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LIVRO O CEU E O INFERNO.CAPÍTULO VI.DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS.
A doutrina das penas eternas fez sua época. †
22. — A crença na eternidade das penas prevaleceu
salutarmente enquanto os homens não tiveram ao seu alcance a compreensão do
poder moral. 2 É
o que sucede com as crianças durante certo tempo contidas pela ameaça de seres
quiméricos com os quais são intimidadas: chegadas ao período do raciocínio,
repelem por si mesmas essas quimeras da infância, tornando-se absurdo o querer
governá-las por tais meios. 3 Se
os que as dirigem pretendessem incutir-lhes ainda a veracidade de tais fábulas,
certo decairiam da sua confiança.
4 É isso que se dá hoje com a Humanidade,
saindo da infância e abandonando, por assim dizer, os cueiros. 5 O
homem não é mais passivo instrumento vergado à força material, nem o ente
crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados.
23. — A crença é um ato de entendimento que, por
isso mesmo, não pode ser imposta. 2 Se,
durante certo período da Humanidade, o dogma da eternidade das penas se manteve
inofensivo e benéfico mesmo, chegou o momento de tornar-se perigoso. 3 Imposto
como verdade absoluta, quando a razão o repele, ou o homem quer acreditar e
procura uma crença mais racional, afastando-se dos que o professam, ou, então,
descrê absolutamente de tudo. 4 Quem
quer que estude o assunto, calmamente, verá que, em nossos dias, o dogma da
eternidade das penas tem feito mais ateus e materialistas do que todos os
filósofos.
5 As ideias seguem um curso incessantemente
progressivo, e absurdo é querer governar os homens desviando-os desse curso;
pretender contê-los, retroceder ou simplesmente parar enquanto ele avança, é
condenar-se, é perder-se. 6 Seguir
ou deixar de seguir essa evolução é uma questão de vida ou de morte para as
religiões como para os governos. 7 Este
fatalismo é um bem ou um mal? Para os que vivem do passado, vendo-o
aniquilar-se, será um mal; mas para os que vivem pelo futuro é uma lei do
progresso, de Deus em suma; 8 e,
contra uma lei de Deus é inútil toda revolta, impossível a luta.
9 Para que, pois, sustentar a todo o transe uma
crença que se dissolve em desuso fazendo mais danos que benefícios à
religião? 10 Ah!
contrista dize-lo, mas uma questão material domina aqui a questão
religiosa. 11 Esta
crença tem sido grandemente explorada pela ideia de que com dinheiro
poder-se-iam abrir as portas do Céu e se preservar do inferno. 12 As
quantias por estes meios arrecadadas, outrora e ainda hoje, são incalculáveis,
e verdadeiramente fabuloso o imposto prévio pago ao temor da eternidade. 13 E
sendo facultativo tal imposto, a renda é sempre proporcional à crença; extinta
esta, improdutivo será aquele. 14 De
bom grado cede a criança o bolo a quem lhe promete afugentar o lobisomem, mas
se a criança já não acreditar em lobisomens, guardará o bolo.
24. — A Nova Revelação, dando noções mais
sensatas da vida futura e provando que podemos, cada um de nós, promover a
felicidade pelas próprias obras, deve encontrar tremenda oposição, tanto mais
viva por estancar uma das mais rendosas fontes de receita. 2 E
assim tem sido, sempre que uma nova descoberta ou invento abala costumes
inveterados e preestabelecidos. 3 Quem
vive de velhos e custosos processos jamais deixa de preconizar-lhes a
superioridade e excelência e de desacreditar os novos, mais econômicos. 4 Acreditar-se-á,
por exemplo, que a imprensa, apesar dos benefícios prestados à sociedade, tenha
sido aclamada pela classe dos copistas? Não, certamente eles deveriam
profligá-la. O mesmo se tem dado em relação a maquinismos, caminho de ferro e
centenas de outras descobertas e aplicações.
5 Aos olhos dos incrédulos o dogma da
eternidade das penas afigura-se futilidade da qual se riem; 6 para
o filósofo esse dogma tem uma gravidade social pelos abusos que acoroçoa, 7 ao
passo que o homem verdadeiramente religioso tem a dignidade da religião interessada
na destruição dos abusos que tal dogma origina, e da sua causa, enfim.
BIBLIOGRAFIA.O
LIVRO O CÉU E O INFERNO. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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