LIVRO O CÉU E O INFERNO.CAPÍTULO
VI.DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS.
***
ARGUMENTOS A FAVOR DAS PENAS ETERNAS
“É doutrina admitida pelos homens que
a gravidade da ofensa é proporcionada à qualidade do ofendido, O atentado à
pessoa de um soberano, sendo considerado mais grave do que o cometido com
qualquer súdito, é por isso mesmo, mais severamente punido. Sendo Deus muito
mais que um soberano, pois que é Infinito, deve ser infinita a ofensa cometida
contra Ele, como infinito o respectivo castigo, isto é, eterno.”
Refutação: Toda
refutação é um raciocínio que deve ter ponto de partida, uma base em que se
apoiem deve ter premissa enfim. Tomemos essas premissas aos próprios atributos
de Deus: único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente
justo e bom, infinito em todas as perfeições.
É impossível conceber Deus de outra
maneira, visto como, sem a infinita perfeição, poder-se-ia conceber outro ser
que Lhe fosse superior, Para que seja Único acima de todos os seres, torna-se
mister que ninguém possa excedê-Lo, ou sequer igualá-Lo em qualquer coisa,
Logo, é necessário que seja Infinito em tudo.
Sendo infinitos os atributos de Deus,
não são eles suscetíveis nem de aumento nem diminuição, sem o que não seriam
infinitos nem Deus tampouco perfeito. Se se tirasse a menor parcela de um só
dos Seus atributos, não haveria mais Deus, por isso que poderia existir um ser
mais perfeito.
O
infinito de uma qualidade exclui a possibilidade de existência de outra
qualidade contrária que pudesse diminui-la ou anulá-la. Um ser infinitamente
bom não pode ter a menor parcela de maldade, nem o ser infinitamente
mau pode ter a menor parcela de bondade. Assim também um objeto não
seria de um negro absoluto com o mais leve matiz de branco e ao contrário.
Estabelecido este ponto de partida, oporemos aos argumentos supracitados os
seguintes:
Se o homem pudesse ser infinito no
mal, sê-lo-ia igualmente no bem, igualando-se então a Deus, Mas se o homem
fosse infinito no bem, não praticaria o mal, pois o bem absoluto é a exclusão
de todo o mal.
Admitindo-se
que uma ofensa temporária à Divindade pudesse ser infinita, Deus, vingando-se
por um castigo infinito, seria logo infinitamente vingativo; e
sendo Deus infinitamente vingativo, não pode ser infinitamente bom e
misericordioso, porque um destes atributos exclui o outro, Se não for
infinitamente bom, não é perfeito; não sendo perfeito, deixa de ser Deus.
Se
Deus é inexorável para o culpado que se arrepende, não é misericordioso; se não
é misericordioso, deixa de ser infinitamente bom. Por que daria Deus aos homens
uma lei de perdão, se Ele próprio não perdoasse? Resultaria daí que o homem que
perdoa aos seus inimigos e lhes retribui o mal com o bem seria melhor que Deus,
surdo ao arrependimento dos que O ofendem, negando-lhes pela eternidade o
mais ligeiro carinho.
Achando-se em toda parte e tudo
vendo, Deus deve ver também as torturas dos condenados; se se conserva
insensível aos gemidos por toda a eternidade, será eternamente impiedoso; ora,
sem piedade não há bondade infinita.
Anúncios
DENUNCIAR
ESTE ANÚNCIO
Se por uma falta passageira,
resultante sempre da natureza imperfeita do homem e muitas vezes do ambiente em
que se vive, a alma pode ser castigada eternamente sem esperança de clemência
ou de perdão, não há proporção entre a falta e o castigo – não há justiça.
Reconciliando-se com Deus, arrependendo-se e pedindo para reparar o mal
praticado, o culpado deve subsistir para o bem, para os bons sentimentos. Se o
castigo é irrevogável, esta subsistência para o bem não frutifica e um bem não
considerado significa injustiça. Entre os homens o condenado que se corrige tem
por comutada e às vezes mesmo perdoada a sua pena; e assim haveria mais
equidade na justiça humana que na divina.
Se a pena é irrevogável, inútil será
o arrependimento, e o culpado, nada tendo a esperar da própria correção,
persiste no mal, de modo que Deus não só o condena a sofrer perpetuamente, mas
ainda a permanecer no mal pela eternidade. Nisso não há nem bondade nem
justiça.
Uma vez que Deus pode conferir a
graça ao pecador arrependido e tirá-lo do inferno, deixam de existir penas
eternas, ficando revogado o juízo dos homens.
“A recompensa conferida dos bons, sendo eterna,
deve ter por corolário a eterna punição. Justo é proporcionar a punição à
recompensa.”
Refutação: Deus
criou as almas para torná-las felizes ou desgraçadas?
Evidentemente a felicidade da criatura
deve ser o objetivo do Criador, ou Ele não seria bom. Ela atinge a felicidade
pelo próprio mérito, que, adquirido, não mais o perde. O contrário seria a sua
degeneração, A felicidade eterna é, pois, o resultado da sua imortalidade.
Antes, porém, de chegar à perfeição,
tem lutas a sustentar, combates a travar com as más paixões. Não tendo sido
criada perfeita, mas suscetível de o ser, a fim de que tenha o mérito de suas
obras, a alma pode cair em faltas que são consequências da sua natural
fraqueza. Se por esta fraqueza fosse eternamente punida, era caso de perguntar
por que Deus não a criou mais forte.
A punição é antes uma advertência do
mal já praticado, devendo ter por fim reconduzi-la ao bom caminho. Se a pena
fosse irremissível, o desejo de melhorar seria supérfluo; nem o fim da criação
seria alcançado, porquanto haveria seres predestinados à felicidade ou à
desgraça. Se uma alma se arrepende, pode regenerar-se e podendo regenerar-se
pode aspirar à felicidade.
Seria Deus justo se lhe recusasse os
respectivos meios?
Sendo o bem o fim supremo da Criação,
a felicidade, que é o seu prêmio, deve ser eterna; e o castigo, como meio de
alcançá-la, temporário. A noção mais comezinha da justiça humana prescreve que
se não pode castigar perpetuamente quem mostra desejos de praticar o bem.
“O temor das penas é um freio; anulado este freio,
o home por nada temer se entregaria a toda espécie de excessos.”
Refutação: Este
raciocínio procederia se a temporalidade das penas importasse de fato na
supressão de toda sanção penal.
A felicidade ou infelicidade futura é
decorrência rigorosa da justiça de Deus, pois a identidade de condições para o
bom e para o mau seria a negação dessa justiça.
Porém, por não ser eterno, nem por
isso o castigo deixa de ser menos penível e tanto maior será o temor quanto
maior for a convicção, que, por sua vez, tanto mais profunda será, quanto mais
racional for a procedência do castigo. Uma penalidade, em que se não crê, não
pode ser um freio e a eternidade das penas está neste caso.
A crença nas penas eternas, já o
afirmamos, teve a sua utilidade, a sua razão de ser em determinada época; hoje
não somente deixa de impressionar os ânimos, mas até produz descrentes, Antes
de a preconizar como necessidade, seria mister demonstrar a sua realidade,
Seria preciso além disso inferir a sua eficácia relativamente aos que a
preconizam e se esforçam por demonstrá-la.
Desgraçadamente, entre esses, muitos
provam pelos atos que nada temem das penas eternas.
Assim, impotente
para reprimir os próprios profitentes, que império poderá exercer nos
descrentes e refratários?
BIBLIOGRAFIA. LIVRO
CÉU E O INFERNO. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
0 comentários:
Postar um comentário
ESTAMOS DISPOSIÇÃO DOS AMIGOS PARA ESCLARECER QUALQUER DÚVIDA.