O LIVRO DOS ESPÍRITOS. CAPÍTULO V.LEI DE
CONSERVAÇÃO.
INSTINTO DE CONSERVAÇÃO
É lei da natureza o instinto de conservação?
“Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o grau de sua
inteligência. Nuns, é puramente maquinal, raciocinado em outros.”
Com que fim outorgou Deus a todos os seres vivos o instinto de
conservação?
“Porque todos têm que concorrer para o cumprimento dos desígnios da Providência.
Por isso foi que Deus lhes deu a necessidade de viver. Acresce que a vida é
necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem instintivamente, sem
disso se aperceberem.”
Meios de conservação.
Tendo dado ao homem a necessidade de viver, Deus
lhe facultou, em todos os tempos, os meios de o conseguir?
“Sim, e se ele os não encontra é que não os compreende. Não seria possível que
Deus criasse para o homem a necessidade de viver sem lhe dar os meios de
consegui-lo. Essa a razão por que faz que a Terra produza de modo a
proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil;
o supérfluo nunca o é.”
Por que nem sempre a Terra produz bastante para fornecer ao homem o
necessário?
“É que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas
vezes, também, ele acusa a natureza do que só é resultado da sua imperícia ou
da sua imprevidência. A Terra produziria sempre o necessário, se com o
necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a
todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser
aplicado no necessário. Olha o árabe no deserto. Acha sempre de que viver,
porque não cria para si necessidades factícias. Desde que haja desperdiçado a
metade dos produtos em satisfazer a fantasias, que motivos tem o homem para se
espantar de nada encontrar no dia seguinte e para se queixar de estar
desprovido de tudo, quando chegam os dias de penúria? Em verdade vos digo,
imprevidente não é a natureza, é o homem, que não sabe regrar o seu viver.”
Por bens da Terra unicamente se devem entender os produtos do solo?
“O solo é a fonte primacial donde dimanam todos os outros recursos, pois que,
em definitivo, esses recursos são simples transformações dos produtos do solo.
Por bens da Terra se deve, pois, entender tudo de que o homem pode gozar neste
mundo.”
É frequente a certos indivíduos faltarem os meios de subsistência,
ainda quando os cerca a abundância. A que se deve atribuir isso?
“Ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre. Depois, e as
mais das vezes, devem-no a si mesmos. Buscai e achareis: essas
palavras não querem dizer que, para achar o que deseje, basta que o homem olhe
para a terra, mas que lhe é preciso procurá-lo, não com indolência, e sim com
ardor e perseverança, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são
simples meios de que se utiliza a Providência para lhe experimentar a
constância, a paciência e a firmeza.” (534.)
Se é certo que a civilização multiplica as necessidades, também o é que
multiplica as fontes de trabalho e os meios de viver. Forçoso, porém, é convir
em que, a tal respeito, muito ainda lhe resta por fazer. Quando ela houver
concluído a sua obra, ninguém deverá haver que possa queixar-se de lhe faltar o
necessário, a não ser por sua própria culpa. A desgraça, para muitos, provém de
enveredarem por uma senda diversa da que a natureza lhes traça. É então que
lhes falece a inteligência para o bom êxito. Para todos há lugar ao Sol, mas
com a condição de que cada um ocupe o seu e não o dos outros. A natureza não
pode ser responsável pelos defeitos da organização social, nem pelas
consequências da ambição e do amor-próprio.
Seria preciso, entretanto, ser-se cego, para se não reconhecer o progresso que,
quanto a isso, têm feito os povos mais adiantados. Graças aos louváveis
esforços que, juntas, a filantropia e a Ciência não cessam de despender para
melhorar a condição material dos homens, mesmo com o crescimento incessante das
populações a insuficiência da produção se acha atenuada, pelo menos em grande
parte, e os anos mais calamitosos do presente não se podem de modo algum
comparar aos de outrora. A higiene pública, elemento tão essencial da força e
da saúde, a higiene pública, que nossos pais não conheceram, é objeto de
esclarecida solicitude. O infortúnio e o sofrimento encontram onde se refugiem.
Por toda parte a Ciência contribui para acrescer o bem-estar. Poder-se-á dizer
que já se haja chegado à perfeição? Oh! Não, certamente; mas, o que já se fez
deixa prever o que, com perseverança, se logrará conseguir, se o homem se
mostrar bastante sensato para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e
sérias e não em utopias que o levam a recuar, em vez de fazê-lo avançar.
Não há situações em que os meios de subsistência de maneira alguma dependem
da vontade do homem, sendo-lhe a privação do de que mais imperiosamente
necessita uma consequência da força mesma das coisas?
“É isso uma prova, muitas vezes cruel, que lhe compete sofrer e à qual sabia
ele de antemão que viria a estar exposto. Seu mérito então consiste em
submeter-se à vontade de Deus, se a sua inteligência nenhum meio lhe faculta de
sair da dificuldade. Se a morte vier colhê-lo, cumpre-lhe recebê-la sem
murmurar, ponderando que a hora da verdadeira libertação soou e que o
desespero no derradeiro momento pode ocasionar-lhe a perda do fruto de toda a
sua resignação. ”
Terão cometido crime os que, em certas situações críticas, se viram na
contingência de sacrificar seus semelhantes para matar a fome? Se houve crime,
não teve este a atenuá-lo a necessidade de viver, que resulta do instinto de
conservação?
“Já respondi, quando disse que há mais merecimento em sofrer todas as provações
da vida com coragem e abnegação. Em tal caso, há homicídio e crime de
lesa-natureza, falta que é duplamente punida.”
Nos mundos em que a organização fisiológica é mais
apurada têm os seres vivos necessidade de alimentar-se?
“Têm, mas seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Tais alimentos
não seriam bastante substanciosos para os vossos estômagos grosseiros; assim
como os deles não poderiam digerir os vossos alimentos.”
BIBLIOGRAFIA.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS. MATÉRIA DIVULGADA PELO MÉDIUM GETULIO PACHECO QUADRADO.
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