O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO. CAPÍTULO XXVII. ORAÇÕES DOMINICAIS.
2 – Prefácio –
Os Espíritos recomendaram que abríssemos está coletânea com a Oração Dominical,
não somente como prece, mas também como símbolo. De todas as preces, é a que
eles consideram em primeiro lugar, seja porque nos vem do próprio Jesus
(Mateus, VI: 9-13), seja porque ela pode substituir todas as outras,
conforme a intenção que se lhe atribua. É o mais perfeito modelo de concisão,
verdadeira obra-prima de sublimidade, na sua simplicidade. Com efeito, sob a
forma mais reduzida, ela consegue resumir todos os deveres do homem para com
Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Encerra ainda uma profissão de
fé, um ato de adoração e submissão, o pedido das coisas necessárias à vida
terrena e o princípio da caridade. Dizê-la em intenção de alguém, é pedir para
outro o que desejamos para nós mesmos.
Entretanto,
em razão mesmo da sua brevidade, o sentido profundo que algumas das suas
palavras encerram escapa à maioria. Isso porque geralmente a proferem sem pensar
no sentido de cada uma de suas frases. Proferem-na como uma fórmula, cuja
eficácia é proporcional ao número de vezes que for repetida. Esse número é
quase sempre cabalístico: o três, o sete ou o nove, em virtude da antiga crença
supersticiosa no poder dos números, e do seu uso nas práticas de magia.
Para
preencher o vazio que a concisão desta prece nos deixa ajuntamos a cada uma de
suas proposições, segundo o conselho e com a assistência dos Bons Espíritos, um
comentário que lhes esclarece o sentido e as aplicações. De acordo comas
circunstâncias e o tempo de que se disponha, pode-se pois dizer a Oração
Dominical em sua forma simples ou desenvolvida.
3. I – Pai nosso, que estais no céu,
santificado seja o vosso nome!
Cremos em vós, Senhor, porque tudo nos revela o
vosso poder e a vossa bondade. A harmonia do Universo e a prova de uma
sabedoria, de uma prudência, e de previdência que ultrapassam todas as
faculdades humanas. O nome de um Ser soberamente grande e sábio está inscrito em
todas as obras da criação, desde a relva humilde e do menor inseto, até os
astros que movem no espaço. Por toda parte, vemos a prova de uma solicitude
paternal. Cego, pois, é aquele que não vos glorifica nas vossas obras,
orgulhoso aquele que não vos louva, e ingrato àquele que não vos rende graças.
II – Venha a nós o vosso Reino!
Senhor,
destes aos homens leis plenas de sabedoria, que os fariam felizes, se eles as
observassem. Com essas leis, poderiam estabelecer a paz e a justiça, e poderiam
ajudar-se mutuamente, em vez de mutuamente se prejudicarem, como o fazem. O
forte ampararia o fraco, em vez de esmagá-lo. Evitados seriam os males que
nascem dos abusos e dos excessos de toda espécie. Toda as misérias deste mundo
decorrem da violação das vossas leis, porque não há uma única infração que não
traga suas consequências fatais.
Destes
ao animal o instinto que lhe traça os limites do necessário, e ele naturalmente
se conforma com isso. Mas ao homem, além do instinto, destes a inteligência e a
razão. E lhe destes ainda a liberdade de observar ou violar aquelas das vossas
leis que pessoalmente lhe concernem, ou seja, a faculdade de escolher entre o
bem e o mal, para que ele tenha o mérito e a responsabilidade dos seus atos.
Ninguém
pode pretextar ignorância das vossas leis, porque, na vossa paternal
providência, quisestes que elas fossem gravadas na consciência de cada um, sem
nenhuma distinção de cultos ou de nacionalidades. Assim, aqueles que as violam,
é porque vos desprezam.
Chegará
o dia em que, segundo a vossa promessa, todos as praticarão. Então a
incredulidade terá desaparecido, todos vos reconhecerão como o Soberano Senhor
de todas as coisas, e primado de vossas leis estabelecerá o vosso
Reino na Terra.
Dignai-vos,
Senhor, de apressar o seu advento, dando aos homens a luz necessária para se
conduzirem no caminho da verdade!
III – Seja feita a vossa vontade, assim na
Terra como no céu!
Se
a submissão é um dever do filho para com o pai, do inferior para como superior,
quanto maior não será a da criatura para com seu Criador! Fazer a
vossa vontade, Senhor, é observar as vossas leis e submeter-se sem lamentações
aos vossos desígnios divinos. O homem se tornará submisso, quando compreender
que sois a fonte de toda a sabedoria, e que sem vós ele nada pode. Fará então a
vossa vontade na Terra, como os eleitos a fazem no céu.
IV – O pão nosso, de cada dia, dai-nos hoje!
Dai-nos
o alimento necessário à manutenção das forças físicas, e dai-nos também o
alimento espiritual, para o desenvolvimento do nosso espírito.
O
animal encontra a sua pastagem, mas o homem deve o seu alimento à sua própria
atividade e aos recursos da sua inteligência, porque o criastes livre.
Vós
lhe dissestes: “Amassarás o teu pão com o suor do teu rosto”, e com isso
fizestes do trabalho uma obrigação, que o leva a exercitar a sua inteligência
na procura dos meios de prover às suas necessidades e atender ao seu bem estar:
uns pelo trabalho material, outros pelo trabalho intelectual. Sem o trabalho,
ele permaneceria estacionário e não poderia aspirar à felicidade dos Espíritos
Superiores.
Assistis
ao homem de boa vontade, que em vós confia para o necessário, mas não aquele
que se compraz na ociosidade e gostaria de tudo obter sem esforço, nem ao que
busca o supérfluo. (Cap. XXV)
Quantos
há que sucumbem por sua própria culpa, pela sua incúria, pela sua imprevidência
ou pela sua ambição, por não terem querido contentar-se com que lhes destes!
São esses os artífices do próprio infortúnio, e não tem o direito de
queixar-se, pois são punidos naquilo mesmo em que pecaram. Mas mesmo a eles não
abandonais, porque sois infinitamente misericordioso, e lhes estendeis a mão
providencial, desde que, como filho pródigo, retornem sinceramente para
vós. (Cap.V, nº 4).
Antes
de nos lamentarmos de nossa sorte, perguntemos se ela é a nossa própria obra; a
cada desgraça que nos atinja, verifiquemos se não poderíamos tê-la evitados;
repitamos a nós mesmos que Deus nos deu a inteligência para sairmos do
atoleiro, e que de nós depende aplicá-la bem.
Desde
que a lei do trabalho condiciona a vida do homem na Terra, dai-nos a coragem e
a força de cumpri-la; dai-nos também a prudência e a moderação, a fim de não
pormos a perder os seus frutos.
Dai-nos
pois, Senhor, o pão nosso de cada dia, ou seja, os meios de adquirir pelo
trabalho as coisas necessárias, pois ninguém tem o direito de reclamar o
supérfluo.
Se
estivemos impossibilitados de trabalhar, que confiemos na vossa divina providência.
Se
estiver nos Vossos desígnios provar-nos com as mais duras privações, não
obstante os nossos esforços, aceitamo-lo como uma justa expiação das faltas que
tivermos podido cometer nesta vida ou numa vida anterior, porque sabemos que sois
justo, e que não há penas imerecidas, pois jamais castigais sem causa.
Preservai-nos,
ó Senhor, de conceber a inveja contra os que possuem aquilo que não temos, ou
mesmo contra os que dispõem do supérfluo, quando nos falta o necessário. Perdoai-lhes,
se esquecem à lei de caridade e de amor ao próximo, que ensinastes. (Cap.
XVI, nº 8)
Afastai
ainda do nosso espírito a ideia de negar a vossa justiça, ao ver a prosperidade
do mal e a infelicidade que abate às vezes o homem de bem. Pois já sabemos,
graças às novas luzes que ainda nos destes, que a vossa justiça sempre se
cumpre e não faz exceção de ninguém; que a prosperidade material do maldoso é
tão efêmera como a sua existência corporal, acarretando-lhe terríveis revezes,
enquanto será eterno o júbilo daquele que sofre com resignação. (Cap.
V, nº 7, 9, 12 e 18).
V – Perdoai as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos que nos devem. Perdoai-nos as ofensas como nós perdoamos aos que
nos ofenderam.
Cada
uma das nossas infrações às vossas leis, Senhor, é uma ofensa que vos fazemos,
e uma dívida contraída, que cedo ou tarde teremos de pagar. Solicitamos à vossa
infinita misericórdia a sua remissão, sob a promessa de empregarmos os nossos
esforços em não contrair outras.
Fizestes
da caridade, para todos nós, uma lei expressa; mas a caridade não consiste
unicamente em assistirmos os nossos semelhantes nas suas necessidades, pois
consiste ainda no esquecimento e no perdão das ofensas. Com que direito reclamaríamos
a vossa indulgência, se faltamos com ela para aqueles de que nos queixamos?
Dai-nos,
Senhor, a força de sufocar em nosso íntimo todo ressentimento, todo ódio e todo
rancor. Fazei que a morte não nos surpreenda com nenhum desejo de vingança
no coração. Se vos aprouver retirar-nos hoje mesmo deste mundo, fazei que
possamos nos apresentar a vós inteiramente limpos de animosidade, a exemplo do
Cristo, cujas últimas palavras foram em favor dos seus algozes. (Cap.
X).
As
perseguições que os maus nos fazem sofrer são parte das nossas provas terrenas;
devemos aceitá-las sem murmurar, como todas as outras provas, sem maldizer os
que, com as suas perversidades, nos abrem o caminho da felicidade eterna, pois
vós nos dissestes, nas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que sofrem pela
justiça!”. Abençoemos, pois, a mão que nos fere e nos humilha, porque as
mortificações do corpo nos fortalecem a alma, e seremos levantados da nossa
humildade. (Cap. XII, nº 4).
Bendito
seja o vosso nome, Senhor, por nos haverdes ensinado que a nossa sorte não está
irrevogavelmente fixada após a morte; que encontraremos, em outras existências,
os meios de resgatar e reparar as nossas faltas passadas, e de realizar numa
nova vida aquilo que nesta não pudemos fazer, para o nosso adiantamento. (Cap.
IV; cap. V, nº 5).
Assim
se explicam, enfim, todas as aparentes anomalias da vida: a luz é lançada sobre
o nosso passado e o nosso futuro, como um sinal resplendente da vossa soberana
justiça e da vossa infinita bondade.
VI – Não nos deixeis cair em tentação, mas
livrai-nos do mal (1)
Dai-nos,
Senhor, a força de resistir às sugestões dos maus Espíritos, que tentarão
desviar-nos da senda do bem, inspirando-nos maus pensamentos.
Mas
nós somos, nós mesmos, Espíritos imperfeitos, encarnados na Terra para expiar
nossas faltas e nos melhorarmos. A causa do mal está em nós próprios, e os maus
Espíritos apenas se aproveitam de nossas tendências viciosas, nas quais nos
entretêm, para nos tentarem.
Cada
imperfeição é uma porta aberta às suas influências, enquanto eles são impotentes
e renunciam a qualquer tentativa contra os seres perfeitos. Tudo o que possamos
fazer para afastá-los será inútil, se não lhes opusermos uma vontade
inquebrantável na prática do bem, com absoluta renúncia ao mal. É, pois, contra
nós mesmos que devemos dirigir os nossos esforços, e então os maus Espíritos se
afastarão naturalmente, porque o mal é o que os atrai, enquanto o bem os
repele. (Ver adiante: Preces pelos obsedados)
Senhor,
amparai-nos em nossa fraqueza, inspirai-nos, pela voz dos nossos anjos
guardiões e dos Bons Espíritos, à vontade de corrigirmos as nossas
imperfeições, a fim de fecharmos a nossa alma ao acesso dos Espíritos
impuros. (Ver adiante: nº 11)
O
mal não é portanto, vossa obra, Senhor, porque a fonte de todo o bem não pode
engenhar nenhum mal. Somos nós mesmos que o criamos, ao infringir as vossas
leis, e pelo mau uso que fazemos da liberdade que nos concedestes. Quando os
homens observarem as vossas leis, o mal desaparecerá da Terra, como já
desapareceu dos mundos mais adiantados.
Não
existe para ninguém a fatalidade do mal, que só parece irresistível para
aqueles que nele se comprazem. Se tivermos vontade de fazê-lo, também poderemos
ter a de fazer o bem. E é por isso, ó Senhor, que solicitamos a vossa
assistência e a dos Bons Espíritos, para resistirmos à tentação.
VII – Assim
seja!
Que
vos apraza, Senhor, a realização dos nossos desejos! Inclinamo-nos, porém,
diante da vossa infinita sabedoria. Em todas as coisas que não nos é dado compreender,
que sejam feitas segundo a vossa santa vontade e não segundo a nossa, porque
vós só quereis o nosso bem, e sabeis melhor do que nós o que nos convém.
Nós
vos dirigimos esta prece, Senhor, por nós mesmos, mas também por todas as
criaturas sofredoras, encarnadas e desencarnadas, por nossos amigos e por
nossos inimigos, por todos os que reclamam a nossa assistência, e em particular
por Fulano. Suplicamos para todos a vossa misericórdia e a vossa
benção. (NOTA: Aqui podem ser feitos os agradecimentos a Deus pelas
graças concedidas, e formulados os pedidos que se queiram, para si mesmo e para
os outros – Ver adiante: preces nº 26 e 27).
(1) Algumas traduções
trazem: “Não nos induzais à tentação” (et ne nos inducas in
tentationem), mas essa forma daria a entender que a tentação vem de Deus,
que impeliria voluntariamente os homens ao mal, pensamento evidentemente
blasfemo, que assemelharia Deus a Satanás, e não pode ter sido o de Jesus. Ela
está, por sinal, de acordo com a doutrina vulgar sobre o papel dos
demônios. (Ver Céu e Inferno, cap. X, “Os Demônios”).
MENSAGEM DIVULGADA PELO MÉDIUM
GETULIO PACHECO QUADRADO.
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