sábado, 22 de junho de 2024

O LIVRO O CÉU E O INFERNO.CAPÍTULO VI. DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS.A DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS JÁ TEVE A SUA ÉPOCA.

 


O LIVRO O CEU E O INFERNO.CAPÍTULO VI.DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS.

A doutrina das penas eternas fez sua época.  † 

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22. — A crença na eternidade das penas prevaleceu salutarmente enquanto os homens não tiveram ao seu alcance a compreensão do poder moral. 2 É o que sucede com as crianças durante certo tempo contidas pela ameaça de seres quiméricos com os quais são intimidadas: chegadas ao período do raciocínio, repelem por si mesmas essas quimeras da infância, tornando-se absurdo o querer governá-las por tais meios. 3 Se os que as dirigem pretendessem incutir-lhes ainda a veracidade de tais fábulas, certo decairiam da sua confiança.

4 É isso que se dá hoje com a Humanidade, saindo da infância e abandonando, por assim dizer, os cueiros. 5 O homem não é mais passivo instrumento vergado à força material, nem o ente crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados.



23. — A crença é um ato de entendimento que, por isso mesmo, não pode ser imposta. 2 Se, durante certo período da Humanidade, o dogma da eternidade das penas se manteve inofensivo e benéfico mesmo, chegou o momento de tornar-se perigoso. 3 Imposto como verdade absoluta, quando a razão o repele, ou o homem quer acreditar e procura uma crença mais racional, afastando-se dos que o professam, ou, então, descrê absolutamente de tudo. 4 Quem quer que estude o assunto, calmamente, verá que, em nossos dias, o dogma da eternidade das penas tem feito mais ateus e materialistas do que todos os filósofos.

5 As ideias seguem um curso incessantemente progressivo, e absurdo é querer governar os homens desviando-os desse curso; pretender contê-los, retroceder ou simplesmente parar enquanto ele avança, é condenar-se, é perder-se. 6 Seguir ou deixar de seguir essa evolução é uma questão de vida ou de morte para as religiões como para os governos. 7 Este fatalismo é um bem ou um mal? Para os que vivem do passado, vendo-o aniquilar-se, será um mal; mas para os que vivem pelo futuro é uma lei do progresso, de Deus em suma; 8 e, contra uma lei de Deus é inútil toda revolta, impossível a luta.

9 Para que, pois, sustentar a todo o transe uma crença que se dissolve em desuso fazendo mais danos que benefícios à religião? 10 Ah! contrista dize-lo, mas uma questão material domina aqui a questão religiosa. 11 Esta crença tem sido grandemente explorada pela ideia de que com dinheiro poder-se-iam abrir as portas do Céu e se preservar do inferno. 12 As quantias por estes meios arrecadadas, outrora e ainda hoje, são incalculáveis, e verdadeiramente fabuloso o imposto prévio pago ao temor da eternidade. 13 E sendo facultativo tal imposto, a renda é sempre proporcional à crença; extinta esta, improdutivo será aquele. 14 De bom grado cede a criança o bolo a quem lhe promete afugentar o lobisomem, mas se a criança já não acreditar em lobisomens, guardará o bolo.



24. — A Nova Revelação, dando noções mais sensatas da vida futura e provando que podemos, cada um de nós, promover a felicidade pelas próprias obras, deve encontrar tremenda oposição, tanto mais viva por estancar uma das mais rendosas fontes de receita. 2 E assim tem sido, sempre que uma nova descoberta ou invento abala costumes inveterados e preestabelecidos. 3 Quem vive de velhos e custosos processos jamais deixa de preconizar-lhes a superioridade e excelência e de desacreditar os novos, mais econômicos. 4 Acreditar-se-á, por exemplo, que a imprensa, apesar dos benefícios prestados à sociedade, tenha sido aclamada pela classe dos copistas? Não, certamente eles deveriam profligá-la. O mesmo se tem dado em relação a maquinismos, caminho de ferro e centenas de outras descobertas e aplicações.

5 Aos olhos dos incrédulos o dogma da eternidade das penas afigura-se futilidade da qual se riem; 6 para o filósofo esse dogma tem uma gravidade social pelos abusos que acoroçoa, 7 ao passo que o homem verdadeiramente religioso tem a dignidade da religião interessada na destruição dos abusos que tal dogma origina, e da sua causa, enfim.

BIBLIOGRAFIA.O LIVRO O CÉU E O INFERNO. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.

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