma posição especial em casos particulares. 2 As crianças falecidas em tenra idade, sem fazer mal algum, não podem ser condenadas ao fogo eterno. Mas, também, não tendo feito bem, não lhes assiste direito à felicidade suprema. Ficam nos limbos, diz-nos a Igreja, nessa situação jamais definida, na qual, se não sofrem, também não gozam da bem-aventurança. 3 Esta, sendo tal sorte irrevogavelmente fixada, fica-lhes defesa para sempre. 4 Tal privação importa, assim, um suplício eterno e tanto mais imerecido, quanto é certo não ter dependido dessas almas que as coisas assim sucedessem. 5 O mesmo se dá quanto ao selvagem que, não tendo recebido a graça do batismo e as luzes da religião, peca por ignorância, entregue aos instintos naturais. 6 Certo, este não tem a responsabilidade e o mérito cabíveis ao que proceda com conhecimento de causa. 7 A simples lógica repele uma tal doutrina em nome da justiça de Deus, que se contém integralmente nestas palavras do Cristo:  ( † ) “A cada um, segundo as suas obras.” 8 Obras, sim, boas ou más, porém praticadas voluntária e livremente, únicas que comportam responsabilidade. 9 Neste caso não podem estar a criança, o selvagem e tampouco aquele que não foi esclarecido.

BIBLIOGRAFIA. O LIVRO O CÉU E O INFERNO. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.

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